Tati Machado, sobre corpo: 'Não quero entrar na neura de que preciso emagrecer para ser bonita'
Ela e outras ativistas do movimento Corpo Livre rebatem críticas por terem emagrecido A apresentadora Tati Machado, de 33 anos, nova integrante do “Saia justa”, do GNT, emagreceu 14 quilos enquanto treinava para a “Dança dos Famosos” do “Domingão com Huck”. Segundo ela, a mudança foi uma consequência, não um objetivo. “Participei do quadro porque queria viver a experiência de dançar, me desafiar. Nunca pensei que emagreceria tanto”, conta. Para ela, a atividade foi uma forma de libertação. “Algo que fiz por amor, e não por pressão”, reflete. Além disso, segundo Tati, a dança mudou o funcionamento do seu corpo a ponto de regularizar até o ciclo menstrual, desorganizado por causa da Síndrome do Ovário Policístico. “Passei a menstruar todo mês, o que não acontecia há anos”, conta. Para o bem e para o mal, a transformação foi acompanhada por milhares de seguidores (2, 2 milhões só no Instagram). “Há quem diga: ‘Nossa, você emagreceu, está linda’. Isso me preocupa. Não quero entrar na neura de que preciso emagrecer para ser bonita”, afirma. “E tem quem afirme estar decepcionado com meu emagrecimento, como se tivesse traído o movimento. É difícil lidar com isso. Continuo defendendo a liberdade de cada um com seu corpo. Ninguém deve ficar preso em um formato”, conclui Tati. Doutora em Linguística Aplicada e autora da tese “#bodypositive, mas nem tão ‘positive’ assim: a discursivização do corpo no Instagram”, Letícia Schinestsck relembra o caso da influencer Nara Almeida, de 24 anos, morta em 2018 em decorrência de um câncer. “Ela estava em estágio terminal e, em um de seus últimos momentos, postou uma foto de biquíni. As pessoas elogiavam, dizendo que gostariam de estar doentes para ter aquele corpo. O elogio está condicionado à magreza”, afirma. “Mas onde está escrito que quem defende corpos livres não pode emagrecer?”, questiona. Segundo a psicanalista Manuela Xavier, tudo o que dizemos a respeito da aparência alheia impacta o emocional do outro, gerando um ciclo de insatisfação e desconexão com o próprio corpo. “Quando os elogios vêm acompanhados de ‘emagreceu e está linda’, mesmo sem intenção, reforça-se a ideia de que a magreza é o caminho para a beleza”, explica Manuela. “O que é perigoso para quem já enfrenta questões de autoestima”. O contrário — defender que um corpo gordo permaneça gordo quando há questão de saúde em risco — também é. Segundo a endocrinologista Isabela Bussade, pessoas com obesidade têm mais tendência à desenvolverem síndrome metabólica, conjunto de alterações que pode levar a complicações cardiovasculares. “Para evitar isso, os triglicérides não devem estar acima de 150 mg/dl, nem o colesterol LDL acima de 100 mg/dl. O ideal é que a pressão arterial também não ultrapasse 120/70”, diz. Para a ginecologista Wellida Rocha, o equilíbrio é sempre o melhor caminho para a perda de peso natural. “Quando o corpo não está sob pressão, encontra uma forma mais saudável de funcionar”, explica. “Muitas mudanças não são resultado do emagrecimento, mas da prática regular de atividade física, que traz benefícios ao corpo, independentemente do peso.” A influenciadora de moda e beleza Dani Rudz, de 49 anos, também foi criticada por ter perdido peso. “Ouvi que meu emagrecimento era uma decepção, como se tivesse abandonado o que defendi por anos. Mas ser livre com o corpo também significa poder mudar”, diz. A mudança na forma física se deu após uma endocrinologista a alertar de que precisava perder 15% do peso para afastar o risco de diabetes. Inicialmente, Dani chegou a refutar a orientação por ter tentado emagrecer outras vezes sem êxito. A médica, então, lhe apresentou remédios novos à base de semaglutida, vistos com resistência por Dani, em função de críticas e alertas veiculados pela mídia. Formada em Biomedicina, mudou de ideia após ler artigos científicos recomendados pela endocrinologista. Acatou o tratamento e perdeu 50 quilos sem dietas restritivas. “Não me maltratei, nem mudei meus valores para encaixar num padrão. O processo se deu de maneira orgânica. Adotei um novo estilo de vida, passei a me alimentar melhor e a fazer exercícios, algo até então desaconselhado, sem ficar tão ofegante”. Ainda assim, a influenciadora se entende como mulher gorda. “Só estou menor. E o fato de ter perdido peso não diminui a importância da minha luta. Não é sobre peso, mas sobre o direito de ser quem você quiser, em qualquer corpo. O problema não é o Ozempic, mas o discurso gordofóbico em torno da sua utilização”. O movimento de “revolta” por parte dos seguidores não é algo restrito ao Brasil, como ficou claro no episódio de hate à influenciadora americana Dronme Davis, de 25 anos, acusada de traição por muitos de seus 100 mil seguidores. “O emagrecimento de personalidades midiáticas gera esse sentimento. É como se deixassem de existir na representação que garantiam para quem nunca teve visibilidade”, explica Manuela Xavier, apontando para uma “tokenização” das pessoas gordas. “A sociedade cobra que elas fale
