Rússia confirma tomada de cidade de Vuhledar, no leste da Ucrânia

Anúncio veio um dia depois de Kiev confirmar que batalhão responsável por defesa da área havia recuado, diante do avanço da ofensiva russa O Ministério da Defesa da Rússia anunciou a tomada de Vuhledar, cidade no leste da Ucrânia, um dia depois do último batalhão ucraniano na área abandonar suas posições de defesa. Desde março de 2022 os russos tentavam assumir o controle da cidade, chamada por alguns de “fortaleza”, e a tomada serviu como mais uma vitória para o Kremlin em sua ofensiva na região. Valores elevados até 2027: Rússia vai aumentar gastos com defesa em quase 30% em 2025 Kiev afirma que operações foram ilegais: Rússia lucrou bilhões com grãos de áreas ocupadas na Ucrânia em quase três anos de guerra Em comunicado, o Ministério da Defesa afirmou que “como resultado de ações decisivas de unidades do grupo de tropas Vostok, a cidade de Vuhledar, na República Popular de Donetsk, foi libertada”. Segundo o chefe regional pró-Moscou de Donetsk, Denis Pushilin, os cerca de 115 civis que estavam na cidade (antes da guerra eram 14 mil) “esrão recebendo toda a assistência necessária dos militares”. Imagens de bandeiras russas no topo de prédio também foram divulgadas por agências de notícias do país. Cidade carvoeira fundada pelos soviéticos nos anos 1960, a tomada de Vuhledar era um objetivo das forças russas em Donetsk desde os primeiros movimentos da guerra, em março de 2022. Mas as forças ucranianas conseguiram resistir às ofensivas, e chegaram a protagonizar a maior batalha de tanques do conflito, que se prolongou por mais de duas semanas e acabou com vitória de Kiev. Liderados por China e Brasil: 12 países divulgam comunicado propondo 'grupo de amigos pela paz' para buscar acordo entre Rússia e Ucrânia Contudo, os russos mudaram suas estratégias nas últimas semanas, e ao invés de buscar o embate direto com as linhas defensivas, passaram a atuar nos flancos, surpreendendo as tropas ucranianas. Os problemas de suprimentos e a realocação de recursos para ajudar em outra linha defensiva, a de Pokrovsk, a 80 km ao norte, abalaram a capacidade de resistência, e a tomada da última porta de entrada para a cidade pelos russos tornou a capitulação inevitável. Segundo militares ucranianos ouvidos pela BBC, a retirada de fato começou antes mesmo do anúncio feio pelo comando local, na quinta-feira, e ocorreu de forma até certo ponto descontrolada. Nesta quinta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, defendeu a decisão de recuar. — Não podemos deter a Rússia sem armas apropriadas. Então, quando eles destruírem as posições das nossas tropas, devemos proteger as suas vidas porque são mais importantes do que quaisquer edifícios — disse Zelensky, em entrevista coletiva ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, em Kiev. — [Os soldados] são o nosso povo, são cidadãos ucranianos. Portanto, foi correto que eles tenham saído e se salvado. Pelo bem do nosso estado, pelo bem do seu serviço heróico, foi um passo absolutamente correto. Na véspera da confirmação do Ministério da Defesa russo, autoridades pró-Moscou na região apontavam que a cidade já estava de fato tomada, e as bandeiras tricolores (e até da União Soviética) foram hasteadas nos prédios da administração pública. Mas eles alertavam que ainda havia unidades ucranianas em pontos estratégicos, uma ameaça que, segundo Pushilin, já não existe. Apesar de não ter a mesma importância estratégica de Pokrovsk, que fica em um importante entroncamento viário e ferroviário em Donetsk, Vuhledar fica em um ponto mais elevado do terreno, permitindo ataques contra as forças ucranianas. 'A situação é difícil e não irá melhorar': Sob ameaça de invasão russa, Pokrovsk fica sem água, gás e eletricidade Em termos logísticos, a cidade era considerada o último bastião de defesa no sul de Donetsk, e vai abrir caminho para uma rodovia rumo a Mariupol, e permitir o avanço rumo à divisa com a região de Zaporíjia, em uma área onde Kiev mantém posições defensivas. Em termos econômicos, especialistas apontam que, não muito longe dali, há um dos maiores depósitos de lítio da Europa. A tomada serve ainda como elemento para a propaganda de guerra de Vladimir Putin. Apesar da incursão ucraniana em Kursk, iniciada em agosto, a Rússia não interrompeu seu avanço pelo leste ucraniano, e está perto de tomar Pokrovsk, usando uma estratégia até certo ponto similar à de Vuhledar. No momento em que a guerra se aproxima dos mil dias, novas conquistas, inclusive uma hipotética tomada completa da região Donetsk, seria para o Kremlin uma “prova” de que o esforço de guerra está dando resultados, tanto para o público interno como para o externo.

