Toda hora é hora de soltar os bichos

Inventados, reinventados, de estimação ou nem tanto, os animais são sempre um sucesso nas páginas Praticamente onipresentes na literatura para as infâncias, eles servem para falar de tudo um pouco e são a ponte mais eficiente para chegar às mentes e corações das crianças. Os lançamentos que trazem bichos como protagonistas são tantos que renderiam sozinhos um blog à parte, mas aí o espaço viraria uma grande Arca de Noé. Por falar nisso, embora não seja um lançamento, é impossível deixar de mencionar aqui a obra-prima de Vinicius de Moraes, fonte inspiradora para a animação que acaba de chegar ao cinema. Então esse post é mesmo para falar apenas deles, os animais, mensageiros clássicos de lições de moral e de vida (diga lá, seu Esopo), que ficam muito mais divertidos, porém, quando apenas...divertem. Ainda que em leituras aprofundadas eles possam trazer algum aprendizado, é mais legal quando estão sem amarras muito didáticas. Tipo bicho solto mesmo. Estreia: O cordel encantado de Stênio Gardel Invasão?: Keira Knightley estrela polêmica sobre livro infantil feito por celebridades Um ótimo exemplo de liberdade é “Que bicho é este?”, de Mariza Tavares (Nanabooks, 28 páginas, R$ 56,90). Numa casa em que amigos de pelos e patas não são permitidos pelos pais porque dão muito trabalho, a menina Lili encontrou seu jeito de não ficar sozinha. Página a página vamos conhecendo, com a ajuda dos traços coloridos da ilustradora Liu Olivina, os novos habitantes dos cômodos: o gorifante, grandalhão que combina gorila com elefante e mora na sala; o ursoneirinho, mistura de urso e carneirinho que esbanja fofura na hora de dormir, ou a giraleia, charmosa girafa com rabo de baleia que torna a hora do banho mais animada. Isso sem contar os que moram no jardim. Autora de outros títulos para crianças como “O sofá que engoliu as crianças” e a série dos “Gatos detetives” (esta com José Godoy), Mariza - jornalista que se dedica também à outra ponta da trajetória humana, com obras sobre longevidade e envelhecimento - faz no novo livro um convite explícito para cada criança soltar seu próprio bicho, numa brincadeira que ainda pode render boas risadas em família. Imaginação não tem limite. Capa do livro "Que bicho é este?", de Mariza Tavares Divulgação Outro lançamento que também atiça a imaginação é “Meu coração é um zoológico”, de Michael Hall (Reco-Reco, 32 páginas, R$ 54,90). Com tradução da poeta Marília Garcia, o livro (que já havia sido publicado em 2010, e chega agora sob o novo selo infantil da Record) não mostra bichos imaginários, mas é pura diversão quando percebemos que o leão, a morsa, a coruja e o lobo, entre outros, são totalmente desenhados com corações. O artista diz que usou mais de 300 para criar seu zoológico, e a brincadeira é contar com quantos deles se fez cada bicho. E desenhar outros a partir dessa inspiração. Capa do livro "Meu coração é um zoológico", de Michael Hall Divulgação Na seara do livro com bichos que traz em si uma lição, mas continua divertido, está “Errinho, errão”, de Estevão Azevedo (Brinque-Book, 40 páginas, R$ 64,90). É uma história animada, contada com a ajuda das ótimas ilustrações de Kaká Leal, em que a busca desesperada do menino Theo para ter um animalzinho de estimação em casa vai tomando proporções desastrosas, com um bicho desgovernado engolindo o outro. Dá para consertar o errinho com um errão? Capa do livro "Errinho, errão", de Estevão Azevedo Divulgação Já “Nem todo”, de Marcelo Tolentino (Companhia das Letrinhas, 40 páginas, R$ 64,90), é uma boa oportunidade para levar às crianças o conceito de estereótipo, de que não se deve julgar um pelo todo, reconhecendo diferenças. Tem uma mensagem, mas também diverte. Em breves frases conjugadas a imagens mais realistas dos animais, Tolentino vai dizendo que “nem toda hiena é risonha”, “nem todo gorila é bruto” ou “nem toda tartaruga é tímida”, por exemplo, para chegar à conclusão: isso não é ótimo, realmente maravilhoso? Capa do livro "Nem todo", de Marcelo Tolentino Divulgação Por fim, mas não menos importante, temos “A Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes (Companhia das Letrinhas, 64 páginas, R$ 79,90), com os 32 poemas que vem conquistando leitores desde a década de 1970, e ganharam ainda mais visibilidade com os versos musicados reunidos em dois discos, lançados em 1981 e 1982. Único livro infantil escrito pelo poeta, “A Arca de Noé” (aqui ilustrada por Nelson Cruz) está no imaginário popular. Quem nunca cantarolou “Lá vem o pato/ Pata aqui, pata acolá/ Lá vem o pato/ Para ver o que é que há” ou “Era uma casa/ Muito engraçada/ Não tinha teto/ Não tinha nada”? Mesmo sem saber o nome do santo, embora hoje isso seja bem difícil, todo mundo tem na ponta da língua ao menos um desses versos. Assim como os dois especiais musicais da TV Globo (exibidos em 1981 e 1982) ajudaram a popularizar a obra do poetinha, novas gerações podem descobrir toda a graça dos versos com a animação que chega agora às telonas, e também com a le

Nov 12, 2024 - 08:25
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Toda hora é hora de soltar os bichos

