'Só estamos tentando sobreviver', diz pai do estudante morto pela PM
O médico Júlio César Acosta Navarro, pai de Marco Aurélio Cardenas Acosta, afirma que a família não foi procurada pelo governo e que não conseguiu pensar em medidas legais Desde a madrugada de quarta-feira (20), o médico Júlio César Acosta Navarro e a família vivem um verdadeiro pesadelo. Seu filho, o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto com um tiro na barriga por policiais militares dentro de um hotel na Vila Mariana, na região Sul de São Paulo. Perplexo com a covardia do ato em si, mas também com a falta de um posicionamento do governo estadual, responsável pela Polícia Militar, Navarro busca explicações para o crime ao mesmo tempo em que organiza o funeral de seu caçula, previsto para amanhã. Como o senhor soube da morte do seu filho? Desde às 3h da madrugada de quarta, estamos vivendo um pesadelo que não acaba. Quando cheguei ao hotel perto de casa, encontrei dezesseis oficiais militares, com quatro carros, e nenhum quis me informar o que estava acontecendo. Não me deixaram entrar no hotel. Não me disseram que meu filho tinha sido atingido por um tiro. Não queriam que eu fosse ao hospital. O senhor chegou a vê-lo? Quando cheguei ao centro médico, meu filho me pediu que eu o ajudasse. Ele estava em choque hipovolêmico [quando há uma perda significativa de sangue e fluidos corporais, limitando a capacidade do corpo de fornecer oxigênio e sangue a todos os órgãos]. E eu reclamando para que subissem com ele ao centro cirúrgico, e para tomar soro. Acompanhei meu filhos em seus últimos momentos. Ele teve uma, duas, três paradas e ele não resistiu. O senhor falou com os policiais no hospital? No hospital Ipiranga, eu reclamei novamente com os soldados, para que explicassem o que tinha acontecido, me dessem uma informação técnica que pudesse servir aos médicos, para um diagnóstico adequado. Eles responderam que estavam fazendo investigações, e que o soldado que atirou não estava presente. E assim passaram as horas, um capitão veio e me deu uma versão de que meu filho tinha chutado o carro, que meu filho tinha atacado, que meu filho tinha tentando tirar a arma, e por isso atiraram. Eu respondi que isso é impossível. Às seis horas, quando deram como óbito, os policiais sumiram totalmente. Os policiais e qualquer autoridade até agora sumiram. Eu não tinha uma versão oficial. Como era o Marco Aurélio? Meu filho era um rapaz tranquilo, estava estudando medicina, iria se formar médico. Esta semana mesmo tinha um congresso para apresentar um tema livre. Ele jogava futebol na universidade, sempre foi muito tranquilo. Meu filho não tem histórico criminal. Meu filho estudava medicina. Minha família é de médicos, sou professor da USP, minha mulher é cientista. Somos uma família que gosta da intelectualidade, da produção científica. Meus filhos cresceram neste meio. Quando o senhor soube o que, de fato, aconteceu? Só à tarde, quando fui ao cemitério com minha esposa, uma moça nos mostrou as imagens da câmera do hotel e nós soubemos a verdade. A crueldade, a covardia, a maldade, o sadismo que tiveram esses policiais. Como poder tirar a vida de uma pessoa indefesa, um jovem baixinho, franzino, sem nenhum motivo? O único motivo, provavelmente, era que esses policiais estavam com raiva, com preconceito, com xenofobia. De repente, estavam doentes também. Porque qual seria a explicação? Eles têm que dar essa explicação. Alguma autoridade procurou sua família? Até agora, ninguém se manifestou. Não sei se acreditam na teoria de que a poeira vai baixar…. De que, com o tempo, se esquece. Isso é a maior covardia. Desde ontem, com vários meios de comunicação ao vivo relatando o caso, o governo percebeu a situação dantesca. A gente denunciou diretamente esta criminalidade, e os meios de comunicação conclamaram as autoridades a darem uma uma explicação, pedir uma desculpa, pedir um perdão, pela evidência da falha desses funcionários. Vocês irão tomar alguma medida legal? Nós estamos chocados, não temos condições de pensar em algo em termos legais. Simplesmente, estamos tentando sobreviver aqui emocionalmente, organizar a despedida dele. Foi uma coisa aterradora. Isso talvez ocorra em outro lugar, em outros tempos. Mas agora que todo mundo sabe… Essas autoridades não fazem nada? O senhor acredita que seu filho sairia como criminoso se as imagens do hotel não existissem? Sim. Essas foram as palavras deles. Dentro de toda essa madrugada de terror, um capitão, que se apresentou como Guerra, disse isso. Contou que eles tinham câmeras próprias. E que meu filho tinha iniciado isso, agredido os policiais, tentado agarrar a arma dele. Essa foi a versão oral que me deu. E isso é falso. Isso é falso. Não existe nenhuma justificativa para que se faça o que foi feito nessa filmagem. Meu filho não teve chance, entendeu? Ele não estava armado. A moça que estava com ele no momento viu tudo acontecer? Meu segundo filho tem um áudio da moça com quem o Marco estava , que era tipo uma namoradinha, relatand
