Como o uso de mísseis de longo alcance contra a Rússia pode afetar a guerra na Ucrânia
Com alcance de até 300 km de distância, armamento já vinha sendo enviado às forças ucranianas, mas seu uso estava limitado a áreas sob controle russo dentro do território ucraniano ou próximas às linhas defensivas Os Estados Unidos autorizaram no domingo a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance de fabricação americana (ATACMS) contra o interior da Rússia, atendendo a um clamor antigo de Kiev que era vetado pelo temor de uma implicação mais direta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no conflito. O armamento, com alcance de até 300 km de distância, já vinha sendo enviado às forças ucranianas, mas seu uso estava limitado a áreas sob controle russo dentro da Ucrânia ou próximas às linhas defensivas. Contexto: EUA autorizam Ucrânia a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia após ataque 'maciço' de Moscou Em entrevista: Zelensky diz que a guerra na Ucrânia 'terminará mais cedo' com Trump na Presidência dos EUA Por que os EUA permitiram o uso dos mísseis? O pedido foi acatado após Moscou promover, também no domingo, um ataque “maciço” contra a rede elétrica ucraniana, em meio à preocupação com o rigoroso inverno que chegará em breve no país, e no momento em que mais de 50 mil soldados da Rússia — incluindo 10 mil norte-coreanos — se deslocam para tentar recuperar Kursk, região no sul da Rússia tomada por tropas ucranianas numa contraofensiva surpresa lançada no meio do ano. Segundo fontes do governo americano, o destacamento de tropas da Coreia do Norte para lutarem pela Rússia teria mudado a posição americana sobre o uso dos mísseis. Além disso, o retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca tem alimentado temores sobre o futuro do apoio dos EUA à Ucrânia. Biden parece estar determinado a fazer tudo o que puder para ajudar enquanto ainda está no cargo. A ideia é que, ao fortalecer militarmente a posição ucraniana, o país poderá ter vantagem em quaisquer futuras negociações de paz, publicou a rede britânica BBC. Embora o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não tenha confirmado a mudança no uso dos armamentos, ele afirmou no domingo que “os ataques não são feitos com palavras” e que “os mísseis falarão por si mesmos”. O que são os ATACMS? ATACMS, feitos pela Lockheed Martin, são mísseis balísticos de curto alcance que, dependendo do modelo, podem atingir alvos a 300km de distância com uma ogiva contendo cerca de 170kg de explosivos. Mísseis balísticos voam muito mais alto na atmosfera do que foguetes de artilharia e muitas vezes mais longe, retornando ao solo em velocidade incrivelmente alta por causa da atração da gravidade. Galerias Relacionadas Eles podem ser disparados dos lançadores móveis HIMARS que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia, bem como dos lançadores M270 mais antigos enviados do Reino Unido e da Alemanha. ATACMS são frequentemente chamados de “mísseis de longo alcance”, mas esse é um termo subjetivo. Eles podem atingir mais profundamente a Rússia do que qualquer outro míssil ucraniano, mas não podem viajar tão longe quanto um míssil de cruzeiro ou um míssil balístico intercontinental. Cada míssil custa cerca de US$ 1,5 milhão (R$ 8,6 milhões, na cotação atual). Qual será o impacto dos mísseis na guerra? A Ucrânia agora poderá atingir alvos dentro da Rússia, inicialmente provavelmente na região de Kursk, onde as forças ucranianas controlam mais de 1.000km² de território. Autoridades ucranianas e americanas esperam uma contraofensiva de tropas russas e norte-coreanas para retomar o território em Kursk, e Kiev pode usar os mísseis ATACMS para se defender desse ataque, mirando posições russas, incluindo bases militares, infraestrutura e depósitos de munição, de acordo com a BBC. Sem data exata: Zelensky quer que guerra contra Rússia acabe em 2025 por 'meios diplomáticos' No entanto, o fornecimento desses mísseis provavelmente não será suficiente para mudar os rumos da guerra, segundo analistas. Equipamentos militares russos, como jatos, já foram transferidos para bases aéreas mais distantes dentro da Rússia, antecipando essa decisão. Da mesma forma, mover os equipamentos para longe da