'Provocações nucleares apenas trarão o fim do regime em Pyongyang', afirma presidente da Coreia do Sul ao GLOBO
No Brasil para a reunião de cúpula do G20, Yoon Suk Yeol acredita em avanços em temas como o combate à pobreza, e critica envio de tropas norte-coreanas para a Ucrânia No mês passado, quando surgiram os primeiros indícios de que tropas norte-coreanas estavam em território russo e seriam enviadas para linhas de frente na Ucrânia, uma das reações mais duras veio de Seul: além de chamar o deslocamento de ilegal, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, sinalizou que poderia mudar a postura do país em relação ao conflito, que até agora não envolveu o envio de ajuda militar a Kiev. 10 mil militares estariam na Rússia: O que motiva os soldados norte-coreanos enviados para as linhas de frente na Ucrânia? 'Capacidade esmagadora': Bombardeiro dos EUA faz manobra aérea com aliados em resposta a teste de míssil da Coreia do Norte; fotos Em entrevista ao GLOBO, realizada antes de sua chegada ao Brasil para o encontro de cúpula do G20, que começa nesta segunda-feira, Yoon disse que a presença dos norte-coreanos na Rússia viola a Carta da ONU, e afirmou que Pyongyang não tem nada a ganhar ao ameaçar a Coreia do Sul com suas armas nucleares, a não ser "o fim do regime". Na conversa, o líder sul-coreano ainda expressou otimismo com as propostas brasileiras para o grupo, em especial sobre o clima e o combate à fome. A reunião do G20 no Rio de Janeiro acontece em um cenário marcado por crises, desde as mudanças climáticas até conflitos armados. Diante de um grupo tão diverso de países, o senhor acredita que seja possível chegar a consensos? Se sim, quais seriam eles? Neste ano, o foco das discussões em todos os níveis do G20 tem sido o combate à fome e à pobreza, a reforma da governança global, e o desenvolvimento sustentável e transição energética. São as 3 principais agendas prioritárias do Brasil, que preside atualmente o grupo. Tenho a expectativa de avanços significativos na oportunidade dessa cúpula de líderes. Primeiro, no que refere ao combate à fome e à pobreza, fiquei muito feliz pelo lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no âmbito do G20, sob a liderança do presidente Lula. Essa Aliança promove uma sinergia nos esforços da comunidade internacional para erradicar a fome e a pobreza e considero que ela poderá atuar como uma ponte entre os países que precisam de apoio e os que estão em posição de oferecê-lo. A Coreia pretende contribuir ativamente com base na sua experiência e conhecimento ao se transformar de um dos países mais pobres no pós-guerra a uma das principais economias do mundo. Também no que concerne à reforma da governança global, acredito que teremos discussões oportunas sob a liderança da presidência brasileira. Em particular, acredito que, à medida em que há o avanço do surgimento de blocos na ordem mundial, haverá discussões sobre o papel de organizações internacionais multilaterais como a ONU, a OMC (Organização Mundial do Comércio) e os bancos multilaterais de desenvolvimento, na preservação da ordem internacional baseada em normas. Por último, no que tange ao desenvolvimento sustentável e transição energética, acredito que iremos discutir meios de um esforço conjunto baseado no consenso dos países sobre a urgência da transição para a energia limpa como meio de alcançar a meta da neutralidade de carbono até 2050. O princípio 7 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, versa sobre a “responsabilidade comum, mas diferenciada”, em relação à degradação ambiental do planeta. Considerando que os países emergentes enfrentam dificuldade para se afastarem de combustíveis fósseis por razões de limitação econômica e tecnológica, acredito que podemos discutir alternativas racionais e realistas sobre essa questão. Em setembro de 2023, durante a Assembleia Geral da ONU, tive a oportunidade de sugerir a “Carbon Free Energy Initiative” ("Iniciativa de Energia Livre de Carbono"), pela qual se busca uma matriz energética razoável e limpa, adequada à realidade de cada país. Nesta cúpula, expressarei de forma clara o nosso compromisso de apoiar os países em desenvolvimento para que possam acessar mais facilmente energias limpas como o hidrogênio, a energia nuclear e a energia renovável. Assim, a fim de mitigarmos a disparidade da transição energética e alcançar a neutralidade de carbono, esperamos que mais países membros do G20, incluindo o Brasil, façam parte dessa iniciativa. Pressão: G20 deve liderar luta para salvar clima do planeta, diz secretário-geral da ONU Em outubro, quando o senhor falou sobre a aproximação entre Coreia do Norte e Rússia, incluindo a presença de tropas norte-coreanas na Ucrânia, disse que seu governo “jamais ficaria parado”. Isso pode significar um maior envolvimento na guerra? Instamos fortemente a interrupção e a retirada imediata das tropas norte-coreanas. O envio de tropas norte-coreanas à Rússia constitui uma violação da Carta das Nações Unidas e das resoluções do Conselho de Segurança, representando uma ameaça direta à nossa seg
