Trump deve enfrentar cenário econômico de juros e inflação elevados em novo mandato na Casa Branca
Economistas projetaram panorama de dificuldades com vitória do republicano ou de Kamala Harris, mas avaliaram que situação seria ainda mais complexa em novo governo de Trump A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas coloca os EUA em via de um cenário econômico turbulento. Economistas projetaram um panorama de crescimento da inflação e de juros elevados no país durante o segundo mandato de Trump — algo que também era presumido em caso de vitória de Kamala Harris, mas que é considerado mais grave com o retorno do republicano à Casa Branca. Presidente eleito: Donald Trump vence Kamala Harris e voltará a Presidência dos EUA após quatro anos de campanha Guga Chacra: Empoderado e messiânico, Trump se vinga e volta à Casa Branca Ao longo da campanha, Trump falou em majorar tarifas de importação — a níveis bem maiores do que os adotados em seu primeiro mandato, quando se começou a falar em “guerra comercial” com a China — como forma de incentivar a produção local nos EUA. Segundo um estudo publicado mês passado pelo Comitê para um Orçamento Federal Responsável, as propostas sinalizadas por Trump elevariam a dívida pública americana US$ 7,75 trilhões até 2035, quase o dobro do impacto previsto caso Kamala fosse eleita. Para fim de comparação, o PIB de 2024 do Brasil é calculado em US$ 2,2 trilhões pelo FMI. Initial plugin text Além do aumento do rombo orçamentário, duas outras propostas de Trump preocupam economistas. Uma é a promessa de campanha de deportar imigrantes em massa. — Isso desorganizaria a economia, porque o setor de serviços depende muito dos imigrantes. E teria consequências para as economias que dependem das remessas (dos trabalhadores que migram), no caso dos EUA, sobretudo na América Latina — disse o economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, há décadas radicado nos EUA, atualmente professor da Universidade Columbia, em Nova York. De economia à imigração: Como a vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode impactar os brasileiros? Análise: É a economia, estúpido, que encaminha Trump à Casa Branca e remodela o cenário eleitoral dos EUA A segunda proposta preocupante é a elevação das tarifas de importação. Na explicação de diversos economistas, um aumento generalizado e significativo seria inevitavelmente repassado aos preços finais para o consumidor. Com o aumento da inflação no curto prazo, as famílias consumiriam menos e o Fed (o banco central americano) seria obrigado a voltar a subir os juros para esfriar ainda mais a demanda. — No mundo inteiro, o protecionismo está aumentando, mas a proposição do Trump tem uma um radicalismo tão forte, que não é só uma questão de grau. A Grande Depressão dos anos 1930 teve, evidentemente, várias causas, mas o gatilho foi o aumento de tarifa nos EUA, que levou a várias outros aumentos de tarifa de outros países, e acabou com o comércio internacional — afirmou Scheinkman. Trump eleito: Especialistas apontam republicano 'imprevisível' na política externa em novo mandato Casa Branca: Túnel secreto, sala de cinema, 132 quartos e duas piscinas; veja fotos do lar do presidente dos EUA Por outro lado, em debates com assessores das campanhas nas reuniões anuais do FMI, em Washington, capital dos EUA, duas semanas atrás, a economista Myriã Bast, superintendente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, ouviu que, num eventual segundo governo Trump, medidas relacionadas aos imigrantes e à desregulamentação da produção de petróleo e gás viriam na frente de tarifas: — Ouvimos que não seria linear, não haveria um aumento homogêneo de 20% de imposto para tudo que é importado. Alguns setores estratégicos vão ser protegidos, outros não, e vai ser negociado (com países e blocos econômicos). Seria usado como uma estratégia de negociação, por isso, o impacto disso é um inflacionário, mas a magnitude é difícil de estimar. Veja fotos do ex-presidente Donald Trump na corrida eleitoral dos Estados Unidos Oposição declarada A leitura negativa sobre a política econômica de Trump fez com que 23 vencedores do Prêmio Nobel de Economia assinassem uma carta alertando para os riscos das propostas econômicas do republicano e declarassen apoio à candidatura de Kamala. As políticas sinalizadas por Trump, dizia um trecho do documento, “levarão a preços mais altos, déficits maiores e maior desigualdade”, enquanto a continuidade da política econômica do atual governo num futuro mandato de Kamala “fortalece a classe média, aumenta a concorrência e promove o empreendedorismo”, resultando em um “desempenho econômico mais forte”. Após vitória de Trump: Brasil vê EUA mais protecionista e teme pela ligação com bolsonarismo Economistas da academia, do mercado financeiro e de empresas ouvidos em uma pesquisa trimestral do jornal de negócios The Wall Street Journal, em outubro, opinaram que a inflação seria mais alta com a agenda econômica de Trump (68% concordaram). Ainda de acordo com a pesquisa, 65% dos entrevistados disseram crer nu