linha de frente pode dificultar a vida das tropas russas, estendendo as linhas de suprimento e atrasando o apoio aéreo. Essas armas podem conceder alguma vantagem à Ucrânia num momento em que as tropas russas têm avançado no leste do país e o moral das forças ucranianas está abalado. — Não acho que será decisivo. No entanto, é uma decisão simbólica que demorou a ser tomada, elevando as apostas. Isso pode aumentar o custo da guerra para a Rússia — disse um diplomata ocidental em Kiev à BBC, pedindo anonimato devido à sensibilidade do assunto. Evelyn Farkas, ex-vice-secretária assistente de Defesa na administração do ex-presidente americano Barack Obama, também afirmou à rede britânica que “ouviu dizer” que o Pentágono alertou que não há muitos desses mísseis disponíveis para serem enviados à Ucrânia. Ainda assim, os ATACMS, segundo ela, podem ter um “impacto psicológic
Com alcance de até 300 km de distância, armamento já vinha sendo enviado às forças ucranianas, mas seu uso estava limitado a áreas sob controle russo dentro do território ucraniano ou próximas às linhas defensivas Os Estados Unidos autorizaram no domingo a Ucrânia a utilizar mísseis de longo alcance de fabricação americana (ATACMS) contra o interior da Rússia, atendendo a um clamor antigo de Kiev que era vetado pelo temor de uma implicação mais direta da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) no conflito. O armamento, com alcance de até 300 km de distância, já vinha sendo enviado às forças ucranianas, mas seu uso estava limitado a áreas sob controle russo dentro da Ucrânia ou próximas às linhas defensivas. Contexto: EUA autorizam Ucrânia a usar mísseis de longo alcance contra a Rússia após ataque 'maciço' de Moscou Em entrevista: Zelensky diz que a guerra na Ucrânia 'terminará mais cedo' com Trump na Presidência dos EUA Por que os EUA permitiram o uso dos mísseis? O pedido foi acatado após Moscou promover, também no domingo, um ataque “maciço” contra a rede elétrica ucraniana, em meio à preocupação com o rigoroso inverno que chegará em breve no país, e no momento em que mais de 50 mil soldados da Rússia — incluindo 10 mil norte-coreanos — se deslocam para tentar recuperar Kursk, região no sul da Rússia tomada por tropas ucranianas numa contraofensiva surpresa lançada no meio do ano. Segundo fontes do governo americano, o destacamento de tropas da Coreia do Norte para lutarem pela Rússia teria mudado a posição americana sobre o uso dos mísseis. Além disso, o retorno do republicano Donald Trump à Casa Branca tem alimentado temores sobre o futuro do apoio dos EUA à Ucrânia. Biden parece estar determinado a fazer tudo o que puder para ajudar enquanto ainda está no cargo. A ideia é que, ao fortalecer militarmente a posição ucraniana, o país poderá ter vantagem em quaisquer futuras negociações de paz, publicou a rede britânica BBC. Embora o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, não tenha confirmado a mudança no uso dos armamentos, ele afirmou no domingo que “os ataques não são feitos com palavras” e que “os mísseis falarão por si mesmos”. O que são os ATACMS? ATACMS, feitos pela Lockheed Martin, são mísseis balísticos de curto alcance que, dependendo do modelo, podem atingir alvos a 300km de distância com uma ogiva contendo cerca de 170kg de explosivos. Mísseis balísticos voam muito mais alto na atmosfera do que foguetes de artilharia e muitas vezes mais longe, retornando ao solo em velocidade incrivelmente alta por causa da atração da gravidade. Galerias Relacionadas Eles podem ser disparados dos lançadores móveis HIMARS que os Estados Unidos forneceram à Ucrânia, bem como dos lançadores M270 mais antigos enviados do Reino Unido e da Alemanha. ATACMS são frequentemente chamados de “mísseis de longo alcance”, mas esse é um termo subjetivo. Eles podem atingir mais profundamente a Rússia do que qualquer outro míssil ucraniano, mas não podem viajar tão longe quanto um míssil de cruzeiro ou um míssil balístico intercontinental. Cada míssil custa cerca de US$ 1,5 milhão (R$ 8,6 milhões, na cotação atual). Qual será o impacto dos mísseis na guerra? A Ucrânia agora poderá atingir alvos dentro da Rússia, inicialmente provavelmente na região de Kursk, onde as forças ucranianas controlam mais de 