Coringa: relembre os atores que já viveram o inimigo do Batman no cinema e na TV
Nomes como Jack Nicholson, Heath Ledger, Jared Leto e Joaquin Phoenix já encarnaram o personagem Quando o primeiro trailer de “Coringa: delírio a dois” entrou no ar, com o protagonista de Joaquin Phoenix a dançar e cantar ao lado da Arlequina de Lady Gaga em uma instituição psiquiátrica, muitos estranharam. Não deveriam. Maggie Smith: além da atriz que vivia Minerva, relembre outras estrelas de 'Harry Potter' que já morreram 'Girassóis' de Van Gogh: sopa é jogada em obra horas após ambientalistas serem condenados pelo mesmo ato Desde que surgiu nos quadrinhos, há mais de oito décadas, o personagem já passou por muitas metamorfoses e sempre flertou com o absurdo. Bailar pelo Asilo Arkhan em clima de musical da Broadway, como ele aparece no filme de Todd Phillips que chega quinta-feira aos cinemas brasileiros, é uma das coisas mais normais que ele já fez em Gotham City. — Este Coringa atual não tem o Batman como catalisador. É por uma série de erros seus e da sociedade que sua vida se torna absurda, risível. Colocar o personagem em um musical vai nessa direção, amplia o efeito do riso nervoso — diz Alexandre Linck, do canal Quadrinhos na Sarjeta. Também professor e pesquisador de HQs, Linck lembra que, quando o Coringa surgiu, em 1940 (um ano após o Batman, com visual inspirado no filme “O homem que ri”, de 1928), a ideia não era que ele se tornasse o arqui-inimigo do Homem-Morcego. Apresentado na mesma edição em que estreia a Mulher-Gato, era para ser mais um em uma galeria de vilões. Em 1988, porém, “A piada mortal” muda tudo. Ilustrada por Brian Bolland e escrita por Alan Moore, a HQ traz o vilão no modo serial killer e lhe dá uma origem trágica: comediante fracassado, ele perde a esposa grávida e é forçado a participar de um assalto da uma fábrica, onde se assusta com a presença do Batman e cai em um tanque de produtos químicos — acidente que o transforma no Coringa como o conhecemos. Mais do que isso, a história de Moore (lançada pelo inglês entre outros dois clássicos seus, “Watchmen” e “V de vingança”) posiciona o Coringa como antítese do Batman. O que o herói tem de racional, o palhaço tem de imprevisível. Um é ordem; o outro, caos. Sergio Bairon, professor da Escola de Comunicação de Artes da USP, resume: — O Coringa, em suas várias iterações, pode ser considerado uma figura mitológica contemporânea. Ele é um arquétipo do trickster ou o "palhaço divino", desafiando a ordem estabelecida e revelando verdades desconfortáveis sobre a Humanidade. Ele faz o papel de antagonista necessário para a jornada do herói, mas suas ações também nos obrigam a questionar nossas próprias normas e valores. Abaixo, as várias faces (e uma voz) do Coringa no audiovisual. Cesar Romero Cesar Romero como Coringa na série "Batman", exibida entre 1966 e 1968 Reprodução Coringou. Ele na série de TV “Batman”, exibida nos EUA de 1966 a 1968. Sim, aquela estrelada por Adam West, que tirava sarro da sisudez do Homem-Morcego, com direito a cores berrantes, ângulos inusitados e onomatopeias de briga (pow! bam! zonk!) surgindo na tela. Contexto. Consagrado como latin lover na Hollywood nos anos 1930, sendo inclusive par de Carmen Miranda, Romero enfileirava pequenos papéis na TV quando surgiu o convite para viver o inimigo do Batman. Performance. É o Coringa das HQs dos anos 1960, um fanfarrão com afinidade por pegadinhas e armas inofensivas na linha flor-de-lapela-que-joga-água. Visual. Bem fiel ao look original, fora o fato de o vaidoso Romero se recusar a raspar seu famoso bigode, comicamente visível sob a maquiagem branca. Legado. Frequentemente ofuscado em uma comédia nonsense onde todo mundo era meio palhaço, este Coringa só virou cult décadas depois. Bordão. “Uma piada por dia mantém a tristeza distante.” Jack Nicholson Jack Nicholson como Coringa em "Batman" (1989", de Tim Burton Reprodução Coringou. No filme “Batman” (1989), em que Tim Burton deu uma visão gótica, quase de filme noir, ao universo do Homem-Morcego. Contexto. David Bowie, Robin Williams, John Lithgow, Ray Liotta, Tim Curry... todos fizeram lobby pelo papel e todos foram batidos por Jack Nicholson, preferido do estúdio Warner desde o início dos anos 1980. Performance. Dá para dizer que toda a carreira pregressa de Nicholson o preparou para o papel, com uma série de personagens esquentados, loucos e até “do mal” —como o possuído de “O iluminado” e o próprio diabo em “As bruxas de Eastwick”. Seu Coringa não é palhaço, mas um maníaco homicida. Visual. Para alegria dos fãs, o sorriso rígido estampado no rosto do ator às custas de horas de maquiagem é idêntico ao dos quadrinhos. Legado. A interpretação de Nicholson serviu de base aos seus sucessores, que se inspiram ou fogem dela (para evitar comparações inevitáveis). Bordão. “Já dançou com o demônio sob a luz do luar?” Mark Hamill Mark Hamill, ator que dublou o Coringa em várias desenhos animados (ao fundo) e também em games Reprodução Coringou. Dublando o vilão na clássica série de desenhos do Batman produzid
Nomes como Jack Nicholson, Heath Ledger, Jared Leto e Joaquin Phoenix já encarnaram o personagem Quando o primeiro trailer de “Coringa: delírio a dois” entrou no ar, com o protagonista de Joaquin Phoenix a dançar e cantar ao lado da Arlequina de Lady Gaga em uma instituição psiquiátrica, muitos estranharam. Não deveriam. Maggie Smith: além da atriz que vivia Minerva, relembre outras estrelas de 'Harry Potter' que já morreram 'Girassóis' de Van Gogh: sopa é jogada em obra horas após ambientalistas serem condenados pelo mesmo ato Desde que surgiu nos quadrinhos, há mais de oito décadas, o personagem já passou por muitas metamorfoses e sempre flertou com o absurdo. Bailar pelo Asilo Arkhan em clima de musical da Broadway, como ele aparece no filme de Todd Phillips que chega quinta-feira aos cinemas brasileiros, é uma das coisas mais normais que ele já fez em Gotham City. — Este Coringa atual não tem o Batman como catalisador. É por uma série de erros seus e da sociedade que sua vida se torna absurda, risível. Colocar o personagem em um musical vai nessa direção, amplia o efeito do riso nervoso — diz Alexandre Linck, do canal Quadrinhos na Sarjeta. Também professor e pesquisador de HQs, Linck lembra que, quando o Coringa surgiu, em 1940 (um ano após o Batman, com visual inspirado no filme “O homem que ri”, de 1928), a ideia não era que ele se tornasse o arqui-inimigo do Homem-Morcego. Apresentado na mesma edição em que estreia a Mulher-Gato, era para ser mais um em uma galeria de vilões. Em 1988, porém, “A piada mortal” muda tudo. Ilustrada por Brian Bolland e escrita por Alan Moore, a HQ traz o vilão no modo serial killer e lhe dá uma origem trágica: comediante fracassado, ele perde a esposa grávida e é forçado a participar de um assalto da uma fábrica, onde se assusta com a presença do Batman e cai em um tanque de produtos químicos — acidente que o transforma no Coringa como o conhecemos. Mais do que isso, a história de Moore (lançada pelo inglês entre outros dois clássicos seus, “Watchmen” e “V de vingança”) posiciona o Coringa como antítese do Batman. O que o herói tem de racional, o palhaço tem de imprevisível. Um é ordem; o outro, caos. Sergio Bairon, professor da Escola de Comunicação de Artes da USP, resume: — O Coringa, em suas várias iterações, pode ser considerado uma figura mitológica contemporânea. Ele é um arquétipo do trickster ou o "palhaço divino", desafiando a ordem estabelecida e revelando verdades desconfortáveis sobre a Humanidade. Ele faz o papel de antagonista necessário para a jornada do herói, mas suas ações também nos obrigam a questionar nossas próprias normas e valores. Abaixo, as várias faces (e uma voz) do Coringa no audiovisual. Cesar Romero Cesar Romero como Coringa na série "Batman", exibida entre 1966 e 1968 Reprodução Coringou. Ele