Em depoimento, Adriano Imperador fala que se considera um 'desperdício do futebol' e o que gosta de fazer na Vila Cruzeiro

The Players Tribune publica texto escrito pelo ex-jogador que passeia pela própria história enquanto apresenta os lugares favoritos da favela Em depoimento ao The Players Tribune, Adriano Imperador convida o leitor a um role de moto pelos cantos da Vila Cruzeiro, favela da Zona Norte onde ele cresceu. No caminho ele, mostra os locais que gosta de parar e o que costuma fazer quando volta às raízes. O The Players Tribune é uma respeitada plataforma de mídia que publica artigos de atletas e ex-atletas, das mais variadas modalidades e nacionalidades. "Eu faço o que eu quero. Quer vir, vem. É por isso que eu volto sempre. Aqui sou respeitado de verdade. Aqui está a minha história. Aqui eu aprendi o que é comunidade. A Vila Cruzeiro não é o melhor lugar do mundo. A Vila Cruzeiro é o meu lugar", escreve o ex-jogador, que se aposentou em 2016. No início do texto, "Carta para Vila Cruzeiro", Adriano diz que se considera "uma promessa não cumprida, o maior desperdício do futebol". Afirma que bebe todos os dias mas que "nunca amarrei uma mulher a uma árvore, como dizem", nem que "usa drogas, como tentam provar". E tenta explicar o motivo pelo qual não larga o vício: "Por que uma pessoa como eu chega ao ponto de beber quase todos os dias? Não gosto de dar satisfação para os outros. Mas aqui vai uma. Porque não é fácil ser uma promessa que ficou em dívida. Ainda mais na minha idade". Um cara que saiu lá da favela para ganhar o apelido de Imperador na Europa. Quem explica, cara? Eu não entendi até hoje. Durante o depoimento, Adriano fala do pai Almir Leite Ribeiro, o Mirinho, "um cara de conceito alto" e conta das competições de várzea, dos grandes clássicos do Hang contra o Chapa Quente. Fala de como sua vida se transformou desde que o pai tomou um tiro na cabeça, bala perdida, em uma festa na Vila Cruzeiro. Ele teve problemas graves depois deste episódio, passou a ter convulsões frequentes, e faleceu em 2004. Foi um mal súbito enquanto estava sozinho em casa. Adriano afirma que até hoje, a morte dele é um assunto que não conseguiu resolver. "Todas as lições que aprendi com meu pai foram assim, nos gestos. Não tínhamos conversas profundas. O velho não era de filosofar nem de ficar dando lição de moral, não. A retidão no dia a dia e o respeito que os outros tinham por ele era o que mais me impressionava." Chama a atenção também o modo como Adriano conta sobre a dificuldade de adaptação à Europa. Como se sentia longe da família e o dia em que tomou uma garrafa inteira de vodka para "esquecer" a saudade da família. Também escrever sobre os comentários de que largou o futebol por causa da bebida e da vida na favela. Não deixa de ser isso, mas segundo as palavras dele: "Eu ficava algumas semanas bem, evitava o danone, treinava feito um cavalo, mas sempre rolava uma recaída. E todo mundo me detonava. Eu não aguentava mais... Nego falou merda pra caralho porque é tudo constrangido. “Pô, o Adriano parou de ganhar sete milhões de euros. Ele largou tudo por causa dessa merda?”, foi o que eu mais ouvi. Mas nego não sabe porque eu fiz isso. Porque eu não estava bem. Eu precisava do meu espaço, fazer o que eu quisesse fazer" Adriano mora na Barra da Tijuca mas está sempre na Vila Cruzeiro. Acabou de lançar uma biografia, "Adriano – meu medo maior " (Ed. Planeta), escrita pelo jornalista paulista Ulisses Campos, e está promovendo o lançamento do filme Gladiador 2. Gladiador 2 estreia quinta-feira nos cinemas brasileiros. A história se passa 25 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme. "Mas a única coisa que eu busco na Vila Cruzeiro é sossego. Aqui eu ando descalço e sem camisa, só de bermudão. Jogo dominó, sento no meio-fio, lembro minhas histórias da infância, ouço música, danço com os meus amigos, durmo no chão. Vejo o meu pai em cada uma dessas vielas."

