Cerca de 20 mil moradores da Maré serão impactados por mudanças em três locais de votação; entenda
Segundo relatório da instituição Redes da Maré, a novidade deve prejudicar a população que reside na região, pois dois endereços são distantes da comunidade Com um conjunto de 15 favelas, o Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, soma um eleitorado de mais de 64 mil pessoas aptas a votar nas eleições 2024, segundo um levantamento feito pela Redes da Maré, com base nos dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Contudo, um relatório elaborado pela instituição aponta que cerca de 20 mil moradores serão impactados após a transferência de três seções eleitorais da região para novos locais de votação, sendo duas fora da comunidade. São Paulo, Rio e BH: com qual candidato a vereador você mais se identifica? Faça o teste Antes de atos na capital com Ramagem, Bolsonaro nacionaliza a disputa na Costa Verde: 'Ninguém entende o que aconteceu em 2022' De acordo com a Redes da Maré, a mudança é prejudicial porque os novos endereços estabelecidos são distantes dos antigos. Há o temor de uma alta taxa de abstenção dos eleitores devido a dificuldades de deslocamento. Um exemplo é o Ciep Samora Machel, no Parque Maré, que receberia 4.322 eleitores e é o 8º maior eleitorado do Complexo da Maré, mas foi substituído pela Unigama, em Bonsucesso, a cerca de 26 minutos de distância de ônibus, mais 20 minutos de caminhada. Para Lidiane Malanquini, coordenadora de Incidência Política da Redes da Maré, não há critérios claros sobre a definição dos locais de votação nem justificativas do que teria motivado a mudança. Apesar do TRE alegar questões de segurança, Malanquini defende que é preciso problematizar o entendimento de favelas como área de risco. — Dois dos locais vão para Bonsucesso, do outro lado da Avenida Brasil, para uma universidade. O terceiro mudou para uma igreja católica. No Complexo, temos 50 escolas públicas, então é um regresso muito grande priorizar a igreja que é privada sendo que temos várias instituições de ensino. Os agentes públicos precisam ocupar esse território. Uma outra questão é que trocaram logo dois colégios eleitorais com o maior número de votos progressistas — diz Malanquini. Pesquisa Quaest: Tabata e Nunes são candidatos mais citados como 2ª opção de voto em SP A pesquisadora destaca que a medida afasta os direitos políticos da população local e reafirma a negligência do Estado em relação aos problemas da comunidade. Uma análise feita pela Redes da Maré mostra que, em 2020, os cinco candidatos a vereador mais bem votados no complexo de favelas, com exceção de Teresa Bergher (Cidadania), única eleita, viviam na comunidade. — O morador quer votar em candidatos que trazem políticas públicas para a Maré. Todos os vereadores mais bem votados em 2020 na comunidade, com exceção da Bergher, figura política bastante conhecida por eles, tinham origem aqui. Mas como eles vão votar nas pessoas daqui com essa distância? O voto da Maré tem impacto e faz diferença. Quantitativamente, o eleitorado do complexo não fica atrás de outros bairros — explica Malanquini. Instituição pede mudança para 2026 Por fim, o documento da Redes da Maré aponta que, entre 2016 e 2022, quando considerados os eventuais episódios de violência armada, não há registro de incidentes nos dias do 1º e 2º turnos das eleições ocorridas nesse período. Diante disso, Malanquini acionou o Ministério Público Eleitoral (MPE) para reavaliar melhor a situação de olho na corrida eleitoral de 2026: — A divulgação da mudança dos locais de votação aconteceu em setembro, mas já havia vencido o prazo de 60 dias para solicitar qualquer medida contrária ou de ajuste aos termos. Fizemos um diálogo com o presidente do TRE, apresentamos o contraponto, mas ele não tinha tempo hábil de fazer a mudança. Ele se comprometeu a ouvir e voltar a repensar nesse processo de mudança. Acionamos já o MPE para já irmos trabalhando a situação. Neste ano, 444 zonas eleitorais tiveram mudança de endereços em todo o estado, afetando mais de um milhão de eleitores, que terão de votar em novos endereços. O tribunal pede que todos confiram novamente os seus locais de votação. Há três maneiras de realizar a consulta: pelo site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo aplicativo e-Título e pelo Disque TRE-RJ. Procurado pelo GLOBO, o TRE-RJ não se manifestou até o momento da publicação desta reportagem.