No Brasil para a reunião de cúpula do G20, Yoon Suk Yeol acredita em avanços em temas como o combate à pobreza, e critica envio de tropas norte-coreanas para a Ucrânia No mês passado, quando surgiram os primeiros indícios de que tropas norte-coreanas estavam em território russo e seriam enviadas para linhas de frente na Ucrânia, uma das reações mais duras veio de Seul: além de chamar o deslocamento de ilegal, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-yeol, sinalizou que poderia mudar a postura do país em relação ao conflito, que até agora não envolveu o envio de ajuda militar a Kiev. 10 mil militares estariam na Rússia: O que motiva os soldados norte-coreanos enviados para as linhas de frente na Ucrânia? 'Capacidade esmagadora': Bombardeiro dos EUA faz manobra aérea com aliados em resposta a teste de míssil da Coreia do Norte; fotos Em entrevista ao GLOBO, realizada antes de sua chegada ao Brasil para o encontro de cúpula do G20, que começa nesta segunda-feira, Yoon disse que a presença dos norte-coreanos na Rússia viola a Carta da ONU, e afirmou que Pyongyang não tem nada a ganhar ao ameaçar a Coreia do Sul com suas armas nucleares, a não ser "o fim do regime". Na conversa, o líder sul-coreano ainda expressou otimismo com as propostas brasileiras para o grupo, em especial sobre o clima e o combate à fome. A reunião do G20 no Rio de Janeiro acontece em um cenário marcado por crises, desde as mudanças climáticas até conflitos armados. Diante de um grupo tão diverso de países, o senhor acredita que seja possível chegar a consensos? Se sim, quais seriam eles? Neste ano, o foco das discussões em todos os níveis do G20 tem sido o combate à fome e à pobreza, a reforma da governança global, e o desenvolvimento sustentável e transição energética. São as 3 principais agendas prioritárias do Brasil, que preside atualmente o grupo. Tenho a expectativa de avanços significativos na oportunidade dessa cúpula de líderes. Primeiro, no que refere ao combate à fome e à pobreza, fiquei muito feliz pelo lançamento da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza no âmbito do G20, sob a liderança do presidente Lula. Essa Aliança promove uma sinergia nos esforços da comunidade internacional para erradicar a fome e a pobreza e considero que ela poderá atuar como uma ponte entre os países que precisam de apoio e os que estão em posição de oferecê-lo. A Coreia pretende contribuir ativamente com base na sua experiência e conhecimento ao se transformar de um dos países mais pobres no pós-guerra a uma das principais economias do mundo. Também no que concerne à reforma da governança global, acredito que teremos discussões oportunas sob a liderança da presidência brasileira. Em particular, acredito que, à medida em que há o avanço do surgimento de blocos na ordem mundial, haverá discussões sobre o papel de organizações internacionais multilaterais como a ONU, a OMC (Organização Mundial do Comércio) e os bancos multilaterais de desenvolvimento, na preservação da ordem internacional baseada em normas. Por último, no que tange ao desenvolvimento sustentável e transição energética, acredito que iremos discutir meios de um esforço conjunto baseado no consenso dos países sobre a urgência da transição para a energia limpa como meio de alcançar a meta da neutralidade de carbono até 2050. O princípio 7 da Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de 1992, versa sobre a “responsabilidade comum, mas diferenciada”, em relação à degradação ambiental do planeta. Considerando que os países emergentes enfrentam dificuldade para se afastarem de combustíveis fósseis por razões de limitação econômica e tecnológica, acredito que podemos discutir alternativas racionais e realistas sobre essa questão. Em setembro de 2023, durante a Assembleia Geral da ONU, tive a oportunidade de sugerir a “Carbon Free Energy Initiative” ("Iniciativa de Energia Livre de Carbono"), pela qual se busca uma matriz energética razoável e limpa, adequada à realidade de cada país. Nesta cúpula, expressarei de forma clara o nosso compromisso de apoiar os países em desenvolvimento para que possam acessar mais facilmente energias limpas como o hidrogênio, a energia nuclear e a energia renovável. Assim, a fim de mitigarmos a disparidade da transição energética e alcançar a neutralidade