Economistas projetaram panorama de dificuldades com vitória do republicano ou de Kamala Harris, mas avaliaram que situação seria ainda mais complexa em novo governo de Trump A vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas coloca os EUA em via de um cenário econômico turbulento. Economistas projetaram um panorama de crescimento da inflação e de juros elevados no país durante o segundo mandato de Trump — algo que também era presumido em caso de vitória de Kamala Harris, mas que é considerado mais grave com o retorno do republicano à Casa Branca. Presidente eleito: Donald Trump vence Kamala Harris e voltará a Presidência dos EUA após quatro anos de campanha Guga Chacra: Empoderado e messiânico, Trump se vinga e volta à Casa Branca Ao longo da campanha, Trump falou em majorar tarifas de importação — a níveis bem maiores do que os adotados em seu primeiro mandato, quando se começou a falar em “guerra comercial” com a China — como forma de incentivar a produção local nos EUA. Segundo um estudo publicado mês passado pelo Comitê para um Orçamento Federal Responsável, as propostas sinalizadas por Trump elevariam a dívida pública americana US$ 7,75 trilhões até 2035, quase o dobro do impacto previsto caso Kamala fosse eleita. Para fim de comparação, o PIB de 2024 do Brasil é calculado em US$ 2,2 trilhões pelo FMI. Initial plugin text Além do aumento do rombo orçamentário, duas outras propostas de Trump preocupam economistas. Uma é a promessa de campanha de deportar imigrantes em massa. — Isso desorganizaria a economia, porque o setor de serviços depende muito dos imigrantes. E teria consequências para as economias que dependem das remessas (dos trabalhadores que migram), no caso dos EUA, sobretudo na América Latina — disse o economista brasileiro José Alexandre Scheinkman, há décadas radicado nos EUA, atualmente professor da Universidade Columbia, em Nova York. De economia à imigração: Como a vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode impactar os brasileiros? Análise: É a economia, estúpido, que encaminha Trump à Casa Branca e remodela o cenário eleitoral dos EUA A segunda proposta preocupante é a elevação das tarifas de importação. Na explicação de diversos economistas, um aumento generalizado e significativo seria inevitavelmente repassado aos preços finais para o consumidor. Com o aumento da inflação no curto prazo, as famílias consumiriam menos e o Fed (o banco central americano) seria obrigado a voltar a subir os juros para esfriar ainda mais a demanda. — No mundo inteiro, o protecionismo está aumentando, mas a proposição do Trump tem uma um radicalismo tão forte, que não é só uma questão de grau. A Grande Depressão dos anos 1930 teve, evidentemente, várias causas, mas o gatilho foi o aumento de tarifa nos EUA, que levou a várias outros aumentos de tarifa de outros países, e acabou com o comércio internacional — afirmou Scheinkman. Trump eleito: Especialistas apontam republicano 'imprevisível' na política externa em novo mandato Casa Branca: Túnel secreto, sala de cinema, 132 quartos e duas piscinas; veja fotos do lar do presidente dos EUA Por outro lado, em debates com assessores das campanhas nas reuniões anuais do FMI, em Washington, capital dos EUA, duas semanas atrás, a economista Myriã Bast, superintendente do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depec) do Bradesco, ouviu que, num eventual segundo governo Trump, medidas relacionadas aos imigrantes e à desregulamentação da produção de petróleo e gás viriam na frente de tarifas: — Ouvimos que não seria linear, não haveria um aumento homogêneo de 20% de imposto para tudo que é importado. Alguns setores estratégicos vão ser protegidos, outros não, e vai ser negociado (com países e blocos econômicos). Seria usado como uma estratégia de negociação, por isso, o impacto disso é um inflacionário, mas a magnitude é difícil de estimar. Veja fotos do ex-presidente Donald Trump na corrida eleitoral dos Estados Unidos Oposição declarada A leitura negativa sobre a política econômica de Trump fez com que 23 vencedores do Prêmio Nobel de Economia assinassem uma carta alertando para os riscos das propostas econômicas do republicano e declarassen apoio à candidatura de Kamala. As políticas sinalizadas por Trump, dizia um trecho do documento, “levarão a preços mais altos, déficits maiores e maior desigualdade”, enquanto a continuidade da política econômica do atual governo num futuro mandato de Kamala “fortalece a classe média, aumenta a concorrência e promove o empreendedorismo”, resultando em um “desempenho econômico mais forte”. Após vitória de Trump: Brasil vê EUA mais protecionista e teme pela ligação com bolsonarismo Economistas da academia, do mercado financeiro e de empresas ouvidos em uma pesquisa trimestral do jornal de negócios The Wall Street Journal, em outubro, opinaram que a inflação seria mais alta com a agenda econômica de Trump (68% concordaram). Ainda de acordo com a pesquisa, 65% dos entrevistados disseram crer num aumento maior do déficit sob o republicano, enquanto 14% avaliaram que o rombo seria maior com a democrata. Os especialistas parecem divergir menos quando o assunto é um eventual ataque à independência do Fed. Embora Trump venha criticando o banco central americano no combate à inflação, os economistas ouvidos pelo GLOBO acham que há pouco espaço para isso acontecer de fato. A força da burocracia do órgão e a própria reação de investidores no mercado financeiro poderão servir de freios. 'Trump trade': Bitcoin bate recorde e dólar sobe com força nos EUA; veja reação dos mercados O nível de preocupação de economistas e operadores de mercado com o desequilíbrio das contas do governo varia. Em geral, o fato de que o dólar é a moeda de reserva da economia mundial blinda a economia americana de problemas. No relatório do estudo, o Comitê para um Orçamento Federal Responsável, alerta que o endividamento público crescente aumenta “o risco de uma eventual crise fiscal”. Sem levar em conta as propostas de Kamala e Trump, as projeções já apontavam um cenário difícil. O Escritório do Congresso para o Orçamento (CBO, na sigla em inglês, um órgão independente que apoia o Legislativo americano na elaboração do Orçamento) estima que Washington registrará rombos nas contas ano a ano até 2034, levando a dívida pública de 99% do PIB, em 2024, para 122%, daqui a dez anos. Os cálculos consideram juros em torno de zero (ou seja, caso as taxas subam, a dívida dos EUA poderia subir ainda mais). (Com Vinicius Neder)
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