Cantor e pianista Zé Manoel volta com disco mais solar: 'Formas mais sutis de falar das comunidades pretas, indígenas'
'Coral', título do novo trabalho, veio num sonho e remete a Dorival Caymmi O álbum anterior de Zé Manoel, “Do meu coração nu” (2020), começava com “História antiga”, canção forte que trata do assassinato de pessoas negras por um “Estado genocida”, segundo diz a letra. “Coral”, o novo trabalho do cantor, compositor e pianista, não tem uma faixa tão pesada. Grammy Latino 2024: Os Garotin e Jota.Pê são destaque entre brasileiros indicados ao prêmio; veja lista completa 'Foi um susto': Mulher de Zé Neto, Natália Toscano tranquiliza fãs sobre acidente do cantor — É um disco um pouco mais solar. Era um desejo meu que fosse assim. Há nele formas mais sutis de falar das comunidades pretas, indígenas, miscigenadas — afirma o pernambucano José Manoel de Carvalho Neto, ressaltando que também há músicas leves em “Do meu coração nu”, como “Não negue ternura”, que integrou a trilha da novela “Pantanal” e tem mais de 2,3 milhões de plays no Spotify. Para exemplificar a sutileza a que se refere, Zé Manoel cita “Canção de amor para Johnny Alf”, dedicada a outro cantor, compositor e pianista negro, frequentemente apontado como precursor da bossa nova. — Quando faço uma canção para Johnny Alf, ela também é política, porque ele tem sido apagado da História se pensarmos no tamanho dele, na importância da obra — avalia. Capa do novo trabalho Divulgação Adaptar (com Arthur Nogueira) um tema africano, do folclore da Tanzânia, também é uma escolha política, acredita o artista. Ele interpretou “Malaika” — conhecida pela gravação da estrela sul-africana Miriam Makeba — ao lado de Luedji Luna, repetindo o dueto de “Não negue ternura”. — Eu queria que a primeira gravação da música em português ficasse marcada na voz de uma artista grande dessa geração — diz Zé Manoel, exaltando a baiana de 37 anos. — Ela abriu novas possibilidades para a música independente. O pernambucano radicado em São Paulo, que lançou seu primeiro disco em 2012, ainda não tem o alcance de Luedji, mas vem conquistado um reconhecimento cada vez maior para o seu trabalho. Seu álbum “Delírio de um romance a céu aberto” (2016) ganhou o Prêmio da Música Brasileira na categoria projeto especial. “Do meu coração nu” foi indicado ao Grammy Latino. Nos últimos anos, participou com seu piano de gravações de Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto e outras cantoras. — Meu trabalho tem um ritmo devagar e sempre — diz ele. — Não tive projeção relâmpago. Vejo possibilidade de crescer mais. Estou com 43 anos, já bate aquela ansiedade sobre o futuro da carreira: será que vai rolar ou vou ficar na mão? Mas estou tranquilo, me sinto respeitado como compositor. Todas as 11 faixas de “Coral” têm Zé Manoel como autor, seja sozinho, em parceria ou adaptando algum tema — como em “Siriri”, versão para “Siriri sirirá”, de Onildo Almeida, sucesso na voz de Marinês. Duas músicas têm letras em inglês: “Golden”, feita com Gabriela Riley; e “Above the sky”, com Bruno Capinan e Bruno Morais. — Eu vislumbro uma carreira internacional — assume. — Ainda não fiz quase nada fora do Brasil. De certa forma, as músicas em inglês são um passo. Ia ter também em espanhol, mas não deu tempo. Zé Manoel fez turnê com seu conterrâneo Amaro Freitas, também pianista, interpretando canções do álbum duplo “Clube da esquina” (1972), de Milton Nascimento e outros. Experimentou deixar o piano e cantar na frente do palco. É o que fará nos shows em “Menina preta de cocar”, a única do novo álbum em que não utilizou seu instrumento. Presente no sonho Com um repertório em que ainda há parcerias com Liniker (“Deságuo para emergir”) e Alessandra Leão (“Iyá Mesan”), “Coral” — que teve show de lançamento este mês, em São Paulo — tem produção do paranaense Bruno Morais. Na faixa-título, a função é dividida com Luisão Pereira, baiano que morreu em março passado, aos 55 anos, e que produziu outros trabalhos de Zé Manoel. “Coral”, a canção, fala de um desejo de volta às origens, algo que o artista nascido em Petrolina e que passou a juventude no Recife diz sentir. Mas a composição tem uma inspiração baiana. — A melodia veio num sonho e parecia de Dorival Caymmi — conta. — E no meu sonho ele cantava a música com aquele violão tocado nas canções praieiras dele. Entendi como se fosse um presente.
