Vencedor do Oscar com ‘Moonlight’, Barry Jenkins conta por que aceitou dirigir a animação 'Mufasa': 'Perfeito e grandioso'
Na D23, evento da Disney em São Paulo, cineasta citou "Cidade de Deus", livro de Machado de Assis e músicas de Caetano como algumas de suas maiores influências Barry Jenkins, roteirista e diretor do premiado “Moonlight: Sob a luz do luar” (foram três Oscars em 2017, incluindo o de melhor filme), é o mesmo diretor de “Mufasa: O rei leão”, que estreia dia 19 de dezembro como aposta da Disney para blockbuster de fim de ano. Pode um artista tão celebrado por sua narrativa íntima, sensível e poética, principalmente sobre questões raciais e de gênero, fazer uma animação sobre o reino animal? Esse questionamento foi feito por toda Hollywood — e pelo próprio cineasta — quando seu nome foi anunciado pelo estúdio. — Quando o roteiro chegou a mim, tive a mesma reação que a maioria das pessoas: por que eu faria esse filme? — disse Barry, que conversou com o GLOBO na D23, convenção de fãs da Disney que termina hoje, em São Paulo. —Mas li e percebi que, primeiramente, existiam coisas sobre Mufasa que eu não sabia, mesmo sendo um fã de “O rei leão”. Aí, me perguntei: será que nunca dirigi um filme de animação por presumir que alguém que faz algo como “Moonlight” não pode fazer animação? Isso seria o mundo externo me dizendo o que fazer. Quando percebi que realmente amava o roteiro, ficou claro que a pessoa que dirigiu “Moonlight” também deveria dirigir “Mufasa”. Inclusive, o diretor vê semelhanças entre um longa-metragem e outro. No de 2017, está contada a história de Chiron, um rapaz negro, morador de um violento bairro de Miami, que passa por diversos processos de autoconhecimento, incluindo sexualidade, e obstáculos relacionados à experiência do que é ser negro e LGBTQIAP+ nos Estados Unidos. Para Barry, o rei leão e Chiron se encontram nas dificuldades e ressoam com as suas projeções. — Mufasa é perfeito, é grandioso e sempre foi assim para mim. Acho muito legal porque volto para minha própria pessoa mais jovem assistindo à animação original — disse. — Se na época eu soubesse que Mufasa se tornou perfeito por causa de tudo que ele precisou passar, semelhante ao personagem de “Moonlight”, que também enfrentou muitos desafios para ser quem ele é, isso me faria pensar que talvez eu pudesse ser aquela pessoa perfeita também. Ninguém pode ser perfeito, mas talvez eu pudesse ser grandioso. Currículo grandioso ele já tem. E vai além de “Moonlight”: há “Se a rua Beagle falasse” (que lhe rendeu indicação a melhor roteiro adaptado da obra de James Baldwin, em 2019, e o prêmio de melhor atriz a Regina King), a direção da elogiada série “The underground railroad: Os caminhos para a liberdade” (Prime Video) e a produção do filme “Aftersun”, de 2022. Nascido em Miami e formado em Cinema e Artes Visuais pela Universidade do Estado da Flórida, Barry até podia assistir a “O rei leão” com os sobrinhos, quando ajudava a cuidar deles para a irmã, uma mãe solo. Mas foram produções asiáticas (entre elas, o indiano “A canção da estrada”, de 1955) e francesas (“O ódio”, de 1995, é um dos seus preferidos) que impactaram sua formação. Há apenas um brasileiro na lista: “Cidade de Deus”. — Eu amei quando estava na faculdade. Tive a chance de encontrar o Fernando Meirelles quando ele estava fazendo a turnê do filme. Ele foi muito legal comigo, eu era um jovem estudante. Fiquei muito impactado pela fotografia do César Charlone — diz Barry, elencando outras influências brasileiras. — Tem um autor, chamado Machado de Assis, que escreveu “O alienista”, que também li na faculdade. E a música do Caetano Veloso sempre foi muito inspiradora. De alguma forma, especialmente quando comecei a fazer cinema, esses três elementos foram bastante inspiradores. E o que ele pretende fazer nos próximos quatro anos? Foi um jeito de falar da política americana, assunto previamente vetado na conversa com um cineasta cujo trabalho é essencialmente político quando fala de gênero e raça num país tão fragmentado. —Tenho feito filmes desde 2008, e houve muitas mudanças no mundo e no meu país nesse período. O que se manteve constante para mim é contar histórias que considero significativas para compartilhar com o público, para quem elas também possam ter algum significado. É isso que sempre fiz e continuarei fazendo. A repórter viajou a convite da Disney.
