Eleição de Trump lança incertezas sobre rumo da guerra na Ucrânia, e Zelensky diz que concessões à Rússia seriam 'suicídio'

Líder ucraniano fez apelo aos EUA e a aliados europeus para que 'valorizem' relacionamento com Kiev; nações da Otan veem retorno do republicano com preocupação O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou nesta quinta-feira que fazer concessões à Rússia poderia ser um “suicídio” para a Europa. A fala foi feita durante a cúpula da Comunidade Política Europeia, que reuniu cerca de 50 líderes europeus em Budapeste, na Hungria, e ocorreu pouco depois de Moscou ter instado as potências ocidentais a realizar negociações sob pena da “destruição do povo ucraniano”. A movimentação dos líderes russo e ucraniano, por sua vez, ocorre após o republicano Donald Trump ser reeleito nos Estados Unidos. O magnata já disse repetidas vezes que a guerra na Ucrânia não teria começado se ele fosse presidente, e chegou a afirmar que o conflito terminaria antes mesmo de ele assumir o cargo. Em julho, declarou que poderia resolver a guerra, que já dura mais de dois anos, em apenas um dia. Contexto: Europa busca frente unida após retorno de Trump à Presidência dos EUA Entenda: Com Trump reeleito, EUA podem retirar o apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia? No mesmo evento desta quinta, Zelensky fez um apelo aos EUA e aos aliados europeus para que sejam “fortes” e “valorizem” o relacionamento com a Ucrânia, ainda que a eleição de Trump lance incertezas sobre a relação entre os aliados. Do lado europeu, as nações da aliança atlântica (Otan) veem o retorno de Trump ao poder com preocupação. Isso porque durante o primeiro mandato do republicano (2017-2021), o magnata fez jogo-duro para que todos aumentassem suas contribuições para a defesa coletiva da organização. Em fevereiro, ele chegou a ameaçar não defender os países aliados que estão com pagamentos em atraso, e que até encorajaria a Rússia a atacá-los — um contraste com o governo do democrata Joe Biden, que recuperou os vínculos com os parceiros e aumentou a cooperação. Trump frequentemente censura os membros da Otan por não financiarem suficientemente o bloco. — Alguns de vocês defenderam que a Ucrânia deveria fazer concessões ao [presidente da Rússia, Vladimir] Putin. Isso é inaceitável para a Ucrânia e seria um suicídio para toda a Europa — disse Zelensky em discurso perante líderes europeus reunidos em Budapeste. Guga Chacra: Trump, Gaza e Ucrânia Na quarta-feira, quando Trump foi anunciado vencedor da corrida pela Casa Branca, Zelensky publicou nas redes sociais que defender a Ucrânia é do interesse dos Estados Unidos porque seu país é rico em recursos naturais. Apesar do esforço de argumentação, Trump já demonstrou desprezo pela Ucrânia e pelo próprio mandatário ucraniano diversas vezes, chegando a culpá-lo pelo início da guerra. A fala do republicano sobre poder negociar o fim da guerra antes mesmo de tomar posse gerou preocupações de que ele forçaria os ucranianos a um acordo desfavorável ao cortar o apoio militar. Alguns analistas esperam que Trump busque desmilitarizar e deixar sob controle russo a área atualmente ocupada por Moscou (20% do território ucraniano). Também seria favorável que Kiev renunciasse à adesão à Otan, como exige o Kremlin. Se confirmada, as medidas iriam de encontro ao “plano de vitória” promovido por Zelensky, para quem os pontos mais importantes são um convite oficial para integrar a Otan e o reforço da assistência militar para proteger o território ucraniano. “Para nós, na Ucrânia, e em toda a Europa, sempre foi crucial ouvir as palavras do então 45º Presidente dos EUA sobre ‘paz através da força’. Quando esse princípio se torna a política do 47º Presidente, tanto os Estados Unidos quanto o mundo inteiro, sem dúvida, se beneficiarão. Não é coincidência que [o ex-presidente americano] Ronald Reagan seja mencionado com tanta frequência atualmente — as pessoas querem confiança, querem liberdade, querem uma vida normal. Para nós, isso significa uma vida livre da agressão russa, com uma América forte, uma Ucrânia forte e