O médico Júlio César Acosta Navarro, pai de Marco Aurélio Cardenas Acosta, afirma que a família não foi procurada pelo governo e que não conseguiu pensar em medidas legais Desde a madrugada de quarta-feira (20), o médico Júlio César Acosta Navarro e a família vivem um verdadeiro pesadelo. Seu filho, o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, foi morto com um tiro na barriga por policiais militares dentro de um hotel na Vila Mariana, na região Sul de São Paulo. Perplexo com a covardia do ato em si, mas também com a falta de um posicionamento do governo estadual, responsável pela Polícia Militar, Navarro busca explicações para o crime ao mesmo tempo em que organiza o funeral de seu caçula, previsto para amanhã. Como o senhor soube da morte do seu filho? Desde às 3h da madrugada de quarta, estamos vivendo um pesadelo que não acaba. Quando cheguei ao hotel perto de casa, encontrei dezesseis oficiais militares, com quatro carros, e nenhum quis me informar o que estava acontecendo. Não me deixaram entrar no hotel. Não me disseram que meu filho tinha sido atingido por um tiro. Não queriam que eu fosse ao hospital. O senhor chegou a vê-lo? Quando cheguei ao centro médico, meu filho me pediu que eu o ajudasse. Ele estava em choque hipovolêmico [quando há uma perda significativa de sangue e fluidos corporais, limitando a capacidade do corpo de fornecer oxigênio e sangue a todos os órgãos]. E eu reclamando para que subissem com ele ao centro cirúrgico, e para tomar soro. Acompanhei meu filhos em seus últimos momentos. Ele teve uma, duas, três paradas e ele não resistiu. O senhor falou com os policiais no hospital? No hospital Ipiranga, eu reclamei novamente com os soldados, para que explicassem o que tinha acontecido, me dessem uma informação técnica que pudesse servir aos médicos, para um diagnóstico adequado. Eles responderam que estavam fazendo investigações, e que o soldado que atirou não estava presente. E assim passaram as horas, um capitão veio e me deu uma versão de que meu filho tinha chutado o carro, que meu filho tinha atacado, que meu filho tinha tentando tirar a arma, e por isso atiraram. Eu respondi que isso é impossível. Às seis horas, quando deram como óbito, os policiais sumiram totalmente. Os policiais e qualquer autoridade até agora sumiram. Eu não tinha uma versão oficial. Como era o Marco Aurélio? Meu filho era um rapaz tranquilo, estava estudando medicina, iria se formar médico. Esta semana mesmo tinha um congresso para apresentar um tema livre. Ele jogava futebol na universidade, sempre foi muito tranquilo. Meu filho não tem histórico criminal. Meu filho estudava medicina. Minha família é de médicos, sou professor da USP, minha mulher é cientista. Somos uma família que gosta da intelectualidade, da produção científica. Meus filhos cresceram neste meio. Quando o senhor soube o que, de fato, aconteceu? Só à tarde, quando fui ao cemitério com minha esposa, uma moça nos mostrou as imagens da câmera do hotel e nós soubemos a verdade. A crueldade, a covardia, a maldade, o sadismo que tiveram esses policiais. Como poder tirar a vida de uma pessoa indefesa, um jovem baixinho, franzino, sem nenhum motivo? O único motivo, provavelmente, era que esses policiais estavam com raiva, com preconceito, com xenofobia. De repente, estavam doentes também. Porque qual seria a explicação? Eles têm que dar essa explicação. Alguma autoridade procurou sua família? Até agora, ninguém se manifestou. Não sei se acreditam na teoria de que a poeira vai baixar…. De que, com o tempo, se esquece. Isso é a maior covardia. Desde ontem, com vários meios de comunicação ao vivo relatando o caso, o governo percebeu a situação dantesca. A gente denunciou diretamente esta criminalidade, e os meios de comunicação conclamaram as autoridades a darem uma uma explicação, pedir uma desculpa, pedir um perdão, pela evidência da falha desses funcionários. Vocês irão tomar alguma medida legal? Nós estamos chocados, não temos condições de pensar em algo em termos legais. Simplesmente, estamos tentando sobreviver aqui emocionalmente, organizar a despedida dele. Foi uma coisa aterradora. Isso talvez ocorra em outro lugar, em outros tempos. Mas agora que todo mundo sabe… Essas autoridades não fazem nada? O senhor acredita que seu filho sairia como criminoso se as imagens do hotel não existissem? Sim. Essas foram as palavras deles. Dentro de toda essa madrugada de terror, um capitão, que se apresentou como Guerra, disse isso. Contou que eles tinham câmeras próprias. E que meu filho tinha iniciado isso, agredido os policiais, tentado agarrar a arma dele. Essa foi a versão oral que me deu. E isso é falso. Isso é falso. Não existe nenhuma justificativa para que se faça o que foi feito nessa filmagem. Meu filho não teve chance, entendeu? Ele não estava armado. A moça que estava com ele no momento viu tudo acontecer? Meu segundo filho tem um áudio da moça com quem o Marco estava , que era tipo uma namoradinha, relatando de maneira dramática que ele foi agredido sem motivo, chorando, angustiado. Existe esse áudio, né? Agora, está circulando uma versão, num depoimento posterior, horas depois, dessa moça dizendo outras coisas. Acredito que possa ser até pressionada pela polícia. Não seria a primeira vez.
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