Apartamentos e lojas sobre as salas de cinema: os mistérios do Cine Icaraí
Obras do prédio em Niterói, que passa por reforma e modernização, sem perder as características originais da década de 1940, serão registradas em minidocumentário Quem passa hoje em frente ao Cine Icaraí, fechado desde 2006, quando era administrado pelo grupo Severiano Ribeiro, pode não imaginar que o conjunto arquitetônico da década de 1940 também guarda seus mistérios. A volumetria original contava com quatro pavimentos, abrigando não só o cinema, mas também apartamentos nos andares superiores. No entanto, a equipe de arquitetura responsável pela obra de readequação do espaço não conseguiu obter informações sobre os antigos moradores. Outro fato que chama a atenção é que a planta original da construção nunca foi encontrada. As antigas banheiras de metal e outros vestígios de ocupação foram as pistas deixadas. Falta de luz: Após cancelamento de duas sessões, Câmara de Niterói vai discutir tema Ônibus: Trajetos de 23 linhas que passam pelo Centro de Niterói são alterados Imagem mostra como ficará a fachada do Cine Icaraí Divulgação/Prefeitura Marcelo Silveira, arquiteto do Consórcio Cine Icaraí, lembra que essa história não era totalmente desconhecida quando assumiu o projeto. Porém, a equipe não sabia que existiam as dez unidades residenciais. O número chamou a atenção. Os apartamentos de frente para a praia eram duplex, e Silveira acredita que estes eram destinados a funcionários de alto escalão. A corrida para remontar esse mosaico histórico se justifica, já que um minidocumentário está em fase de produção para ser exibido no fim do ano que vem, quando o retrofit do prédio, no estilo art déco, deve ser concluído. — Além de moradia, esse prédio tinha salas comerciais. Um estúdio de fotografia chegou a funcionar aqui e fazia bastante sucesso— conta. A Foto Preuss funcionava no terceiro andar e era famosa entre os moradores do bairro por exibir, na janela, as fotos reveladas no local, na década de 1950. Galerias Relacionadas Desde 2019, ano em que assinou o termo de uso do prédio, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a prefeitura realizou estudos e contratou empresas especializadas para elaborar a proposta de restauro. O investimento do município é de cerca de R$ 45,7 milhões. O projeto básico, que contou com a aprovação do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural (CMPPC), teve como premissas a restauração dos aspectos arquitetônicos e decorativos originais das fachadas e da sala de exibição, além da permanência da bilheteria e bonbonnière no antigo saguão. Memória e afeto Como quem faz uma visita a um velho amigo, o prefeito Axel Grael, de 66 anos, percorreu recentemente os pavimentos e, a cada passo, apontava onde funcionava cada setor, os pontos onde ficavam as cortinas vermelhas e a porta de saída, que dava diretamente na calçada da Rua Álvares de Azevedo. Sempre que as sessões terminavam, uma pequena multidão permanecia por um longo tempo conversando sobre o filme a que acabara de assistir. — A bonbonnière era muito bonita e, além da tradicional pipoca, vendia balas de caramelo que faziam o maior sucesso. Esse é um espaço que faz parte da memória afetiva da cidade. Faz o niteroiense ter orgulho da cidade em que vive. Lembro da primeira vez que tentei entrar aqui, quando tinha 17 anos. Fui barrado. Mas depois voltei com a identidade na mão — lembra. Axel ainda mencionou que o espaço quase foi vendido, mas a mobilização dos vizinhos ajudou no processo de tombamento. Ele adianta que as salas de cinema devem ser geridas pelo grupo Reserva Cultural, que hoje está à frente do complexo localizado em São Domingos. Sobre os antigos moradores, o prefeito espera que antes da conclusão das obras se encontre alguma pista que possa levar até eles ou a parentes diretos. —Esse é um mistério que deve ser revelado até a conclusão do projeto— brinca. O Cinema Icaraí, que passará a se chamar Cine Concerto Sergio Mendes, em homenagem ao pianista, compositor e arranjador niteroiense, falecido em setembro deste ano, contará, no primeiro pavimento, com camarins, um mezanino para 69 pessoas e um restaurante. No andar de cima, receberá infraestrutura para atender a orquestra. No salão principal, os componentes decorativos serão revitalizados, e o palco será ampliado para comportar a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF. A plateia terá capacidade para 300 pessoas, e será instalada uma plataforma elevatória para garantir acessibilidade. O terceiro pavimento terá três salas de cinema de última geração. Uma das salas de exibição terá capacidade para até 150 pessoas, e as outras duas comportarão 65 cada uma. O andar contará ainda com um café e uma bonbonnière. No quarto pavimento, o espaço ganhará um bar bistrô, e será criado um quinto andar para a construção de um restaurante com varanda e vista para o mar, sem interferir nas características originais da fachada. O edifício será sustentável, e cobertura vai receber placas de módulos fotovol
