Banco Central diz que piora adicional nas expectativas de inflação pode prolongar ciclo de alta nos juros
Na ata, BC afirma que contenção de gastos impulsionaria PIB e cita incerteza com possíveis mudanças na política econômica dos EUA após a eleição de Trump O Banco Central deu recados importantes nesta terça-feira na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou a taxa Selic de 10,75% para 11,25% ao ano. Uma das mensagens mais diretas foi em relação ao "desconforto" com a distância das expectativas de inflação em relação à meta de 3,0% e a indicação que uma deterioração adicional pode prolongar o ciclo de alta de juros. O Copom ainda afirmou que vem observando uma interrupção no processo desinflacionário. Em semana decisiva para o pacote de contenção de gastos públicos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o BC também mencionou na ata que a redução no crescimento das despesas pode ser um indutor do crescimento econômico no médio prazo. Houve piora ainda na avaliação sobre as implicações do cenário externo para o Brasil com a possibilidade de mudanças na condução da política econômica americana após a eleição de Donald Trump. No conjunto, o BC vê um cenário mais desafiador e condizente com uma política monetária mais dura, citando ainda riscos relacionados à atividade econômica sobreaquecida no Brasil. A ata explica a decisão de elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano, na semana passada. A decisão representou uma aceleração do ritmo de aperto monetário ante agosto, quando o BC retomou a alta de juros com uma dose de 0,25 ponto percentual. A autoridade monetária afirmou que julgou adequado pisar no acelerador e aumentar o ritmo de elevação da Selic "considerando a necessidade de uma política monetária mais contracionista". "Enfatizou-se que um aumento de 0,50 ponto percentual se mostra apropriado diante das condições econômicas correntes e das incertezas prospectivas, refletindo o compromisso de convergência da inflação à meta, essencial para a construção contínua de credibilidade. "O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação. Uma deterioração adicional das expectativas pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto de política monetária", disse o BC na ata. Além disso, argumentou que preferiu não dar indicação futura sobre seus próximos passos em virtude e reforçar a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo "em virtude das incertezas envolvidas". Assim como no comunicado, disse que "ritmo de ajustes futuros e a magnitude total do ciclo" serão ditados pelo firme compromisso da convergência da inflação à meta. Nesse contexto, a sinalização de que o ciclo pode ser mais longo se houver deterioração adicional das expectativas de inflação foi um importante recado. "O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação. Uma deterioração adicional das expectativas pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto de política monetária." Entre o Copom de setembro e novembro, o BC viu as expectativas de inflação se afastarem mais da meta de 3,0% (intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%). Em 2024, o mercado financeiro passou a prever estouro do limite superior da meta, de 4,5%, em 4,59%. Para 2025, subiu de 3,95% para 4,03%. Já para o final de 2026, a mediana chegou a 3,61%. No Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, já houve piora, com aumento para 4,62%, 4,10% e 3,65%, nessa ordem. As próprias projeções oficiais do colegiado para a inflação aumentaram e continuam distantes da meta de 3,0%. Pela primeira vez, o BC passou a ver um resultado acima do limite superior da meta para 2024, de 4,6%, contra 4,3% antes. Para 2025, a estimativa aumentou de 3,7% para 3,9%. O horizonte com que o BC trabalha para colocar a inflação na meta é o segundo trimestre de 2026. Nesse caso, a projeção oficial é de 3,6%, contra o alvo de 3,0%. Até setembro, o colegiado mirava o primeiro trimestre de 2026, cuja projeção era de 3,5%. Interrupção da desinflação O Copom avaliou na ata que o cenário de curto prazo para a inflação se mostra mais desafiador. Houve reavaliação dos preços de alimentos por diversos fatores, dentre eles a estiagem observada ao longo do ano. Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses, diz o BC. Por fim, ao Copom considera que inflação de serviços segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica. "De fato, tem-se observado uma interrupção no processo desinflacionário, refletindo a redução de força dos diversos fatores que vinham contribuindo para a desinflação", destacou a at