'Coral', título do novo trabalho, veio num sonho e remete a Dorival Caymmi O álbum anterior de Zé Manoel, “Do meu coração nu” (2020), começava com “História antiga”, canção forte que trata do assassinato de pessoas negras por um “Estado genocida”, segundo diz a letra. “Coral”, o novo trabalho do cantor, compositor e pianista, não tem uma faixa tão pesada. Grammy Latino 2024: Os Garotin e Jota.Pê são destaque entre brasileiros indicados ao prêmio; veja lista completa 'Foi um susto': Mulher de Zé Neto, Natália Toscano tranquiliza fãs sobre acidente do cantor — É um disco um pouco mais solar. Era um desejo meu que fosse assim. Há nele formas mais sutis de falar das comunidades pretas, indígenas, miscigenadas — afirma o pernambucano José Manoel de Carvalho Neto, ressaltando que também há músicas leves em “Do meu coração nu”, como “Não negue ternura”, que integrou a trilha da novela “Pantanal” e tem mais de 2,3 milhões de plays no Spotify. Para exemplificar a sutileza a que se refere, Zé Manoel cita “Canção de amor para Johnny Alf”, dedicada a outro cantor, compositor e pianista negro, frequentemente apontado como precursor da bossa nova. — Quando faço uma canção para Johnny Alf, ela também é política, porque ele tem sido apagado da História se pensarmos no tamanho dele, na importância da obra — avalia. Capa do novo trabalho Divulgação Adaptar (com Arthur Nogueira) um tema africano, do folclore da Tanzânia, também é uma escolha política, acredita o artista. Ele interpretou “Malaika” — conhecida pela gravação da estrela sul-africana Miriam Makeba — ao lado de Luedji Luna, repetindo o dueto de “Não negue ternura”. — Eu queria que a primeira gravação da música em português ficasse marcada na voz de uma artista grande dessa geração — diz Zé Manoel, exaltando a baiana de 37 anos. — Ela abriu novas possibilidades para a música independente. O pernambucano radicado em São Paulo, que lançou seu primeiro disco em 2012, ainda não tem o alcance de Luedji, mas vem conquistado um reconhecimento cada vez maior para o seu trabalho. Seu álbum “Delírio de um romance a céu aberto” (2016) ganhou o Prêmio da Música Brasileira na categoria projeto especial. “Do meu coração nu” foi indicado ao Grammy Latino. Nos últimos anos, participou com seu piano de gravações de Maria Bethânia, Adriana Calcanhotto e outras cantoras. — Meu trabalho tem um ritmo devagar e sempre — diz ele. — Não tive projeção relâmpago. Vejo possibilidade de crescer mais. Estou com 43 anos, já bate aquela ansiedade sobre o futuro da carreira: será que vai rolar ou vou ficar na mão? Mas estou tranquilo, me sinto respeitado como compositor. Todas as 11 faixas de “Coral” têm Zé Manoel como autor, seja sozinho, em parceria ou adaptando algum tema — como em “Siriri”, versão para “Siriri sirirá”, de Onildo Almeida, sucesso na voz de Marinês. Duas músicas têm letras em inglês: “Golden”, feita com Gabriela Riley; e “Above the sky”, com Bruno Capinan e Bruno Morais. — Eu vislumbro uma carreira internacional — assume. — Ainda não fiz quase nada fora do Brasil. De certa forma, as músicas em inglês são um passo. Ia ter também em espanhol, mas não deu tempo. Zé Manoel fez turnê com seu conterrâneo Amaro Freitas, também pianista, interpretando canções do álbum duplo “Clube da esquina” (1972), de Milton Nascimento e outros. Experimentou deixar o piano e cantar na frente do palco. É o que fará nos shows em “Menina preta de cocar”, a única do novo álbum em que não utilizou seu instrumento. Presente no sonho Com um repertório em que ainda há parcerias com Liniker (“Deságuo para emergir”) e Alessandra Leão (“Iyá Mesan”), “Coral” — que teve show de lançamento este mês, em São Paulo — tem produção do paranaense Bruno Morais. Na faixa-título, a função é dividida com Luisão Pereira, baiano que morreu em março passado, aos 55 anos, e que produziu outros trabalhos de Zé Manoel. “Coral”, a canção, fala de um desejo de volta às origens, algo que o artista nascido em Petrolina e que passou a juventude no Recife diz sentir. Mas a composição tem uma inspiração baiana. — A melodia veio num sonho e parecia de Dorival Caymmi — conta. — E no meu sonho ele cantava a música com aquele violão tocado nas canções praieiras dele. Entendi como se fosse um presente.
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