na série de TV “Batman”, exibida nos EUA de 1966 a 1968. Sim, aquela estrelada por Adam West, que tirava sarro da sisudez do Homem-Morcego, com direito a cores berrantes, ângulos inusitados e onomatopeias de briga (pow! bam! zonk!) surgindo na tela. Contexto. Consagrado como latin lover na Hollywood nos anos 1930, sendo inclusive par de Carmen Miranda, Romero enfileirava pequenos papéis na TV quando surgiu o convite para viver o inimigo do Batman. Performance. É o Coringa das HQs dos anos 1960, um fanfarrão com afinidade por pegadinhas e armas inofensivas na linha flor-de-lapela-que-joga-água. Visual. Bem fiel ao look original, fora o fato de o vaidoso Romero se recusar a raspar seu famoso bigode, comicamente visível sob a maquiagem branca. Legado. Frequentemente ofuscado em uma comédia nonsense onde todo mundo era meio palhaço, este Coringa só virou cult décadas depois. Bordão. “Uma piada por dia mantém a tristeza distante.” Jack Nicholson Jack Nicholson como Coringa em "Batman" (1989", de Tim Burton Reprodução Coringou. No filme “Batman” (1989), em que Tim Burton deu uma visão gótica, quase de filme noir, ao universo do Homem-Morcego. Contexto. David Bowie, Robin Williams, John Lithgow, Ray Liotta, Tim Curry... todos fizeram lobby pelo papel e todos foram batidos por Jack Nicholson, preferido do estúdio Warner desde o início dos anos 1980. Performance. Dá para dizer que toda a carreira pregressa de Nicholson o preparou para o papel, com uma série de personagens esquentados, loucos e até “do mal” —como o possuído de “O iluminado” e o próprio diabo em “As bruxas de Eastwick”. Seu Coringa não é palhaço, mas um maníaco homicida. Visual. Para alegria dos fãs, o sorriso rígido estampado no rosto do ator às custas de horas de maquiagem é idêntico ao dos quadrinhos. Legado. A interpretação de Nicholson serviu de base aos seus sucessores, que se inspiram ou fogem dela (para evitar comparações inevitáveis). Bordão. “Já dançou com o demônio sob a luz do luar?” Mark Hamill Mark Hamill, ator que dublou o Coringa em várias desenhos animados (ao fundo) e também em games Reprodução Coringou. Dublando o vilão na clássica série de desenhos do Batman produzida por Bruce Timm entre 1992 e 1995. O sucesso o fez repetir o papel em várias animações da DC e nos games da produtora Rocksteady que focam no Asilo Arkham, onde vão parar os inimigos do Batman. Contexto. Se não estiver ligando o nome à pessoa, Mark Hamill é ele mesmo, o Luke Skywalker da saga “Star Wars”; refém deste papel em frente às câmeras, desde o final dos anos 1980 Hamill passou a investir na dublagem, onde construiu uma prolífica e elogiada carreira. Performance. No início imitando Nicholson, logo Hamill criou seu próprio Coringa, um vilão de ópera que se esbalda com planos maléficos — que, em respeito à censura livre, nunca terminavam em morte ou ferimentos graves. Visual. Na TV e nos games, é inspirado no que Jack Nicholson usou em 1989. Legado. Somando os desenhos animados e os games, Hamill é, de longe, a pessoa que mais deu voz ao Coringa, sendo sempre citado como referência. Bordão. “Morcegão... você não sabe levar as coisas na brincadeira!” Heath Ledger Heath Ledger como Coringa em "Batman: o cavaleiro das trevas" (2008) Reprodução Coringou. No filme “Batman: o Cavaleiro das Trevas” (2008), segunda parte da trilogia de Christopher Nolan em que Christian Bale vive o herói. Contexto. Recém-indicado ao Oscar ao viver um caubói gay em “O segredo de Brokeback Mountain” (2006), o ator australiano estava no auge. Performance. Na Hollywood ainda sob impacto do 11 de Setembro, como aponta o pesquisador Alexandre Linck, o Coringa de Ledger é um terrorista; sem ambições de gângster, ele quer é ver o circo pegar fogo (inclusive queima pilhas de dinheiro) e tira o Batman do sério com atitudes anarquistas e afirmações niilistas que lembram aforismos de Nietzsche. Visual. Disruptivo, com cabelo desgrenhado, rosto mal pintado e a boca