Inventados, reinventados, de estimação ou nem tanto, os animais são sempre um sucesso nas páginas Praticamente onipresentes na literatura para as infâncias, eles servem para falar de tudo um pouco e são a ponte mais eficiente para chegar às mentes e corações das crianças. Os lançamentos que trazem bichos como protagonistas são tantos que renderiam sozinhos um blog à parte, mas aí o espaço viraria uma grande Arca de Noé. Por falar nisso, embora não seja um lançamento, é impossível deixar de mencionar aqui a obra-prima de Vinicius de Moraes, fonte inspiradora para a animação que acaba de chegar ao cinema. Então esse post é mesmo para falar apenas deles, os animais, mensageiros clássicos de lições de moral e de vida (diga lá, seu Esopo), que ficam muito mais divertidos, porém, quando apenas...divertem. Ainda que em leituras aprofundadas eles possam trazer algum aprendizado, é mais legal quando estão sem amarras muito didáticas. Tipo bicho solto mesmo. Estreia: O cordel encantado de Stênio Gardel Invasão?: Keira Knightley estrela polêmica sobre livro infantil feito por celebridades Um ótimo exemplo de liberdade é “Que bicho é este?”, de Mariza Tavares (Nanabooks, 28 páginas, R$ 56,90). Numa casa em que amigos de pelos e patas não são permitidos pelos pais porque dão muito trabalho, a menina Lili encontrou seu jeito de não ficar sozinha. Página a página vamos conhecendo, com a ajuda dos traços coloridos da ilustradora Liu Olivina, os novos habitantes dos cômodos: o gorifante, grandalhão que combina gorila com elefante e mora na sala; o ursoneirinho, mistura de urso e carneirinho que esbanja fofura na hora de dormir, ou a giraleia, charmosa girafa com rabo de baleia que torna a hora do banho mais animada. Isso sem contar os que moram no jardim. Autora de outros títulos para crianças como “O sofá que engoliu as crianças” e a série dos “Gatos detetives” (esta com José Godoy), Mariza - jornalista que se dedica também à outra ponta da trajetória humana, com obras sobre longevidade e envelhecimento - faz no novo livro um convite explícito para cada criança soltar seu próprio bicho, numa brincadeira que ainda pode render boas risadas em família. Imaginação não tem limite. Capa do livro "Que bicho é este?", de Mariza Tavares Divulgação Outro lançamento que também atiça a imaginação é “Meu coração é um zoológico”, de Michael Hall (Reco-Reco, 32 páginas, R$ 54,90). Com tradução da poeta Marília Garcia, o livro (que já havia sido publicado em 2010, e chega agora sob o novo selo infantil da Record) não mostra bichos imaginários, mas é pura diversão quando percebemos que o leão, a morsa, a coruja e o lobo, entre outros, são totalmente desenhados com corações. O artista diz que usou mais de 300 para criar seu zoológico, e a brincadeira é contar com quantos deles se fez cada bicho. E desenhar outros a partir dessa inspiração. Capa do livro "Meu coração é um zoológico", de Michael Hall Divulgação Na seara do livro com bichos que traz em si uma lição, mas continua divertido, está “Errinho, errão”, de Estevão Azevedo (Brinque-Book, 40 páginas, R$ 64,90). É uma história animada, contada com a ajuda das ótimas ilustrações de Kaká Leal, em que a busca desesperada do menino Theo para ter um animalzinho de estimação em casa vai tomando proporções desastrosas, com um bicho desgovernado engolindo o outro. Dá para consertar o errinho com um errão? Capa do livro "Errinho, errão", de Estevão Azevedo Divulgação Já “Nem todo”, de Marcelo Tolentino (Companhia das Letrinhas, 40 páginas, R$ 64,90), é uma boa oportunidade para levar às crianças o conceito de estereótipo, de que não se deve julgar um pelo todo, reconhecendo diferenças. Tem uma mensagem, mas também diverte. Em breves frases conjugadas a imagens mais realistas dos animais, Tolentino vai dizendo que “nem toda hiena é risonha”, “nem todo gorila é bruto” ou “nem toda tartaruga é tímida”, por exemplo, para chegar à conclusão: isso não é ótimo, realmente maravilhoso? Capa do livro "Nem todo", de Marcelo Tolentino Divulgação Por fim, mas não menos importante, temos “A Arca de Noé”, de Vinicius de Moraes (Companhia das Letrinhas, 64 páginas, R$ 79,90), com os 32 poemas que vem conquistando leitores desde a década de 1970, e ganharam ainda mais visibilidade com os versos musicados reunidos em dois discos, lançados em 1981 e 1982. Único livro infantil escrito pelo poeta, “A Arca de Noé” (aqui ilustrada por Nelson Cruz) está no imaginário popular. Quem nunca cantarolou “Lá vem o pato/ Pata aqui, pata acolá/ Lá vem o pato/ Para ver o que é que há” ou “Era uma casa/ Muito engraçada/ Não tinha teto/ Não tinha nada”? Mesmo sem saber o nome do santo, embora hoje isso seja bem difícil, todo mundo tem na ponta da língua ao menos um desses versos. Assim como os dois especiais musicais da TV Globo (exibidos em 1981 e 1982) ajudaram a popularizar a obra do poetinha, novas gerações podem descobrir toda a graça dos versos com a animação que chega agora às telonas, e também com a leitura desse clássico. Para os leitores bem pequeninos, a editora publicou separadamente os poemas mais conhecidos (“A casa”, “O pato” e “A foca”, todos com ilustrações de Silvana Rando) em versões menores, cartonadas, fáceis de serem manipuladas. Capa do livro "A Arca de Noé", de Vinicius de Moraes Divulgação

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