de carbono, esperamos que mais países membros do G20, incluindo o Brasil, façam parte dessa iniciativa. Pressão: G20 deve liderar luta para salvar clima do planeta, diz secretário-geral da ONU Em outubro, quando o senhor falou sobre a aproximação entre Coreia do Norte e Rússia, incluindo a presença de tropas norte-coreanas na Ucrânia, disse que seu governo “jamais ficaria parado”. Isso pode significar um maior envolvimento na guerra? Instamos fortemente a interrupção e a retirada imediata das tropas norte-coreanas. O envio de tropas norte-coreanas à Rússia constitui uma violação da Carta das Nações Unidas e das resoluções do Conselho de Segurança, representando uma ameaça direta à nossa segurança. A contrapartida que a Coreia do Norte obtém ao fornecer tropas e armamentos acabará sendo usada para provocar e ameaçar diretamente a Coreia do Sul. Se essa aliança militar entre Coreia do Norte e Rússia continuar, não ficaremos de braços cruzados e tomaremos todas as medidas possíveis em cooperação com a comunidade internacional, de forma resoluta. O governo da Coreia do Sul está preparando respostas proporcionais e de forma gradual, conforme o avanço da cooperação militar entre Rússia e Coreia do Norte, decorrente do envio de tropas norte-coreanas. Manteremos uma estreita cooperação com nosso aliado, os Estados Unidos, bem como com países amigos, incluindo a Otan. Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol Presidência da República da Coreia / Divulgação O senhor disse, em agosto, que um passo crucial em direção a uma Coreia unificada era a “necessidade de mudar as mentes do povo da Coreia do Norte, para que passem a desejar ardentemente uma unificação baseada na liberdade”. Como o senhor planeja alcançar esse objetivo? Para realizar a "Unificação baseada na Liberdade" da Península Coreana, a “Doutrina de Unificação de 15 de Agosto” apresenta três estratégias principais de promoção da unificação pelo âmbito da Coreia do Sul, da Coreia do Norte e da comunidade internacional. No âmbito interno da Coreia do Sul, fortaleceremos o sistema de valores da liberdade e ofereceremos educação sobre unificação para as futuras gerações. Em relação à Coreia do Norte, buscaremos melhorar os direitos humanos do povo norte-coreano e ampliar o seu acesso à informação para que aspirem fortemente por uma unificação baseada na liberdade. Trabalharemos para que a comunidade global reconheça que a unificação da Península Coreana contribui para a paz e prosperidade mundial, promovendo a solidariedade e a cooperação com a comunidade internacional através de conferências como o "Fórum Internacional sobre a Península Coreana". A cooperação e o apoio da comunidade internacional são essenciais para alcançar a unificação pacífica da Península Coreana. Esperamos que a comunidade internacional, incluindo o Brasil, incentive a Coreia do Norte a adotar o caminho do diálogo e da cooperação, ao mesmo tempo que desejamos trabalhar juntos para melhorar a liberdade e os direitos humanos do povo norte-coreano. Além disso, desejamos que apoie e demonstre interesse pela unificação da Península Coreana. Uma pesquisa recente mostrou que 66% dos sul-coreanos defendem a ideia de ter um arsenal nuclear. O senhor já disse que ter armas atômicas não era uma opção, mas diante dos novos desafios de segurança, o senhor ainda acredita que a Coreia do Sul deva permanecer um país livre de armas nucleares? A Coreia do Norte, após aprimorar sua capacidade nuclear, agora está fazendo ameaças nucleares explícitas contra nós. Obviamente, isso causa grande preocupação em nosso povo. Pode-se entender que é uma situação onde tanto a população em geral quanto os formadores de opinião expressam opiniões diversas sobre o assunto. O que é claro, porém, é que a melhor resposta para enfrentar de forma imediata e decisiva a ameaça nuclear da Coreia do Norte é a dissuasão alargada entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos. A aliança entre Coreia do Sul e Estados Unidos compartilha um entendimento comum e firme de que, diante das mudanças no cenário de segurança, é necessário reforçar a dissuasão alargada. Para isso, estabelecemos uma estrutura de consulta conjunta entre os dois países, o Grupo Consultivo Nuclear (NCG) que, em apenas um ano desde sua criação, alcançou resultado concreto com a conclusão das "Diretrizes Conjuntas Coreia do Sul e Estados Unidos de Dissuasão Nuclear na Península Coreana". E seguiremos tomando as medidas necessárias no futuro. O regime norte-coreano não ganhará nada com seus programas nucleares e de mísseis. Eles devem compreender claramente que provocações nucleares apenas trarão o fim do regime em Pyongyang. A Coreia do Sul tem boas