Segundo relatório da instituição Redes da Maré, a novidade deve prejudicar a população que reside na região, pois dois endereços são distantes da comunidade Com um conjunto de 15 favelas, o Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio, soma um eleitorado de mais de 64 mil pessoas aptas a votar nas eleições 2024, segundo um levantamento feito pela Redes da Maré, com base nos dados do Tribunal Regional Eleitoral (TRE). Contudo, um relatório elaborado pela instituição aponta que cerca de 20 mil moradores serão impactados após a transferência de três seções eleitorais da região para novos locais de votação, sendo duas fora da comunidade. São Paulo, Rio e BH: com qual candidato a vereador você mais se identifica? Faça o teste Antes de atos na capital com Ramagem, Bolsonaro nacionaliza a disputa na Costa Verde: 'Ninguém entende o que aconteceu em 2022' De acordo com a Redes da Maré, a mudança é prejudicial porque os novos endereços estabelecidos são distantes dos antigos. Há o temor de uma alta taxa de abstenção dos eleitores devido a dificuldades de deslocamento. Um exemplo é o Ciep Samora Machel, no Parque Maré, que receberia 4.322 eleitores e é o 8º maior eleitorado do Complexo da Maré, mas foi substituído pela Unigama, em Bonsucesso, a cerca de 26 minutos de distância de ônibus, mais 20 minutos de caminhada. Para Lidiane Malanquini, coordenadora de Incidência Política da Redes da Maré, não há critérios claros sobre a definição dos locais de votação nem justificativas do que teria motivado a mudança. Apesar do TRE alegar questões de segurança, Malanquini defende que é preciso problematizar o entendimento de favelas como área de risco. — Dois dos locais vão para Bonsucesso, do outro lado da Avenida Brasil, para uma universidade. O terceiro mudou para uma igreja católica. No Complexo, temos 50 escolas públicas, então é um regresso muito grande priorizar a igreja que é privada sendo que temos várias instituições de ensino. Os agentes públicos precisam ocupar esse território. Uma outra questão é que trocaram logo dois colégios eleitorais com o maior número de votos progressistas — diz Malanquini. Pesquisa Quaest: Tabata e Nunes são candidatos mais citados como 2ª opção de voto em SP A pesquisadora destaca que a medida afasta os direitos políticos da população local e reafirma a negligência do Estado em relação aos problemas da comunidade. Uma análise feita pela Redes da Maré mostra que, em 2020, os cinco candidatos a vereador mais bem votados no complexo de favelas, com exceção de Teresa Bergher (Cidadania), única eleita, viviam na comunidade. — O morador quer votar em candidatos que trazem políticas públicas para a Maré. Todos os vereadores mais bem votados em 2020 na comunidade, com exceção da Bergher, figura política bastante conhecida por eles, tinham origem aqui. Mas como eles vão votar nas pessoas daqui com essa distância? O voto da Maré tem impacto e faz diferença. Quantitativamente, o eleitorado do complexo não fica atrás de outros bairros — explica Malanquini. Instituição pede mudança para 2026 Por fim, o documento da Redes da Maré aponta que, entre 2016 e 2022, quando considerados os eventuais episódios de violência armada, não há registro de incidentes nos dias do 1º e 2º turnos das eleições ocorridas nesse período. Diante disso, Malanquini acionou o Ministério Público Eleitoral (MPE) para reavaliar melhor a situação de olho na corrida eleitoral de 2026: — A divulgação da mudança dos locais de votação aconteceu em setembro, mas já havia vencido o prazo de 60 dias para solicitar qualquer medida contrária ou de ajuste aos termos. Fizemos um diálogo com o presidente do TRE, apresentamos o contraponto, mas ele não tinha tempo hábil de fazer a mudança. Ele se comprometeu a ouvir e voltar a repensar nesse processo de mudança. Acionamos já o MPE para já irmos trabalhando a situação. Neste ano, 444 zonas eleitorais tiveram mudança de endereços em todo o estado, afetando mais de um milhão de eleitores, que terão de votar em novos endereços. O tribunal pede que todos confiram novamente os seus locais de votação. Há três maneiras de realizar a consulta: pelo site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo aplicativo e-Título e pelo Disque TRE-RJ. Procurado pelo GLOBO, o TRE-RJ não se manifestou até o momento da publicação desta reportagem.
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