Doenças com alta de casos no país tiveram vacinas descartadas
Alguns dos principais alvos das campanhas de imunização, como coqueluche, febre amarela e meningite, estão na lista de imunizantes com prazos vencidos O governo federal deixou vencer imunizantes usados para proteger contra doenças que têm suas coberturas vacinais abaixo da meta e, em alguns casos, com alta de registros nos últimos meses. Como revelou O GLOBO, 58 milhões de vacinas foram desperdiçadas de 2023 e ao longo deste ano, até segunda-feira, após expirar os prazos de validade. O número supera a quantia descartada nos quatro anos de Jair Bolsonaro. Vacinas no lixo: Número de imunizantes vencidos aumenta 22% no governo Lula e gera prejuízo de R$ 1,7 bilhão, o maior desde 2008 Entre os imunizantes descartados nesse período, 8,7 milhões seriam usados para prevenir casos de difteria, tétano e coqueluche (DTP). A cobertura vacinal para essas doenças, que era de 64,4% em 2022, subiu neste ano para 87,5%, mas ainda está longe da meta de ter 95% da população vacinada. Enquanto isso, o aumento de casos de coqueluche no país preocupam autoridades de saúde. Foram mais de 3 mil registros neste ano, um recorde desde 2014. Em comunicado, o ministério diz que “a vacina DTP, fornecida pelo Fundo Rotatório da OPAS, teve as últimas entregas atrasadas. Para manter a imunização, a DTP foi substituída pela pentavalente, que contém o mesmo componente. Portanto, não houve falhas na distribuição e as crianças puderam ser vacinadas”. O cenário é semelhante em relação à febre amarela. No primeiro semestre deste ano, o Ministério da Saúde emitiu um alerta após registro de uma morte no interior de São Paulo. A doença é endêmica na região amazônica, mas ocasionalmente ressurge em outras áreas. A cobertura vacinal para a febre amarela é uma das mais baixas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), com 75% da população imunizada, ante a meta de 95%. Nos últimos dois anos, foram 2,6 milhões de vacinas para febre amarela vencidas. Além de deixar as vacinas expirarem, o governo deixou de atender pedidos de estados para o envio de imunizantes. Em um informe de setembro, o Ministério da Saúde registrou que atendeu parcialmente os pedidos de oito tipos de vacina feitos por secretarias estaduais de saúde. Uma delas era a vacina meningocócica ACWY, que teve 1.224 doses vencidas neste ano, um prejuízo de R$ 87,9 mil. Nos informes de agosto e setembro, o ministério também informou que o estoque era crítico para as vacinas DTP. “O Ministério da Saúde (MS) enfrenta desafios no abastecimento das vacinas mencionadas a seguir devido a fatores não previsíveis, como atrasos nas entregas por parte dos fornecedores e dificuldade de aquisição”, disse. Só neste ano, foram R$ 3,3 milhões deste imunizante desperdiçados por perderem a validade. O relatório de agosto sobre distribuição de imunobiológicos mostrou que houve o atendimento parcial em relação a onze imunizantes, dentre eles a vacina meningocócica C. Em 2024, foram 342.320 vacinas do tipo jogadas no lixo por validade, cerca de R$ 16,1 milhões. Alta de meningite Neste ano já foram registrados 646 casos de meningite meningocócica. Há um aumento gradual de registros desde 2021, quando foram notificados 251 casos de meningite. Na terça-feira, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio emitiu um alerta para o aumento de casos de meningite meningocócica após 12 casos e duas mortes neste ano. O total de registros equivale ao dobro de casos confirmados entre 2017 e 2020. No ano passado e em 2022 não houve notificações. Em nota, a pasta disse que os imunizantes estão disponíveis para a população. Além disso, apesar do fim da pandemia, o país registrou até 2 de novembro 780,9 mil casos de Covid-19 e 5.440 óbitos. No ano passado, até 21 de novembro, foram 1,7 milhão de casos registrados. Enquanto isso, 45,7 milhões de vacinas foram desperdiçadas após expirarem em 2023 e 2024. Os imunizantes contra Covid-19 compõem a maior parte das vacinas perdidas pelo atual governo. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Júlio Croda avalia que as perdas de imunizantes “tradicionais”, que já estão no calendário vacinal há um certo tempo, significa que houve alguma falha nos municípios, que são os entes responsáveis pela vacinação. — Parte dessa culpa tem que ser dividida principalmente com os municípios, que precisam buscar essas pessoas para vacinar. A vacina de Covid carrega muita desinformação, mas as vacinas tradicionais, não. O ministério planeja aumentar a cobertura e por isso compra mais. Se não está sendo aplicada, o erro é na execução, que está sendo inadequada — avalia. Na Câmara A divulgação das informações sobre vacinas vencidas foi vista como negativa por auxiliares diretos de Lula no Palácio do Planalto. Há incômodo no entorno do presidente com o fato de a ministra da Saúde, Nísia Trindade, não ter conseguido produzir até agora uma marca à frente da Saúde. O núcleo próximo de Lula também avalia que a ministra enfrenta fogo amigo dentro do governo. A
Alguns dos principais alvos das campanhas de imunização, como coqueluche, febre amarela e meningite, estão na lista de imunizantes com prazos vencidos O governo federal deixou vencer imunizantes usados para proteger contra doenças que têm suas coberturas vacinais abaixo da meta e, em alguns casos, com alta de registros nos últimos meses. Como revelou O GLOBO, 58 milhões de vacinas foram desperdiçadas de 2023 e ao longo deste ano, até segunda-feira, após expirar os prazos de validade. O número supera a quantia descartada nos quatro anos de Jair Bolsonaro. Vacinas no lixo: Número de imunizantes vencidos aumenta 22% no governo Lula e gera prejuízo de R$ 1,7 bilhão, o maior desde 2008 Entre os imunizantes descartados nesse período, 8,7 milhões seriam usados para prevenir casos de difteria, tétano e coqueluche (DTP). A cobertura vacinal para essas doenças, que era de 64,4% em 2022, subiu neste ano para 87,5%, mas ainda está longe da meta de ter 95% da população vacinada. Enquanto isso, o aumento de casos de coqueluche no país preocupam autoridades de saúde. Foram mais de 3 mil registros neste ano, um recorde desde 2014. Em comunicado, o ministério diz que “a vacina DTP, fornecida pelo Fundo Rotatório da OPAS, teve as últimas entregas atrasadas. Para manter a imunização, a DTP foi substituída pela pentavalente, que contém o mesmo componente. Portanto, não houve falhas na distribuição e as crianças puderam ser vacinadas”. O cenário é semelhante em relação à febre amarela. No primeiro semestre deste ano, o Ministério da Saúde emitiu um alerta após registro de uma morte no interior de São Paulo. A doença é endêmica na região amazônica, mas ocasionalmente ressurge em outras áreas. A cobertura vacinal para a febre amarela é uma das mais baixas do Programa Nacional de Imunizações (PNI), com 75% da população imunizada, ante a meta de 95%. Nos últimos dois anos, foram 2,6 milhões de vacinas para febre amarela vencidas. Além de deixar as vacinas expirarem, o governo deixou de atender pedidos de estados para o envio de imunizantes. Em um informe de setembro, o Ministério da Saúde registrou que atendeu parcialmente os pedidos de oito tipos de vacina feitos por secretarias estaduais de saúde. Uma delas era a vacina meningocócica ACWY, que teve 1.224 doses vencidas neste ano, um prejuízo de R$ 87,9 mil. Nos informes de agosto e setembro, o ministério também informou que o estoque era crítico para as vacinas DTP. “O Ministério da Saúde (MS) enfrenta desafios no abastecimento das vacinas mencionadas a seguir