Chefs pretos abrem espaço nas cozinhas cariocas, mas reconhecem que ainda há um longo caminho a percorrer
Um grupo talentoso começa a se destacar, mas o reconhecimento ainda é tardio. O Prêmio Gastronomia Preta criado há três anos ajuda a reescrever essa história A gastronomia entrou na vida do chef Danilo Parah, ainda na infância, quando acompanhava a mãe Silvia de Jesus, que era cozinheira, nos restaurantes em que ela trabalhava. No começo era só uma maneira de estar perto dela, mas aos poucos foi tomando gosto pela coisa e, com o tempo, virou profissão. Hoje, aos 32 anos, comanda a cozinha do Rudä, restaurante de cozinha brasileira contemporânea em Ipanema pertencente ao Grupo Trëma, aberto em fevereiro de 2023. Assim como Danilo, outros chefs pretos têm ganhado destaque e aberto espaço nas cozinhas cariocas, mas reconhecem que ainda há um longo caminho a percorrer. Pós-G20: saiba quais lugares e serviços vão funcionar no Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira Filha de Biden visita Jardim Botânico do Rio: encanto com orquídeas e foto com árvore favorita de Tom Jobim —Quando comecei não tinha uma referência preta. Para mim era difícil acreditar que teria esse espaço, mas tudo foi acontecendo muito naturalmente. Quando disse para minha mãe que seria cozinheiro ela me repreendeu. Queria que fosse advogado, médico ou engenheiro. Na cabeça dela não via como um cozinheiro ter um destaque e uma visibilidade, ainda mais sendo preto — relembra Danilo. De lá para cá, Danilo acumulou experiências como cozinheiro nos hotéis Insólito Boutique e Costa do Sol Boutique em Búzios, onde morou por alguns anos, além de passagens por casas de Claude Troisgros (CT Brasserie, Le Blond e Olympe) e pelo estrelado Mirazur do chef Mauro Colagreco, no Sul da França. Ao voltar da Europa, trabalhou no catering de eventos do chef Pedro Benoliel. Curso de vinhos: Sommelière Gabriela Monteleone fará 'laboratório' no Rio com dicas sobre escolha e apreciação dos vinhos Em seguida, foi convidado a participar do projeto de abertura do restaurante Mäska. Danilo ainda fez dois cursos no Gastromotiva, sendo um deles sobre gastronomia social. Seu trabalho no Rudä ganhou reconhecimento no Prêmio RioShow de Gastronomia 2023, do jornal O GLOBO, como Revelação. Com vasta experiência, Danilo traz um profundo conhecimento culinário, combinando influências de todo o Brasil, especialmente das regiões Sudeste e Nordeste. Ele define o que faz como comida brasileira contemporânea. —Minha política é simplificar algo muito refinado e refinar e trazer elegância para o simples. Esse é um caminho que eu gosto dentro da comida brasileira, que é muito rica e às vezes tida como simplória — define. Cidade maravilhosa: 'Não me canso dessa paisagem', diz Biden a Paes sobre o Rio; netas 'ficaram encantadas' com o Cristo Redentor A chef Vanessa Rocha, de 40 anos, cozinha desde os 15. Atualmente à frente da cozinha do Maria e o Boi, também em Ipanema, imprime personalidade em releituras de clássicos brasileiros. Carioca da Zona Oeste, nasceu em Pedra de Guaratiba. A influência de sua culinária veio de casa, vendo a avó e as tias cozinhando no fogão a lenha. —Quando a gente resolveu investir nessa área de comida brasileira comecei a fazer releitura de coisas que já não se falam mais. Fui dar uma passeada nos estados e ver umas receitas que ficaram esquecidas. Dentro deste contexto, fui fazer releituras para adaptar algumas receitas ao paladar do carioca e trazer um pouquinho do Brasil para dentro do cardápio do Maria e o Boi, não só no contexto histórico de vida, de ver minha avó e minhas tias cozinhando no fogão a lenha, mas poder trazer um pouco mais do Brasil para o cardápio — afirma. Das viagens pelo Brasil ela buscou releituras como a da Damurida, um prato de origem indígena, recorrendo