Na ata, BC afirma que contenção de gastos impulsionaria PIB e cita incerteza com possíveis mudanças na política econômica dos EUA após a eleição de Trump O Banco Central deu recados importantes nesta terça-feira na ata do Comitê de Política Monetária (Copom) que elevou a taxa Selic de 10,75% para 11,25% ao ano. Uma das mensagens mais diretas foi em relação ao "desconforto" com a distância das expectativas de inflação em relação à meta de 3,0% e a indicação que uma deterioração adicional pode prolongar o ciclo de alta de juros. O Copom ainda afirmou que vem observando uma interrupção no processo desinflacionário. Em semana decisiva para o pacote de contenção de gastos públicos pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o BC também mencionou na ata que a redução no crescimento das despesas pode ser um indutor do crescimento econômico no médio prazo. Houve piora ainda na avaliação sobre as implicações do cenário externo para o Brasil com a possibilidade de mudanças na condução da política econômica americana após a eleição de Donald Trump. No conjunto, o BC vê um cenário mais desafiador e condizente com uma política monetária mais dura, citando ainda riscos relacionados à atividade econômica sobreaquecida no Brasil. A ata explica a decisão de elevar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, de 10,75% para 11,25% ao ano, na semana passada. A decisão representou uma aceleração do ritmo de aperto monetário ante agosto, quando o BC retomou a alta de juros com uma dose de 0,25 ponto percentual. A autoridade monetária afirmou que julgou adequado pisar no acelerador e aumentar o ritmo de elevação da Selic "considerando a necessidade de uma política monetária mais contracionista". "Enfatizou-se que um aumento de 0,50 ponto percentual se mostra apropriado diante das condições econômicas correntes e das incertezas prospectivas, refletindo o compromisso de convergência da inflação à meta, essencial para a construção contínua de credibilidade. "O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação. Uma deterioração adicional das expectativas pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto de política monetária", disse o BC na ata. Além disso, argumentou que preferiu não dar indicação futura sobre seus próximos passos em virtude e reforçar a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo "em virtude das incertezas envolvidas". Assim como no comunicado, disse que "ritmo de ajustes futuros e a magnitude total do ciclo" serão ditados pelo firme compromisso da convergência da inflação à meta. Nesse contexto, a sinalização de que o ciclo pode ser mais longo se houver deterioração adicional das expectativas de inflação foi um importante recado. "O Comitê avalia que a condução da política monetária é um fator fundamental para a reancoragem das expectativas e continuará tomando decisões que salvaguardem a credibilidade e reflitam o papel fundamental das expectativas na dinâmica de inflação. Uma deterioração adicional das expectativas pode levar a um prolongamento do ciclo de aperto de política monetária." Entre o Copom de setembro e novembro, o BC viu as expectativas de inflação se afastarem mais da meta de 3,0% (intervalo de tolerância de 1,5% a 4,5%). Em 2024, o mercado financeiro passou a prever estouro do limite superior da meta, de 4,5%, em 4,59%. Para 2025, subiu de 3,95% para 4,03%. Já para o final de 2026, a mediana chegou a 3,61%. No Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, já houve piora, com aumento para 4,62%, 4,10% e 3,65%, nessa ordem. As próprias projeções oficiais do colegiado para a inflação aumentaram e continuam distantes da meta de 3,0%. Pela primeira vez, o BC passou a ver um resultado acima do limite superior da meta para 2024, de 4,6%, contra 4,3% antes. Para 2025, a estimativa aumentou de 3,7% para 3,9%. O horizonte com que o BC trabalha para colocar a inflação na meta é o segundo trimestre de 2026. Nesse caso, a projeção oficial é de 3,6%, contra o alvo de 3,0%. Até setembro, o colegiado mirava o primeiro trimestre de 2026, cuja projeção era de 3,5%. Interrupção da desinflação O Copom avaliou na ata que o cenário de curto prazo para a inflação se