Quem quer que seja o vencedor, Kamala ou Trump fará história na eleição mais significativa em 20 anos nos EUA
Resultado modificará o país desde o direito das mulheres ao dos imigrantes e minorias até a própria posição no tabuleiro global, a direção de sua robusta economia e seu protagonismo na crise do clima Quem quer que saia vencedor das eleições desta terça-feira dos EUA, apontadas pelos dois lados como um ponto de inflexão para a democracia americana, fará História: ou a democrata Kamala Harris será a primeira mulher a chegar à Casa Branca, ou o republicano Donald Trump se tornará o primeiro presidente em 132 anos a voltar ao cargo após ter sido derrotado quatro anos antes. E o mais velho. Se o resultado pode demorar até uma semana para ser anunciado, é certo que o pleito mais consequente dos últimos 20 anos na maior potência global a modificará de forma sensível, do direito das mulheres ao dos imigrantes e minorias até a própria posição do país no tabuleiro global, a direção de sua robusta economia e seu protagonismo na crise do clima. Eleições americanas 2024: Eleição entra na reta final; acompanhe a apuração ao vivo Apuração: Veja contagem dos votos ao vivo Mobilizando eleitores Os dois lados passaram a terça-feira mobilizando eleitores em uma disputa que todas as pesquisas seguiram mostrando empatada até o último minuto tanto no voto popular quanto nos sete estados mais decisivos, que devem definir quem conseguirá os 270 votos necessários para a vitória no Colégio Eleitoral — Pensilvânia, Wisconsin, Michigan, Carolina do Norte, Geórgia e Nevada. Também seguia indefinido quem terá a maioria no Senado e na Câmara, decisivas para o avanço de políticas públicas e mudanças estruturais pelo novo Executivo. Em uma campanha marcada pela violência, há receio de autoridades e especialistas de semanas turbulentas até a posse do vencedor, especialmente se Kamala vencer por pouco. Na Flórida, onde votou na terça-feira, Trump afirmou que será “o primeiro a reconhecer” os resultados da eleição, mas desde que ela seja “justa”. 'Sobrevivente político': Trump passou de azarão a símbolo do radicalismo nos Estados Unidos — Se eu perder uma eleição, e for uma eleição justa, eu serei o primeiro a admitir, e eu acho que é (justa), bem, até agora eu acho que tem sido justa. O republicano também disse que não planeja instruir seus apoiadores a evitar a violência caso ele perca, porque eles “não são pessoas violentas”, mas repetiu em seus comícios, inclusive nos últimos dias, que “se eu perder, foi fraude dos democratas”. Eleitor vota antecipadamente em centro de votação em Michigan Jeff Kowalsky/AFP Trump e Kamala encerraram suas campanhas já na madrugada de terça-feira, nas últimas horas antes do início da eleição, com humores claramente distintos: o magnata republicano muitas vezes pareceu exausto em arenas que não estavam cheias e alegou que o país estava à beira da ruína. Já a democrata prometeu um futuro mais unido enquanto apoiadores gritavam ao seu lado: “Nós não vamos voltar atrás”. — A América está pronta para um novo começo, onde vemos nossos concidadãos não como inimigos, mas como vizinhos — disse Kamala a apoiadores em um campus universitário em Allentown, na Pensilvânia. Em post publicado em sua conta no Instagram, que teve 1,1 milhão de curtidas, Kamala escreveu: “Estados Unidos, este é o momento de fazer suas vozes serem ouvidas.” Diferença nos direitos humanos É nos direitos humanos que os dois lados se diferem mais. Trump bateu durante a campanha na tecla de que a imigração irregular, recorde no governo Biden, aumentou a insegurança, complicou o aparato de saúde do país e retirou empregos de cidadãos negros e latinos. Embora nenhuma das afirmações seja confirmada por números, o tema apareceu como um dos centrais em todas as pesquisas e novamente na boca de urna da CNN de terça-feira, mas atrás de economia e defesa da democracia e no mesmo patamar do direito ao aborto. Trump promete a deportação de milhares de indivíduos que trabalham no país. Kamala defende uma reforma do sistema de imigração, com mais proteção na fronteira, mas com caminhos para os que já estão no país e são centrais para a economia em estados como a Geórgia, onde são fundamentais para a indústria frigorífica. No lado democrata, “liberdade individual” se traduziu