ao uso da pimenta de cheiro para torná-lo mais leve e adaptável ao paladar carioca. O pirão de banana, trouxe das lembranças da infância. O bobó de camarão feito com banana verde ou aipim, é fruto das pesquisas pelos quilombos. Sobre o destaque dos chefs negros, a vencedora como revelação do prêmio Rio Show de Gastronomia desse ano, diz que a situação melhorou bastante, mas ainda tem muito que mudar. G20 no Rio: Biden se encanta com Cristo Redentor, após Lula mostrar painel com paisagem; vídeo —Apesar de todo o contexto histórico de racismo e preconceito, hoje em dia a gente tem a possibilidade de arriscar e ir para a frente sem medo. Quando esses chefs (os que vieram antes dela) meteram o pé na porta e disseram: "esse aqui também é o meu lugar", deu força para outras pessoas — disse. O caminho até os restaurantes estrelados não foi fácil para o baiano João Diamante, de 33 anos, que chegou ao Rio ainda bebê. Ele conta que a mãe veio sozinha da Bahia com duas crianças tentar a sorte na cidade e foram morar numa comunidade do Complexo do Andaraí, onde viveu até os 27 anos. Aluno de escola pública, passou por projetos sociais, perdeu vários amigos para o tráfico de drogas e diz que a gastronomia o salvou de ter o mesmo destino. O primeiro trabalho foi aos oito anos numa p
Um grupo talentoso começa a se destacar, mas o reconhecimento ainda é tardio. O Prêmio Gastronomia Preta criado há três anos ajuda a reescrever essa história A gastronomia entrou na vida do chef Danilo Parah, ainda na infância, quando acompanhava a mãe Silvia de Jesus, que era cozinheira, nos restaurantes em que ela trabalhava. No começo era só uma maneira de estar perto dela, mas aos poucos foi tomando gosto pela coisa e, com o tempo, virou profissão. Hoje, aos 32 anos, comanda a cozinha do Rudä, restaurante de cozinha brasileira contemporânea em Ipanema pertencente ao Grupo Trëma, aberto em fevereiro de 2023. Assim como Danilo, outros chefs pretos têm ganhado destaque e aberto espaço nas cozinhas cariocas, mas reconhecem que ainda há um longo caminho a percorrer. Pós-G20: saiba quais lugares e serviços vão funcionar no Dia da Consciência Negra, nesta quarta-feira Filha de Biden visita Jardim Botânico do Rio: encanto com orquídeas e foto com árvore favorita de Tom Jobim —Quando comecei não tinha uma referência preta. Para mim era difícil acreditar que teria esse espaço, mas tudo foi acontecendo muito naturalmente. Quando disse para minha mãe que seria cozinheiro ela me repreendeu. Queria que fosse advogado, médico ou engenheiro. Na cabeça dela não via como um cozinheiro ter um destaque e uma visibilidade, ainda mais sendo preto — relembra Danilo. De lá para cá, Danilo acumulou experiências como cozinheiro nos hotéis Insólito Boutique e Costa do Sol Boutique em Búzios, onde morou por alguns anos, além de passagens por casas de Claude Troisgros (CT Brasserie, Le Blond e Olympe) e pelo estrelado Mirazur do chef Mauro Colagreco, no Sul da França. Ao voltar da Europa, trabalhou no catering de eventos do chef Pedro Benoliel. Curso de vinhos: Sommelière Gabriela Monteleone fará 'laboratório' no Rio com dicas sobre escolha e apreciação dos vinhos Em seguida, foi convidado a participar do projeto de abertura do restaurante Mäska. Danilo ainda fez dois cursos no Gastromotiva, sendo um deles sobre gastronomia social. Seu trabalho no Rudä ganhou reconhecimento no Prêmio RioShow de Gastronomia 2023, do jornal O GLOBO, como Revelação. Com vasta experiência, Danilo traz um profundo conhecimento culinário, combinando influências de todo o Brasil, especialmente das regiões Sudeste e Nordeste. Ele define o que faz como comida brasileira contemporânea. —Minha política é simplificar algo muito refinado e refinar e trazer elegância para o simples. Esse é um caminho que eu gosto dentro da comida