Métodos de guerra de Israel em Gaza são característicos de um genocídio, diz comissão da ONU
Relatório destaca ‘massivas perdas civis e as condições impostas aos palestinos’, além da obstrução da ajuda humanitária, ataques seletivos e assassinatos de moradores e trabalhadores humanitários Os métodos de guerra empregados por Israel na Faixa de Gaza têm “as características de um genocídio”, afirmou nesta quinta-feira uma comissão especial do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, encarregado de investigar as práticas israelenses no enclave. O órgão destacou as “massivas perdas civis e as condições impostas aos palestinos, que colocam suas vidas em perigo de forma intencional” em um relatório que abrange o período desde o ataque sem precedentes do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023, até julho deste ano. O documento será apresentado na segunda-feira na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. ‘Limpeza étnica’: HRW acusa Israel de crime contra a Humanidade por deslocamento forçado de mais de 90% da população de Gaza Violações do direito internacional: Quase 70% dos mortos na guerra em Gaza são mulheres e crianças, diz ONU A comissão acusa o Estado judeu de “usar a fome como método de guerra” e de “infligir um castigo coletivo à população palestina”. “Com seu cerco a Gaza, a obstrução de ajuda humanitária, ataques seletivos e assassinato de civis e trabalhadores humanitários, apesar dos reiterados apelos das Nações Unidas e desconsiderando ordens da Corte Internacional de Justiça (CIJ) e resoluções do Conselho de Segurança [das Nações Unidas], Israel está intencionalmente causando morte, fome e ferimentos graves” à população de Gaza, diz o relatório. O documento também pontua que, em fevereiro deste ano, as forças israelenses usaram mais de 25 mil toneladas de explosivos em toda a Faixa de Gaza, “o equivalente a duas bombas nucleares”, uma possível alusão ao impacto da bomba lançada pelos Estados Unidos em Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. “Israel, ao destruir sistemas essenciais de água, saneamento e alimentação e ao contaminar o meio ambiente, criou uma combinação letal de crises que causará graves danos às gerações futuras” no território palestino, afirma o texto. A comissão ainda expressou “profunda preocupação com a destruição sem precedentes da infraestrutura civil e o aumento do número de mortos em Gaza”, onde mais de 43.700 pessoas morreram desde o início da guerra. O relatório destaca que a grande quantidade de mortes levanta sérias preocupações sobre o uso, por Israel, de sistemas de direcionamento com inteligência artificial (IA) — e com baixa supervisão humana — em suas operações militares. A ação, segundo a comissão, evidencia o “desprezo de Israel pelo seu compromisso de distinguir entre civis e combatentes e de tomar precauções suficientes para evitar a morte de civis”. Em abril, uma investigação publicada por dois veículos israelenses revelou um amplo esquema movido por IA para identificar milhares de supostos integrantes do Hamas na Faixa de Gaza e direcionar ataques aéreos que deixaram um grande número de mortos, incluindo civis. O sistema, chamado de “Lavanda”, teria apontado para até 37 mil nomes de diferentes patentes dentro da organização terrorista. Histórico de alertas As declarações mais recentes surgem após uma série de alertas de grupos humanitários e da própria ONU. Também nesta quinta-feira, um relatório da organização internacional Human Rights Watch (HRW) declarou que mais de 90% da população na Faixa de Gaza foi forçada a abandonar suas casas em razão do conflito, sendo muitas delas mais de uma vez. Mesmo as áreas sinalizadas como seguras para civis, denuncia o documento, foram bombardeadas pelas forças israelenses. O retorno dos moradores após o término dos confrontos também tem sido inviabilizado pela destruição em massa de infraestruturas civis. Na quarta-feira, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) afirmou que os mercados de alimentos estão “em decadência” em todo o enclave — e o comissário-geral da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos, disse que o órgão tem vivido o “momento mais sombrio” de seus 75 anos de história. Um dia antes, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), indicou que, até agora neste