'Apagão de informações': plataformas digitais têm baixa transparência de dados e publicidade no Brasil, aponta estudo

Análise do NetLab constatou que nenhuma das principais empresas que atuam no país atinge pontuação considerada ideal nesses temas Foco de um projeto de regulamentação parado no Congresso, as plataformas digitais mais usadas pelos brasileiros apresentam índices preocupantes de transparência de dados e de publicidade, de acordo com levantamento feito pelo NetLab, laboratório vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e antecipado pelo site Núcleo Jornalismo, especializado no tema. A análise constatou que nenhuma das principais empresas que atuam no país atinge pontuação considerada ideal em grau de transparência e de qualidade dos dados ou de mecanismos para acesso a informações sobre publicações impulsionadas e conteúdos monetizado. Rio: Castro e Pedro Paulo trocam farpas nas redes e antecipam embate de 2026 entre governador e Paes Senador bolsonarista ataca projeto contra jornada 6x1: 'Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família' Apresentada na semana passada para o Ministério da Justiça, parceiro do laboratório no projeto, a pesquisa atribui nota de 0 a 100 em dois índices, um de transparência digital e outro de transparência de publicidade, para cada uma das redes analisadas. Eles foram calculados a partir da análise de uma série de parâmetros, como acessibilidade, consistência, completude e atualidade. As inconsistências encontradas vão da falta de interfaces para a coleta de dados à cobrança pelo acesso a informações. Desempenho das principais big techs Editoria de Arte As plataformas WhatsApp — também considerada rede social pelos pesquisadores após a implementação de recursos como os canais de transmissão e de grupos públicos com mais de mil usuários —, Kwai e TikTok atingiram os menores níveis de transparência de dados, com índices abaixo de 10 pontos. O resultado é explicado pelo fato de não disponibilizarem relatórios periódicos sobre a moderação no Brasil. O YouTube, que marcou 63,2 pontos, atingiu a maior nota na transparência de dados. Segundo análise do NetLab, o funcionamento da plataforma permite acesso integral e gratuito a informações públicas, além da recuperação ágil de dados recém-publicados ou históricos. A empresa controlada pelo Google, porém, perde pontos por ainda ter inconsistências de informações, limites na captação de dados e falta de metadados de vídeos removidos ou tornados privados. Índice de transparência da publicidade Editoria de Arte O Facebook e o Instagram, da Meta, aparecem, em seguida, com 53,6 e 52,1 pontos, também na análise de acesso a dados. O desempenho foi puxado pela ferramenta de dados CrowdTangle, ainda considerada no levantamento e que foi descontinuada em agosto. A plataforma permitia o acompanhamento de conteúdos virais. O NetLab prevê que, em uma futura atualização do levantamento, o índice para ambas as redes deve ser “consideravelmente reduzido”, na medida em que os efeitos da eliminação do CrowdTangle sejam captados. Mesmo sendo a única rede social que “sinaliza adequadamente conteúdos removidos”, o X, de Elon Musk, somou apenas 30 pontos no índice, mesmo patamar do Telegram. No caso do X, a nota é atribuída, entre outros fatores, pelo fato de o acesso à API (interface de programação de aplicações, traduzido para o português) da plataforma ser pago e de a rede não divulgar relatórios de transparência para o contexto brasileiro desde 2021. Já o baixo desempenho do Telegram é justificadoa pelo fato de o acesso a dados públicos e a busca por temas de interesses específicos serem dificultados pela necessidade de “conhecer os grupos de antemão”. Em relação à divulgação de informações sobre publicidade, X, TikTok, Kwai e Pinterest sequer pontuaram. Nenhuma delas oferece API ou interface de repositório de anúncios para coleta e análise de dados de publicidade no Brasil, e não publicam relatórios de transparência sobre a remoção de anúncios e de anunciantes ilegais, irregulares ou abusivos. Apesar das críticas relativas à transparência geral dos dados, a Meta foi a empresa que melhor pontuou (49,8 pontos) quando considerada a disponibilização de informações sobre os anúncios. Atraso brasileiro Procuradas pelo GLOBO, as plataformas não responderam. Para a professora Marie Santini, coordenadora do NetLab, a falta de transparência sobre publicidade tem consequências graves para o consumidor e para o mercado publicitário, que têm visto constantemente anúncios legítimos misturados a fraudulentos. Já a falta de transparência de dados no Brasil leva a um atraso científico, tecnológico e de inovação, na comparação com países do norte global: — Os países da União Europeia, por terem aprovado uma regulamentação, passam a exigir que essas plataformas, especialmente as grandes, liberem dados para pesquisadores e para a sociedade, para além da pesquisa. No Brasil, o cenário é de escassez total.