1.000km² de território. Autoridades ucranianas e americanas esperam uma contraofensiva de tropas russas e norte-coreanas para retomar o território em Kursk, e Kiev pode usar os mísseis ATACMS para se defender desse ataque, mirando posições russas, incluindo bases militares, infraestrutura e depósitos de munição, de acordo com a BBC. Sem data exata: Zelensky quer que guerra contra Rússia acabe em 2025 por 'meios diplomáticos' No entanto, o fornecimento desses mísseis provavelmente não será suficiente para mudar os rumos da guerra, segundo analistas. Equipamentos militares russos, como jatos, já foram transferidos para bases aéreas mais distantes dentro da Rússia, antecipando essa decisão. Da mesma forma, mover os equipamentos para longe da linha de frente pode dificultar a vida das tropas russas, estendendo as linhas de suprimento e atrasando o apoio aéreo. Essas armas podem conceder alguma vantagem à Ucrânia num momento em que as tropas russas têm avançado no leste do país e o moral das forças ucranianas está abalado. — Não acho que será decisivo. No entanto, é uma decisão simbólica que demorou a ser tomada, elevando as apostas. Isso pode aumentar o custo da guerra para a Rússia — disse um diplomata ocidental em Kiev à BBC, pedindo anonimato devido à sensibilidade do assunto. Evelyn Farkas, ex-vice-secretária assistente de Defesa na administração do ex-presidente americano Barack Obama, também afirmou à rede britânica que “ouviu dizer” que o Pentágono alertou que não há muitos desses mísseis disponíveis para serem enviados à Ucrânia. Ainda assim, os ATACMS, segundo ela, podem ter um “impacto psicológico positivo” no país, especialmente se forem usados para atingir alvos como a Ponte de Kerch, que conecta a Crimeia ao território russo. Além disso, a autorização dos EUA pode encorajar o Reino Unido e a França a permitirem o uso de mísseis Storm Shadow pela Ucrânia. A decisão pode levar a uma escalada? Nesta segunda-feira, o Kremlin acusou o presidente Joe Biden de alimentar a guerra na Ucrânia ao permitir o uso dos mísseis. Os comentários de Moscou coincidiram com o anúncio de Kiev de um novo ataque russo, também nesta segunda, na cidade portuária de Odessa, no Mar Negro, que matou 10 pessoas. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, acusou os Estados Unidos de jogar “mais lenha na fogueira”, o que poderia levar, afirmou, a uma “situação fundamentalmente nova quanto ao envolvimento dos EUA neste conflito”. Não por coincidência, a decisão de Biden foi tomada a poucas semanas da posse de Trump. G20: Ataque massivo da Rússia à Ucrânia às vésperas da cúpula trava trecho crucial da declaração final Ainda nesta segunda, o ministro francês das Relações Exteriores, Jean-Noel Barrot, reafirmou em Bruxelas que seu governo não descarta a possibilidade de uso de seus mísseis de longo alcance. A Alemanha, por sua vez, informou que entregaria 4 mil drones equipados com inteligência artificial. E a China, que se apresenta como parte neutra na guerra entre Rússia e Ucrânia, apesar de ser uma grande aliada política e econômica de Moscou, pediu “rápido cessar-fogo e uma solução política”. Vladimir Putin já tinha alertado contra o uso de armas ocidentais para atacar a Rússia, afirmando que Moscou veria isso como “participação direta” dos países da Otan na guerra na Ucrânia. Em setembro, o líder russo declarou que a medida “mudaria substancialmente a natureza do conflito”. A Rússia, contudo, já havia estabelecido “linhas vermelhas” anteriormente, algumas das quais foram cruzadas sem desencadear uma guerra direta entre o país e a aliança militar do Ocidente. Como Trump deve reagir? Trump já afirmou que pretende encerrar rapidamente a guerra na Ucrânia, embora não tenha especificado como planeja fazer isso. É provável que ele cancele o uso dos mísseis assim que assumir o cargo. Donald Trump Jr., filho de Trump, escreveu nas redes sociais que “o complexo industrial militar parece querer garantir que a Terceira Guerra Mundial comece antes que meu pai tenha a chance de criar paz e salvar vidas”. Muitos dos principais assessores de Trump afirmam que os EUA não deveriam fornecer mais ajuda militar à Ucrânia. (Com AFP e New York Times)
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