mês, todas as tentativas da ONU de acessar o norte do enclave com missões de ajuda foram negadas ou impedidas por autoridades israelenses. Galerias Relacionadas Contexto: Israel não cumpriu prazo dos EUA para aumentar ajuda em Gaza, diz agência da ONU Na terça-feira, a UNRWA afirmou que Israel não cumpriu o prazo dado pelos Estados Unidos para aumentar a entrada de ajuda no enclave. Em 13 de outubro, os ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos EUA, Antony Blinken e Lloyd Austin, respectivamente, enviaram uma carta ao Estado judeu com uma série de exigências destinadas a facilitar o aumento da ajuda humanitária no território, dando a Israel um prazo de 30 dias para responder. Caso contrário, Washington ameaçava suspender parte da assistência mil
Relatório destaca ‘massivas perdas civis e as condições impostas aos palestinos’, além da obstrução da ajuda humanitária, ataques seletivos e assassinatos de moradores e trabalhadores humanitários Os métodos de guerra empregados por Israel na Faixa de Gaza têm “as características de um genocídio”, afirmou nesta quinta-feira uma comissão especial do escritório de direitos humanos das Nações Unidas, encarregado de investigar as práticas israelenses no enclave. O órgão destacou as “massivas perdas civis e as condições impostas aos palestinos, que colocam suas vidas em perigo de forma intencional” em um relatório que abrange o período desde o ataque sem precedentes do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023, até julho deste ano. O documento será apresentado na segunda-feira na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. ‘Limpeza étnica’: HRW acusa Israel de crime contra a Humanidade por deslocamento forçado de mais de 90% da população de Gaza Violações do direito internacional: Quase 70% dos mortos na guerra em Gaza são mulheres e crianças, diz ONU A comissão acusa o Estado judeu de “usar a fome como método de guerra” e de “infligir um castigo coletivo à população palestina”. “Com seu cerco a Gaza, a obstrução de ajuda humanitária, ataques seletivos e assassinato de civis e trabalhadores humanitários, apesar dos reiterados apelos das Nações Unidas e desconsiderando ordens da Corte Internacional de Justiça (CIJ) e resoluções do Conselho de Segurança [das Nações Unidas], Israel está intencionalmente causando morte, fome e ferimentos graves” à população de Gaza, diz o relatório. O documento também pontua que, em fevereiro deste ano, as forças israelenses usaram mais de 25 mil toneladas de explosivos em toda a Faixa de Gaza, “o equivalente a duas bombas nucleares”, uma possível alusão ao impacto da bomba lançada pelos Estados Unidos em Hiroshima durante a Segunda Guerra Mundial. “Israel, ao destruir sistemas essenciais de água, saneamento e alimentação e ao contaminar o meio ambiente, criou uma combinação letal de crises que causará graves danos às gerações futuras” no território palestino, afirma o texto. A comissão ainda expressou “profunda preocupação com a destruição sem precedentes da infraestrutura civil e o aumento do número de mortos em Gaza”, onde mais de 43.700 pessoas morreram desde o início da guerra. O relatório destaca que a grande quantidade de mortes levanta sérias preocupações sobre o uso, por Israel, de sistemas de direcionamento com inteligência artificial (IA) — e com baixa supervisão humana — em suas operações militares. A ação, segundo a comissão, evidencia o “desprezo de Israel pelo seu compromisso de distinguir entre civis e combatentes e de tomar precauções suficientes para evitar a morte de civis”. Em abril, uma investigação publicada por dois veículos israelenses revelou um amplo esquema movido por IA para identificar milhares de supostos integrantes do Hamas na Faixa de Gaza e direcionar ataques aéreos que deixaram um grande número de mortos, incluindo civis. O sistema, chamado de “Lavanda”, teria apontado para até 37 mil nomes de diferentes patentes dentro da organização terrorista. Histórico de alertas As declarações mais recentes surgem após uma série de alertas de grupos humanitários e da própria ONU. Também nesta quinta-feira, um relatório da organização internacional Human Rights Watch (HRW) declarou que mais de 90% da população na Faixa de Gaza foi forçada a abandonar suas casas em razão do conflito, sendo muitas delas mais de uma vez. Mesmo as