Veja quais estados têm maior risco de impacto nos sistemas de água e esgoto com as mudanças climáticas
Novo estudo do Instituto Trata Brasil combinou modelos de projeção e dados de saneamento básico no Brasil As mudanças climáticas e o aumento da temperatura global impactam diretamente na torneira de casa. Um novo estudo, realizado pelo Instituto Trata Brasil, mostra quais são os estados brasileiros que terão os serviços de tratamento de água e esgoto mais afetados por causa da intensificação de tempestades, ondas de calor e secas até 2050. Editorial: Meta climática brasileira é avanço, mas falta clareza sobre como atingi-la Dengue: Quase um quinto dos casos pode ser decorrente de mudanças climáticas Segundo o estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?”, realizado em parceria com a WayCarbon e divulgado nesta terça-feira, Dia Mundial do Saneamento Básico, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro são os estados com mais risco de terem o seu abastecimento de água afetado por tempestades. Já o impacto por ondas de calor tem risco maior no Mato Grosso do Sul e Amazonas, e as secas são as principais ameaças para os sistemas do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. a Para os cálculos de níveis de risco, os pesquisadores se basearam nos modelos climáticos do CMIP6 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 6), usado no 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), e nos dados oficiais das redes de saneamento dos estados e municípios brasileiros. Ou seja, uma cidade não está em situação vulnerável, segundo o estudo, somente pela projeção de aumento de tempestades, mas pela combinação dessa previsão com a oferta existente no local de estações de tratamento de água e esgoto, e densidade populacional. A tendência é que, até 2050, as ondas de calor e as secas se intensifiquem no Norte, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, enquanto as tempestades sejam o problema mais comum das regiões Sul e Sudeste. No Rio Grande do Sul, segundo a análise, 92% dos municípios têm risco “muito alto” de impacto no abastecimento de água considerando os modelos de previsão de aumento de precipitações máximas em 24 horas. Já pelo parâmetro de ondas de calor afetando mananciais, o estudo ponta risco “muito alto” para 45% das cidades do Acre. No Rio, 71% dos municípios têm risco “muito alto” no caso de tempestades acumuladas por cinco dias, quando sedimentos se acumulam nos rios. — Diferentes regiões têm diferentes ameaças e necessidades de adaptação — resume Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, que destaca a importância do estudo para que gestores saibam para onde os investimentos têm que ser direcionados. — Não basta aumentar a rede de saneamento, precisamos de ações ambientais estruturantes. A gente fala de adaptação, mas precisa da mitigação climática. Ações de mitigação e adaptação demandam recursos volumosos, e estão no radar de autoridades. Durante o Urban 20, fórum paralelo ao G20, prefeitos de cidades dos países do grupo pediram um investimento de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 4,7 trilhões) ao ano para combate às mudanças climáticas até 2030. Um documento assinado por representantes de 26 cidades destaca as necessidades de investimentos em agendas como transição energética e desenvolvimento sustentável. O financiamento climático vem sendo um dos grandes temas do encontro global no Rio. Na avaliação de Pretto, o impacto sobre o saneamento básico ainda não é tão associado quando se pensa em mudança climática. — Mudança climática parece algo tão intangível, mas tem reflexo direto na torneira da minha casa — afirma. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) Ludmilla Rattis explica que as autoridades de Nova York enfrentaram a questão do abastecimento de água nos anos 90, quando a alta demanda colocou o serviço em xeque. Na ocasião, em vez de apenas ampliar a rede, foi feita a restauração das bacias de montanhas Castkill, onde ficam os mananciais de água. — E hoje Nova York é exemplo de oferta de água no mundo. Não é conversa de ambientalista, qualquer produtor rural sabe que mata ciliar traz água. Já sabemos cientificamente e empiricamente. Mas o Brasil está esquecendo das soluções baseadas na natureza — afirma Rattis, que lembra que as previsões mais pessimistas colocam cidades brasileiras, como Cuiabá, como inabitáveis, devido ao aumento das temperaturas. Oceanógrafo da Uerj, David Zee destaca que os modelos de saneamento no Brasil são ultrapassados e que estações de tratamento são muito vulneráveis a alagamentos porque ficam em pontos baixos para recebimento do esgoto encanado. — O saneamento já não está preparado para a situação atual, imagina em um cenário de desastre. Os sistemas precisam ser adaptados.
