Robert Smith, do The Cure, volta aos palcos com preços acessíveis para a 'família' de fãs: 'Sei como eles lutam apenas para viver'

Banda britânica de prepara para os shows de 'Songs of a lost world', seu primeiro álbum de estúdio em 16 anos Há poucos dias, num domingo à noite, a banda The Cure, que definiu uma vertente sombria do pós-punk britânico, começou a se preparar em Brighton para os shows de “Songs of a lost world”, seu primeiro álbum de estúdio em 16 anos, lançado semana passada. No estúdio, Robert Smith, líder do grupo, explicou sua relutância nos últimos anos em dar entrevistas. — Não quero que minha cabeça seja arrastada de volta para a ideia de que sou “o Robert Smith do Cure” — disse ele, levantando uma sobrancelha sombreada de azul. — Isso não combina mais comigo. No entanto, aos 65 anos, ele ainda é inconfundível como o Robert Smith do Cure, todo vestido de preto, com uma mancha de batom e seu característico cabelo emaranhado, agora com um tom de cinza. No auge do Cure, nas décadas de 1980 e 1990, ele era um príncipe elegante da cena alternativa, inspirando não apenas um visual, mas todo um tipo de personalidade — o gótico apaixonado —, enquanto a banda traçava um caminho através da angústia melancólica (“Boys don’t cry”), de toadas mais dançantes (“Just like heaven”) e de uma neopsicodelia expansiva e temperamental (“Pictures of you”) que a tornou modelo para gerações. Recentemente, Smith também se tornou uma voz proeminente que pede reformas no desconcertante mundo da venda de ingressos para shows, em que os preços estão fora de controle e os fãs muitas vezes ficam frustrados e confusos ou são enganados. Em postagens nas redes sociais, chamou a atenção para os problemas que cercaram a venda de ingressos para a turnê mais recente da banda. Ele canalizou reclamações de fãs, criticou cambistas e reclamou sobre taxas que chegam a dobrar o custo de um pedido. Para a primeira turnê americana do Cure em sete anos, Smith estava determinado a manter os preços acessíveis, certificando-se de que cada local tivesse assentos a US$ 20 ou US$ 25 — extraordinariamente baixo para um show em uma arena em um momento em que o custo médio de um assento para uma das cem melhores turnês custa US$ 131. Em parte, ele estava pensando em seus fãs mais jovens. Embora não tenha filhos, “agora tenho uma família enorme, uma família mais ampla”, disse ele. — E sei como eles lutam apenas para viver. Desde o início, houve sinais de problemas. Os contatos comerciais da banda insistiram que os preços não eram realistas, que os planos de Smith “contrariavam todas as práticas comerciais comprovadas e que seria um desastre completo”, disse Smith. Mas ele não acreditou. Nos anos seguintes a “4:13 Dream” (2008), o Cure não tinha gravadora nem empresário, e Smith começou a estudar de perto a economia do negócio em que atuava desde a adolescência. Ele decidiu que uma turnê poderia ser realizada de forma lucrativa com um orçamento pequeno e preços de ingressos modestos. Para garantir que os tíquetes acabassem com os fãs e não com os cambistas, usou o sistema de registro de fãs verificados da Ticketmaster e tornou os ingressos intransferíveis. A banda também não usou preços dinâmicos, que permitem que flutuem (geralmente para cima) com a demanda — um esquema que tem sido usado por estrelas como Bruce Springsteen, Beyoncé e Oasis, e que Smith chama de “golpe”. ‘Algo incrível’ Logo depois que os ingressos foram colocados à venda, as coisas começaram a dar errado. Os fãs reclamaram de problemas, e os cambistas chegaram ao ponto de negociar contas “antigas” da Ticketmaster para conseguir assentos. Então, ricocheteou nas redes sociais uma prova de que as taxas acrescentaram US$ 92 a um pedido de quatro ingressos de US$ 20. Em 15 de março de 2023, Smith pediu à Ticketmaster que justificasse essas taxas; no dia seguinte, ele disse que a empresa concordou em devolver até US$ 10 para cada pedido. Em uma entrevista em podcast no ano passado, Michael Rapino, CEO da Live Nation, disse que a decisão custou à empresa “cerca de US$ 1 milhão”. A turnê acabou sendo a de maior sucesso de todos os tempos do Cure, vendendo US$ 37,5 milhões em ingressos na América do Norte. Smith também está orgulhoso das vendas de mercadorias; ao oferecer camisetas por US$ 25 em vez de US$ 50, o Cure vendeu o dobro. No entanto, ele zomba da sugestão de que sua campanha foi uma vitória. Ele chamou o episódio de um mero “conflito” e disse que o reembolso da Ticketmaster não mudou fundamentalmente nada em um sistema voltado para maximizar o lucro às custas dos fãs. Ainda assim, ao desafiar o sistema, Smith inspirou muitos artistas a considerarem fazer mudanças na forma como fazem turnês, disse Kevin Erickson, diretor executivo da Future of Music Coalition: — Ele fez algo incrível. Isso encorajou muitos artistas, que estão falando mais sobre essas coisas.

