Flip 2024: 'A gente faz cobrança independente de qual governo for', diz líder indígena Txai Suruí
Cacique Raoni ia participar de mesa com a jovem, mas cancelou por questões de saúde Era para ser um momento histórico na Flip: a troca de experiências entre o cacique Raoni, de 92 anos, uma das maiores lideranças indígenas do mundo, e Txai Suruí, de 26, uma das mais celebradas dos últimos anos. "Febre" e "dor de garganta", como Raoni disse num vídeo enviado à produção da festa, o impossibilitaram de ir a Paraty, mas a jovem segurou sozinha mais de uma hora de conversa com o jornalista Guilherme Freitas, fazendo a plateia de emocionar com seus relatos de luta e rir com suas tiradas. — Vocês vão comprar se eu ler tudo? — disse ela, depois de recitar boa parte do poema que está em "Canção do amor", lançado na Flip pela editora Elo. — Acabou o tempo (risos). Mas Txai, que nasceu na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, também falou muito sério. Principalmente ao criticar os Poderes Executivo, Legislativo (o atual "Congresso nacional é mais bolsonarista do que o do governo Bolsonaro", disse) e Judiciário ("STF também quer fazer uma conciliação com os nossos direitos") na condução de questões como a demarcação de terras indígenas e políticas de mudança do clima. — O próprio Lula foi lá na reunião das Nações Unidas e cobrou dos outros países ambição — disse ela, sobre o discurso do presidente na Assembleia Geral da ONU, em setembro. —Mas ele cobrou isso enquanto o nosso povo continua sendo assassinado, enquanto ele quer continuar explorando o petróleo na Amazônia. Não é um governo genocida como era o do Bolsonaro, mas a gente tem que continuar e vai continuar fazendo pressão. A gente sabe, por exemplo, que o ministro Rui Costa, da Casa Civil, é uma dessas pessoas que vem barrando as demarcações dentro do governo. A gente faz essa cobrança e continua fazendo essa cobrança, independente de qual governo que for. Eleita pela revista "Time" uma das 100 lideranças mundiais da nova geração, em 2023, a estudante de direito falou sobre a importância da candidatura de pessoas indígenas e compartilhou a experiência do pai, o líder Almir Suruí, e da mãe, a ativista Neidinha Suruí, como postulantes nesta última eleição. Almir tentou o cargo de prefeito de Cacoal pelo PDT e Neidinha, de vereadora em Porto Velho pela Rede. Nenhum dos dois foi eleito. — Vi como que a sociedade ainda é muito racista. Chorei pela forma como as pessoas estavam tratando meu pai e a minha mãe por serem indígenas. Porque ainda olham a gente nesse olhar de incapacidade. Eles falam: "para que o índio quer se prefeito?". A jovem ficou bastante emocionada ao falar de lideranças que foram assassinadas justamente por lutar pela causa da terra e do meio ambiente. Um deles é Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena de 33 anos que foi assassinado em 17 de abril de 2020 e cuja história está presente em "O território", documentário do Disney+ que teve Txai como uma das produtoras executivas e que mostra os embates entre indígenas e fazendeiros na área Uru-eu-wau-wau, atual estado de Rondônia. — O Ari foi assassinado por ser um guardião da floresta. Ele foi assassinado por defender esse território e por defender o seu povo — contou Txai, ressaltando que a participação efetiva de indígenas na produção, concepção e divulgação do filme ajudou com que parte do crime fosse esclarecido. — Os mandantes ainda não foram presos, mas a pessoa que cometeu o assassinato foi. Se não fosse a nossa cobrança, a nossa luta, se não fosse a gente denunciando em todos os lugares, não teria a resposta pelo menos daquele que cometeu o crime. Muitos outros defensores indígenas foram assassinados e não há investigação. Cadê o assassino da Nega Pataxó? Cadê os assassinos dos jovens Guarani-Kaiowá, que foram assassinados no último mês ? Cadê a justiça nesse país para aqueles que são defensores da vida? Txai volta à tenda principal da Flip no sábado, às 21h30, na mesa extra "Cessar o fogo", com o analista ambiental e escritor Pablo Casella. Eles vão discutir as urgências climáticas a partir das queimadas que arrasaram o país nos últimos meses.