Novo estudo do Instituto Trata Brasil combinou modelos de projeção e dados de saneamento básico no Brasil As mudanças climáticas e o aumento da temperatura global impactam diretamente na torneira de casa. Um novo estudo, realizado pelo Instituto Trata Brasil, mostra quais são os estados brasileiros que terão os serviços de tratamento de água e esgoto mais afetados por causa da intensificação de tempestades, ondas de calor e secas até 2050. Editorial: Meta climática brasileira é avanço, mas falta clareza sobre como atingi-la Dengue: Quase um quinto dos casos pode ser decorrente de mudanças climáticas Segundo o estudo “As Mudanças Climáticas no Setor de Saneamento: como tempestades, secas e ondas de calor impactam o consumo de água?”, realizado em parceria com a WayCarbon e divulgado nesta terça-feira, Dia Mundial do Saneamento Básico, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Espírito Santo e Rio de Janeiro são os estados com mais risco de terem o seu abastecimento de água afetado por tempestades. Já o impacto por ondas de calor tem risco maior no Mato Grosso do Sul e Amazonas, e as secas são as principais ameaças para os sistemas do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba. a Para os cálculos de níveis de risco, os pesquisadores se basearam nos modelos climáticos do CMIP6 (Coupled Model Intercomparison Project Phase 6), usado no 6º Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), e nos dados oficiais das redes de saneamento dos estados e municípios brasileiros. Ou seja, uma cidade não está em situação vulnerável, segundo o estudo, somente pela projeção de aumento de tempestades, mas pela combinação dessa previsão com a oferta existente no local de estações de tratamento de água e esgoto, e densidade populacional. A tendência é que, até 2050, as ondas de calor e as secas se intensifiquem no Norte, Centro-Oeste e Nordeste do Brasil, enquanto as tempestades sejam o problema mais comum das regiões Sul e Sudeste. No Rio Grande do Sul, segundo a análise, 92% dos municípios têm risco “muito alto” de impacto no abastecimento de água considerando os modelos de previsão de aumento de precipitações máximas em 24 horas. Já pelo parâmetro de ondas de calor afetando mananciais, o estudo ponta risco “muito alto” para 45% das cidades do Acre. No Rio, 71% dos municípios têm risco “muito alto” no caso de tempestades acumuladas por cinco dias, quando sedimentos se acumulam nos rios. — Diferentes regiões têm diferentes ameaças e necessidades de adaptação — resume Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, que destaca a importância do estudo para que gestores saibam para onde os investimentos têm que ser direcionados. — Não basta aumentar a rede de saneamento, precisamos de ações ambientais estruturantes. A gente fala de adaptação, mas precisa da mitigação climática. Ações de mitigação e adaptação demandam recursos volumosos, e estão no radar de autoridades. Durante o Urban 20, fórum paralelo ao G20, prefeitos de cidades dos países do grupo pediram um investimento de US$ 800 bilhões (cerca de R$ 4,7 trilhões) ao ano para combate às mudanças climáticas até 2030. Um documento assinado por representantes de 26 cidades destaca as necessidades de investimentos em agendas como transição energética e desenvolvimento sustentável. O financiamento climático vem sendo um dos grandes temas do encontro global no Rio. Na avaliação de Pretto, o impacto sobre o saneamento básico ainda não é tão associado quando se pensa em mudança climática. — Mudança climática parece algo tão intangível, mas tem reflexo direto na torneira da minha casa — afirma. Pesquisadora do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) Ludmilla Rattis explica que as autoridades de Nova York enfrentaram a questão do abastecimento de água nos anos 90, quando a alta demanda colocou o serviço em xeque. Na ocasião, em vez de apenas ampliar a rede, foi feita a restauração das bacias de montanhas Castkill, onde ficam os mananciais de água. — E hoje Nova York é exemplo de oferta de água no mundo. Não é conversa de ambientalista, qualquer produtor rural sabe que mata ciliar traz água. Já sabemos cientificamente e empiricamente. Mas o Brasil está esquecendo das soluções baseadas na natureza — afirma Rattis, que lembra que as previsões mais pessimistas colocam cidades brasileiras, como Cuiabá, como inabitáveis, devido ao aumento das temperaturas. Oceanógrafo da Uerj, David Zee destaca que os modelos de saneamento no Brasil são ultrapassados e que estações de tratamento são muito vulneráveis a alagamentos porque ficam em pontos baixos para recebimento do esgoto encanado. — O saneamento já não está preparado para a situação atual, imagina em um cenário de desastre. Os sistemas precisam ser adaptados.
Qual é a sua reação?