Shevchenko e Sudakov sonham com fim de guerra que devastou futebol da Ucrânia: 'Não jogamos apenas por nós mesmos'
Ídolo do futebol local e promessa do Shakhtar Donetsk refletem sobre os quase três anos de guerra, que destruíram estruturas esportivas e restringiram clubes e torcedores Passados quase três anos da invasão da Rússia à Ucrânia e mais de 1 milhão de mortos e feridos no conflito, segundo dados recentes do Wall Street Journal, o futebol segue como a metáfora da resiliência de um povo que não tem respostas sobre o retorno à normalidade, mas se agarra à esperança de um futuro de paz. Na cúpula do G20, no Rio de Janeiro, a guerra foi citada em um dos itens da declaração final dos chefes de estado, no qual as nações destacaram "o sofrimento humano e os impactos negativos adicionais da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, cadeias de suprimentos, estabilidade macrofinanceira, inflação e crescimento" e saudaram "todas as iniciativas relevantes e construtivas que apoiam uma paz abrangente, justa e duradoura, mantendo todos os Propósitos e Princípios da Carta da ONU para a promoção de relações pacíficas, amigáveis e de boa vizinhança entre as nações". Mesmo em condições longe das exigidas pelo futebol profissional, clubes, jogadores e estrelas do esporte ucraniano se unem para manter viva a paixão nacional e o senso de comunidade. Atualmente, poucos torcedores podem acessar os estádios nos jogos da primeira divisão. O limite tem sido de dois mil espectadores por partida, dependendo da capacidade do local e das condições — muitas estruturas foram atingidas durante bombardeios russos. — Mais de 500 instalações esportivas foram destruídas, representando mais de 60% da infraestrutura esportiva em algumas regiões da Ucrânia (os locais mais atingidos são nas cidades próximas à fronteira com a Rússia) — diz o ex-jogador e ex-treinador da seleção ucraniana, além de atual presidente da Associação Ucraniana de Futebol, Andriy Shevchenko, em entrevista ao GLOBO, que tem usado sua fama internacional para arrecadar fundos, com foco na reconstrução de infraestruturas essenciais, como escolas e centros esportivos.— O futebol serve como uma força unificadora, reunindo as pessoas e oferecendo esperança, mesmo nos momentos mais sombrios. O ídolo ucraniano Shevchenko Reprodução/Instagram É com esse pensamento que a jovem promessa ucraniana Georgiy Sudakov, de apenas 22 anos, encontrou forças para continuar em campo pelo Shakhtar Donetsk, um dos principais times do país e representante na Liga dos Campeões. Longe de casa, na Alemanha, ele foi o autor do gol da vitória da equipe sobre o Young Boys por 2 a 1, no início deste mês. Em virtude do conflito, o Shakhtar, novamente, tem mandado seus jogos da Champions fora da Ucrânia. Em uma logística que não combina com o tamanho do investimento do clube — que foi reduzido pela guerra. Para chegar a Gelsenkirchen, onde fica a Veltins Arena, a delegação pode levar até dois dias em viagens de ônibus. No campeonato nacional, o time teve que abandonar Kiev, e tem enfrentado os adversários em Lviv. A equipe não joga em Donetsk desde 2014, quando a região foi anexada pelos russos durante a Guerra da Crimeia. Sudakov admite o impacto no desempenho dentro de campo. O meio-campista ressalta que hoje não joga futebol apenas por ele mesmo, e alimenta o sonho de um dia ver o Shakhtar de volta à casa. — Não ter um estádio de verdade e em casa é complicado, e as mudanças constantes trazem uma camada de instabilidade. Mas aprendemos a nos adaptar como equipe. Jogamos pelos moradores de Donetsk e pela Ucrânia, mesmo longe. Esse objetivo comum fortalece nosso vínculo e nossa determinação. Um dia, o futebol voltará ao nosso estádio, a Donbass Arena. Eu sonho em jogar pelo Shakhtar em nossa casa verdadeira, em Donetsk. É um sonho ouvir nossos torcedores nos apoiando no nosso próprio estádio — diz o jogador, que, no primeiro momento, pensou somente na segurança da sua família, uma vez que a noiva estava grávida quando a invasão ocorreu. Sudakov com a camisa do Shakhtar Divulgação/Empower Sports Apesar da distância, ele mantém contato com os torcedores do Donetsk pelas redes sociais: — Suas mensagens de apoio significam tudo para nós. Eles nos veem como símbolos da força da Ucrânia. Isso nos lembra que não jogamos apenas por nós mesmos. Reuniões de grandes líderes, como acontece no G20, dão esperança de que o mundo (ou boa parte dele) permaneça de olho no conflito em terras ucranianas. Para Shevchenko, é necessário manter a voz ativa pelo fim da guerra e a solidariedade internacional é fundamental. — O impacto da guerra é devastador, mas os ucranianos são incrivelmente resilientes. Nós encontramos esperança na solidariedade internacional que recebemos e na crença de que a verdade e a justiça prevalecerão. Tenho confiança de que a Ucrânia irá recuperar todos os seus territórios e emergir dessa crise mais forte do que nunca. Assim como a seleção nacional. A equipe tem demonstrado uma determinação incrível em meio a circunstâncias desafiadoras. Eles estão inspirando a nação — diz o