mostra mais desafiador. Houve reavaliação dos preços de alimentos por diversos fatores, dentre eles a estiagem observada ao longo do ano. Com relação aos bens industrializados, o movimento recente do câmbio pressiona preços e margens, sugerindo maior aumento em tais componentes nos próximos meses, diz o BC. Por fim, ao Copom considera que inflação de serviços segue acima do nível compatível com o cumprimento da meta em contexto de atividade dinâmica. "De fato, tem-se observado uma interrupção no processo desinflacionário, refletindo a redução de força dos diversos fatores que vinham contribuindo para a desinflação", destacou a ata. ". A inflação corrente, medida pelo índice cheio ou por diferentes medidas de núcleo, em níveis acima da meta, o dinamismo da atividade econômica, o hiato positivo, as expectativas desancoradas e a depreciação recente do câmbio tornam a convergência da inflação à meta mais desafiadora", completou. Alerta fiscal Segundo o documento, o Copom discutiu o desafio de estabilizar a dívida pública em virtude de aspectos mais estruturais do orçamento público. "Mencionou-se que a redução de crescimento dos gastos, principalmente de forma mais estrutural, pode inclusive ser indutor de crescimento econômico no médio prazo por meio de seu impacto nas condições financeiras, no prêmio de risco e na melhor alocação de recursos", diz a ata. No comunicado, o BC havia defendido enfaticamente que a "apresentação e execução” de medidas estruturais nas contas públicas contribui para uma trajetória mais favorável da inflação e, assim, para o nível de juros. Esse alerta, assim como a decisão de elevar a Selic para 11,25% foi feito por todos os membros da diretoria do BC, inclusive pelos integrantes indicados por Lula. É o caso, por exemplo, de Gabriel Galípolo, escolhido pelo presidente para assumir a instituição após o fim do mandato de Roberto Campos Neto e já aprovado pelo Senado. Sinais incipientes de moderação da atividade Em relação à atividade econômica e ao mercado de trabalho domésticos, o BC disse que seguem dinâmicos. Segundo o colegiado, houve "sinais incipientes de moderação" em indicadores recentes, como de comércio e de rendimentos, mas "sem que se possa concluir tratar-se de uma inflexão no mercado de trabalho ou no ritmo de crescimento". "A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. Em síntese, não se observa alteração relevante no cenário de crescimento prospectivo em relação à reunião anterior." Mudanças com Trump Após a vitória de Donald Trump na eleição presidencial dos Estados Unidos, o BC afirmou que a possibilidade de mudanças na condução da política econômica também traz adicional incerteza ao cenário. O BC cita explicitamente a preocupação com os efeitos de "possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação", mas afirma que espera desaceleração "gradual e ordenada" da economia norte-americana. T Também acrescenta que o cenário externo se mantém desafiador por incertezas econômicas e geopolíticas "relevantes". Na ata anterior, em setembro, o ambiente internacional foi considerado mais benigno, ainda que desafiador. "O cenário externo se mantém desafiador, com incertezas econômicas e geopolíticas relevantes. Com relação aos Estados Unidos, permanece grande incerteza sobre o ritmo da desinflação e da desaceleração da atividade econômica. Em paralelo, a possibilidade de mudanças na condução da política econômica também traz adicional incerteza ao cenário, particularmente com possíveis estímulos fiscais, restrições na oferta de trabalho e introdução de tarifas à importação", diz o documento divulgado hoje. Segundo a ata, o comitê também debateu "em maior profundidade" a desaceleração da economia chinesa. Para o BC, as respostas fiscais e monetárias recentemente anunciadas podem trazer "algum suporte ao crescimento de curto prazo, mas permanecem desafios para o crescimento de médio prazo". Em um contexto de maior incerteza doméstica e internacional, o colegiado destacou que os preços de ativos domésticos apresentaram volatilidade no período e elevação do prêmio de risco. O BC destacou que focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica inflacionária interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo. "Reforçou-se, ademais, que um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica."
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