Desiludidos, imigrantes latinos pedem a Trump que não feche as fronteiras dos Estados Unidos

Presidente eleito Trump promete realizar a maior deportação de imigrantes da história dos EUA. Leopoldo Ferman desejava a vitória de Kamala Harris, mas com seu sonho destruído, pede junto a outros imigrantes que Donald Trump abra as portas dos Estados Unidos para quem busca apenas uma vida melhor e feche a entrada para criminosos. Eleições americanas 2024: Trump vence Kamala Harris e voltará à Presidência dos EUA; acompanhe ao vivo De economia à imigração: Como a vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode impactar os brasileiros? De um abrigo na fronteiriça Cidade Juárez, no norte do México, Ferman e outros imigrantes latino-americanos acompanharam as eleições que deram a vitória a Trump, que promete realizar a maior deportação de imigrantes da história dos EUA. — Estava esperando que Kamala ganhasse, pois, como sabemos, foi o Trump quem construiu o muro — disse o mexicano sobre a barreira que o republicano expandiu durante seu primeiro mandato e que serpenteia ao longo da fronteira de quase 3,2 mil km. — Mas não temos nada contra ele, simplesmente esperamos que haja melhorias. Aos 47 anos, Ferman é mestre de obras, e sonha com um emprego nos Estados Unidos em que ele consiga atuar após lesões causadas por um acidente de trabalho, e que lhe permita sustentar sua família. Para isso, ele tenta o pedido de asilo por meio do aplicativo CBP One, habilitado por Joe Biden para combater a migração ilegal. O mexicano já tinha uma entrevista agendada, mas precisou reiniciar o processo após ter o celular roubado. Política externa: Vitória de Trump indica guinada radical na relação da Casa Branca com a América Latina — Não sei o que nos aguarda (com Trump). Muitos de nós vamos perder oportunidades e outros vão tê-las, mas o mais importante é que se atentem às pessoas que estão entrando (...) porque há muitos criminosos organizados — completou. Excluir os maus A rotina na fronteira que separa Cidade Juárez de El Paso, no Texas, seguia nesta quarta-feira pós-resultado da corrida pela Casa Branca como nas últimas semanas: sem migrantes no Rio Bravo, por onde geralmente cruzam os imigrantes em situação irregular, e com patrulhas de agentes de segurança. Em meio aos alertas de Trump e Harris sobre medidas mais duras contra a imigração irregular e ao medo de morrer nas mãos de "coiotes" – que fazem a travessia das pessoas entre os países de forma irregular –, muitos imigrantes optaram pelo CBP One para entrar regularmente nos Estados Unidos. Por isso, os cruzamentos irregulares caíram de 250 mil em dezembro para quase 54 mil em setembro passado, segundo o governo de Biden. Trump de volta: "A América nos deu um mandato sem precedentes e poderoso" Enquanto espera a sua vez, o peruano Francisco Riveros, 40, que deixou seu país há um mês, acredita que, apesar das ameaças e insultos, a vitória de Trump pode ajudar a colocar ordem. — Acho bom que ele tenha ganhado, que ele ponha ordem no país e em toda a América. Trump disse que iria haver melhorias, que os imigrantes iam entrar de forma seletiva, não mais criminosos, (somente) trabalhadores — declarou. Antes de ser eleito, o republicano ameaçou impor tarifas de 25% ao México se o país não freasse a "avalanche de criminosos e drogas" que entram nos Estados Unidos. Durante a campanha, ele ainda chamou os imigrantes de "assassinos" e chegou a afirmar que "envenenam a sangue" do país. Migração não vai parar O otimismo de Riveros contrasta com a tristeza da venezuelana Yuliana Gamboa, 20, que nesta quarta-feira vendia guloseimas com seu parceiro, Daniel Córdova, e o filho de dois anos nas ruas de Cidade da Guatemala, para continuar a viagem de ônibus rumo aos Estados Unidos. — Quando soubemos que (Trump) havia vencido, foi um golpe de emoção — contou a jovem, que também busca atravessar a fronteira de maneira regular depois de passar pela perigosa selva colombo-panamenha do Darién e sofrer um assalto. — Mas com o que ele disse, não sabemos se será possível. Análise: eleição de Trump é previsão de mau tempo para políticas de combate às mudanças climáticas — Que nos deem a oportunidade de trabalhar e seguir em frente. É isso o que queremos — acrescentou Daniel, cuja família faz parte dos quase oito milhões de venezuelanos que deixaram o país devido à grave crise econômica. A compatriota do casal, Deimirys Leuche, 21, chegou na terça-feira a Guatemala com oito familiares, e também pede a Trump que não "feche a porta". — Na Venezuela já não tínhamos vida e a situação não vai melhorar — disse Leuche, referindo-se à questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro. De qualquer forma, ela não perde de vista que, no passado, as políticas mais duras não conseguiram conter o fluxo de pessoas que fogem da pobreza e da violência: —As fronteiras sempre estiveram fechadas e a migração nunca foi contida.