áreas sinalizadas como seguras para civis, denuncia o documento, foram bombardeadas pelas forças israelenses. O retorno dos moradores após o término dos confrontos também tem sido inviabilizado pela destruição em massa de infraestruturas civis. Na quarta-feira, o Programa Mundial de Alimentos (PMA) afirmou que os mercados de alimentos estão “em decadência” em todo o enclave — e o comissário-geral da UNRWA, a agência da ONU para os refugiados palestinos, disse que o órgão tem vivido o “momento mais sombrio” de seus 75 anos de história. Um dia antes, o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA, na sigla em inglês), indicou que, até agora neste mês, todas as tentativas da ONU de acessar o norte do enclave com missões de ajuda foram negadas ou impedidas por autoridades israelenses. Galerias Relacionadas Contexto: Israel não cumpriu prazo dos EUA para aumentar ajuda em Gaza, diz agência da ONU Na terça-feira, a UNRWA afirmou que Israel não cumpriu o prazo dado pelos Estados Unidos para aumentar a entrada de ajuda no enclave. Em 13 de outubro, os ministros das Relações Exteriores e da Defesa dos EUA, Antony Blinken e Lloyd Austin, respectivamente, enviaram uma carta ao Estado judeu com uma série de exigências destinadas a facilitar o aumento da ajuda humanitária no território, dando a Israel um prazo de 30 dias para responder. Caso contrário, Washington ameaçava suspender parte da assistência militar ao país. O prazo expirou na terça-feira — e, segundo a ONU, a quantidade de ajuda que entrou em Gaza nesse período esteve no nível mais baixo em um ano. Na carta de 13 de outubro, Blinken disse que as autoridades israelenses precisavam permitir a entrada de no mínimo 350 caminhões por dia em Gaza, todos os dias, até 12 de novembro. Segundo Louise Wateridge, coordenadora de emergências da UNRWA, porém, a média de outubro foi de 37 caminhões por dia para toda a Faixa de Gaza. Ainda assim, o governo americano considerou que Israel não violou a lei sobre ajuda humanitária. — Não há ajuda suficiente aqui. Não há suprimentos suficientes. As pessoas estão morrendo de fome em algumas áreas. As pessoas estão com muita fome, elas brigam por sacos de farinha — disse Wateridge à rede britânica BBC. — A média de outubro foi de 37 caminhões por dia para toda a Faixa de Gaza. Trinta e sete caminhões por dia para uma população de 2,2 milhões de pessoas que precisam de absolutamente tudo. Não é suficiente, nunca será suficiente. No início do mês, a chefe do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), Catherine Russell, declarou que toda a população palestina no norte de Gaza está em “risco iminente” de morte por doenças, fome ou pelos “bombardeios contínuos” do Exército de Israel. Acusações de genocídio Ainda em dezembro, o governo da África do Sul apresentou uma queixa contra o Estado judeu na CIJ acusando as autoridades israelenses de cometerem genocídio contra os palestinos na Faixa de Gaza. Na solicitação, a África do Sul afirmava que os “atos e omissões de Israel são de caráter genocida, pois são acompanhados da intenção específica requerida (...) de destruir os palestinos de Gaza como parte do grupo nacional, racial e étnico mais amplo dos palestinos”. Na terça-feira, quase um ano após a apresentação do caso, o governo sul-africano afirmou que as provas fornecidas na Corte mostram “como Tel Aviv está usando a fome como arma de guerra, visando despovoar Gaza por meio de mortes em massa”. Em fevereiro, o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT) comparou os ataques de Israel no enclave palestino às mortes no Holocausto, durante o extermínio de judeus pelo governo nazista de Adolf Hitler na Alemanha. Na ocasião, o petista ainda afirmou que o que ocorria na Faixa de Gaza não era uma guerra, “mas um genocídio”. As falas desencadearam uma crise diplomática, e o ministro das Relações Exteriores israelense, Israel Katz, declarou Lula persona non grata. Em setembro, Lula criticou mais uma vez Israel e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, reforçando que era necessário “parar o genocídio” no território palestino. O petista disse condenar o comportamento do governo de Israel, indicando ter “certeza” de que “a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio”. (Com AFP)
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