Luiz Antonio Simas invoca Exu para apresentar João do Rio na abertura da Flip 2024
Professor de História arrancou aplausos da plateia ao incorporar sua experiência direta com as ruas para ressaltar a atualidade do autor homenageado pela festa Com dois apaixonados pela rua na escalação — o historiador Luiz Antonio Simas e o autor homenageado João do Rio — esperava-se que a mesa de abertura da 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na noite desta quarta-feira (9), promovesse o encontro entre a literatura a cidade. Foi isso — e ainda mais. Programe-se: veja a agenda completa da Flip 2024, que tem Felipe Neto, Liza Ginzburg e Édouard Louis Temas quentes: Flip tem o desafio de falar do presente sem descuidar da ficção e das discussões estéticas Em uma aula-show que eletrizou o auditório lotado, Simas apresentou um ponto de vista original sobre o cronista e escritor carioca, morto em 1921. Colocou Exu na conversa, lembrando que João do Rio viveu a encruzilhada da modernização do Rio do início do século XX. O cronista, vale lembrar, notabilizou-se por observar os grandes e pequenos personagens e costumes das ruas da cidade, o que incluiu o registro das manifestações religiosas afro-brasileiras de seu tempo. — João do Rio foi estudado por tanta gente boa, gerou tantas teses e dissertações, o que eu poderia falar a mais sobre ele? — indagou Simas ao público. — Vou propor uma ousadia, já que a curadoria me deu essa liberdade. Porque não poderia falar sobre um homem que disse "eu sou a rua" sem falar também de Exu. Gostaria de chamar Exu para que ele abra nosso caminho. Simas, que tem diversos livros sobre as religiões de matizes africanas, também assina as notas da nova edição de "A alma encantadora das ruas", a mais famosa coletânea de crônicas de João do Rio. Flip 2024: O GLOBO promove três mesas na festa; veja a programação Convidado para jogar com Chico Buarque: autor senegalês vem à Flip e reclama da redução da literatura a reivindicações culturais ou políticas: ‘É trágico’ Mestre pela UFRJ, professor de História na rede pública e — principalmente — showman onipresente da cena cultural carioca, Simas abriu mão da cadeira e conduziu a palestra em pé o tempo todo. Cantou, contou histórias e mitos da cultura afro-brasileira, e arrancou aplausos. Luiz Antonio Simas abre a Flip 2024 falando sobre João do Rio Alexandre Cassiano Conhecido por ministrar aulas ao ar livre em bairros do Rio, Simas incorporou sua experiência direta com as ruas para ressaltar a atualidade do autor homenageado, que registrou os desafios ainda presentes no país. Simas contextualizou o Rio da época do homenageado: uma cidade cujo projeto de modernização excluiu os mais pobres e não-brancos e que desejava ser uma "Paris tropical". Segundo ele, João do Rio não estava imune aos preconceitos do seu tempo, mas esforçou-se em observar, entre fascínio e medo, toda a cultura das ruas — incluindo a dos pretos e pobres — que era desprezada por seus pares. — É essa cidade que impacta João do Rio, porque ele vive na encruzilhada por onde Exu passa com a sua carafuça — explicou. — De um lado, coisa que o atraía: os boulevares, a cidade que se quer francesa. Mas, pulsando ali do outro lado, a cidade das vielas, dos becos, das profissões de rua, que João do Rio retrata muito bem na "Alma encantadora das ruas". Até porque João do Rio vivia em sua função de jornalista, cronista, flâneur, o homem que vai, entre o fascínio e o temor. Entre o assombro do que ele via e a atração irresistível.
Professor de História arrancou aplausos da plateia ao incorporar sua experiência direta com as ruas para ressaltar a atualidade do autor homenageado pela festa Com dois apaixonados pela rua na escalação — o historiador Luiz Antonio Simas e o autor homenageado João do Rio — esperava-se que a mesa de abertura da 22ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na noite desta quarta-feira (9), promovesse o encontro entre a literatura a cidade. Foi isso — e ainda mais. Programe-se: veja a agenda completa da Flip 2024, que tem Felipe Neto, Liza Ginzburg e Édouard Louis Temas quentes: Flip tem o desafio de falar do presente sem descuidar da ficção e das discussões estéticas Em uma aula-show que eletrizou o auditório lotado, Simas apresentou um ponto de vista original sobre o cronista e escritor carioca, morto em 1921. Colocou Exu na conversa, lembrando que João do Rio viveu a encruzilhada da modernização do Rio do início do século XX. O cronista, vale lembrar, notabilizou-se por observar os grandes e pequenos personagens e costumes das ruas da cidade, o que incluiu o registro das manifestações religiosas afro-brasileiras de seu tempo. — João do Rio foi estudado por tanta gente boa, gerou tantas teses e dissertações, o que eu poderia falar a mais sobre ele? — indagou Simas ao público. — Vou propor uma ousadia, já que a curadoria me deu essa liberdade. Porque não poderia falar sobre um homem que disse "eu sou a rua" sem falar também de Exu. Gostaria de chamar Exu para que ele abra nosso caminho. Simas, que tem diversos livros sobre as religiões de matizes africanas, também assina as notas da nova edição de "A alma encantadora das ruas", a mais famosa coletânea de crônicas de João do Rio. Flip 2024: O GLOBO promove três mesas na festa; veja a programação Convidado para jogar com Chico Buarque: autor senegalês vem à Flip e reclama da redução da literatura a reivindicações culturais ou políticas: ‘É trágico’ Mestre pela UFRJ, professor de História na rede pública e — principalmente — showman onipresente da cena cultural carioca, Simas abriu mão da cadeira e conduziu a palestra em pé o tempo todo. Cantou, contou histórias e mitos da cultura afro-brasileira, e arrancou aplausos. Luiz Antonio Simas abre a Flip 2024 falando sobre João do Rio Alexandre Cassiano Conhecido por ministrar aulas ao ar livre em bairros do Rio, Simas incorporou sua experiência direta com as ruas para ressaltar a atualidade do autor homenageado, que registrou os desafios ainda presentes no país. Simas contextualizou o Rio da época do homenageado: uma cidade cujo projeto de modernização excluiu os mais pobres e não-brancos e que desejava ser uma "Paris tropical". Segundo ele, João do Rio não estava imune aos preconceitos do seu tempo, mas esforçou-se em observar, entre fascínio e medo, toda a cultura das ruas — incluindo a dos pretos e pobres — que era desprezada por seus pares. — É essa cidade que impacta João do Rio, porque ele vive na encruzilhada por onde Exu passa com a sua carafuça — explicou. — De um lado, coisa que o atraía: os boulevares, a cidade que se quer francesa. Mas, pulsando ali do outro lado, a cidade das vielas, dos becos, das profissões de rua, que João do Rio retrata muito bem na "Alma encantadora das ruas". Até porque João do Rio vivia em sua função de jornalista, cronista, flâneur, o homem que vai, entre o fascínio e o temor. Entre o assombro do que ele via e a atração irresistível.
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