Cacique Raoni ia participar de mesa com a jovem, mas cancelou por questões de saúde Era para ser um momento histórico na Flip: a troca de experiências entre o cacique Raoni, de 92 anos, uma das maiores lideranças indígenas do mundo, e Txai Suruí, de 26, uma das mais celebradas dos últimos anos. "Febre" e "dor de garganta", como Raoni disse num vídeo enviado à produção da festa, o impossibilitaram de ir a Paraty, mas a jovem segurou sozinha mais de uma hora de conversa com o jornalista Guilherme Freitas, fazendo a plateia de emocionar com seus relatos de luta e rir com suas tiradas. — Vocês vão comprar se eu ler tudo? — disse ela, depois de recitar boa parte do poema que está em "Canção do amor", lançado na Flip pela editora Elo. — Acabou o tempo (risos). Mas Txai, que nasceu na Terra Indígena Sete de Setembro, em Rondônia, também falou muito sério. Principalmente ao criticar os Poderes Executivo, Legislativo (o atual "Congresso nacional é mais bolsonarista do que o do governo Bolsonaro", disse) e Judiciário ("STF também quer fazer uma conciliação com os nossos direitos") na condução de questões como a demarcação de terras indígenas e políticas de mudança do clima. — O próprio Lula foi lá na reunião das Nações Unidas e cobrou dos outros países ambição — disse ela, sobre o discurso do presidente na Assembleia Geral da ONU, em setembro. —Mas ele cobrou isso enquanto o nosso povo continua sendo assassinado, enquanto ele quer continuar explorando o petróleo na Amazônia. Não é um governo genocida como era o do Bolsonaro, mas a gente tem que continuar e vai continuar fazendo pressão. A gente sabe, por exemplo, que o ministro Rui Costa, da Casa Civil, é uma dessas pessoas que vem barrando as demarcações dentro do governo. A gente faz essa cobrança e continua fazendo essa cobrança, independente de qual governo que for. Eleita pela revista "Time" uma das 100 lideranças mundiais da nova geração, em 2023, a estudante de direito falou sobre a importância da candidatura de pessoas indígenas e compartilhou a experiência do pai, o líder Almir Suruí, e da mãe, a ativista Neidinha Suruí, como postulantes nesta última eleição. Almir tentou o cargo de prefeito de Cacoal pelo PDT e Neidinha, de vereadora em Porto Velho pela Rede. Nenhum dos dois foi eleito. — Vi como que a sociedade ainda é muito racista. Chorei pela forma como as pessoas estavam tratando meu pai e a minha mãe por serem indígenas. Porque ainda olham a gente nesse olhar de incapacidade. Eles falam: "para que o índio quer se prefeito?". A jovem ficou bastante emocionada ao falar de lideranças que foram assassinadas justamente por lutar pela causa da terra e do meio ambiente. Um deles é Ari Uru-Eu-Wau-Wau, indígena de 33 anos que foi assassinado em 17 de abril de 2020 e cuja história está presente em "O território", documentário do Disney+ que teve Txai como uma das produtoras executivas e que mostra os embates entre indígenas e fazendeiros na área Uru-eu-wau-wau, atual estado de Rondônia. — O Ari foi assassinado por ser um guardião da floresta. Ele foi assassinado por defender esse território e por defender o seu povo — contou Txai, ressaltando que a participação efetiva de indígenas na produção, concepção e divulgação do filme ajudou com que parte do crime fosse esclarecido. — Os mandantes ainda não foram presos, mas a pessoa que cometeu o assassinato foi. Se não fosse a nossa cobrança, a nossa luta, se não fosse a gente denunciando em todos os lugares, não teria a resposta pelo menos daquele que cometeu o crime. Muitos outros defensores indígenas foram assassinados e não há investigação. Cadê o assassino da Nega Pataxó? Cadê os assassinos dos jovens Guarani-Kaiowá, que foram assassinados no último mês ? Cadê a justiça nesse país para aqueles que são defensores da vida? Txai volta à tenda principal da Flip no sábado, às 21h30, na mesa extra "Cessar o fogo", com o analista ambiental e escritor Pablo Casella. Eles vão discutir as urgências climáticas a partir das queimadas que arrasaram o país nos últimos meses.
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