Celebrando 60 anos de carreira, Carlos Vergara cria esculturas para o Pão de Açúcar e prepara mostras para 2025
Gaúcho radicado no Rio é o primeiro artista convidado para o recém-inaugurado Projeto Maravilha e prepara exposições na Casa França-Brasil, no Rio, e em Portugal Completando 60 anos de carreira, Carlos Vergara pensa em números de uma grandeza muito maior que o marco pessoal. Dez milhões de vezes maior, para ser exato. O número 600.000.000 foi esculpido em aço corten usando uma das três esculturas que o pintor, escultor, fotógrafo e gravador criou para o Projeto Maravilha, recém-inaugurado no alto do Pão de Açúcar. A contagem se refere à idade geológica do cartão-postal carioca, gerado há 600 milhões de anos pelo movimento de placas tectônicas que causou a separação dos continentes americano e africano. — Esse número, 600 milhões, cria uma informação para os visitantes refletirem sobre o fato de que estão sobre uma montanha de granito erguida quando tudo em volta estava em movimento, e os continentes, como nós conhecemos, se separando. É até difícil imaginar tanto tempo assim, e que essa montanha ainda faz parte da nossa paisagem — observa Vergara, que completa 83 anos no próximo dia 29. Além de “A idade da pedra”, com o numeral, Vergara criou para o Bosque das Artes — área expositiva a céu aberto inaugurada pelo projeto e liberada aos visitantes que subirem pelo bondinho — a escultura “Pauta musical” (com estrutura semelhante a uma partitura, na qual os pássaros da Mata Atlântica possam criar “composições” à medida que pousem) e a instalação “Parênteses”, montada em duas partes com a junção de perfis de aço corten totalizando 600 quilos, com um espaço entre elas. A empreitada, gestada em poucos meses, levou o artista a iniciar uma série de monotipias, tendo o Pão de Açúcar como inspiração, e tendo como base de impressão o gramado do Aterro do Flamengo próximo ao Monumento a Estácio de Sá, bem diante do cartão-postal. A tinta usada é feita com pigmentos recolhidos no Pico do Cauê, em Itabira (MG), transformado numa cratera após décadas de atividades mineradoras. — Impossível não pensar em Carlos Drummond (de Andrade). O Pão de Açúcar é uma pedra no meio do caminho do nosso olhar — compara Vergara, citando o célebre verso do poeta nascido em Itabira. —Nessas monotipias, uso os pigmentos retirados de uma montanha que visitei e que hoje já não existe mais. Por sorte, ainda temos a nossa. Ali, as obras criam outro olhar em um lugar turístico. “Parênteses” cria duas seções da paisagem, você pode se colocar em meio à estrutura para ser fotografado ou olhar o horizonte de um lugar magnífico emoldurado por ela. Parênteses, instalação criada para o Projeto Maravilha Divulgação/Jaime Acioli Segundo o gaúcho de Santa Maria, que mudou-se aos 13 anos com a família para o Rio (e virou um “gauchoca”, como se define), outra relação com o tempo é o uso do aço corten, que oxida e muda de cor com a passagem dos dias. As três esculturas ficarão disponíveis à visitação por um ano, quando serão substituídas por trabalhos de outro artista convidado pelo Projeto Maravilha. Em seu ateliê em Santa Teresa, onde mantém uma prática diária de trabalho, Vergara projetou as esculturas e se dedica às monotipias. É ali também que prepara duas grandes exposições para 2025, em Oeiras, em Portugal, em maio, e outra para a Casa França-Brasil, prevista para julho. Outra atividade que o artista desenvolve no local é receber curadores, colecionadores, colegas e estudantes (não só de arte: no fim do mês, uma turma da Escola Parque tem uma ida agendada). A demanda faz com que Vergara planeje organizar a rotina do ateliê para torná-lo mais aberto à visitação, a partir do ano que vem. — Levo cada vez mais a sério esse gesto de fazer arte. De não ser uma coisa gratuita ou exibicionista, mas algo para acender o olhar interior dos outros — diz o artista, sobre as seis décadas de carreira. — Estou olhando só para a frente. Fiz coisas, estou fazendo coisas e vou fazer mais coisas. É um modo de vida. Turismo, arte e educação socioambiental A ação no Pão de Açúcar, o Projeto Maravilha, é uma iniciativa do gestor cultural carioca Fabio Szwarcwald (ex-MAM), com curadoria de Ulisses Carrilho, com patrocínio da CNPC Brasil, subsidiária da China National Petroleum Corporation. A dupla se conheceu quando o primeiro foi diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, entre 2017 e 2019, e seguiu trabalhando em projetos como o Arte nas Estações, que circula obras do antigo Museu Internacional de Arte Naïf (Mian) em cidades do interior do país. — Quando surgiu a possibilidade de fazer o projeto, logo veio o nome do Vergara, e ele embarcou de cara. É uma possibilidade única de estar num local turístico, visitado por mais de 1,5 milhão de pessoas por ano, e conhecer, além das nossas belezas naturais, a obra de um dos nossos maiores artistas — comenta Szwarcwald. — Também é uma forma de destacar o Parque Bondinho Pão de Açúcar, com uma plataforma digital onde é possível saber mais da fauna e das 200 espécies de árvores catalogadas na unidade de conservação.