Ídolo do futebol local e promessa do Shakhtar Donetsk refletem sobre os quase três anos de guerra, que destruíram estruturas esportivas e restringiram clubes e torcedores Passados quase três anos da invasão da Rússia à Ucrânia e mais de 1 milhão de mortos e feridos no conflito, segundo dados recentes do Wall Street Journal, o futebol segue como a metáfora da resiliência de um povo que não tem respostas sobre o retorno à normalidade, mas se agarra à esperança de um futuro de paz. Na cúpula do G20, no Rio de Janeiro, a guerra foi citada em um dos itens da declaração final dos chefes de estado, no qual as nações destacaram "o sofrimento humano e os impactos negativos adicionais da guerra no que diz respeito à segurança alimentar e energética global, cadeias de suprimentos, estabilidade macrofinanceira, inflação e crescimento" e saudaram "todas as iniciativas relevantes e construtivas que apoiam uma paz abrangente, justa e duradoura, mantendo todos os Propósitos e Princípios da Carta da ONU para a promoção de relações pacíficas, amigáveis e de boa vizinhança entre as nações". Mesmo em condições longe das exigidas pelo futebol profissional, clubes, jogadores e estrelas do esporte ucraniano se unem para manter viva a paixão nacional e o senso de comunidade. Atualmente, poucos torcedores podem acessar os estádios nos jogos da primeira divisão. O limite tem sido de dois mil espectadores por partida, dependendo da capacidade do local e das condições — muitas estruturas foram atingidas durante bombardeios russos. — Mais de 500 instalações esportivas foram destruídas, representando mais de 60% da infraestrutura esportiva em algumas regiões da Ucrânia (os locais mais atingidos são nas cidades próximas à fronteira com a Rússia) — diz o ex-jogador e ex-treinador da seleção ucraniana, além de atual presidente da Associação Ucraniana de Futebol, Andriy Shevchenko, em entrevista ao GLOBO, que tem usado sua fama internacional para arrecadar fundos, com foco na reconstrução de infraestruturas essenciais, como escolas e centros esportivos.— O futebol serve como uma força unificadora, reunindo as pessoas e oferecendo esperança, mesmo nos momentos mais sombrios. O ídolo ucraniano Shevchenko Reprodução/Instagram É com esse pensamento que a jovem promessa ucraniana Georgiy Sudakov, de apenas 22 anos, encontrou forças para continuar em campo pelo Shakhtar Donetsk, um dos principais times do país e representante na Liga dos Campeões. Longe de casa, na Alemanha, ele foi o autor do gol da vitória da equipe sobre o Young Boys por 2 a 1, no início deste mês. Em virtude do conflito, o Shakhtar, novamente, tem mandado seus jogos da Champions fora da Ucrânia. Em uma logística que não combina com o tamanho do investimento do clube — que foi reduzido pela guerra. Para chegar a Gelsenkirchen, onde fica a Veltins Arena, a delegação pode levar até dois dias em viagens de ônibus. No campeonato nacional, o time teve que abandonar Kiev, e tem enfrentado os adversários em Lviv. A equipe não joga em Donetsk desde 2014, quando a região foi anexada pelos russos durante a Guerra da Crimeia. Sudakov admite o impacto no desempenho dentro de campo. O meio-campista ressalta que hoje não joga futebol apenas por ele mesmo, e alimenta o sonho de um dia ver o Shakhtar de volta à casa. — Não ter um estádio de verdade e em casa é complicado, e as mudanças constantes trazem uma camada de instabilidade. Mas aprendemos a nos adaptar como equipe. Jogamos pelos moradores de Donetsk e pela Ucrânia, mesmo longe. Esse objetivo comum fortalece nosso vínculo e nossa determinação. Um dia, o futebol voltará ao nosso estádio, a Donbass Arena. Eu sonho em jogar pelo Shakhtar em nossa casa verdadeira, em Donetsk. É um sonho ouvir nossos torcedores nos apoiando no nosso próprio estádio — diz o jogador, que, no primeiro momento, pensou somente na segurança da sua família, uma vez que a noiva estava grávida quando a invasão ocorreu. Sudakov com a camisa do Shakhtar Divulgação/Empower Sports Apesar da distância, ele mantém contato com os torcedores do Donetsk pelas redes sociais: — Suas mensagens de apoio significam tudo para nós. Eles nos veem como símbolos da força da Ucrânia. Isso nos lembra que não jogamos apenas por nós mesmos. Reuniões de grandes líderes, como acontece no G20, dão esperança de que o mundo (ou boa parte dele) permaneça de olho no conflito em terras ucranianas. Para Shevchenko, é necessário manter a voz ativa pelo fim da guerra e a solidariedade internacional é fundamental. — O impacto da guerra é devastador, mas os ucranianos são incrivelmente resilientes. Nós encontramos esperança na solidariedade internacional que recebemos e na crença de que a verdade e a justiça prevalecerão. Tenho confiança de que a Ucrânia irá recuperar todos os seus territórios e emergir dessa crise mais forte do que nunca. Assim como a seleção nacional. A equipe tem demonstrado uma determinação incrível em meio a circunstâncias desafiadoras. Eles estão inspirando a nação — diz o eterno ídolo do Milan.
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