Ex-advogado diz ter apresentado escolta da PM a Gritzbach

Segundo Ivelson Salotto, defensor do empresário até junho, foi ele quem pediu ajuda a um tenente para indicar policiais para proteger a família de Gritzbach depois da sua prisão O ex-advogado de Vinícius Gritzbach, Ivelson Salotto, afirmou que foi ele quem apresentou a escolta privada de policiais militares ao empresário. Delator do Primeiro Comando da Capital e de policiais civis, Gritzbach foi executado com 10 tiros na última sexta-feira no Aeroporto Internacional de Guarulhos. De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), o empresário foi jurado de morte depois de ter mandado matar dois membros do PCC. O duplo homicídio aconteceu em 27 de dezembro de 2021. Segundo Salotto, a apresentação aos PMs ocorreu logo depois que Gritzbach teve sua prisão temporária decretada, em fevereiro de 2023. Naquele momento, de acordo com o advogado, a família do empresário estava recebendo ameaças de morte. Salotto conhecia o tenente Giovani Garcia, que teria indicado PMs para o trabalho. Na manhã desta quarta-feira, o ex-advogado irá até a Corregedoria da PM para testemunhar a favor do tenente. — A família do Vinícius me ligava toda hora apavorada, aterrorizada. Dentro daquele contexto, não tendo a quem recorrer, recorri ao Garcia, que eu já conhecia há uns 10 anos. Fui eu quem o procurou pedindo que me indicasse pessoas de confiança para fazer a segurança do risco. A participação foi minha — revelou Salotto. O ex-advogado afirmou ainda que, quando Gritzbach deixou a prisão, após decisão do Superior Tribunal de Justiça, em junho de 2023, as ameaças de morte cessaram. O empresário então dispensou a equipe de segurança, mas a contratou por volta de três meses depois, em especial porque um de seus filhos havia ficado muito “apegado” aos policiais. Delação Em abril deste ano, Gritzbach fechou a proposta de acordo de delação premiada com o MP para entregar membros da facção por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. O GLOBO teve acesso à íntegra do documento, mas não à delação em si, que está sob sigilo. Na proposta de delação, o empresário afirma ter informações que comprometem três membros do PCC: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta; Cláudio Marcos de Almeida, o Django; e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola. Dentre eles, o único integrante do PCC vivo é Cebola. Além disso, Gritzbach se propôs a apresentar informações referentes à prática de atos de corrupção policial envolvendo delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e 24º Distrito Policial da Capital. As condutas apuradas seriam de concussão, corrupção passiva e associação criminosa, segundo o documento. Para Salotto, o Estado foi negligente ao não ter oferecido mais segurança ao empresário. — Quem acabou matando o Vinícius, na minha opinião, foi o Estado, que é esse Estado incompetente que mata dia a dia várias pessoas, por falta de segurança pública, falta de tudo. A partir do momento em que ele fez a delação premiada, a vida dele já não era mais dele, era do Estado. O Estado teria de proteger com unhas e dentes — disse. O MP de São Paulo afirmou ter oferecido ao empresário o ingresso no programa de proteção a vítimas e testemunhas. Segundo a promotoria, ele negou. Em entrevista a GloboNews, o promotor Lincoln Gakiya afirmou que Gritzbach disse ao MP que podia bancar a própria segurança. O delator disse ainda que o programa não se enquadrava ao seu estilo de vida. Policiais afastados Na terça-feira (12), a força tarefa criada pelo governo de São Paulo para investigar o assassinato do empresário determinou o afastamento de oito policiais militares que participavam de sua escolta. O documento, assinado pelo coronel Fábio Sérgio do Amaral, determina ainda que os agentes sejam ouvidos pela Corregedoria da Polícia Militar. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que a participação dos agentes públicos na escolta de um homem que admitia ter ligações com o crime organizado é passível de punição. — Há de se falar do eventual cometimento de um crime militar por parte desses policiais — disse Derrite, durante coletiva de imprensa na segunda-feira (11). A Polícia Civil também apura a conduta dos agentes do órgão que foram citados no acordo de delação firmado entre Gritzbach e o Ministério Público. Segundo Derrite, o empresário, oito dias antes de morrer, prestou depoimento à Corregedoria denunciando uma suposta extorsão que teria sido praticada por policiais civis. Os policiais militares que participavam da escolta do empresário não conseguiram impedir o assassinato do empresário. Quatro deles foram contratados para proteger Gritzbach na saída do aeroporto mas não chegaram a tempo de conter o crime por conta de suposta falha mecânica em um dos veículos que integrava a escolta. Os celulares deles foram apreendidos e os aparelhos são periciados, assim como o veículo que supostamente teve uma pane. O inquérito policial que apura a conduta

Nov 13, 2024 - 13:02
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Ex-advogado diz ter apresentado escolta da PM a Gritzbach

