Eleições EUA: Por que as pesquisas erraram e não previram a vitória com folga de Trump?
Republicano não apenas levou a maioria dos estados-chave, projetados como palco de uma disputa acirrada com Kamala, como caminha para vencer também no voto popular Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos EUA. Diferentemente do cenário previsto pelas pesquisas, que projetavam uma disputa acirrada, o republicano venceu de maneira confortável. Já conquistou os 270 delegados necessários, ganhou na maioria dos sete estados-chave, decisivos para o resultado, e caminha para vencer também no voto popular. Mas por que essa diferença em relação aos números das pesquisas? Análise: Democratas precisam lamber feridas e entender se urnas indicam país radicalmente diferente de 2016 Eleições nos EUA: Acompanhe a cobertura completa da disputa que coroou Donald Trump O jornal britânico The Telegraph afirmou que a sua pesquisa, divulgada há uma semana, foi uma das únicas a prever não só uma vitória de Trump, mas também a folga: deram 289 delegados para o republicano. Trump já ultrapassou a previsão ao conquistar 292 delegados, frente aos 224 da vice-presidente Kamala Harris. A apuração ainda está se desenrolando, e Trump lidera em Nevada e Arizona. A vitória no Michigan foi projetada durante a tarde. A expectativa é de que, no fim, ele leve todos os estados-chave. O veículo avaliou que alguns grupos demográficos não foram considerados no apoio a Trump. O republicano viu sua aceitação entre os eleitores latinos — segundo eleitorado que mais cresce no país — aumentar em 13 pontos, o que não teria sido detectado por nenhuma pesquisa, informou o Telegraph. Também observou que alguns grupos, como mulheres e negros, poderiam inclinar tanto para Trump, quanto para Kamala, o que também não aconteceu. As mulheres eram uma das principais apostas da campanha da democrata, que tinha a defesa dos direitos reprodutivos como uma de suas principais pautas. Mas eram uma preocupação para o magnata, que não apenas enfileirava discursos misóginos (no mais recente, disse que, se fosse presidente, cuidaria das mulheres "quer elas queiram ou não"), como também foi condenado no ano passado pelo abuso sexual e difamação contra a escritora Elizabeth Jean Carroll, na esfera civil. Entenda: O que a reeleição de Trump pode significar para as leis do aborto nos Estados Unidos Ainda assim, pesquisa de boca de urna veiculada pela BBC, quando Trump ainda não havia conquistado os 270 delegados, mostrou que Kamala liderava entre as mulheres, mas não com a vantagem que sua campanha esperava: 54% frente aos 44% de Trump. Trump também dobrou seu desempenho entre os eleitores negros na Carolina do Norte em relação a 2020, fatia do eleitorado que foi essencial para a vitória de Joe Biden naquela corrida. A pesquisa de boca de urna da BBC observou que Kamala liderou entre os eleitores negros, com 86%, enquanto Trump teve um bom desempenho entre brancos (55%) e latinos (45%). Este último grupo votou, em sua maioria, na democrata, mas a boca de urna mostraria o apoio não detectado a Trump, como apontou The Telegraph. O jornal britânico pontuou ainda que os temores de que os pesquisadores estivessem dando um peso maior aos trumpistas também estavam errados, já que mais uma vez esse voto teria sido indiferente para eles. Outros possíveis erros Em artigo ao New York Times a poucos dias da eleição (até então dada como acirrada), o famoso estatístico Nate Silver apresentou alguns erros que as pesquisas poderiam estar cometendo e que obviamente se refletiriam no resultado. Silver iniciou dizendo que sua intuição apontava Trump como vencedor (e não errou) e apresentando que a teoria que muitos invocavam para basear esse resultado era a dos "eleitores tímidos de Trump". A teoria se originou a partir do termo "conservadores tímidos" para a tendência das pesquisas britânicas de subestimar os conservadores e basicamente fala que as pessoas não querem admitir que votam em partidos conservadores por causa do estigma social associado a eles. Tarifas, deportação e 'instinto sobre juros': O que esperar da economia dos EUA sob Trump? Ele disse que não havia muitas evidências que a sustentasse, dado o avanço dos partidos conservadores e de extrema direita ao redor do mundo. E apontava, claro, um um certo esnobismo na teoria, já que muitas pessoas se orgulham de admitir seu apoio a Trump. Silver observou que o problema mais provável então era que os pesquisadores chamam de viés de não resposta. No caso, os eleitores de Trumop não estariam mentido, mas os pesquisadores não alcançavam um número suficiente deles. O estatístico observa que os trumpistas geralmente têm menor engajamento cívico e confiança social, portanto, podem estar menos inclinados a responder uma pesquisa de um veículo de imprensa. Os pesquisadores tentam corrigir esse problema com técnicas cada vez mais avançadas de processamento de dados, como o nível de escolaridade (os eleitores com formação universitária têm maior probabilidade de responder às pesquisas) ou até mesmo como as pessoas dizem ter votado n