rasgada por cicatrizes (cuja origem muda conforme o interlocutor). Legado. Após a marcante atuação de Ledger, que rendeu um Oscar póstumo em 2009, todo Coringa tem um pouco de punk e anarquista. Bordão. “Por que tão sério?” Jared Leto Jared Leto como Coringa em "Esquadrão Suicida" (2016) Reprodução Coringou. No filme “Esquadrão Suicida” (2016), de David Ayer, e na versão estendida de “Liga da Justiça”, lançada por Zack Snyder em 2021. Contexto. Ainda surfando a onda do merecido Oscar de ator coadjuvante por “Clube de Compras Dallas” (2013), em que fazia um travesti vítima do HIV, Leto topou embarcar na canoa furada do Universo Cinemático DC para viver o Coringa em um filme péssimo (26% de aprovação no Rotten Tomatoes) em que ainda por cima a verdadeira estrela era a ex do seu personagem, a Arlequina de Margot Robbie. Performance. Raro consenso no mundo dos super-heróis, a atuação de Leto foi rechaçada por público, crítica e colegas (no set, ele se recusava a sair do personagem, atormentando a todos); mirando nos jovens, este Coringa misto de trapper, macho tóxico e rei do camarote não convenceu ninguém. Visual. O andar de malandro, os grillz (joias para os dentes), as tatuagens de “hahaha” e o físico bombado são apenas a ponta de um iceberg de equívocos. Legado/bordão. Nada fica dessa interpretação desastrosa. Joaquin Phoenix Joaquin Phoenix como Coringa em "Coringa" (2019) Reprodução Coringou. Nos filmes “Coringa” (2019) e “Coringa: delírio a dois” (semimusical com Lady Gaga que estreia quinta-feira), ambos do diretor Todd Phillips. Contexto. após anos, digamos, turbulentos, o ator curtia meditação, caratê e o casamento com a atriz Rooney Mara (mãe de seus dois filhos) quando foi atraído pela proposta de fazer “um Coringa com jeito de ‘Taxi Driver’”. Performance. Phoenix levou o Oscar de melhor ator em 2020 por este “Coringa existencialista, que busca identidade e reconhecimento em um mundo que o rejeita”, afirma Sérgio Bairon, professor da Escola de Comunicação e Artes da USP. “Esta versão traz algo diferente: é uma alegoria sobre a política contemporânea, comentando a ascensão de Trump, Bolsonaro e derivados, figuras histriônicas de apelo populista”, analisa Alexandre Link, do canal Quadrinhos na Sarjeta. Visual. Sem adereços, bem realista: um terno bordô surrado e uma maquiagem simples de palhaço. Legado. Refletindo o próprio filme de 2019, esta versão do Coringa inspira seguidores e surge em protestos de todos os espectros políticos, quase sempre como representação do indivíduo alienado e oprimido pelo status quo. Bordão. “Não tenho mais nada a perder. Nada pode me ferir. Minha vida não passa de uma comédia.” Barry Keoghan Robert Pattinson (Batman) e Barry Keoghan (Coringa) em cena deletada de "Batman" (2022) Reprodução Coringou. Em uma única cena (deletada) de “Batman” (2022). E, espera-se, em 2025, na segunda parte da trilogia do diretor Matt Reeves (sem relação com os filmes do Coringa de Joaquin Phoenix). Contexto. O irlandês que estourou com “Saltburn” (2023) filmou secretamente sua cena, que mostra uma visita do Batman (Robert Pattinson) ao Coringa no Arkhan, enquanto fazia “Os banshees de Inisherin” (2022) — filme que lhe valeu uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Performance. Tem algo mais nerd que tirar conclusões a partir de uma cena que nem entrou em um filme? Para isso estamos aqui! A julgar pelos cinco minutos disponíveis, é promissor o embate entre o Batman de Pattinson e o Coringa de Keoghan, que provoca o herói ao ser perguntado sobre um serial killer à solta em Gotham. “Você tem medo que ele faça você parecer fraco?”, alfineta o vilão. A sequência foi excluída, diz Reeves, “porque distrairia o público”. Visual. Só o vemos desfocado, atrás de vidros e grades, mas este Coringa parece ser, como na origem dos gibis, vítima de algum acidente com produto químico. Legado/Bordão: Pendentes.
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