Flip 2024: mesa do GLOBO homenageia João do Rio e debate crônica, jornalismo e imortalidade literária

Escritoras convidadas foram Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz Autor homenageado desta edição da Flip, João do Rio foi tema principal da mesa organizada pelo GLOBO, na manhã desta sexta-feira, na Casa da Cultura de Paraty. Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz foram as escritoras convidadas. Além da literatura, as três têm em comum a formação de jornalista, profissão questionada na mesa. A mediação foi de André Miranda, editor executivo do GLOBO. Flip 2024: Felipe Neto diz que se arrependeu de ter divulgado o jogo do tigrinho: 'O maior erro disparado da minha vida' E se João do Rio fosse mulher? Flanar pela cidade, como fazia o cronista, ainda hoje é difícil para elas Com início previsto para as 12h, a mesa “João do Rio: Jornalismo, literatura e imortalidade”, tratou de assuntos ligados à representatividade do cronista, a entrada dele na Academia Brasileira de Letras (ABL), seu estilo próprio de misturar jornalismo e literatura, e também sua presença na identidade e memória brasileiras. A primeira pergunta, direcionada para a pesquisadora Graziella Beting, que é diretora editorial da Carambaia, questionava que jornalista foi João do Rio. — João do Rio ajudou a profissionalizar o jornalismo no Brasil. Ele encontrou formas de misturá-lo à literatura, fazendo algo novo. Decidiu ir para a rua, falar com todo tipo de pessoa, descobrir histórias e a narrar um Rio de Janeiro que ninguém conhecia. É até por isso que ele é considerado o primeiro repórter do Brasil —respondeu Beting. “João do Rio: Jornalismo, literatura e imortalidade”, com Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz. Mediação de André Miranda, editor executivo do GLOBO Márcia Foletto / Agência O Globo À escritora e ensaísta Rosiska, ocupante da cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras desde 2013, foi perguntado sobre a chegada, em 1910, de João do Rio na ABL. — Eu costumo brincar que o discurso de um acadêmico na ABL é sua melhor obra. É um momento de reconhecimento e liberdade, então, de emoções afloradas. E foi o mesmo com João do Rio, que tentou por três vezes ocupar uma cadeira na academia. Era algo que ele queria muito, talvez pelo prestígio, pelo significado — comentou Rosiska. Em seguida, ela leu parte do discurso de posse de João do Rio na ABL , chamando atenção para o trecho: "Não quisestes em tal hora, senhores meus, chamar para vossa companhia e para a cadeira de Laurindo Rabelo alguém que como Laurindo e Guimarães fosse na vida o prisma azul, por onde não se vê a vida. Quisestes, ao contrário, o espectador incompleto dessa sociedade que se constitui". Eliana Alves Cruz, que ganhou o prêmio Jabuti, em 2022, com o livro "A Vestida: contos" (Editora Malê), abordou a representatividade negra de João do Rio: — Se João do Rio tivesse se assumido negro àquela época, teria desaparecido das ruas que ele mesmo retratou, não seria o homenageado da Flip, não estaríamos aqui falando sobre ele. Ainda hoje, em 2024, pessoas negras não se assumem como tal, e isso acontece por diferentes motivos, não só por negação ou vergonha. Muitas vezes, acontece por estratégia, e é isso que eu acho que aconteceu com João do Rio. Estrategicamente, ele não dizia, mas com certeza se sabia como negro. Ele vivia o preconceito. Sobre crônica e jornalismo, as autoras pontuaram que o gênero sempre se fez presente, apesar de, muitas vezes, não ser valorizado como literatura. Rosiska, ao falar sobre o futuro da crônica, pontuou: — O destino da crônica está junto ao do jornalismo. Enquanto houver leitores de jornal, interessados em ver (ou ler) a vida ser contada em voz alta, haverá crônica. Mas se o jornalismo for feito só por algoritmos...