na campanha na defesa ao direito ao aborto, tema que mobilizou eleitores, e notadamente eleitoras, como poucos. Desde que a Suprema Corte, com maioria de juízes conservadores por conta das indicações de Trump, cassou o acesso federal ao aborto, estados país afora têm decidido no voto pela proteção à saúde das mulheres. Aborto x isolacionismo Kamala foi a primeira líder nacional democrata a apontar a defesa do direito ao aborto como caminho para o sucesso eleitoral ainda em 2022, poucas horas após a decisão ser anunciada. Prometeu na campanha passar por decreto o retorno da permissão federal para a interrupção da gravidez, mas para isso precisará não só ter tido o maior número de votos como a maioria nas duas Casas do Capitólio. Se Trump vencer, um dos pilares de seu governo será o is
Resultado modificará o país desde o direito das mulheres ao dos imigrantes e minorias até a própria posição no tabuleiro global, a direção de sua robusta economia e seu protagonismo na crise do clima Quem quer que saia vencedor das eleições desta terça-feira dos EUA, apontadas pelos dois lados como um ponto de inflexão para a democracia americana, fará História: ou a democrata Kamala Harris será a primeira mulher a chegar à Casa Branca, ou o republicano Donald Trump se tornará o primeiro presidente em 132 anos a voltar ao cargo após ter sido derrotado quatro anos antes. E o mais velho. Se o resultado pode demorar até uma semana para ser anunciado, é certo que o pleito mais consequente dos últimos 20 anos na maior potência global a modificará de forma sensível, do direito das mulheres ao dos imigrantes e minorias até a própria posição do país no tabuleiro global, a direção de sua robusta economia e seu protagonismo na crise do clima. Eleições americanas 2024: Eleição entra na reta final; acompanhe a apuração ao vivo Apuração: Veja contagem dos votos ao vivo Mobilizando eleitores Os dois lados passaram a terça-feira mobilizando eleitores em uma disputa que todas as pesquisas seguiram mostrando empatada até o último minuto tanto no voto popular quanto nos sete estados mais decisivos, que devem definir quem conseguirá os 270 votos necessários para a vitória no Colégio Eleitoral — Pensilvânia, Wisconsin, Michigan, Carolina do Norte, Geórgia e Nevada. Também seguia indefinido quem terá a maioria no Senado e na Câmara, decisivas para o avanço de políticas públicas e mudanças estruturais pelo novo Executivo. Em uma campanha marcada pela violência, há receio de autoridades e especialistas de semanas turbulentas até a posse do vencedor, especialmente se Kamala vencer por pouco. Na Flórida, onde votou na terça-feira, Trump afirmou que será “o primeiro a reconhecer” os resultados da eleição, mas desde que ela seja “justa”. 'Sobrevivente político': Trump passou de azarão a símbolo do radicalismo nos Estados Unidos — Se eu perder uma eleição, e for uma eleição justa, eu serei o primeiro a admitir, e eu acho que é (justa), bem, até agora eu acho que tem sido justa. O republicano também disse que não planeja instruir seus apoiadores a evitar a violência caso ele perca, porque eles “não são pessoas violentas”, mas repetiu em seus comícios, inclusive nos últimos dias, que “se eu perder, foi fraude dos democratas”. Eleitor vota antecipadamente em centro de votação em Michigan Jeff Kowalsky/AFP Trump e Kamala encerraram suas campanhas já na madrugada de terça-feira, nas últimas horas antes do início da eleição, com humores claramente distintos: o magnata republicano muitas vezes pareceu exausto em arenas que não estavam cheias e alegou que o país estava à beira da ruína. Já a democrata prometeu um futuro mais unido enquanto apoiadores gritavam ao seu lado: “Nós não vamos voltar atrás”. — A América está pronta para um novo começo, onde vemos nossos concidadãos não como inimigos, mas como vizinhos — disse Kamala a apoiadores em um campus universitário em Allentown, na Pensilvânia. Em post publicado em sua conta no Instagram, que teve 1,1 milhão de curtidas, Kamala escreveu: “Estados Unidos, este é o momento de fazer suas vozes serem ouvidas.” Diferença nos direitos humanos É nos direitos humanos que os dois lados se diferem mais. Trump bateu durante a campanha na tecla de que a imigração irregular, recorde no governo Biden, aumentou a insegurança, complicou o aparato de