Milhares protestam na Bolívia para exigir soluções para a crise econômica
Protestos interromperam o tráfego de veículos na capital; falta de moedas é a principal causa da crise econômica que afeta o país desde o ano passado Cerca de 10 mil pessoas marcharam nesta quinta-feira em La Paz, na Bolívia, para protestar contra a crise econômica, a escassez de dólares e de combustível, além de instar o governo de Luis Arce a tomar medidas. Os protestos interromperam o tráfego de veículos na capital, onde está localizado o coração da administração pública, bancária e empresarial do país. Contexto: Capital da Bolívia enfrenta crise de desabastecimento com bloqueios de apoiadores de Morales nas estradas do país Onda de protestos: Apoiadores de Evo Morales ocupam quartel e mantêm 20 militares como reféns na Bolívia Artesãos, comerciantes, profissionais da saúde, motoristas, donas de casa e moradores caminharam durante horas pelas ruas e avenidas centrais da cidade com bandeiras bolivianas. Alguns carregavam panelas e utensílios de cozinha em uma espécie de “panelaço”, e a multidão gritava: “por culpa do governo, estamos nas ruas!”. A falta de moedas é a principal causa da crise econômica que afeta a Bolívia desde o ano passado. As reservas nacionais, que o governo utiliza para subsidiar os combustíveis, estão se esgotando devido à queda das exportações, especialmente do gás. Para 2024, o governo orçou US$ 1,4 bilhão (R$ 8,1 bilhão) para estes subsídios. — O dinheiro não serve mais para nada. Vamos ao mercado e as nossas sacolas não ficam cheias. As nossas panelas estão vazias. Nós não temos comida para os nossos filhos — lamentou Irma Callizaya, uma artesã de 62 anos, durante a manifestação. Crise: Arce adverte que 'não cederá' diante de protestos por Morales que 'incendeiam' a Bolívia O valor oficial do dólar é de 6,96 bolivianos, mas agora só é encontrado no mercado clandestino pelo dobro. Além disso, a inflação na Bolívia superou as previsões oficiais. Entre janeiro e outubro foi registrado um aumento de preços de 7,26%, quando a projeção para 2024 era de 3,5%. A inflação acumulada em 12 meses foi de 7,94% em outubro. — Pedimos ao governo uma solução rápida devido à escassez de alimentos, de gasolina, de petróleo. Não há dólares no nosso país — afirmou Brígida Flores, uma florista de 51 anos. Foi também convocado nesta quinta-feira um “conselho popular”, onde líderes de diversos setores produtivos e sociais decidiram, com a aprovação dos manifestantes presentes, estabelecer condições para o governo Arce. Deram-lhe um prazo de 15 dias para tomar medidas que evitem o aumento da cesta básica, para garantir o abastecimento de combustível e garantir o acesso à compra de dólares pelo valor oficial. Análise: Fracasso de golpe de Estado revela força política de Arce na Bolívia Concederam o mesmo prazo à Assembleia Legislativa para que aprove créditos para aliviar a crise econômica. Caso o governo não assuma a responsabilidade dentro do prazo, os manifestantes poderão exigir o fechamento do Parlamento, disse Jorge Paredes, presidente da associação dos bairros de La Paz. Bloqueios de estradas Em outubro, a Bolívia ficou semiparalisada por protestos de agricultores que pediam pelo “fim da perseguição judicial” contra seu líder, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019), investigado por suposto caso de estupro durante seu mandato. Em La Paz, onde fica a sede do governo, o protesto aumentou os preços das cestas básicas, e longas filas foram formadas em torno dos postos de gasolina. O governo do presidente Luis Arce culpou os apoiadores de Morales por impedirem a distribuição de combustível. Centenas de caminhões-tanque ficaram presos em estradas ocupadas por manifestantes. Contexto: Ex-presidente da Bolívia Evo Morales chama de 'mentira' suposto caso de estupro de menor sob investigação Morales e Arce travam uma disputa pelo poder há meses. O influente líder indígena acusou seu ex-ministro da Economia de se aliar a juízes para impedi-lo de concorrer novamente à Presidência em 2025 — Arce até agora não disse se concorrerá. Em setembro, Arce chegou a acusar o ex-aliado de tentar um golpe de Estado por meio das marchas e bloqueios. Segundo o presidente, Morales ameaçou “fazer o que a Constituição do Estado não lhe permite fazer”. Em dezembro, o Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) fixou em dois mandatos, contínuos ou não, o tempo máximo em que o presidente e o vice-presidente poderão permanecer no cargo. Morales já cumpriu três: entre 2006 e 2009, 2009 e 2014, e 2014 e 2019. Morales argumenta que pode se candidatar novamente, já que passou um mandato presidencial depois de deixar o poder. Com o apoio da ala de seu partido, ele tenta reverter a proibição por meio da pressão popular. Diálogo em impasse Embora os protestos tenham começado com a intenção de evitar a possível captura do líder indígena, os manifestantes também passaram a exigir, ainda no mês passado, que Arce encontrasse uma saída para a crise derivada da falta de dólares e de combustível. Em setembro: Evo Morales exige que Arce