Oct 12, 2024 - 02:28
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Flip 2024: mesa do GLOBO homenageia João do Rio e debate crônica, jornalismo e imortalidade literária

Escritoras convidadas foram Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz Autor homenageado desta edição da Flip, João do Rio foi tema principal da mesa organizada pelo GLOBO, na manhã desta sexta-feira, na Casa da Cultura de Paraty. Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz foram as escritoras convidadas. Além da literatura, as três têm em comum a formação de jornalista, profissão questionada na mesa. A mediação foi de André Miranda, editor executivo do GLOBO. Flip 2024: Felipe Neto diz que se arrependeu de ter divulgado o jogo do tigrinho: 'O maior erro disparado da minha vida' E se João do Rio fosse mulher? Flanar pela cidade, como fazia o cronista, ainda hoje é difícil para elas Com início previsto para as 12h, a mesa “João do Rio: Jornalismo, literatura e imortalidade”, tratou de assuntos ligados à representatividade do cronista, a entrada dele na Academia Brasileira de Letras (ABL), seu estilo próprio de misturar jornalismo e literatura, e também sua presença na identidade e memória brasileiras. A primeira pergunta, direcionada para a pesquisadora Graziella Beting, que é diretora editorial da Carambaia, questionava que jornalista foi João do Rio. — João do Rio ajudou a profissionalizar o jornalismo no Brasil. Ele encontrou formas de misturá-lo à literatura, fazendo algo novo. Decidiu ir para a rua, falar com todo tipo de pessoa, descobrir histórias e a narrar um Rio de Janeiro que ninguém conhecia. É até por isso que ele é considerado o primeiro repórter do Brasil —respondeu Beting. “João do Rio: Jornalismo, literatura e imortalidade”, com Rosiska Darcy de Oliveira, Graziella Beting e Eliana Alves Cruz. Mediação de André Miranda, editor executivo do GLOBO Márcia Foletto / Agência O Globo À escritora e ensaísta Rosiska, ocupante da cadeira 10 da Academia Brasileira de Letras desde 2013, foi perguntado sobre a chegada, em 1910, de João do Rio na ABL. — Eu costumo brincar que o discurso de um acadêmico na ABL é sua melhor obra. É um momento de reconhecimento e liberdade, então, de emoções afloradas. E foi o mesmo com João do Rio, que tentou por três vezes ocupar uma cadeira na academia. Era algo que ele queria muito, talvez pelo prestígio, pelo significado — comentou Rosiska. Em seguida, ela leu parte do discurso de posse de João do Rio na ABL , chamando atenção para o trecho: "Não quisestes em tal hora, senhores meus, chamar para vossa companhia e para a cadeira de Laurindo Rabelo alguém que como Laurindo e Guimarães fosse na vida o prisma azul, por onde não se vê a vida. Quisestes, ao contrário, o espectador incompleto dessa sociedade que se constitui". Eliana Alves Cruz, que ganhou o prêmio Jabuti, em 2022, com o livro "A Vestida: contos" (Editora Malê), abordou a representatividade negra de João do Rio: — Se João do Rio tivesse se assumido negro àquela época, teria desaparecido das ruas que ele mesmo retratou, não seria o homenageado da Flip, não estaríamos aqui falando sobre ele. Ainda hoje, em 2024, pessoas negras não se assumem como tal, e isso acontece por diferentes motivos, não só por negação ou vergonha. Muitas vezes, acontece por estratégia, e é isso que eu acho que aconteceu com João do Rio. Estrategicamente, ele não dizia, mas com certeza se sabia como negro. Ele vivia o preconceito. Sobre crônica e jornalismo, as autoras pontuaram que o gênero sempre se fez presente, apesar de, muitas vezes, não ser valorizado como literatura. Rosiska, ao falar sobre o futuro da crônica, pontuou: — O destino da crônica está junto ao do jornalismo. Enquanto houver leitores de jornal, interessados em ver (ou ler) a vida ser contada em voz alta, haverá crônica. Mas se o jornalismo for feito só por algoritmos...

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