Nov 12, 2024 - 04:30
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'Apagão de informações': plataformas digitais têm baixa transparência de dados e publicidade no Brasil, aponta estudo

Análise do NetLab constatou que nenhuma das principais empresas que atuam no país atinge pontuação considerada ideal nesses temas Foco de um projeto de regulamentação parado no Congresso, as plataformas digitais mais usadas pelos brasileiros apresentam índices preocupantes de transparência de dados e de publicidade, de acordo com levantamento feito pelo NetLab, laboratório vinculado à Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e antecipado pelo site Núcleo Jornalismo, especializado no tema. A análise constatou que nenhuma das principais empresas que atuam no país atinge pontuação considerada ideal em grau de transparência e de qualidade dos dados ou de mecanismos para acesso a informações sobre publicações impulsionadas e conteúdos monetizado. Rio: Castro e Pedro Paulo trocam farpas nas redes e antecipam embate de 2026 entre governador e Paes Senador bolsonarista ataca projeto contra jornada 6x1: 'Não quer trabalhar? Fica em casa e se inscreve no Bolsa Família' Apresentada na semana passada para o Ministério da Justiça, parceiro do laboratório no projeto, a pesquisa atribui nota de 0 a 100 em dois índices, um de transparência digital e outro de transparência de publicidade, para cada uma das redes analisadas. Eles foram calculados a partir da análise de uma série de parâmetros, como acessibilidade, consistência, completude e atualidade. As inconsistências encontradas vão da falta de interfaces para a coleta de dados à cobrança pelo acesso a informações. Desempenho das principais big techs Editoria de Arte As plataformas WhatsApp — também considerada rede social pelos pesquisadores após a implementação de recursos como os canais de transmissão e de grupos públicos com mais de mil usuários —, Kwai e TikTok atingiram os menores níveis de transparência de dados, com índices abaixo de 10 pontos. O resultado é explicado pelo fato de não disponibilizarem relatórios periódicos sobre a moderação no Brasil. O YouTube, que marcou 63,2 pontos, atingiu a maior nota na transparência de dados. Segundo análise do NetLab, o funcionamento da plataforma permite acesso integral e gratuito a informações públicas, além da recuperação ágil de dados recém-publicados ou históricos. A empresa controlada pelo Google, porém, perde pontos por ainda ter inconsistências de informações, limites na captação de dados e falta de metadados de vídeos removidos ou tornados privados. Índice de transparência da publicidade Editoria de Arte O Facebook e o Instagram, da Meta, aparecem, em seguida, com 53,6 e 52,1 pontos, também na análise de acesso a dados. O desempenho foi puxado pela ferramenta de dados CrowdTangle, ainda considerada no levantamento e que foi descontinuada em agosto. A plataforma permitia o acompanhamento de conteúdos virais. O NetLab prevê que, em uma futura atualização do levantamento, o índice para ambas as redes deve ser “consideravelmente reduzido”, na medida em que os efeitos da eliminação do CrowdTangle sejam captados. Mesmo sendo a única rede social que “sinaliza adequadamente conteúdos removidos”, o X, de Elon Musk, somou apenas 30 pontos no índice, mesmo patamar do Telegram. No caso do X, a nota é atribuída, entre outros fatores, pelo fato de o acesso à API (interface de programação de aplicações, traduzido para o português) da plataforma ser pago e de a rede não divulgar relatórios de transparência para o contexto brasileiro desde 2021. Já o baixo desempenho do Telegram é justificadoa pelo fato de o acesso a dados públicos e a busca por temas de interesses específicos serem dificultados pela necessidade de “conhecer os grupos de antemão”. Em relação à divulgação de informações sobre publicidade, X, TikTok, Kwai e Pinterest sequer pontuaram. Nenhuma delas oferece API ou interface de repositório de anúncios para coleta e análise de dados de publicidade no Brasil, e não publicam relatórios de transparência sobre a remoção de anúncios e de anunciantes ilegais, irregulares ou abusivos. Apesar das críticas relativas à transparência geral dos dados, a Meta foi a empresa que melhor pontuou (49,8 pontos) quando considerada a disponibilização de informações sobre os anúncios. Atraso brasileiro Procuradas pelo GLOBO, as plataformas não responderam. Para a professora Marie Santini, coordenadora do NetLab, a falta de transparência sobre publicidade tem consequências graves para o consumidor e para o mercado publicitário, que têm visto constantemente anúncios legítimos misturados a fraudulentos. Já a falta de transparência de dados no Brasil leva a um atraso científico, tecnológico e de inovação, na comparação com países do norte global: — Os países da União Europeia, por terem aprovado uma regulamentação, passam a exigir que essas plataformas, especialmente as grandes, liberem dados para pesquisadores e para a sociedade, para além da pesquisa. No Brasil, o cenário é de escassez total.

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