relações com a China e com os Estados Unidos, dois países que mantêm uma competição aberta na Ásia. É possível manter um equilíbrio em um ambiente cada vez mais tenso, incluindo em termos de segurança? É inevitável a coexistência da cooperação e da competitividade na comunidade internacional. O importante é que essa competitividade e cooperação ocorram respeitando as normas e regras internacionais. Nosso governo, mantendo a aliança com os Estados Unidos como o eixo fundamental de nossa diplomacia, está desenvolvendo uma relação madura e saudável com a China, de maneira a contribuir para a paz e prosperidade na região do Indo-Pacífico e na comunidade internacional. A aliança entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos é uma “Aliança Estratégica Global Abrangente” que compartilha valores, interesses e uma visão global, promovendo a paz e a prosperidade na região e no cenário internacional. A China é um vizinho de longa data e nosso maior parceiro comercial. E seguimos desenvolvendo com ela uma “Parceria de Cooperação Estratégica”. Esperamos que as relações entre os Estados Unidos e a China evoluam de uma maneira que contribua para a estabilidade e o desenvolvimento da comunidade internacional. Nós também cooperaremos estreitamente com ambos os países nesse processo. Os Estados Unidos realizaram eleições no começo do mês, vencidas por Donald Trump, que tinha visões diferentes das defendidas pela vice-presidente Kamala Harris. Seu governo está preparado para eventuais mudanças de rumo, incluindo em termos de segurança e políticas tarifárias? A aliança entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos possui uma história e tradição de mais de 70 anos. Hoje, essa aliança está firmemente estabelecida como um elemento essencial para os interesses nacionais de ambos os países. A razão pela qual essa aliança continua forte e sólida, por mais de meio século, é porque ela sempre evoluiu de forma orientada para o futuro, sempre adaptando-se às mudanças e contribuindo para a paz e a prosperidade mundial. Atualmente, a aliança entre a Coreia do Sul e os Estados Unidos está se expandindo para se tornar uma verdadeira Aliança Estratégica Global Abrangente, que abrange não apenas a segurança, mas também economia, tecnologia avançada, informações e cultura. Estou confiante de que, como membros dessa aliança, tanto eu quanto o presidente eleito dos Estados Unidos trabalharemos juntos não apenas para os cidadãos de nossos países, mas também pela paz e prosperidade em nível global. Acima de tudo, buscaremos uma cooperação que beneficie nossos povos, promovendo o bem-estar, a geração de empregos e o crescimento e desenvolvimento das empresas de ambas as nações. Entrevista ao GLOBO: 'A cooperação precisa ser fortalecida para coordenar políticas comerciais e ambientais', afirma ministro sul-coreano Brasil e Coreia do Sul têm fortes laços econômicos, diplomáticos e culturais. Como o senhor vê essa relação hoje, e, aproveitando a reunião do G20, como o senhor avalia o trabalho do país na presidência rotativa do bloco? Desde o estabelecimento das relações diplomáticas em 1959, a Coreia e o Brasil têm desenvolvido fortemente uma relação de cooperação e amizade, sendo o Brasil o maior destino de investimentos da Coreia na América Latina. Além disso, os 50 mil coreanos residentes no Brasil desempenham um papel fundamental como ponte sólida, fortalecendo a amizade e a solidariedade entre os dois países. Ao longo dos anos, a Coreia e o Brasil mantiveram uma estrutura econômica complementar, com a Coreia exportando principalmente bens industralizados e o Brasil exportando matérias-primas. No entanto, os dois países estão agora ampliando sua cooperação para novas áreas estratégicas, como digitalização, minerais essenciais, cadeias de suprimentos e hidrogênio, entre outros. Acredito que o Brasil, com seus abundantes recursos energéticos, e a Coreia, com sua tecnologia avançada, podem criar sinergias significativas em áreas como transição energética e tecnologia sustentável. Por esta razão, muitas empresas coreanas de tecnologia avançada estão aumentando seus investimentos no Brasil. O Brasil, ao assumir a presidência do G20 neste ano, demonstrou uma liderança impressionante, promovendo avanços em agendas importantes do G20, como a implementação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), reforma da governança global, combate às mudanças climáticas e transição energética. Graças a essa liderança, ainda antes de a África do Sul assumir a presidência no ano que vem, acredito que a base para a cooperação internacional em desafios globais se fortaleceu a um patamar mais alto.
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