Republicano não apenas levou a maioria dos estados-chave, projetados como palco de uma disputa acirrada com Kamala, como caminha para vencer também no voto popular Donald Trump foi eleito o 47º presidente dos EUA. Diferentemente do cenário previsto pelas pesquisas, que projetavam uma disputa acirrada, o republicano venceu de maneira confortável. Já conquistou os 270 delegados necessários, ganhou na maioria dos sete estados-chave, decisivos para o resultado, e caminha para vencer também no voto popular. Mas por que essa diferença em relação aos números das pesquisas? Análise: Democratas precisam lamber feridas e entender se urnas indicam país radicalmente diferente de 2016 Eleições nos EUA: Acompanhe a cobertura completa da disputa que coroou Donald Trump O jornal britânico The Telegraph afirmou que a sua pesquisa, divulgada há uma semana, foi uma das únicas a prever não só uma vitória de Trump, mas também a folga: deram 289 delegados para o republicano. Trump já ultrapassou a previsão ao conquistar 292 delegados, frente aos 224 da vice-presidente Kamala Harris. A apuração ainda está se desenrolando, e Trump lidera em Nevada e Arizona. A vitória no Michigan foi projetada durante a tarde. A expectativa é de que, no fim, ele leve todos os estados-chave. O veículo avaliou que alguns grupos demográficos não foram considerados no apoio a Trump. O republicano viu sua aceitação entre os eleitores latinos — segundo eleitorado que mais cresce no país — aumentar em 13 pontos, o que não teria sido detectado por nenhuma pesquisa, informou o Telegraph. Também observou que alguns grupos, como mulheres e negros, poderiam inclinar tanto para Trump, quanto para Kamala, o que também não aconteceu. As mulheres eram uma das principais apostas da campanha da democrata, que tinha a defesa dos direitos reprodutivos como uma de suas principais pautas. Mas eram uma preocupação para o magnata, que não apenas enfileirava discursos misóginos (no mais recente, disse que, se fosse presidente, cuidaria das mulheres "quer elas queiram ou não"), como também foi condenado no ano passado pelo abuso sexual e difamação contra a escritora Elizabeth Jean Carroll, na esfera civil. Entenda: O que a reeleição de Trump pode significar para as leis do aborto nos Estados Unidos Ainda assim, pesquisa de boca de urna veiculada pela BBC, quando Trump ainda não havia conquistado os 270 delegados, mostrou que Kamala liderava entre as mulheres, mas não com a vantagem que sua campanha esperava: 54% frente aos 44% de Trump. Trump também dobrou seu desempenho entre os eleitores negros na Carolina do Norte em relação a 2020, fatia do eleitorado que foi essencial para a vitória de Joe Biden naquela corrida. A pesquisa de boca de urna da BBC observou que Kamala liderou entre os eleitores negros, com 86%, enquanto Trump teve um bom desempenho entre brancos (55%) e latinos (45%). Este último grupo votou, em sua maioria, na democrata, mas a boca de urna mostraria o apoio não detectado a Trump, como apontou The Telegraph. O jornal britânico pontuou ainda que os temores de que os pesquisadores estivessem dando um peso maior aos trumpistas também estavam errados, já que mais uma vez esse voto teria sido indiferente para eles. Outros possíveis erros Em artigo ao New York Times a poucos dias da eleição (até então dada como acirrada), o famoso estatístico Nate Silver apresentou alguns erros que as pesquisas poderiam estar cometendo e que obviamente se refletiriam no resultado. Silver iniciou dizendo que sua intuição apontava Trump como vencedor (e não errou) e apresentando que a teoria que muitos invocavam para basear esse resultado era a dos "eleitores tímidos de Trump". A teoria se originou a partir do termo "conservadores tímidos" para a tendência das pesquisas britânicas de subestimar os conservadores e basicamente fala que as pessoas não querem admitir que votam em partidos conservadores por causa do estigma social associado a eles. Tarifas, deportação e 'instinto sobre juros': O que esperar da economia dos EUA sob Trump? Ele disse que não havia muitas evidências que a sustentasse, dado o avanço dos partidos conservadores e de extrema direita ao redor do mundo. E apontava, claro, um um certo esnobismo na teoria, já que muitas pessoas se orgulham de admitir seu apoio a Trump. Silver observou que o problema mais provável então era que os pesquisadores chamam de viés de não resposta. No caso, os eleitores de Trumop não estariam mentido, mas os pesquisadores não alcançavam um número suficiente deles. O estatístico observa que os trumpistas geralmente têm menor engajamento cívico e confiança social, portanto, podem estar menos inclinados a responder uma pesquisa de um veículo de imprensa. Os pesquisadores tentam corrigir esse problema com técnicas cada vez mais avançadas de processamento de dados, como o nível de escolaridade (os eleitores com formação universitária têm maior probabilidade de responder às pesquisas) ou até mesmo como as pessoas dizem ter votado no passado. Não há garantia de que nada disso funcione. Resultado das eleições nos EUA: Em quais estados Trump ganhou? Poderia haver ainda um fator que jogava a favor de Trump o tempo todo: o fato de Kamala ser mulher (e que, se eleita, seria a primeira a ocupar a Presidência dos EUA). Silver falou no chamado efeito Bradley, batizado em homenagem ao ex-prefeito de Los Angeles Tom Bradley, que teve um desempenho abaixo do esperado nas pesquisas na disputa para governador da Califórnia em 1982 devido à suposta tendência dos eleitores de dizer que estão indecisos em vez de admitir que não votarão em um candidato negro. O efeito não foi um problema para Barack Obama em 2008 ou 2012. Ainda assim, na única outra vez em que uma mulher foi a indicada de seu partido, os eleitores indecisos se inclinaram fortemente contra ela. Falou então que Kamala talvez devesse se preocupar com o "efeito Hillary".(Com The New York Times)
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