Protestos interromperam o tráfego de veículos na capital; falta de moedas é a principal causa da crise econômica que afeta o país desde o ano passado Cerca de 10 mil pessoas marcharam nesta quinta-feira em La Paz, na Bolívia, para protestar contra a crise econômica, a escassez de dólares e de combustível, além de instar o governo de Luis Arce a tomar medidas. Os protestos interromperam o tráfego de veículos na capital, onde está localizado o coração da administração pública, bancária e empresarial do país. Contexto: Capital da Bolívia enfrenta crise de desabastecimento com bloqueios de apoiadores de Morales nas estradas do país Onda de protestos: Apoiadores de Evo Morales ocupam quartel e mantêm 20 militares como reféns na Bolívia Artesãos, comerciantes, profissionais da saúde, motoristas, donas de casa e moradores caminharam durante horas pelas ruas e avenidas centrais da cidade com bandeiras bolivianas. Alguns carregavam panelas e utensílios de cozinha em uma espécie de “panelaço”, e a multidão gritava: “por culpa do governo, estamos nas ruas!”. A falta de moedas é a principal causa da crise econômica que afeta a Bolívia desde o ano passado. As reservas nacionais, que o governo utiliza para subsidiar os combustíveis, estão se esgotando devido à queda das exportações, especialmente do gás. Para 2024, o governo orçou US$ 1,4 bilhão (R$ 8,1 bilhão) para estes subsídios. — O dinheiro não serve mais para nada. Vamos ao mercado e as nossas sacolas não ficam cheias. As nossas panelas estão vazias. Nós não temos comida para os nossos filhos — lamentou Irma Callizaya, uma artesã de 62 anos, durante a manifestação. Crise: Arce adverte que 'não cederá' diante de protestos por Morales que 'incendeiam' a Bolívia O valor oficial do dólar é de 6,96 bolivianos, mas agora só é encontrado no mercado clandestino pelo dobro. Além disso, a inflação na Bolívia superou as previsões oficiais. Entre janeiro e outubro foi registrado um aumento de preços de 7,26%, quando a projeção para 2024 era de 3,5%. A inflação acumulada em 12 meses foi de 7,94% em outubro. — Pedimos ao governo uma solução rápida devido à escassez de alimentos, de gasolina, de petróleo. Não há dólares no nosso país — afirmou Brígida Flores, uma florista de 51 anos. Foi também convocado nesta quinta-feira um “conselho popular”, onde líderes de diversos setores produtivos e sociais decidiram, com a aprovação dos manifestantes presentes, estabelecer condições para o governo Arce. Deram-lhe um prazo de 15 dias para tomar medidas que evitem o aumento da cesta básica, para garantir o abastecimento de combustível e garantir o acesso à compra de dólares pelo valor oficial. Análise: Fracasso de golpe de Estado revela força política de Arce na Bolívia Concederam o mesmo prazo à Assembleia Legislativa para que aprove créditos para aliviar a crise econômica. Caso o governo não assuma a responsabilidade dentro do prazo, os manifestantes poderão exigir o fechamento do Parlamento, disse Jorge Paredes, presidente da associação dos bairros de La Paz. Bloqueios de estradas Em outubro, a Bolívia ficou semiparalisada por protestos de agricultores que pediam pelo “fim da perseguição judicial” contra seu líder, o ex-presidente Evo Morales (2006-2019), investigado por suposto caso de estupro durante seu mandato. Em La Paz, onde fica a sede do governo, o protesto aumentou os preços das cestas básicas, e longas filas foram formadas em torno dos postos de gasolina. O governo do presidente Luis Arce culpou os apoiadores de Morales por impedirem a distribuição de combustível. Centenas de caminhões-tanque ficaram presos em estradas ocupadas por manifestantes. Contexto: Ex-presidente da Bolívia Evo Morales chama de 'mentira' suposto caso de estupro de menor sob investigação Morales e Arce travam uma disputa pelo poder há meses. O influente líder indígena acusou seu ex-ministro da Economia de se aliar a juízes para impedi-lo de concorrer novamente à Presidência em 2025 — Arce até agora não disse se concorrerá. Em setembro, Arce chegou a acusar o ex-aliado de tentar um golpe de Estado por meio das marchas e bloqueios. Segundo o presidente, Morales ameaçou “fazer o que a Constituição do Estado não lhe permite fazer”. Em dezembro, o Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) fixou em dois mandatos, contínuos ou não, o tempo máximo em que o presidente e o vice-presidente poderão permanecer no cargo. Morales já cumpriu três: entre 2006 e 2009, 2009 e 2014, e 2014 e 2019. Morales argumenta que pode se candidatar novamente, já que passou um mandato presidencial depois de deixar o poder. Com o apoio da ala de seu partido, ele tenta reverter a proibição por meio da pressão popular. Diálogo em impasse Embora os protestos tenham começado com a intenção de evitar a possível captura do líder indígena, os manifestantes também passaram a exigir, ainda no mês passado, que Arce encontrasse uma saída para a crise derivada da falta de dólares e de combustível. Em setembro: Evo Morales exige que Arce troque Gabinete em 24 horas 'se quiser continuar governando' a Bolívia O estopim dos bloqueios foi o anúncio da promotora Sandra Gutiérrez de que preparava um mandado de prisão contra Morales pelo suposto abuso de uma menor de 15 anos, com quem teve uma filha. O ex-presidente garante que se trata de “mais uma mentira”, já que o mesmo caso foi investigado e arquivado em 2020. Os apoiadores de Morales exigem que Arce suspenda a investigação, mesmo que esta esteja nas mãos de uma promotora supostamente independente. — Há muitos indícios de que as instituições, e neste caso o Ministério Público, estão numa luta interna. Porque se for emitido um mandado de prisão, temos de reconhecer que a situação vai ser difícil para o governo — disse Daniel Valverde, professor de Ciência Política da Universidade René Moreno.
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