brasileira, que é muito rica e às vezes tida como simplória — define. Cidade maravilhosa: 'Não me canso dessa paisagem', diz Biden a Paes sobre o Rio; netas 'ficaram encantadas' com o Cristo Redentor A chef Vanessa Rocha, de 40 anos, cozinha desde os 15. Atualmente à frente da cozinha do Maria e o Boi, também em Ipanema, imprime personalidade em releituras de clássicos brasileiros. Carioca da Zona Oeste, nasceu em Pedra de Guaratiba. A influência de sua culinária veio de casa, vendo a avó e as tias cozinhando no fogão a lenha. —Quando a gente resolveu investir nessa área de comida brasileira comecei a fazer releitura de coisas que já não se falam mais. Fui dar uma passeada nos estados e ver umas receitas que ficaram esquecidas. Dentro deste contexto, fui fazer releituras para adaptar algumas receitas ao paladar do carioca e trazer um pouquinho do Brasil para dentro do cardápio do Maria e o Boi, não só no contexto histórico de vida, de ver minha avó e minhas tias cozinhando no fogão a lenha, mas poder trazer um pouco mais do Brasil para o cardápio — afirma. Das viagens pelo Brasil ela buscou releituras como a da Damurida, um prato de origem indígena, recorrendo ao uso da pimenta de cheiro para torná-lo mais leve e adaptável ao paladar carioca. O pirão de banana, trouxe das lembranças da infância. O bobó de camarão feito com banana verde ou aipim, é fruto das pesquisas pelos quilombos. Sobre o destaque dos chefs negros, a vencedora como revelação do prêmio Rio Show de Gastronomia desse ano, diz que a situação melhorou bastante, mas ainda tem muito que mudar. G20 no Rio: Biden se encanta com Cristo Redentor, após Lula mostrar painel com paisagem; vídeo —Apesar de todo o contexto histórico de racismo e preconceito, hoje em dia a gente tem a possibilidade de arriscar e ir para a frente sem medo. Quando esses chefs (os que vieram antes dela) meteram o pé na porta e disseram: "esse aqui também é o meu lugar", deu força para outras pessoas — disse. O caminho até os restaurantes estrelados não foi fácil para o baiano João Diamante, de 33 anos, que chegou ao Rio ainda bebê. Ele conta que a mãe veio sozinha da Bahia com duas crianças tentar a sorte na cidade e foram morar numa comunidade do Complexo do Andaraí, onde viveu até os 27 anos. Aluno de escola pública, passou por projetos sociais, perdeu vários amigos para o tráfico de drogas e diz que a gastronomia o salvou de ter o mesmo destino. O primeiro trabalho foi aos oito anos numa padaria dentro da comunidade. Depois, aos 18, entrou na Marinha, onde se profissionalizou. Acabou se destacando e de ajudante de cozinha foi até cozinheiro de almirante. Ainda na Marinha fez faculdade de gastronomia, ficou entre os três melhores alunos e conquistou bolsa de estudo na França para trabalhar com um dos melhores chefs do mundo, Alain Ducasse. Ainda em Paris trabalhou no restaurante da Torre Eiffel. Culinária dos líderes: De pirarucu a nhoque de mandioca, saiba o que os líderes do G20 têm saboreado no Museu de Arte Moderna Voltou para o Brasil em 2016, criou o projeto social Diamante na Cozinha, que utiliza a gastronomia como ferramenta de transformação e já impactou mais de 4 mil famílias. Pelo trabalho de cunho social ganhou esse ano o prêmio Champions of Change (Campeões da Mudança), concedido pelo respeitado The World's 50 Best Restaurants. Atualmente comanda a cozinha do restaurante Dois de Fevereiro, no Largo da Prainha, onde cria um cardápio que vai da África às Américas, saindo do Benin para o Brasil e passando por Salvador e Rio, lugares que fazem parte de sua origem. —Gastronomia é uma coisa muito anormal para uma pessoa que vem de onde eu venho. Essas pessoas normalmente vão para o futebol ou para música, onde veem mais oportunidades. Eu peguei um caminho muito peculiar. Fui para a França sem falar francês ou