Gaúcho radicado no Rio é o primeiro artista convidado para o recém-inaugurado Projeto Maravilha e prepara exposições na Casa França-Brasil, no Rio, e em Portugal Completando 60 anos de carreira, Carlos Vergara pensa em números de uma grandeza muito maior que o marco pessoal. Dez milhões de vezes maior, para ser exato. O número 600.000.000 foi esculpido em aço corten usando uma das três esculturas que o pintor, escultor, fotógrafo e gravador criou para o Projeto Maravilha, recém-inaugurado no alto do Pão de Açúcar. A contagem se refere à idade geológica do cartão-postal carioca, gerado há 600 milhões de anos pelo movimento de placas tectônicas que causou a separação dos continentes americano e africano. — Esse número, 600 milhões, cria uma informação para os visitantes refletirem sobre o fato de que estão sobre uma montanha de granito erguida quando tudo em volta estava em movimento, e os continentes, como nós conhecemos, se separando. É até difícil imaginar tanto tempo assim, e que essa montanha ainda faz parte da nossa paisagem — observa Vergara, que completa 83 anos no próximo dia 29. Além de “A idade da pedra”, com o numeral, Vergara criou para o Bosque das Artes — área expositiva a céu aberto inaugurada pelo projeto e liberada aos visitantes que subirem pelo bondinho — a escultura “Pauta musical” (com estrutura semelhante a uma partitura, na qual os pássaros da Mata Atlântica possam criar “composições” à medida que pousem) e a instalação “Parênteses”, montada em duas partes com a junção de perfis de aço corten totalizando 600 quilos, com um espaço entre elas. A empreitada, gestada em poucos meses, levou o artista a iniciar uma série de monotipias, tendo o Pão de Açúcar como inspiração, e tendo como base de impressão o gramado do Aterro do Flamengo próximo ao Monumento a Estácio de Sá, bem diante do cartão-postal. A tinta usada é feita com pigmentos recolhidos no Pico do Cauê, em Itabira (MG), transformado numa cratera após décadas de atividades mineradoras. — Impossível não pensar em Carlos Drummond (de Andrade). O Pão de Açúcar é uma pedra no meio do caminho do nosso olhar — compara Vergara, citando o célebre verso do poeta nascido em Itabira. —Nessas monotipias, uso os pigmentos retirados de uma montanha que visitei e que hoje já não existe mais. Por sorte, ainda temos a nossa. Ali, as obras criam outro olhar em um lugar turístico. “Parênteses” cria duas seções da paisagem, você pode se colocar em meio à estrutura para ser fotografado ou olhar o horizonte de um lugar magnífico emoldurado por ela. Parênteses, instalação criada para o Projeto Maravilha Divulgação/Jaime Acioli Segundo o gaúcho de Santa Maria, que mudou-se aos 13 anos com a família para o Rio (e virou um “gauchoca”, como se define), outra relação com o tempo é o uso do aço corten, que oxida e muda de cor com a passagem dos dias. As três esculturas ficarão disponíveis à visitação por um ano, quando serão substituídas por trabalhos de outro artista convidado pelo Projeto Maravilha. Em seu ateliê em Santa Teresa, onde mantém uma prática diária de trabalho, Vergara projetou as esculturas e se dedica às monotipias. É ali também que prepara duas grandes exposições para 2025, em Oeiras, em Portugal, em maio, e outra para a Casa França-Brasil, prevista para julho. Outra atividade que o artista desenvolve no local é receber curadores, colecionadores, colegas e estudantes (não só de arte: no fim do mês, uma turma da Escola Parque tem uma ida agendada). A demanda faz com que Vergara planeje organizar a rotina do ateliê para torná-lo mais aberto à visitação, a partir do ano que vem. — Levo cada vez mais a sério esse gesto de fazer arte. De não ser uma coisa gratuita ou exibicionista, mas algo para acender o olhar interior dos outros — diz o artista, sobre as seis décadas de carreira. — Estou olhando só para a frente. Fiz coisas, estou fazendo coisas e vou fazer mais coisas. É um modo de vida. Turismo, arte e educação socioambiental A ação no Pão de Açúcar, o Projeto Maravilha, é uma iniciativa do gestor cultural