Muito além do Nordeste: Rocinha atualmente atrai até estrangeiros da Colômbia, Bolívia e Argentina
Dados do Censo 2022 Favelas e Comunidades Urbanas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o número de habitantes na comunidade cresceu 4% desde a última contagem oficial, em 2010 Aquela vastidão de casas e prédios que cobrem as encostas de São Conrado, na Zona Sul do Rio, fez com que a Rocinha permanecesse no topo do ranking das maiores favelas do país. Dados do Censo 2022 Favelas e Comunidades Urbanas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o número de habitantes na comunidade cresceu 4% desde a última contagem oficial, em 2010: hoje são 72.021, em mais de 30 mil domicílios. Esse crescimento foi na contramão do que aconteceu na capital, que perdeu 43,3 mil moradores em favelas. A comunidade atrai até estrangeiros da Colômbia, Bolívia e Argentina. Azeite de oliva fraudado: veja dicas para identificar se você está consumindo gato por lebre Rio tem oito das dez favelas com mais apartamentos do Brasil; Rocinha é comunidade mais vertical Um dos parâmetros para o IBGE classificar uma área como favela é a precarização da posse do terreno, ou seja, se a questão fundiária está regularizada. Em 2023, um dado preliminar do Censo foi divulgado apontando a Sol Nascente, em Brasília, como a maior favela do país. No entanto, após o refinamento dos dados, o IBGE concluiu que a Rocinha nunca perdeu o posto. Os números mostram ainda que, caso fosse um município, em termos populacionais, a favela do Rio superaria outras 5.112 cidades brasileiras, equivalente a 91,7% do total. — Os dados que foram apresentados para a Rocinha e para a Sol Nascente eram preliminares. Eles não estavam consolidados. Houve todo um processo de atualização do mapeamento, de dezembro do ano passado até agosto deste ano — explica o geógrafo Jaison Cervi, gerente de Pesquisas e Classificações Territoriais do IBGE. Segundo a Associação de Moradores da Rocinha, o perfil dos moradores que chegaram nos últimos anos tem sido mais diverso — vai desde pessoas de outros municípios fluminenses a migrantes nacionais e até de outros países da América Latina. — Muita gente vem para cá querendo uma oportunidade de trabalho e melhor condição de vida. Ainda vem muita gente do Nordeste, mas também de outros lugares do país, como São Paulo e Minas Gerais, além de bolivianos, colombianos, argentinos. A Rocinha é um exemplo em comércio, então acaba sendo atrativa para quem quer investir em um negócio — explica o presidente da associação, João Bosco. Negócio de sucesso Há três anos, a nutricionista Ester Paula Lopes, de 37 anos, deixou uma vida de conforto e seu Land Rover em Rio Claro, no interior de São Paulo, para abrir o próprio negócio na maior favela do Brasil. A loja dela, O Rei do Picolé, é toda colorida e chama atenção principalmente das crianças. — O meu público-alvo são pessoas de comunidades. Como a Rocinha é a maior de todas, eu decidi vir para cá. E foi a melhor escolha. Fui muito acolhida. Os vizinhos viam minha luta, fazendo as coisas sozinha, e me ajudavam. Com eles, eu consegui montar a decoração da loja, fazer a fiação elétrica — conta Ester. Ela se formou na Unicamp e na Escola Sorvete, do chef Francisco Sant’Ana, em São Paulo, conhecida por ser referência nacional no setor. Pouco a pouco, ela foi comprando o maquinário e conquistando clientela. Hoje, parte do lucro dos picolés é doada para ajudar moradores em necessidade. — É um dinheiro que volta para a comunidade. Comecei com uma loja pequenininha, morava em cima. Agora já cresceu, está aqui embaixo e consegui ir para uma casa mais confortável. Eu que faço tudo, das receitas até a embalagem. É muito trabalho, às vezes 16 horas por dia, mas vale a pena. Deixei uma vida para trás em São Paulo e não me arrependo — conta empresária. Nos últimos 12 anos, a favela cresceu também em quantidade de residências. O número de domicílios ocupados saltou para 30.371 em 2022 — uma diferença de sete mil moradias a mais do que em 2010. — A procura por imóveis aqui ainda é muito alta, o que acaba deixando o preço do aluguel mais caro. Hoje você não encontra uma quitinete aqui por menos de R$ 800, que é só quarto, cozinha americana e banheiro. Já uma casa com um quarto, sala, cozinha e banheiro é pelo menos R$ 1.500. Quanto mais para cima do morro e mais para dentro dos becos, menor é o valor — explica Marcondes Ximenes, vice-presidente da associação de moradores. É em uma dessas quitinetes que vive a massoterapeuta Ana Carolina da Silva, de 32 anos. Ela se mudou para a Rocinha em 2020. Antes, morava em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na divisa com o município de Belford Roxo. Ela trabalha no Centro do Rio e decidiu se mudar para ter mais qualidade de vida. — Sempre quis morar aqui, pesquisava já há um tempo. É perto de tudo, da praia, do metrô. Para eu chegar ao trabalho, eu pegava três conduções: ônibus, trem e metrô. Agora pego só o metrô aqui do lado e chego rápido a qualquer lugar. Fora que eu me sinto mais segura para chegar e sair, tod
