'Manda o Pix da esmola', ouviu estudante da USP que presenciou ataques racistas a cotistas
'Mostravam o cartão de crédito', lembrou aluno de grupo que fez registro de ocorrência das ofensas As provocações de estudantes de Direito da PUC-SP contra alunos da USP começaram da forma comum entre torcidas em disputas esportivas, mas logo se transformaram em ofensas contra cotistas em uma partida de handebol. Com gritos de “pobres” e “manda o Pix da esmola”, os ataques duraram cerca de 15 minutos e só cessaram após estudantes da USP na arquibancada começarem a mostrar que estavam gravando a manifestação do preconceito. Em entrevista ao GLOBO, um atleta da USP presente nos Jogos Jurídicos Estaduais, em Americana (SP), e não quis não se identificar, contou que não viu ofensas similares em outras partidas da competição. No sábado, no entanto, em um jogo de handebol masculino, os estudantes da PUC-SP começaram a mesclar os cantos da torcida com xingamentos contra as equipes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco da USP. Pode dar expulsão. PUC-SP tem comissão para apurar racismo Dia da Consciência Negra: Pela primeira vez, feriado do dia 20 será nacional — Estava uma competição normal até os alunos da PUC começarem a direcionar as ofensas a um determinado grupo de pessoas que são cotistas, em sua maioria negros. Mostravam cartões de crédito — relata o estudante, que na segunda-feira fez com colegas o registro de ocorrência do caso. Para Manuela Thamani, mestre em comunicação e co-diretora executiva do Observatório da Branquitude, o ato de descredibilizar as cotas demonstra a grande desigualdade racial e social ainda existente no país. Ela lembra que quando era estudante na USP, há 20 anos, os ataques das faculdades privadas eram semelhantes. — As cotas são uma retificação do Estado frente ao período da escravidão e do pós-abolição, que barrou a ascensão social e educacional de pessoas negras, especialmente. No contexto da universidade isso é ainda mais expressivo, por simbolizar a luta do movimento negro por acesso a esse espaço que antes era quase que exclusivamente branco — diz Thamani. — No início do milênio, os negros não chegavam a um terço das pessoas que acessavam a universidade, e hoje representam cerca de metade dos estudantes. As cotas também possibilitaram uma diversificação das instituições e oportunidades para alunos mais vulneráveis. Comissão de investigação A PUC-SP instaurou uma comissão para apurar os atos de seus alunos, formada por três docentes de Direito, com experiência em processos de apuração e sindicância. De acordo com a universidade, "o objetivo da comissão é apurar possível infração educacional". Os trabalhos deverão ser concluídos em até 40 dias e todos os envolvidos terão amplo direito à defesa. A punição máxima é a expulsão, segundo a PUC. A diretoria dos Jogos Jurídicos Estaduais de São Paulo tirou a torcida da universidade católica das próximas rodadas do evento que ainda serão realizadas em 2024. Ainda segundo a direção, foram implementadas medidas internas para a próxima edição, que incluem a criação de uma comissão social dedicada ao desenvolvimento de projetos que visem a conscientização sobre o combate ao racismo e promoção da diversidade. Além disso, está sendo elaborado "um estatuto social com punições severas visando coibir atos discriminatórios". Quatro demissões A mobilização nas redes sociais para identificar pessoas que participaram das ofensas levou ao menos quatro estudantes da PUC a serem demitidos dos estágios em que estavam. Além de Tatiane Joseph Khoury, de 20 anos, desligada do escritório Pinheiro Neto Advogados, o escritório Machado Meyer comunicou a demissão de Marina Lessi de Moraes nesta terça-feira (19). Matheus Antiquera Leitzke e outro rapaz, cujo nome não foi confirmado pelo escritório em que estagiava, também perderam o emprego. O GLOBO tentou contato com os estudos, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
'Mostravam o cartão de crédito', lembrou aluno de grupo que fez registro de ocorrência das ofensas As provocações de estudantes de Direito da PUC-SP contra alunos da USP começaram da forma comum entre torcidas em disputas esportivas, mas logo se transformaram em ofensas contra cotistas em uma partida de handebol. Com gritos de “pobres” e “manda o Pix da esmola”, os ataques duraram cerca de 15 minutos e só cessaram após estudantes da USP na arquibancada começarem a mostrar que estavam gravando a manifestação do preconceito. Em entrevista ao GLOBO, um atleta da USP presente nos Jogos Jurídicos Estaduais, em Americana (SP), e não quis não se identificar, contou que não viu ofensas similares em outras partidas da competição. No sábado, no entanto, em um jogo de handebol masculino, os estudantes da PUC-SP começaram a mesclar os cantos da torcida com xingamentos contra as equipes da Faculdade de Direito do Largo São Francisco da USP. Pode dar expulsão. PUC-SP tem comissão para apurar racismo Dia da Consciência Negra: Pela primeira vez, feriado do dia 20 será nacional — Estava uma competição normal até os alunos da PUC começarem a direcionar as ofensas a um determinado grupo de pessoas que são cotistas, em sua maioria negros. Mostravam cartões de crédito — relata o estudante, que na segunda-feira fez com colegas o registro de ocorrência do caso. Para Manuela Thamani, mestre em comunicação e co-diretora executiva do Observatório da Branquitude, o ato de descredibilizar as cotas demonstra a grande desigualdade racial e social ainda existente no país. Ela lembra que quando era estudante na USP, há 20 anos, os ataques das faculdades privadas eram semelhantes. — As cotas são uma retificação do Estado frente ao período da escravidão e do pós-abolição, que barrou a ascensão social e educacional de pessoas negras, especialmente. No contexto da universidade isso é ainda mais expressivo, por simbolizar a luta do movimento negro por acesso a esse espaço que antes era quase que exclusivamente branco — diz Thamani. — No início do milênio, os negros não chegavam a um terço das pessoas que acessavam a universidade, e hoje representam cerca de metade dos estudantes. As cotas também possibilitaram uma diversificação das instituições e oportunidades para alunos mais vulneráveis. Comissão de investigação A PUC-SP instaurou uma comissão para apurar os atos de seus alunos, formada por três docentes de Direito, com experiência em processos de apuração e sindicância. De acordo com a universidade, "o objetivo da comissão é apurar possível infração educacional". Os trabalhos deverão ser concluídos em até 40 dias e todos os envolvidos terão amplo direito à defesa. A punição máxima é a expulsão, segundo a PUC. A diretoria dos Jogos Jurídicos Estaduais de São Paulo tirou a torcida da universidade católica das próximas rodadas do evento que ainda serão realizadas em 2024. Ainda segundo a direção, foram implementadas medidas internas para a próxima edição, que incluem a criação de uma comissão social dedicada ao desenvolvimento de projetos que visem a conscientização sobre o combate ao racismo e promoção da diversidade. Além disso, está sendo elaborado "um estatuto social com punições severas visando coibir atos discriminatórios". Quatro demissões A mobilização nas redes sociais para identificar pessoas que participaram das ofensas levou ao menos quatro estudantes da PUC a serem demitidos dos estágios em que estavam. Além de Tatiane Joseph Khoury, de 20 anos, desligada do escritório Pinheiro Neto Advogados, o escritório Machado Meyer comunicou a demissão de Marina Lessi de Moraes nesta terça-feira (19). Matheus Antiquera Leitzke e outro rapaz, cujo nome não foi confirmado pelo escritório em que estagiava, também perderam o emprego. O GLOBO tentou contato com os estudos, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestação.
Qual é a sua reação?