carioca Fabio Szwarcwald (ex-MAM), com curadoria de Ulisses Carrilho, com patrocínio da CNPC Brasil, subsidiária da China National Petroleum Corporation. A dupla se conheceu quando o primeiro foi diretor da Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, entre 2017 e 2019, e seguiu trabalhando em projetos como o Arte nas Estações, que circula obras do antigo Museu Internacional de Arte Naïf (Mian) em cidades do interior do país. — Quando surgiu a possibilidade de fazer o projeto, logo veio o nome do Vergara, e ele embarcou de cara. É uma possibilidade única de estar num local turístico, visitado por mais de 1,5 milhão de pessoas por ano, e conhecer, além das nossas belezas naturais, a obra de um dos nossos maiores artistas — comenta Szwarcwald. — Também é uma forma de destacar o Parque Bondinho Pão de Açúcar, com uma plataforma digital onde é possível saber mais da fauna e das 200 espécies de árvores catalogadas na unidade de conservação. Fabio Szwarcwald, carlos Vergara e Ulisses Carrilho, no atliê do artista Ana Branco Para o curador Ulisses Carrilho, a relação que Vergara estabelece entre as formas das obras e a natureza é simbólica no parque de esculturas criado a céu aberto. — É um dos nomes mais relevantes da arte contemporânea brasileira, que trabalha há décadas com a ideia do sublime, do inefável, do que não cabe no discurso e só a arte é capaz de dar conta — destaca Carrilho, que, ao trocar Porto Alegre pelo Rio, há dez anos, teve o ateliê de Vergara como o primeiro que visitou na cidade. — Ele vai buscar isso no sagrado e no profano, seja fazendo monotipias no piso das ruínas de São Miguel das Missões (RS), seja fotografando o desfile do Cacique de Ramos. Obra A idade da pedra, no Bosque das Artes Divulgação/Jaime Acioli Gerente geral do Parque Bondinho Pão de Açúcar, Gustavo Maciel acredita que as obras possam ampliar a experiência dos visitantes: — O projeto vem com uma força educativa e de consciência socioambiental fundamental para nossa história e que se estende para o público. As obras têm como ponto de partida a série “Natureza inventada”, na qual o artista desenvolve padrões geométricos inspirados nas formas orgânicas da natureza. — A natureza tem esses elementos fortes, como a busca do ar pelas folhas e da terra pelas raízes. O traço tenta captar tudo isso, sem pretensão imitativa. Um pouco como a poesia, que é uma forma nova de respirar o real — elabora Vergara. Séries icônicas em seis décadas de carreira Bolha Um dos representantes da Nova Figuração Brasileira, ao lado de Rubens Gerchman, Antonio Dias e Roberto Magalhães, Vergara estabeleceu uma relação com a pop art em pinturas na forma de um recorte esférico, que davam à obra características de um produto industrial. Auto-Retrato com Índios Carajás Divulgação Cacique de Ramos Em plena ditadura, no início dos anos 1970, Vergara descobre no bloco uma manifestação coletiva com uma grande força política. Em sua vontade de criar arte fora dos limites do ateliê, ele cria uma série histórica de fotografias dos desfiles na Avenida Presidente Vargas. Foto Poder (1972) Divulgação Papel kraft Vergara explorou o material e o papelão reciclado, elementos que remetem à escala industrial, em séries de esculturas, em formas humanas (exibidas em separado ou empilhadas) ou recortadas em perfis inspirados na natureza, o que mais tarde faria em metal. Esculturas da série Empilhados Divulgação Liberdade Vergara filmou e fotografou a implosão do centenário Complexo Penitenciário Frei Caneca, no Centro do Rio, em 2011, também criando monotipias e instalações utilizando grades e portas das antigas celas. A série foi registrada em livro, em 2012. Instalação de Carlos Vergara no Memorial da Resistência, na Pinacoteca de São Paulo Divulgação Monotipias Sudário criado em São Miguel das Missões Divulgação Com a técnica, criou obras como os Sudários, impressões diretas em tecidos de locais como Sete Povos das Missões (RS) ou Saintes-Maries-de-la-Mer, na França.
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