Segundo Ivelson Salotto, defensor do empresário até junho, foi ele quem pediu ajuda a um tenente para indicar policiais para proteger a família de Gritzbach depois da sua prisão O ex-advogado de Vinícius Gritzbach, Ivelson Salotto, afirmou que foi ele quem apresentou a escolta privada de policiais militares ao empresário. Delator do Primeiro Comando da Capital e de policiais civis, Gritzbach foi executado com 10 tiros na última sexta-feira no Aeroporto Internacional de Guarulhos. De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP), o empresário foi jurado de morte depois de ter mandado matar dois membros do PCC. O duplo homicídio aconteceu em 27 de dezembro de 2021. Segundo Salotto, a apresentação aos PMs ocorreu logo depois que Gritzbach teve sua prisão temporária decretada, em fevereiro de 2023. Naquele momento, de acordo com o advogado, a família do empresário estava recebendo ameaças de morte. Salotto conhecia o tenente Giovani Garcia, que teria indicado PMs para o trabalho. Na manhã desta quarta-feira, o ex-advogado irá até a Corregedoria da PM para testemunhar a favor do tenente. — A família do Vinícius me ligava toda hora apavorada, aterrorizada. Dentro daquele contexto, não tendo a quem recorrer, recorri ao Garcia, que eu já conhecia há uns 10 anos. Fui eu quem o procurou pedindo que me indicasse pessoas de confiança para fazer a segurança do risco. A participação foi minha — revelou Salotto. O ex-advogado afirmou ainda que, quando Gritzbach deixou a prisão, após decisão do Superior Tribunal de Justiça, em junho de 2023, as ameaças de morte cessaram. O empresário então dispensou a equipe de segurança, mas a contratou por volta de três meses depois, em especial porque um de seus filhos havia ficado muito “apegado” aos policiais. Delação Em abril deste ano, Gritzbach fechou a proposta de acordo de delação premiada com o MP para entregar membros da facção por lavagem de dinheiro e participação em organização criminosa. O GLOBO teve acesso à íntegra do documento, mas não à delação em si, que está sob sigilo. Na proposta de delação, o empresário afirma ter informações que comprometem três membros do PCC: Anselmo Becheli Santa Fausta, o Cara Preta; Cláudio Marcos de Almeida, o Django; e Silvio Luiz Ferreira, o Cebola. Dentre eles, o único integrante do PCC vivo é Cebola. Além disso, Gritzbach se propôs a apresentar informações referentes à prática de atos de corrupção policial envolvendo delegados do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), Departamento Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e 24º Distrito Policial da Capital. As condutas apuradas seriam de concussão, corrupção passiva e associação criminosa, segundo o documento. Para Salotto, o Estado foi negligente ao não ter oferecido mais segurança ao empresário. — Quem acabou matando o Vinícius, na minha opinião, foi o Estado, que é esse Estado incompetente que mata dia a dia várias pessoas, por falta de segurança pública, falta de tudo. A partir do momento em que ele fez a delação premiada, a vida dele já não era mais dele, era do Estado. O Estado teria de proteger com unhas e dentes — disse. O MP de São Paulo afirmou ter oferecido ao empresário o ingresso no programa de proteção a vítimas e testemunhas. Segundo a promotoria, ele negou. Em entrevista a GloboNews, o promotor Lincoln Gakiya afirmou que Gritzbach disse ao MP que podia bancar a própria segurança. O delator disse ainda que o programa não se enquadrava ao seu estilo de vida. Policiais afastados Na terça-feira (12), a força tarefa criada pelo governo de São Paulo para investigar o assassinato do empresário determinou o afastamento de oito policiais militares que participavam de sua escolta. O documento, assinado pelo coronel Fábio Sérgio do Amaral, determina ainda que os agentes sejam ouvidos pela Corregedoria da Polícia Militar. O secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que a participação dos agentes públicos na escolta de um homem que admitia ter ligações com o crime organizado é passível de punição. — Há de se falar do eventual cometimento de um crime militar por parte desses policiais — disse Derrite, durante coletiva de imprensa na segunda-feira (11). A Polícia Civil também apura a conduta dos agentes do órgão que foram citados no acordo de delação firmado entre Gritzbach e o Ministério Público. Segundo Derrite, o empresário, oito dias antes de morrer, prestou depoimento à Corregedoria denunciando uma suposta extorsão que teria sido praticada por policiais civis. Os policiais militares que participavam da escolta do empresário não conseguiram impedir o assassinato do empresário. Quatro deles foram contratados para proteger Gritzbach na saída do aeroporto mas não chegaram a tempo de conter o crime por conta de suposta falha mecânica em um dos veículos que integrava a escolta. Os celulares deles foram apreendidos e os aparelhos são periciados, assim como o veículo que supostamente teve uma pane. O inquérito policial que apura a conduta dos militares foi instaurado pela Corregedoria há mais de um mês, antes da morte do delator. As investigações tiveram origem em denúncia à corregedoria feita por um policial que desconfiou da “postura” dos seguranças que escoltavam Gritzbach em uma audiência no Fórum Criminal da Barra Funda. Os seguranças usavam na ocasião o mesmo carro — uma Amarok — que supostamente quebrou na sexta-feira, no caminho para o aeroporto.

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