Obras do prédio em Niterói, que passa por reforma e modernização, sem perder as características originais da década de 1940, serão registradas em minidocumentário Quem passa hoje em frente ao Cine Icaraí, fechado desde 2006, quando era administrado pelo grupo Severiano Ribeiro, pode não imaginar que o conjunto arquitetônico da década de 1940 também guarda seus mistérios. A volumetria original contava com quatro pavimentos, abrigando não só o cinema, mas também apartamentos nos andares superiores. No entanto, a equipe de arquitetura responsável pela obra de readequação do espaço não conseguiu obter informações sobre os antigos moradores. Outro fato que chama a atenção é que a planta original da construção nunca foi encontrada. As antigas banheiras de metal e outros vestígios de ocupação foram as pistas deixadas. Falta de luz: Após cancelamento de duas sessões, Câmara de Niterói vai discutir tema Ônibus: Trajetos de 23 linhas que passam pelo Centro de Niterói são alterados Imagem mostra como ficará a fachada do Cine Icaraí Divulgação/Prefeitura Marcelo Silveira, arquiteto do Consórcio Cine Icaraí, lembra que essa história não era totalmente desconhecida quando assumiu o projeto. Porém, a equipe não sabia que existiam as dez unidades residenciais. O número chamou a atenção. Os apartamentos de frente para a praia eram duplex, e Silveira acredita que estes eram destinados a funcionários de alto escalão. A corrida para remontar esse mosaico histórico se justifica, já que um minidocumentário está em fase de produção para ser exibido no fim do ano que vem, quando o retrofit do prédio, no estilo art déco, deve ser concluído. — Além de moradia, esse prédio tinha salas comerciais. Um estúdio de fotografia chegou a funcionar aqui e fazia bastante sucesso— conta. A Foto Preuss funcionava no terceiro andar e era famosa entre os moradores do bairro por exibir, na janela, as fotos reveladas no local, na década de 1950. Galerias Relacionadas Desde 2019, ano em que assinou o termo de uso do prédio, em parceria com a Universidade Federal Fluminense (UFF), a prefeitura realizou estudos e contratou empresas especializadas para elaborar a proposta de restauro. O investimento do município é de cerca de R$ 45,7 milhões. O projeto básico, que contou com a aprovação do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac) e do Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural (CMPPC), teve como premissas a restauração dos aspectos arquitetônicos e decorativos originais das fachadas e da sala de exibição, além da permanência da bilheteria e bonbonnière no antigo saguão. Memória e afeto Como quem faz uma visita a um velho amigo, o prefeito Axel Grael, de 66 anos, percorreu recentemente os pavimentos e, a cada passo, apontava onde funcionava cada setor, os pontos onde ficavam as cortinas vermelhas e a porta de saída, que dava diretamente na calçada da Rua Álvares de Azevedo. Sempre que as sessões terminavam, uma pequena multidão permanecia por um longo tempo conversando sobre o filme a que acabara de assistir. — A bonbonnière era muito bonita e, além da tradicional pipoca, vendia balas de caramelo que faziam o maior sucesso. Esse é um espaço que faz parte da memória afetiva da cidade. Faz o niteroiense ter orgulho da cidade em que vive. Lembro da primeira vez que tentei entrar aqui, quando tinha 17 anos. Fui barrado. Mas depois voltei com a identidade na mão — lembra. Axel ainda mencionou que o espaço quase foi vendido, mas a mobilização dos vizinhos ajudou no processo de tombamento. Ele adianta que as salas de cinema devem ser geridas pelo grupo Reserva Cultural, que hoje está à frente do complexo localizado em São Domingos. Sobre os antigos moradores, o prefeito espera que antes da conclusão das obras se encontre alguma pista que possa levar até eles ou a parentes diretos. —Esse é um mistério que deve ser revelado até a conclusão do projeto— brinca. O Cinema Icaraí, que passará a se chamar Cine Concerto Sergio Mendes, em homenagem ao pianista, compositor e arranjador niteroiense, falecido em setembro deste ano, contará, no primeiro pavimento, com camarins, um mezanino para 69 pessoas e um restaurante. No andar de cima, receberá infraestrutura para atender a orquestra. No salão principal, os componentes decorativos serão revitalizados, e o palco será ampliado para comportar a Orquestra Sinfônica Nacional da UFF. A plateia terá capacidade para 300 pessoas, e será instalada uma plataforma elevatória para garantir acessibilidade. O terceiro pavimento terá três salas de cinema de última geração. Uma das salas de exibição terá capacidade para até 150 pessoas, e as outras duas comportarão 65 cada uma. O andar contará ainda com um café e uma bonbonnière. No quarto pavimento, o espaço ganhará um bar bistrô, e será criado um quinto andar para a construção de um restaurante com varanda e vista para o mar, sem interferir nas características originais da fachada. O edifício será sustentável, e cobertura vai receber placas de módulos fotovoltaicos para a captura de energia solar.
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