aliados fortes”, escreveu o presidente ucraniano. No início deste ano, Trump tentou convencer legisladores republicanos a bloquear uma legislação defendida por Biden que incluía um robusto pacote de ajuda militar para a Ucrânia. O magnata expressou ceticismo em relação à continuidade da ajuda militar de Washington a Kiev e também manifestou repetidamente admiração pelo líder russo. Diálogo Otan x Trump Também nesta quinta-feira, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que espera falar com Trump sobre a ameaça da aliança entre Rússia e Coreia do Norte — que, em meio à campanha presidencial americana, reforçou laços. Moscou e Pyongyang assinaram um tratado de defesa mútua que garante, entre outras coisas, que um dos sócios defenderá o aliado com todos os meios possíveis em caso de agressão externa. Somado a isso, a Coreia do Sul e a Ucrânia denunciaram repetidas vezes o envio de tropas norte-coreanas para a Rússia, com estimativas de Inteligência falando em 10 mil soldados enviados. — Estou ansioso para me senta

Nov 7, 2024 - 17:06
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Eleição de Trump lança incertezas sobre rumo da guerra na Ucrânia, e Zelensky diz que concessões à Rússia seriam 'suicídio'

Líder ucraniano fez apelo aos EUA e a aliados europeus para que 'valorizem' relacionamento com Kiev; nações da Otan veem retorno do republicano com preocupação O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou nesta quinta-feira que fazer concessões à Rússia poderia ser um “suicídio” para a Europa. A fala foi feita durante a cúpula da Comunidade Política Europeia, que reuniu cerca de 50 líderes europeus em Budapeste, na Hungria, e ocorreu pouco depois de Moscou ter instado as potências ocidentais a realizar negociações sob pena da “destruição do povo ucraniano”. A movimentação dos líderes russo e ucraniano, por sua vez, ocorre após o republicano Donald Trump ser reeleito nos Estados Unidos. O magnata já disse repetidas vezes que a guerra na Ucrânia não teria começado se ele fosse presidente, e chegou a afirmar que o conflito terminaria antes mesmo de ele assumir o cargo. Em julho, declarou que poderia resolver a guerra, que já dura mais de dois anos, em apenas um dia. Contexto: Europa busca frente unida após retorno de Trump à Presidência dos EUA Entenda: Com Trump reeleito, EUA podem retirar o apoio à Ucrânia na guerra com a Rússia? No mesmo evento desta quinta, Zelensky fez um apelo aos EUA e aos aliados europeus para que sejam “fortes” e “valorizem” o relacionamento com a Ucrânia, ainda que a eleição de Trump lance incertezas sobre a relação entre os aliados. Do lado europeu, as nações da aliança atlântica (Otan) veem o retorno de Trump ao poder com preocupação. Isso porque durante o primeiro mandato do republicano (2017-2021), o magnata fez jogo-duro para que todos aumentassem suas contribuições para a defesa coletiva da organização. Em fevereiro, ele chegou a ameaçar não defender os países aliados que estão com pagamentos em atraso, e que até encorajaria a Rússia a atacá-los — um contraste com o governo do democrata Joe Biden, que recuperou os vínculos com os parceiros e aumentou a cooperação. Trump frequentemente censura os membros da Otan por não financiarem suficientemente o bloco. — Alguns de vocês defenderam que a Ucrânia deveria fazer concessões ao [presidente da Rússia, Vladimir] Putin. Isso é inaceitável para a Ucrânia e seria um suicídio para toda a Europa — disse Zelensky em discurso perante líderes europeus reunidos em Budapeste. Guga Chacra: Trump, Gaza e Ucrânia Na quarta-feira, quando Trump foi anunciado vencedor da corrida pela Casa Branca, Zelensky publicou nas redes sociais que defender a Ucrânia é do interesse dos Estados Unidos porque seu país é rico em recursos naturais. Apesar do esforço de argumentação, Trump já demonstrou desprezo pela Ucrânia e pelo próprio mandatário ucraniano diversas vezes, chegando a culpá-lo pelo início da guerra. A fala do republicano sobre poder negociar o fim da guerra antes mesmo de tomar posse gerou preocupações de que ele forçaria os ucranianos a um acordo