Nov 12, 2024 - 11:34
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Em depoimento, Adriano Imperador fala que se considera um 'desperdício do futebol' e o que gosta de fazer na Vila Cruzeiro

The Players Tribune publica texto escrito pelo ex-jogador que passeia pela própria história enquanto apresenta os lugares favoritos da favela Em depoimento ao The Players Tribune, Adriano Imperador convida o leitor a um role de moto pelos cantos da Vila Cruzeiro, favela da Zona Norte onde ele cresceu. No caminho ele, mostra os locais que gosta de parar e o que costuma fazer quando volta às raízes. O The Players Tribune é uma respeitada plataforma de mídia que publica artigos de atletas e ex-atletas, das mais variadas modalidades e nacionalidades. "Eu faço o que eu quero. Quer vir, vem. É por isso que eu volto sempre. Aqui sou respeitado de verdade. Aqui está a minha história. Aqui eu aprendi o que é comunidade. A Vila Cruzeiro não é o melhor lugar do mundo. A Vila Cruzeiro é o meu lugar", escreve o ex-jogador, que se aposentou em 2016. No início do texto, "Carta para Vila Cruzeiro", Adriano diz que se considera "uma promessa não cumprida, o maior desperdício do futebol". Afirma que bebe todos os dias mas que "nunca amarrei uma mulher a uma árvore, como dizem", nem que "usa drogas, como tentam provar". E tenta explicar o motivo pelo qual não larga o vício: "Por que uma pessoa como eu chega ao ponto de beber quase todos os dias? Não gosto de dar satisfação para os outros. Mas aqui vai uma. Porque não é fácil ser uma promessa que ficou em dívida. Ainda mais na minha idade". Um cara que saiu lá da favela para ganhar o apelido de Imperador na Europa. Quem explica, cara? Eu não entendi até hoje. Durante o depoimento, Adriano fala do pai Almir Leite Ribeiro, o Mirinho, "um cara de conceito alto" e conta das competições de várzea, dos grandes clássicos do Hang contra o Chapa Quente. Fala de como sua vida se transformou desde que o pai tomou um tiro na cabeça, bala perdida, em uma festa na Vila Cruzeiro. Ele teve problemas graves depois deste episódio, passou a ter convulsões frequentes, e faleceu em 2004. Foi um mal súbito enquanto estava sozinho em casa. Adriano afirma que até hoje, a morte dele é um assunto que não conseguiu resolver. "Todas as lições que aprendi com meu pai foram assim, nos gestos. Não tínhamos conversas profundas. O velho não era de filosofar nem de ficar dando lição de moral, não. A retidão no dia a dia e o respeito que os outros tinham por ele era o que mais me impressionava." Chama a atenção também o modo como Adriano conta sobre a dificuldade de adaptação à Europa. Como se sentia longe da família e o dia em que tomou uma garrafa inteira de vodka para "esquecer" a saudade da família. Também escrever sobre os comentários de que largou o futebol por causa da bebida e da vida na favela. Não deixa de ser isso, mas segundo as palavras dele: "Eu ficava algumas semanas bem, evitava o danone, treinava feito um cavalo, mas sempre rolava uma recaída. E todo mundo me detonava. Eu não aguentava mais... Nego falou merda pra caralho porque é tudo constrangido. “Pô, o Adriano parou de ganhar sete milhões de euros. Ele largou tudo por causa dessa merda?”, foi o que eu mais ouvi. Mas nego não sabe porque eu fiz isso. Porque eu não estava bem. Eu precisava do meu espaço, fazer o que eu quisesse fazer" Adriano mora na Barra da Tijuca mas está sempre na Vila Cruzeiro. Acabou de lançar uma biografia, "Adriano – meu medo maior " (Ed. Planeta), escrita pelo jornalista paulista Ulisses Campos, e está promovendo o lançamento do filme Gladiador 2. Gladiador 2 estreia quinta-feira nos cinemas brasileiros. A história se passa 25 anos depois dos acontecimentos do primeiro filme. "Mas a única coisa que eu busco na Vila Cruzeiro é sossego. Aqui eu ando descalço e sem camisa, só de bermudão. Jogo dominó, sento no meio-fio, lembro minhas histórias da infância, ouço música, danço com os meus amigos, durmo no chão. Vejo o meu pai em cada uma dessas vielas."

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