saúde do país e retirou empregos de cidadãos negros e latinos. Embora nenhuma das afirmações seja confirmada por números, o tema apareceu como um dos centrais em todas as pesquisas e novamente na boca de urna da CNN de terça-feira, mas atrás de economia e defesa da democracia e no mesmo patamar do direito ao aborto. Trump promete a deportação de milhares de indivíduos que trabalham no país. Kamala defende uma reforma do sistema de imigração, com mais proteção na fronteira, mas com caminhos para os que já estão no país e são centrais para a economia em estados como a Geórgia, onde são fundamentais para a indústria frigorífica. No lado democrata, “liberdade individual” se traduziu na campanha na defesa ao direito ao aborto, tema que mobilizou eleitores, e notadamente eleitoras, como poucos. Desde que a Suprema Corte, com maioria de juízes conservadores por conta das indicações de Trump, cassou o acesso federal ao aborto, estados país afora têm decidido no voto pela proteção à saúde das mulheres. Aborto x isolacionismo Kamala foi a primeira líder nacional democrata a apontar a defesa do direito ao aborto como caminho para o sucesso eleitoral ainda em 2022, poucas horas após a decisão ser anunciada. Prometeu na campanha passar por decreto o retorno da permissão federal para a interrupção da gravidez, mas para isso precisará não só ter tido o maior número de votos como a maioria nas duas Casas do Capitólio. Se Trump vencer, um dos pilares de seu governo será o isolacionismo político, com a exclusão de nomes ligados ao liberalismo tradicional e ao neoconservadorismo de seu Gabinete. Kamala, ao contrário, defende o fortalecimento da Otan, o incremento da política de contenção da China e mais atenção ainda à parceria com Austrália, Japão, Índia e protagonistas regionais, como as Filipinas, além de seguir o compromisso de apoio a Taiwan e Ucrânia. Quanto a Israel, deve buscar um equilíbrio melhor, ainda que improvável, entre o apoio ao Estado judeu e uma distensão na destruição física e humana em Gaza e no Líbano, do que conseguiu Biden. Centro de votação antecipada em Tucson, Arizona Olivier Touron / AFP Na economia, a posição anti-Pequim inclui a intenção de aumentar a tarifa dos produtos made in China em até 30%, o que, economistas de ponta alertam, pode ter efeito bumerangue na economia americana, com aumento da inflação e do custo de vida. Kamala, por sua vez, ofereceu um pacote populista menos centrado no nacionalismo e mais na redistribuição da renda e dos impostos, com o fim das isenções de impostos federais às grandes corporações e o incremento em projetos sociais de peso iniciados por Biden, entre eles a subvenção de imóveis populares para quem for comprar a primeira casa. Ao lançar dúvidas sobre um processo cuja legitimidade era tradicionalmente consensual, Trump jogou o sistema eleitoral americano, e talvez a própria democracia do país, em terreno desconhecido. O ex-presidente jamais reconheceu a derrota para Biden e construiu sua campanha, conduzida desde novembro de 2020, com base em ideias conspiratórias, desinformação eleitoral e na incitação à violência. Fortalece a razão dos eleitores que, na boca de urna da CNN, cravaram a defesa da democracia americana como prioridade na hora do voto. Tensão pós-eleitoral Ao longo da História recente dos EUA, os cerca de dois meses e meio entre a eleição do presidente e sua posse, normalmente em uma tarde fria de janeiro, ficaram conhecidos como um período de especulações sobre o Ministério, planos para os primeiros 100 dias no cargo e preparativos para o juramento oficial. Cenário que sofreu ruptura radical com a ofensiva do ex-presidente para tentar reverter a derrota para Biden em 2020: em vez das negociações de bastidores, o foco passou a ser no risco de terrorismo doméstico e novas tentativas para burlar os resultados. Durante a campanha, Trump sofreu duas tentativas de assassinato. A prioridade em todos os níveis de governo foi a de garantir a segurança da votação e dos trabalhadores envolvidos: até abril, durante as primárias, uma força-tarefa do Departamento de Justiça havia recebido cerca de 2 mil denúncias, incluindo ameaças de morte. Contudo, apenas 20 pessoas foram processadas e condenadas até hoje. Colaborou Filipe Barini
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