inglês. Foi uma dificuldade tremenda, mas consegui desempenhar bem meu trabalho — diz. Aos 44 anos, Andressa Cabral acumula uma vasta experiência. Empresária, chef e apresentadora de TV, é pós-graduada em Design Estratégico pelo Istituto Europeo di Design (IED) e formada em Gastronomia pela Alain Ducasse Formation. Atualmente é sócia e head chef do Meza Bar, do Yayá Comidaria Pop Brasileira e do Oti. De short e camiseta: Macron madruga para correr na orla de Ipanema —Sempre trabalhei desde que entrei para a graduação em gastronomia. Na sequência fiz pós-graduação em design e segui com meu campo criativo desenvolvendo meu estilo gastronômico, que é mais voltado para as heranças pretas afrodiaspóricas, transatlânticas, contemporâneas. Desenvolvi meu próprio método de criação baseado no Design Thinking, que é escola voltada para processo criativo e aproveitei essa vertente para desenvolver e caracterizar melhor a minha identidade gastronômica, já que na cena da gastronomia tudo foi sempre pautado na escola europeia. Filha de Oyá, Andressa expressa sua identidade preta nos pratos e visita sua ancestralidade para desenvolver novas perspectivas de futuro para gastronomia, através de suas convicções e vivências em uma cozinha autoral, denominada de Pretopolita, ou seja preta e cosmopolita. A chef se sente feliz em ver novos talentos negros emergirem, mas acha que ainda há um longo caminho a trilhar. —Estou muito feliz de ver a moçada que começou depois de mim, porque quando comecei não tinha ninguém para me referenciar. Vejo hoje, tantos anos depois que a gente já é um grupo. Vejo isso com um certo prazer e certo pesar, porque ao mesmo tempo que no Brasil 97% das cozinhas caseiras são lideradas por mulheres, no lugar da profissionalização não se vê uma representatividade tão firme de pessoas pretas liderando — aponta. Insegurança: Integrantes da comitiva do Timor Leste foram furtadas na Lapa nas vésperas da reunião da cúpula do G20 Breno Cruz e professor da UFRJ e idealizador do projeto de extensão Pretonomia, do prêmio gastronomia preta e do Festival Gastronomia Preta Divulgação Prêmio para reconhecer e valorizar o talento Ao perceber que os grandes profissionais negros não eram devidamente valorizados, Breno Cruz, professor do Departamento de Gastronomia da UFRJ resolveu criar em 2022 o Prêmio Gastronomia Preta, inicialmente regional e depois nacional. A terceira premiação acontece neste domingo durante o encerramento do Festival Gastronomia Preta, cuja segunda edição acontece no sábado e no domingo no Parque Glória Maria, em Santa Teresa. São 23 categorias que consideram não somente profissionais de cozinha, mas todos os demais que fazem uma experiência gastronômica acontecer. —Quando crio esse prêmio pensando na cadeia como um todo, começa a despertar o interesse na mídia especializada para a importância de a gente visualizar essas pessoas e entender que não é uma, duas ou três pessoas só. Existem vários outros profissionais da gastronomia que fazem de fato os restaurantes acontecerem — afirma. Caminho livre: Trânsito na Avenida Atlântica é liberado nesta terça-feira O festival Gastronomia Preta é um evento pensado para que as pessoas pretas assumam seus papéis de destaque por meio da culinária, aponta seu criador. O evento é gratuito e possui diversas atividades como a cozinha show Benê Ricardo. O espaço receberá chefs que vão preparar pratos ao vivo para o público, que é convidado a saborear as iguarias ao final. O evento também vai contar com uma praça de alimentação para receber expositores de alimentos e bebidas que evidenciam a pluralidade da gastronomia preta brasileira. Terá também um palco com shows de samba e a cerimônia de entrega do prêmio ao final do festival, que acontece das 10h às 18h.
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