Nov 8, 2024 - 06:08
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Robert Smith, do The Cure, volta aos palcos com preços acessíveis para a 'família' de fãs: 'Sei como eles lutam apenas para viver'

Banda britânica de prepara para os shows de 'Songs of a lost world', seu primeiro álbum de estúdio em 16 anos Há poucos dias, num domingo à noite, a banda The Cure, que definiu uma vertente sombria do pós-punk britânico, começou a se preparar em Brighton para os shows de “Songs of a lost world”, seu primeiro álbum de estúdio em 16 anos, lançado semana passada. No estúdio, Robert Smith, líder do grupo, explicou sua relutância nos últimos anos em dar entrevistas. — Não quero que minha cabeça seja arrastada de volta para a ideia de que sou “o Robert Smith do Cure” — disse ele, levantando uma sobrancelha sombreada de azul. — Isso não combina mais comigo. No entanto, aos 65 anos, ele ainda é inconfundível como o Robert Smith do Cure, todo vestido de preto, com uma mancha de batom e seu característico cabelo emaranhado, agora com um tom de cinza. No auge do Cure, nas décadas de 1980 e 1990, ele era um príncipe elegante da cena alternativa, inspirando não apenas um visual, mas todo um tipo de personalidade — o gótico apaixonado —, enquanto a banda traçava um caminho através da angústia melancólica (“Boys don’t cry”), de toadas mais dançantes (“Just like heaven”) e de uma neopsicodelia expansiva e temperamental (“Pictures of you”) que a tornou modelo para gerações. Recentemente, Smith também se tornou uma voz proeminente que pede reformas no desconcertante mundo da venda de ingressos para shows, em que os preços estão fora de controle e os fãs muitas vezes ficam frustrados e confusos ou são enganados. Em postagens nas redes sociais, chamou a atenção para os problemas que cercaram a venda de ingressos para a turnê mais recente da banda. Ele canalizou reclamações de fãs, criticou cambistas e reclamou sobre taxas que chegam a dobrar o custo de um pedido. Para a primeira turnê americana do Cure em sete anos, Smith estava determinado a manter os preços acessíveis, certificando-se de que cada local tivesse assentos a US$ 20 ou US$ 25 — extraordinariamente baixo para um show em uma arena em um momento em que o custo médio de um assento para uma das cem melhores turnês custa US$ 131. Em parte, ele estava pensando em seus fãs mais jovens. Embora não tenha filhos, “agora tenho uma família enorme, uma família mais ampla”, disse ele. — E sei como eles lutam apenas para viver. Desde o início, houve sinais de problemas. Os contatos comerciais da banda insistiram que os preços não eram realistas, que os planos de Smith “contrariavam todas as práticas comerciais comprovadas e que seria um desastre completo”, disse Smith. Mas ele não acreditou. Nos anos seguintes a “4:13 Dream” (2008), o Cure não tinha gravadora nem empresário, e Smith começou a estudar de perto a economia do negócio em que atuava desde a adolescência. Ele decidiu que uma turnê poderia ser realizada de forma lucrativa com um orçamento pequeno e preços de ingressos modestos. Para garantir que os tíquetes acabassem com os fãs e não com os cambistas, usou o sistema de registro de fãs verificados da Ticketmaster e tornou os ingressos intransferíveis. A banda também não usou preços dinâmicos, que permitem que flutuem (geralmente para cima) com a demanda — um esquema que tem sido usado por estrelas como Bruce Springsteen, Beyoncé e Oasis, e que Smith chama de “golpe”. ‘Algo incrível’ Logo depois que os ingressos foram colocados à venda, as coisas começaram a dar errado. Os fãs reclamaram de problemas, e os cambistas chegaram ao ponto de negociar contas “antigas” da Ticketmaster para conseguir assentos. Então, ricocheteou nas redes sociais uma prova de que as taxas acrescentaram US$ 92 a um pedido de quatro ingressos de US$ 20. Em 15 de março de 2023, Smith pediu à Ticketmaster que justificasse essas taxas; no dia seguinte, ele disse que a empresa concordou em devolver até US$ 10 para cada pedido. Em uma entrevista em podcast no ano passado, Michael Rapino, CEO da Live Nation, disse que a decisão custou à empresa “cerca de US$ 1 milhão”. A turnê acabou sendo a de maior sucesso de todos os tempos do Cure, vendendo US$ 37,5 milhões em ingressos na América do Norte. Smith também está orgulhoso das vendas de mercadorias; ao oferecer camisetas por US$ 25 em vez de US$ 50, o Cure vendeu o dobro. No entanto, ele zomba da sugestão de que sua campanha foi uma vitória. Ele chamou o episódio de um mero “conflito” e disse que o reembolso da Ticketmaster não mudou fundamentalmente nada em um sistema voltado para maximizar o lucro às custas dos fãs. Ainda assim, ao desafiar o sistema, Smith inspirou muitos artistas a considerarem fazer mudanças na forma como fazem turnês, disse Kevin Erickson, diretor executivo da Future of Music Coalition: — Ele fez algo incrível. Isso encorajou muitos artistas, que estão falando mais sobre essas coisas.

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