devido a fatores não previsíveis, como atrasos nas entregas por parte dos fornecedores e dificuldade de aquisição”, disse. Só neste ano, foram R$ 3,3 milhões deste imunizante desperdiçados por perderem a validade. O relatório de agosto sobre distribuição de imunobiológicos mostrou que houve o atendimento parcial em relação a onze imunizantes, dentre eles a vacina meningocócica C. Em 2024, foram 342.320 vacinas do tipo jogadas no lixo por validade, cerca de R$ 16,1 milhões. Alta de meningite Neste ano já foram registrados 646 casos de meningite meningocócica. Há um aumento gradual de registros desde 2021, quando foram notificados 251 casos de meningite. Na terça-feira, a Secretaria Estadual de Saúde do Rio emitiu um alerta para o aumento de casos de meningite meningocócica após 12 casos e duas mortes neste ano. O total de registros equivale ao dobro de casos confirmados entre 2017 e 2020. No ano passado e em 2022 não houve notificações. Em nota, a pasta disse que os imunizantes estão disponíveis para a população. Além disso, apesar do fim da pandemia, o país registrou até 2 de novembro 780,9 mil casos de Covid-19 e 5.440 óbitos. No ano passado, até 21 de novembro, foram 1,7 milhão de casos registrados. Enquanto isso, 45,7 milhões de vacinas foram desperdiçadas após expirarem em 2023 e 2024. Os imunizantes contra Covid-19 compõem a maior parte das vacinas perdidas pelo atual governo. Pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Júlio Croda avalia que as perdas de imunizantes “tradicionais”, que já estão no calendário vacinal há um certo tempo, significa que houve alguma falha nos municípios, que são os entes responsáveis pela vacinação. — Parte dessa culpa tem que ser dividida principalmente com os municípios, que precisam buscar essas pessoas para vacinar. A vacina de Covid carrega muita desinformação, mas as vacinas tradicionais, não. O ministério planeja aumentar a cobertura e por isso compra mais. Se não está sendo aplicada, o erro é na execução, que está sendo inadequada — avalia. Na Câmara A divulgação das informações sobre vacinas vencidas foi vista como negativa por auxiliares diretos de Lula no Palácio do Planalto. Há incômodo no entorno do presidente com o fato de a ministra da Saúde, Nísia Trindade, não ter conseguido produzir até agora uma marca à frente da Saúde. O núcleo próximo de Lula também avalia que a ministra enfrenta fogo amigo dentro do governo. A sua permanência no cargo, no entanto, não é considerada ameaçada até o momento Em audiência ontem na Câmara, Trindade foi questionada por parlamentares da oposição do governo sobre o desperdício de doses de vacinas. Ela havia sido chamada para prestar esclarecimentos sobre diferentes ações da pasta. Em resposta, Trindade afirmou que a pasta herdou doses de vacinas da Covid-19 que “não haviam sido distribuídas pelo governo anterior e estavam em estoque”. — Antes de assumir o Ministério da Saúde, integrei o grupo de trabalho de transição e fiquei perplexa de saber que era sigilosa a situação do estoque de vacinas. Não tínhamos nenhum controle de qualidade e veracidade das informações. (...) Havia 158 milhões de itens de saúde a vencer até junho do ano passado, R$ 1,2 bilhão era nossa avaliação de perda diante deste estoque. Desse, R$ 1 milhão relativos às vacinas de Covid — declarou a ministra. Ainda segundo ela, a pasta investiu em estratégias para utilizar doses adquiridas pela gestão de Jair Bolsonaro (PL) que evitaram o desperdício de R$ 252 milhões, equivalente a 12,3 milhões de vacinas. — Além disso, assumimos o trabalho conjunto com secretários estaduais e municipais de modo a evitar perdas — completou. — As vacinas são vítimas da fake news e da desinformação. (Colaborou Sérgio Roxo)
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