Análise: E das trevas fez-se a luz para Boulos
Atrás nas pesquisas e com alta rejeição, candidato do PSOL dobra a aposta no apagão e atribui ao rival Nunes a responsabilidade por boa parte dos problemas causados pelo vendaval que afetou mais de 2 milhões de imóveis na Grande São Paulo Guilherme Boulos não guarda boas lembranças da última quinta-feira, 10 de outubro. Neste dia, tomou um balde de água gelada com a divulgação da primeira pesquisa Datafolha para o segundo turno. Ainda que a expectativa não fosse lá muito animadora, o resultado veio pior, marcando 39% das intenções de votos para o candidato do PSOL contra 53% do rival. Mais: no quesito rejeição, o levantamento apontou que 58% dos eleitores não votariam em Boulos de jeito nenhum. No caso de Nunes, foram 37%. Diante dos números, enquanto Boulos tentava convencer seus apoiadores de que era possível alcançar uma virada inédita na história política da capital, do outro lado da cidade era quase que possível ouvir o prefeito soltando risadinhas como aquelas do cãozinho Muttley, da Corrida Maluca: "Medalha, medalha, medalha!" A sexta (11) amanheceu modorrenta, prometendo nada além de uma agenda idem para o candidato do PSOL. No início da noite, no entanto, o clima começou a mudar. Nuvens escuras cobriram o céu de São Paulo, vieram raios e rajadas de vento que chegaram a inacreditáveis 107,6 km/h, a maior ventania em 30 anos, segundo a Defesa Civil. Não durou meia hora, mas em pouco tempo o apagão já atingia cerca de 2 milhões de imóveis na Grande São Paulo. Boulos não desperdiçou a oportunidade que lhe caía do céu. Rapidamente ocupou suas redes para culpar a Enel, concessionária de energia de São Paulo, e, claro, o rival Nunes, que, segundo ele, era o responsável pela sucessão de árvores que caíam por toda a cidade arrastando fios, derrubando muros, destruindo casas e carros. Para o candidato do PSOL, a negligência do prefeito teria agravado as consequências do vendaval. Atrás nas narrativas que se espalhavam na velocidade do vento, Nunes adotou um coletinho laranja da Defesa Civil e praticamente se mudou para a sede do Smart Sampa, central de monitoramento da cidade. Ali, diria depois, teria passado três dias e noites orientando a resposta da prefeitura aos problemas causados pela tempestade e gravando vídeos para suas redes sociais e propaganda na TV. Estava deflagrada a guerra de versões. No sábado, foi a vez de Boulos vestir uma camisa vermelha e sair por aí, no caso, pelo Campo Limpo, bairro onde mora e um dos mais afetados pelo vendaval na zona sul. Mostrou árvores que ainda aguardavam remoção e moradores dizendo que estavam enfrentando uma série de dificuldades, como falta de luz, água e perda de alimentos. Está tudo no Insta. Do seu lado, Nunes até faltou à missa de Nossa Senhora de Aparecida para se dedicar às excusas. Insistiu que não era culpado pelo mau gerenciamento da rede pela Enel. Lembrou ainda que a concessão era responsabilidade do governo federal e que por isso era Lula, padrinho de Boulos, o verdadeiro culpado pelo caos. Em seu raciocínio, ignorou algo que o candidato do PSOL soube captar muito bem: para a população em geral, pistola da vida com toda aquela situação, só havia dois culpados: a Enel pela falta de luz e o prefeito por não ter cortado as árvores quando devia. Difícil incluir qualquer outro suspeito nessa curta lista. A troca de acusações chegou à TV na noite de segunda (14) no debate da Band. Com regras mais flexíveis e cadeiras desaparafusadas, o clima nem de longe lembrou os tornados anteriores. Beneficiado pelo sorteio que lhe deu a preferência de iniciar o embate, Boulos abraçou a tempestade e não a largou até o final, deixando Nunes muitas vezes atrapalhado com a sua versão de que, na verdade, ora veja bem, seria Lula o culpado de tudo. Não colou. Seguindo as lições do coach M, o candidato do PT usou a livre movimentação e dinâmica corporal agora permitidas pelas regras para ficar rodeando o adversário, tentando desestabilizá-lo. Também abusou do recurso de falar diretamente para a câmera e de lançar perguntas em sequência com o objetivo de gerar material para cortes posteriores. Foi incisivo, mas longe de se comportar como um pitbull. Nunes manteve-se na defesa, arriscando uma ou outra acusação, mas sem muito efeito. Na verdade, para ele, tudo correrá bem se continuar exatamente como está. Então para que se arriscar? Não arriscou. Em um momento meigo, chegaram até mesmo a se abraçar, de leve. Virou meme imediato, mas que não foi para as redes dos candidatos, onde a guerra continuou de forma mais dura, sem direito a tapinhas nas costas. A menos de 15 dias da eleição, Boulos dobra a aposta no apagão para gerar mais propaganda, mais cortes, mais acusações e, quem sabe, mais votos. Sabe que o tempo escorre pelas suas mãos e que não pode desperdiçar nenhum segundo sequer. Até o final da semana, a divulgação de novas pesquisas deverá revelar qual tática pós-tormenta foi a mais eficiente: a do furacão de ataques ou a do refúgio no bunker. Para o candidato