Dados do Censo 2022 Favelas e Comunidades Urbanas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o número de habitantes na comunidade cresceu 4% desde a última contagem oficial, em 2010 Aquela vastidão de casas e prédios que cobrem as encostas de São Conrado, na Zona Sul do Rio, fez com que a Rocinha permanecesse no topo do ranking das maiores favelas do país. Dados do Censo 2022 Favelas e Comunidades Urbanas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que o número de habitantes na comunidade cresceu 4% desde a última contagem oficial, em 2010: hoje são 72.021, em mais de 30 mil domicílios. Esse crescimento foi na contramão do que aconteceu na capital, que perdeu 43,3 mil moradores em favelas. A comunidade atrai até estrangeiros da Colômbia, Bolívia e Argentina. Azeite de oliva fraudado: veja dicas para identificar se você está consumindo gato por lebre Rio tem oito das dez favelas com mais apartamentos do Brasil; Rocinha é comunidade mais vertical Um dos parâmetros para o IBGE classificar uma área como favela é a precarização da posse do terreno, ou seja, se a questão fundiária está regularizada. Em 2023, um dado preliminar do Censo foi divulgado apontando a Sol Nascente, em Brasília, como a maior favela do país. No entanto, após o refinamento dos dados, o IBGE concluiu que a Rocinha nunca perdeu o posto. Os números mostram ainda que, caso fosse um município, em termos populacionais, a favela do Rio superaria outras 5.112 cidades brasileiras, equivalente a 91,7% do total. — Os dados que foram apresentados para a Rocinha e para a Sol Nascente eram preliminares. Eles não estavam consolidados. Houve todo um processo de atualização do mapeamento, de dezembro do ano passado até agosto deste ano — explica o geógrafo Jaison Cervi, gerente de Pesquisas e Classificações Territoriais do IBGE. Segundo a Associação de Moradores da Rocinha, o perfil dos moradores que chegaram nos últimos anos tem sido mais diverso — vai desde pessoas de outros municípios fluminenses a migrantes nacionais e até de outros países da América Latina. — Muita gente vem para cá querendo uma oportunidade de trabalho e melhor condição de vida. Ainda vem muita gente do Nordeste, mas também de outros lugares do país, como São Paulo e Minas Gerais, além de bolivianos, colombianos, argentinos. A Rocinha é um exemplo em comércio, então acaba sendo atrativa para quem quer investir em um negócio — explica o presidente da associação, João Bosco. Negócio de sucesso Há três anos, a nutricionista Ester Paula Lopes, de 37 anos, deixou uma vida de conforto e seu Land Rover em Rio Claro, no interior de São Paulo, para abrir o próprio negócio na maior favela do Brasil. A loja dela, O Rei do Picolé, é toda colorida e chama atenção principalmente das crianças. — O meu público-alvo são pessoas de comunidades. Como a Rocinha é a maior de todas, eu decidi vir para cá. E foi a melhor escolha. Fui muito acolhida. Os vizinhos viam minha luta, fazendo as coisas sozinha, e me ajudavam. Com eles, eu consegui montar a decoração da loja, fazer a fiação elétrica — conta Ester. Ela se formou na Unicamp e na Escola Sorvete, do chef Francisco Sant’Ana, em São Paulo, conhecida por ser referência nacional no setor. Pouco a pouco, ela foi comprando o maquinário e conquistando clientela. Hoje, parte do lucro dos picolés é doada para ajudar moradores em necessidade. — É um dinheiro que volta para a comunidade. Comecei com uma loja pequenininha, morava em cima. Agora já cresceu, está aqui embaixo e consegui ir para uma casa mais confortável. Eu que faço tudo, das receitas até a embalagem. É muito trabalho, às vezes 16 horas por dia, mas vale a pena. Deixei uma vida para trás em São Paulo e não me arrependo — conta empresária. Nos últimos 12 anos, a favela cresceu também em quantidade de residências. O número de domicílios ocupados saltou para 30.371 em 2022 — uma diferença de sete mil moradias a mais do que em 2010. — A procura por imóveis aqui ainda é muito alta, o que acaba deixando o preço do aluguel mais caro. Hoje você não encontra uma quitinete aqui por menos de R$ 800, que é só quarto, cozinha americana e banheiro. Já uma casa com um quarto, sala, cozinha e banheiro é pelo menos R$ 1.500. Quanto mais para cima do morro e mais para dentro dos becos, menor é o valor — explica Marcondes Ximenes, vice-presidente da associação de moradores. É em uma dessas quitinetes que vive a massoterapeuta Ana Carolina da Silva, de 32 anos. Ela se mudou para a Rocinha em 2020. Antes, morava em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, na divisa com o município de Belford Roxo. Ela trabalha no Centro do Rio e decidiu se mudar para ter mais qualidade de vida. — Sempre quis morar aqui, pesquisava já há um tempo. É perto de tudo, da praia, do metrô. Para eu chegar ao trabalho, eu pegava três conduções: ônibus, trem e metrô. Agora pego só o metrô aqui do lado e chego rápido a qualquer lugar. Fora que eu me sinto mais segura para chegar e sair, todo mundo se comunica, se ajuda, tem tudo 24 horas — conta. A localização entre dois bairros nobres — Gávea e São Conrado —, com altos Índices de Desenvolvimento Humano, não esconde a desigualdade que existe em suas vielas. Em 25% das casas, as valas são usadas para descarte irregular de esgoto, enquanto a média do município do Rio é de 6%. — Como na cidade, aqui também tem diferentes níveis sociais. Tem a parcela, menor, que tem mais dinheiro e vive uma vida mais confortável; tem a classe média; uma maioria mais pobre; e quem vive em condições de miserabilidade — avalia o diretor social da associação de moradores, William Oliveira.
Qual é a sua reação?