Na D23, evento da Disney em São Paulo, cineasta citou "Cidade de Deus", livro de Machado de Assis e músicas de Caetano como algumas de suas maiores influências Barry Jenkins, roteirista e diretor do premiado “Moonlight: Sob a luz do luar” (foram três Oscars em 2017, incluindo o de melhor filme), é o mesmo diretor de “Mufasa: O rei leão”, que estreia dia 19 de dezembro como aposta da Disney para blockbuster de fim de ano. Pode um artista tão celebrado por sua narrativa íntima, sensível e poética, principalmente sobre questões raciais e de gênero, fazer uma animação sobre o reino animal? Esse questionamento foi feito por toda Hollywood — e pelo próprio cineasta — quando seu nome foi anunciado pelo estúdio. — Quando o roteiro chegou a mim, tive a mesma reação que a maioria das pessoas: por que eu faria esse filme? — disse Barry, que conversou com o GLOBO na D23, convenção de fãs da Disney que termina hoje, em São Paulo. —Mas li e percebi que, primeiramente, existiam coisas sobre Mufasa que eu não sabia, mesmo sendo um fã de “O rei leão”. Aí, me perguntei: será que nunca dirigi um filme de animação por presumir que alguém que faz algo como “Moonlight” não pode fazer animação? Isso seria o mundo externo me dizendo o que fazer. Quando percebi que realmente amava o roteiro, ficou claro que a pessoa que dirigiu “Moonlight” também deveria dirigir “Mufasa”. Inclusive, o diretor vê semelhanças entre um longa-metragem e outro. No de 2017, está contada a história de Chiron, um rapaz negro, morador de um violento bairro de Miami, que passa por diversos processos de autoconhecimento, incluindo sexualidade, e obstáculos relacionados à experiência do que é ser negro e LGBTQIAP+ nos Estados Unidos. Para Barry, o rei leão e Chiron se encontram nas dificuldades e ressoam com as suas projeções. — Mufasa é perfeito, é grandioso e sempre foi assim para mim. Acho muito legal porque volto para minha própria pessoa mais jovem assistindo à animação original — disse. — Se na época eu soubesse que Mufasa se tornou perfeito por causa de tudo que ele precisou passar, semelhante ao personagem de “Moonlight”, que também enfrentou muitos desafios para ser quem ele é, isso me faria pensar que talvez eu pudesse ser aquela pessoa perfeita também. Ninguém pode ser perfeito, mas talvez eu pudesse ser grandioso. Currículo grandioso ele já tem. E vai além de “Moonlight”: há “Se a rua Beagle falasse” (que lhe rendeu indicação a melhor roteiro adaptado da obra de James Baldwin, em 2019, e o prêmio de melhor atriz a Regina King), a direção da elogiada série “The underground railroad: Os caminhos para a liberdade” (Prime Video) e a produção do filme “Aftersun”, de 2022. Nascido em Miami e formado em Cinema e Artes Visuais pela Universidade do Estado da Flórida, Barry até podia assistir a “O rei leão” com os sobrinhos, quando ajudava a cuidar deles para a irmã, uma mãe solo. Mas foram produções asiáticas (entre elas, o indiano “A canção da estrada”, de 1955) e francesas (“O ódio”, de 1995, é um dos seus preferidos) que impactaram sua formação. Há apenas um brasileiro na lista: “Cidade de Deus”. — Eu amei quando estava na faculdade. Tive a chance de encontrar o Fernando Meirelles quando ele estava fazendo a turnê do filme. Ele foi muito legal comigo, eu era um jovem estudante. Fiquei muito impactado pela fotografia do César Charlone — diz Barry, elencando outras influências brasileiras. — Tem um autor, chamado Machado de Assis, que escreveu “O alienista”, que também li na faculdade. E a música do Caetano Veloso sempre foi muito inspiradora. De alguma forma, especialmente quando comecei a fazer cinema, esses três elementos foram bastante inspiradores. E o que ele pretende fazer nos próximos quatro anos? Foi um jeito de falar da política americana, assunto previamente vetado na conversa com um cineasta cujo trabalho é essencialmente político quando fala de gênero e raça num país tão fragmentado. —Tenho feito filmes desde 2008, e houve muitas mudanças no mundo e no meu país nesse período. O que se manteve constante para mim é contar histórias que considero significativas para compartilhar com o público, para quem elas também possam ter algum significado. É isso que sempre fiz e continuarei fazendo. A repórter viajou a convite da Disney.
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