Nov 6, 2024 - 19:04
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Desiludidos, imigrantes latinos pedem a Trump que não feche as fronteiras dos Estados Unidos

Presidente eleito Trump promete realizar a maior deportação de imigrantes da história dos EUA. Leopoldo Ferman desejava a vitória de Kamala Harris, mas com seu sonho destruído, pede junto a outros imigrantes que Donald Trump abra as portas dos Estados Unidos para quem busca apenas uma vida melhor e feche a entrada para criminosos. Eleições americanas 2024: Trump vence Kamala Harris e voltará à Presidência dos EUA; acompanhe ao vivo De economia à imigração: Como a vitória de Donald Trump nas eleições americanas pode impactar os brasileiros? De um abrigo na fronteiriça Cidade Juárez, no norte do México, Ferman e outros imigrantes latino-americanos acompanharam as eleições que deram a vitória a Trump, que promete realizar a maior deportação de imigrantes da história dos EUA. — Estava esperando que Kamala ganhasse, pois, como sabemos, foi o Trump quem construiu o muro — disse o mexicano sobre a barreira que o republicano expandiu durante seu primeiro mandato e que serpenteia ao longo da fronteira de quase 3,2 mil km. — Mas não temos nada contra ele, simplesmente esperamos que haja melhorias. Aos 47 anos, Ferman é mestre de obras, e sonha com um emprego nos Estados Unidos em que ele consiga atuar após lesões causadas por um acidente de trabalho, e que lhe permita sustentar sua família. Para isso, ele tenta o pedido de asilo por meio do aplicativo CBP One, habilitado por Joe Biden para combater a migração ilegal. O mexicano já tinha uma entrevista agendada, mas precisou reiniciar o processo após ter o celular roubado. Política externa: Vitória de Trump indica guinada radical na relação da Casa Branca com a América Latina — Não sei o que nos aguarda (com Trump). Muitos de nós vamos perder oportunidades e outros vão tê-las, mas o mais importante é que se atentem às pessoas que estão entrando (...) porque há muitos criminosos organizados — completou. Excluir os maus A rotina na fronteira que separa Cidade Juárez de El Paso, no Texas, seguia nesta quarta-feira pós-resultado da corrida pela Casa Branca como nas últimas semanas: sem migrantes no Rio Bravo, por onde geralmente cruzam os imigrantes em situação irregular, e com patrulhas de agentes de segurança. Em meio aos alertas de Trump e Harris sobre medidas mais duras contra a imigração irregular e ao medo de morrer nas mãos de "coiotes" – que fazem a travessia das pessoas entre os países de forma irregular –, muitos imigrantes optaram pelo CBP One para entrar regularmente nos Estados Unidos. Por isso, os cruzamentos irregulares caíram de 250 mil em dezembro para quase 54 mil em setembro passado, segundo o governo de Biden. Trump de volta: "A América nos deu um mandato sem precedentes e poderoso" Enquanto espera a sua vez, o peruano Francisco Riveros, 40, que deixou seu país há um mês, acredita que, apesar das ameaças e insultos, a vitória de Trump pode ajudar a colocar ordem. — Acho bom que ele tenha ganhado, que ele ponha ordem no país e em toda a América. Trump disse que iria haver melhorias, que os imigrantes iam entrar de forma seletiva, não mais criminosos, (somente) trabalhadores — declarou. Antes de ser eleito, o republicano ameaçou impor tarifas de 25% ao México se o país não freasse a "avalanche de criminosos e drogas" que entram nos Estados Unidos. Durante a campanha, ele ainda chamou os imigrantes de "assassinos" e chegou a afirmar que "envenenam a sangue" do país. Migração não vai parar O otimismo de Riveros contrasta com a tristeza da venezuelana Yuliana Gamboa, 20, que nesta quarta-feira vendia guloseimas com seu parceiro, Daniel Córdova, e o filho de dois anos nas ruas de Cidade da Guatemala, para continuar a viagem de ônibus rumo aos Estados Unidos. — Quando soubemos que (Trump) havia vencido, foi um golpe de emoção — contou a jovem, que também busca atravessar a fronteira de maneira regular depois de passar pela perigosa selva colombo-panamenha do Darién e sofrer um assalto. — Mas com o que ele disse, não sabemos se será possível. Análise: eleição de Trump é previsão de mau tempo para políticas de combate às mudanças climáticas — Que nos deem a oportunidade de trabalhar e seguir em frente. É isso o que queremos — acrescentou Daniel, cuja família faz parte dos quase oito milhões de venezuelanos que deixaram o país devido à grave crise econômica. A compatriota do casal, Deimirys Leuche, 21, chegou na terça-feira a Guatemala com oito familiares, e também pede a Trump que não "feche a porta". — Na Venezuela já não tínhamos vida e a situação não vai melhorar — disse Leuche, referindo-se à questionada reeleição do presidente Nicolás Maduro. De qualquer forma, ela não perde de vista que, no passado, as políticas mais duras não conseguiram conter o fluxo de pessoas que fogem da pobreza e da violência: —As fronteiras sempre estiveram fechadas e a migração nunca foi contida.

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