Ela e outras ativistas do movimento Corpo Livre rebatem críticas por terem emagrecido A apresentadora Tati Machado, de 33 anos, nova integrante do “Saia justa”, do GNT, emagreceu 14 quilos enquanto treinava para a “Dança dos Famosos” do “Domingão com Huck”. Segundo ela, a mudança foi uma consequência, não um objetivo. “Participei do quadro porque queria viver a experiência de dançar, me desafiar. Nunca pensei que emagreceria tanto”, conta. Para ela, a atividade foi uma forma de libertação. “Algo que fiz por amor, e não por pressão”, reflete. Além disso, segundo Tati, a dança mudou o funcionamento do seu corpo a ponto de regularizar até o ciclo menstrual, desorganizado por causa da Síndrome do Ovário Policístico. “Passei a menstruar todo mês, o que não acontecia há anos”, conta. Para o bem e para o mal, a transformação foi acompanhada por milhares de seguidores (2, 2 milhões só no Instagram). “Há quem diga: ‘Nossa, você emagreceu, está linda’. Isso me preocupa. Não quero entrar na neura de que preciso emagrecer para ser bonita”, afirma. “E tem quem afirme estar decepcionado com meu emagrecimento, como se tivesse traído o movimento. É difícil lidar com isso. Continuo defendendo a liberdade de cada um com seu corpo. Ninguém deve ficar preso em um formato”, conclui Tati. Doutora em Linguística Aplicada e autora da tese “#bodypositive, mas nem tão ‘positive’ assim: a discursivização do corpo no Instagram”, Letícia Schinestsck relembra o caso da influencer Nara Almeida, de 24 anos, morta em 2018 em decorrência de um câncer. “Ela estava em estágio terminal e, em um de seus últimos momentos, postou uma foto de biquíni. As pessoas elogiavam, dizendo que gostariam de estar doentes para ter aquele corpo. O elogio está condicionado à magreza”, afirma. “Mas onde está escrito que quem defende corpos livres não pode emagrecer?”, questiona. Segundo a psicanalista Manuela Xavier, tudo o que dizemos a respeito da aparência alheia impacta o emocional do outro, gerando um ciclo de insatisfação e desconexão com o próprio corpo. “Quando os elogios vêm acompanhados de ‘emagreceu e está linda’, mesmo sem intenção, reforça-se a ideia de que a magreza é o caminho para a beleza”, explica Manuela. “O que é perigoso para quem já enfrenta questões de autoestima”. O contrário — defender que um corpo gordo permaneça gordo quando há questão de saúde em risco — também é. Segundo a endocrinologista Isabela Bussade, pessoas com obesidade têm mais tendência à desenvolverem síndrome metabólica, conjunto de alterações que pode levar a complicações cardiovasculares. “Para evitar isso, os triglicérides não devem estar acima de 150 mg/dl, nem o colesterol LDL acima de 100 mg/dl. O ideal é que a pressão arterial também não ultrapasse 120/70”, diz. Para a ginecologista Wellida Rocha, o equilíbrio é sempre o melhor caminho para a perda de peso natural. “Quando o corpo não está sob pressão, encontra uma forma mais saudável de funcionar”, explica. “Muitas mudanças não são resultado do emagrecimento, mas da prática regular de atividade física, que traz benefícios ao corpo, independentemente do peso.” A influenciadora de moda e beleza Dani Rudz, de 49 anos, também foi criticada por ter perdido peso. “Ouvi que meu emagrecimento era uma decepção, como se tivesse abandonado o que defendi por anos. Mas ser livre com o corpo também significa poder mudar”, diz. A mudança na forma física se deu após uma endocrinologista a alertar de que precisava perder 15% do peso para afastar o risco de diabetes. Inicialmente, Dani chegou a refutar a orientação por ter tentado emagrecer outras vezes sem êxito. A médica, então, lhe apresentou remédios novos à base de semaglutida, vistos com resistência por Dani, em função de críticas e alertas veiculados pela mídia. Formada em Biomedicina, mudou de ideia após ler artigos científicos recomendados pela endocrinologista. Acatou o tratamento e perdeu 50 quilos sem dietas restritivas. “Não me maltratei, nem mudei meus valores para encaixar num padrão. O processo se deu de maneira orgânica. Adotei um novo estilo de vida, passei a me alimentar melhor e a fazer exercícios, algo até então desaconselhado, sem ficar tão ofegante”. Ainda assim, a influenciadora se entende como mulher gorda. “Só estou menor. E o fato de ter perdido peso não diminui a importância da minha luta. Não é sobre peso, mas sobre o direito de ser quem você quiser, em qualquer corpo. O problema não é o Ozempic, mas o discurso gordofóbico em torno da sua utilização”. O movimento de “revolta” por parte dos seguidores não é algo restrito ao Brasil, como ficou claro no episódio de hate à influenciadora americana Dronme Davis, de 25 anos, acusada de traição por muitos de seus 100 mil seguidores. “O emagrecimento de personalidades midiáticas gera esse sentimento. É como se deixassem de existir na representação que garantiam para quem nunca teve visibilidade”, explica Manuela Xavier, apontando para uma “tokenização” das pessoas gordas. “A sociedade cobra que elas falem de amor-próprio e se mantenham gordas. Enquanto isso, as magras podem ser múltiplas: elogiadas por correr, fazer bolos ou comunicar moda.” A nutricionista carioca Carla Cotta diz que as mudanças no corpo, muitas vezes, são o resultado de um estilo de vida mais leve. “Quando alguém começa a viver de forma mais tranquila em relação ao próprio corpo, muitas vezes emagrece como consequência. Sem o estresse da cobrança, o organismo regula melhor os processos hormonais. Não estamos falando de dietas restritivas, mas de uma mudança no estilo de vida motivada pelo prazer”, afirma. “Infelizmente, muitos profissionais ainda veem o emagrecimento como a única solução para pessoas gordas, prescrevendo dietas restritivas que ignoram o indivíduo como um todo. Essa é uma forma de gordofobia médica que precisa ser combatida. Cada pessoa é única e a saúde não pode ser resumida ao peso”, completa a especialista. A discussão sobre a liberdade corporal precisa ganhar, definitivamente, novos contornos.
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