Atrás nas pesquisas e com alta rejeição, candidato do PSOL dobra a aposta no apagão e atribui ao rival Nunes a responsabilidade por boa parte dos problemas causados pelo vendaval que afetou mais de 2 milhões de imóveis na Grande São Paulo Guilherme Boulos não guarda boas lembranças da última quinta-feira, 10 de outubro. Neste dia, tomou um balde de água gelada com a divulgação da primeira pesquisa Datafolha para o segundo turno. Ainda que a expectativa não fosse lá muito animadora, o resultado veio pior, marcando 39% das intenções de votos para o candidato do PSOL contra 53% do rival. Mais: no quesito rejeição, o levantamento apontou que 58% dos eleitores não votariam em Boulos de jeito nenhum. No caso de Nunes, foram 37%. Diante dos números, enquanto Boulos tentava convencer seus apoiadores de que era possível alcançar uma virada inédita na história política da capital, do outro lado da cidade era quase que possível ouvir o prefeito soltando risadinhas como aquelas do cãozinho Muttley, da Corrida Maluca: "Medalha, medalha, medalha!" A sexta (11) amanheceu modorrenta, prometendo nada além de uma agenda idem para o candidato do PSOL. No início da noite, no entanto, o clima começou a mudar. Nuvens escuras cobriram o céu de São Paulo, vieram raios e rajadas de vento que chegaram a inacreditáveis 107,6 km/h, a maior ventania em 30 anos, segundo a Defesa Civil. Não durou meia hora, mas em pouco tempo o apagão já atingia cerca de 2 milhões de imóveis na Grande São Paulo. Boulos não desperdiçou a oportunidade que lhe caía do céu. Rapidamente ocupou suas redes para culpar a Enel, concessionária de energia de São Paulo, e, claro, o rival Nunes, que, segundo ele, era o responsável pela sucessão de árvores que caíam por toda a cidade arrastando fios, derrubando muros, destruindo casas e carros. Para o candidato do PSOL, a negligência do prefeito teria agravado as consequências do vendaval. Atrás nas narrativas que se espalhavam na velocidade do vento, Nunes adotou um coletinho laranja da Defesa Civil e praticamente se mudou para a sede do Smart Sampa, central de monitoramento da cidade. Ali, diria depois, teria passado três dias e noites orientando a resposta da prefeitura aos problemas causados pela tempestade e gravando vídeos para suas redes sociais e propaganda na TV. Estava deflagrada a guerra de versões. No sábado, foi a vez de Boulos vestir uma camisa vermelha e sair por aí, no caso, pelo Campo Limpo, bairro onde mora e um dos mais afetados pelo vendaval na zona sul. Mostrou árvores que ainda aguardavam remoção e moradores dizendo que estavam enfrentando uma série de dificuldades, como falta de luz, água e perda de alimentos. Está tudo no Insta. Do seu lado, Nunes até faltou à missa de Nossa Senhora de Aparecida para se dedicar às excusas. Insistiu que não era culpado pelo mau gerenciamento da rede pela Enel. Lembrou ainda que a concessão era responsabilidade do governo federal e que por isso era Lula, padrinho de Boulos, o verdadeiro culpado pelo caos. Em seu raciocínio, ignorou algo que o candidato do PSOL soube captar muito bem: para a população em geral, pistola da vida com toda aquela situação, só havia dois culpados: a Enel pela falta de luz e o prefeito por não ter cortado as árvores quando devia. Difícil incluir qualquer outro suspeito nessa curta lista. A troca de acusações chegou à TV na noite de segunda (14) no debate da Band. Com regras mais flexíveis e cadeiras desaparafusadas, o clima nem de longe lembrou os tornados anteriores. Beneficiado pelo sorteio que lhe deu a preferência de iniciar o embate, Boulos abraçou a tempestade e não a largou até o final, deixando Nunes muitas vezes atrapalhado com a sua versão de que, na verdade, ora veja bem, seria Lula o culpado de tudo. Não colou. Seguindo as lições do coach M, o candidato do PT usou a livre movimentação e dinâmica corporal agora permitidas pelas regras para ficar rodeando o adversário, tentando desestabilizá-lo. Também abusou do recurso de falar diretamente para a câmera e de lançar perguntas em sequência com o objetivo de gerar material para cortes posteriores. Foi incisivo, mas longe de se comportar como um pitbull. Nunes manteve-se na defesa, arriscando uma ou outra acusação, mas sem muito efeito. Na verdade, para ele, tudo correrá bem se continuar exatamente como está. Então para que se arriscar? Não arriscou. Em um momento meigo, chegaram até mesmo a se abraçar, de leve. Virou meme imediato, mas que não foi para as redes dos candidatos, onde a guerra continuou de forma mais dura, sem direito a tapinhas nas costas. A menos de 15 dias da eleição, Boulos dobra a aposta no apagão para gerar mais propaganda, mais cortes, mais acusações e, quem sabe, mais votos. Sabe que o tempo escorre pelas suas mãos e que não pode desperdiçar nenhum segundo sequer. Até o final da semana, a divulgação de novas pesquisas deverá revelar qual tática pós-tormenta foi a mais eficiente: a do furacão de ataques ou a do refúgio no bunker. Para o candidato do PSOL em especial, os números devem ainda indicar se há luz (ainda que tênue) no fim do túnel ou sinalizar que talvez seja hora de pedir aquela mãozinha ao Cacique Cobra Coral.
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