desfavorável ao cortar o apoio militar. Alguns analistas esperam que Trump busque desmilitarizar e deixar sob controle russo a área atualmente ocupada por Moscou (20% do território ucraniano). Também seria favorável que Kiev renunciasse à adesão à Otan, como exige o Kremlin. Se confirmada, as medidas iriam de encontro ao “plano de vitória” promovido por Zelensky, para quem os pontos mais importantes são um convite oficial para integrar a Otan e o reforço da assistência militar para proteger o território ucraniano. “Para nós, na Ucrânia, e em toda a Europa, sempre foi crucial ouvir as palavras do então 45º Presidente dos EUA sobre ‘paz através da força’. Quando esse princípio se torna a política do 47º Presidente, tanto os Estados Unidos quanto o mundo inteiro, sem dúvida, se beneficiarão. Não é coincidência que [o ex-presidente americano] Ronald Reagan seja mencionado com tanta frequência atualmente — as pessoas querem confiança, querem liberdade, querem uma vida normal. Para nós, isso significa uma vida livre da agressão russa, com uma América forte, uma Ucrânia forte e aliados fortes”, escreveu o presidente ucraniano. No início deste ano, Trump tentou convencer legisladores republicanos a bloquear uma legislação defendida por Biden que incluía um robusto pacote de ajuda militar para a Ucrânia. O magnata expressou ceticismo em relação à continuidade da ajuda militar de Washington a Kiev e também manifestou repetidamente admiração pelo líder russo. Diálogo Otan x Trump Também nesta quinta-feira, o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, afirmou que espera falar com Trump sobre a ameaça da aliança entre Rússia e Coreia do Norte — que, em meio à campanha presidencial americana, reforçou laços. Moscou e Pyongyang assinaram um tratado de defesa mútua que garante, entre outras coisas, que um dos sócios defenderá o aliado com todos os meios possíveis em caso de agressão externa. Somado a isso, a Coreia do Sul e a Ucrânia denunciaram repetidas vezes o envio de tropas norte-coreanas para a Rússia, com estimativas de Inteligência falando em 10 mil soldados enviados. — Estou ansioso para me sentar com o presidente Trump e discutir como podemos garantir coletivamente que enfrentaremos esta ameaça e manteremos a nossa parte do mundo segura — disse Rutte. Diálogo: Secretário-geral da Otan quer conversa com Trump sobre aliança entre Rússia e Coreia do Norte Em Budapeste, Rutte deu novos detalhes sobre a cooperação russo-norte-coreana. De acordo com o secretário, Moscou está transferindo “tecnologia para a Coreia do Norte”, o que, na análise do holandês, permite que Pyongyang ameace “o futuro, os Estados Unidos, a Europa continental, e também os nossos parceiros no Indo-Pacífico”. Ele não fez nenhuma crítica ou demonstrou preocupação com a volta de Trump, embora tenha tido vários atritos com o republicano quando era premier da Holanda. Em vez disso, reiterou felicitações ao magnata pela vitória, afirmando que “o povo dos Estados Unidos o elegeu”. — Trabalhei muito bem com ele durante quatro anos. Ele é muito claro sobre o que quer. Ele entende que é preciso chegar a acordos para chegar a posições conjuntas e acredito que podemos fazê-lo — acrescentou. Outros integrantes da aliança, contudo, fizeram declarações que indicam que, ao menos durante a cúpula, a mensagem será de reforçar as próprias capacidades europeias, diminuindo a dependência de Washington. O presidente da França, Emmanuel Macron, por exemplo, citou diretamente os Estados Unidos ao afirmar que o continente não pode “delegar eternamente” sua segurança aos americanos. Ele defendeu ações para garantir os “interesses nacionais europeus” e a “soberania e autonomia estratégica”. Da fronteira com a Ucrânia, o primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, foi mais direto e afirmou que a vitória de Trump nos EUA terá graves consequências para a segurança europeia. — As eleições nos EUA terão consequências graves para a política europeia, especialmente na área da segurança — disse Tusk. (Com AFP e New York Times)

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