Oct 4, 2024 - 03:13
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Rússia confirma tomada de cidade de Vuhledar, no leste da Ucrânia

Anúncio veio um dia depois de Kiev confirmar que batalhão responsável por defesa da área havia recuado, diante do avanço da ofensiva russa O Ministério da Defesa da Rússia anunciou a tomada de Vuhledar, cidade no leste da Ucrânia, um dia depois do último batalhão ucraniano na área abandonar suas posições de defesa. Desde março de 2022 os russos tentavam assumir o controle da cidade, chamada por alguns de “fortaleza”, e a tomada serviu como mais uma vitória para o Kremlin em sua ofensiva na região. Valores elevados até 2027: Rússia vai aumentar gastos com defesa em quase 30% em 2025 Kiev afirma que operações foram ilegais: Rússia lucrou bilhões com grãos de áreas ocupadas na Ucrânia em quase três anos de guerra Em comunicado, o Ministério da Defesa afirmou que “como resultado de ações decisivas de unidades do grupo de tropas Vostok, a cidade de Vuhledar, na República Popular de Donetsk, foi libertada”. Segundo o chefe regional pró-Moscou de Donetsk, Denis Pushilin, os cerca de 115 civis que estavam na cidade (antes da guerra eram 14 mil) “esrão recebendo toda a assistência necessária dos militares”. Imagens de bandeiras russas no topo de prédio também foram divulgadas por agências de notícias do país. Cidade carvoeira fundada pelos soviéticos nos anos 1960, a tomada de Vuhledar era um objetivo das forças russas em Donetsk desde os primeiros movimentos da guerra, em março de 2022. Mas as forças ucranianas conseguiram resistir às ofensivas, e chegaram a protagonizar a maior batalha de tanques do conflito, que se prolongou por mais de duas semanas e acabou com vitória de Kiev. Liderados por China e Brasil: 12 países divulgam comunicado propondo 'grupo de amigos pela paz' para buscar acordo entre Rússia e Ucrânia Contudo, os russos mudaram suas estratégias nas últimas semanas, e ao invés de buscar o embate direto com as linhas defensivas, passaram a atuar nos flancos, surpreendendo as tropas ucranianas. Os problemas de suprimentos e a realocação de recursos para ajudar em outra linha defensiva, a de Pokrovsk, a 80 km ao norte, abalaram a capacidade de resistência, e a tomada da última porta de entrada para a cidade pelos russos tornou a capitulação inevitável. Segundo militares ucranianos ouvidos pela BBC, a retirada de fato começou antes mesmo do anúncio feio pelo comando local, na quinta-feira, e ocorreu de forma até certo ponto descontrolada. Nesta quinta-feira, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, defendeu a decisão de recuar. — Não podemos deter a Rússia sem armas apropriadas. Então, quando eles destruírem as posições das nossas tropas, devemos proteger as suas vidas porque são mais importantes do que quaisquer edifícios — disse Zelensky, em entrevista coletiva ao lado do secretário-geral da Otan, Mark Rutte, em Kiev. — [Os soldados] são o nosso povo, são cidadãos ucranianos. Portanto, foi correto que eles tenham saído e se salvado. Pelo bem do nosso estado, pelo bem do seu serviço heróico, foi um passo absolutamente correto. Na véspera da confirmação do Ministério da Defesa russo, autoridades pró-Moscou na região apontavam que a cidade já estava de fato tomada, e as bandeiras tricolores (e até da União Soviética) foram hasteadas nos prédios da administração pública. Mas eles alertavam que ainda havia unidades ucranianas em pontos estratégicos, uma ameaça que, segundo Pushilin, já não existe. Apesar de não ter a mesma importância estratégica de Pokrovsk, que fica em um importante entroncamento viário e ferroviário em Donetsk, Vuhledar fica em um ponto mais elevado do terreno, permitindo ataques contra as forças ucranianas. 'A situação é difícil e não irá melhorar': Sob ameaça de invasão russa, Pokrovsk fica sem água, gás e eletricidade Em termos logísticos, a cidade era considerada o último bastião de defesa no sul de Donetsk, e vai abrir caminho para uma rodovia rumo a Mariupol, e permitir o avanço rumo à divisa com a região de Zaporíjia, em uma área onde Kiev mantém posições defensivas. Em termos econômicos, especialistas apontam que, não muito longe dali, há um dos maiores depósitos de lítio da Europa. A tomada serve ainda como elemento para a propaganda de guerra de Vladimir Putin. Apesar da incursão ucraniana em Kursk, iniciada em agosto, a Rússia não interrompeu seu avanço pelo leste ucraniano, e está perto de tomar Pokrovsk, usando uma estratégia até certo ponto similar à de Vuhledar. No momento em que a guerra se aproxima dos mil dias, novas conquistas, inclusive uma hipotética tomada completa da região Donetsk, seria para o Kremlin uma “prova” de que o esforço de guerra está dando resultados, tanto para o público interno como para o externo.

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