Evandro Teixeira uniu talento, audácia e sorte dos grandes fotógrafos
Obra do baiano de Irajuba saiu dos jornais para os livros de história Evandro Teixeira tinha a mistura de talento, audácia e sorte que marca os grandes repórteres fotográficos. Em 1964, jogava vôlei na praia com um turma que incluía um capitão do Exército. Na madrugada do golpe, o militar bateu em sua porta e o incentivou a se infiltrar no Forte de Copacabana. “Se você for pego, a gente não se conhece. Topa?”. Claro que ele topou. Escondeu a Leica na jaqueta, bateu continência e se passou por um oficial à paisana. Vencido o sentinela, sacou a câmera e registrou discretamente a movimentação das tropas. A foto de um soldado na chuva, à espera da resistência que não houve, foi parar na capa do Jornal do Brasil. Passadas seis décadas, ainda é a imagem mais conhecida do nascimento da ditadura. Em 1965, o fotógrafo acompanhava uma comitiva oficial no Aterro do Flamengo quando um motociclista da FAB começou a fazer piruetas para se exibir. Ele intuiu que a brincadeira acabaria mal, debruçou-se na janela da Rural Willys e preparou o clique. Apertou o disparador no exato instante em que o militar, numa cena de pastelão, caía de bunda no asfalto. Dois anos depois, Evandro cobria uma solenidade em memória da Guerra do Paraguai. Enquanto os colegas registravam o desfile, flagrou duas libélulas pousadas sobre as pontas das baionetas. Na manhã seguinte, o presidente Costa e Silva quis saber por que os insetos, e não ele, tinham ido para a primeira página. O fotógrafo levou um sermão do marechal e teve que passar a noite no xadrez. Em 1968, Evandro cobria uma passeata no Centro do Rio quando se viu diante de um estudante em fuga. A foto se tornaria um símbolo da violência da repressão. O jovem, assustado, perde o equilíbrio e vê os óculos voarem. Os policiais, inclementes, erguem os cassetetes para golpeá-lo. Com a imprensa sob vigilância, o fotógrafo teve que recorrer à criatividade para fazer seu trabalho. Um truque comum era esconder os negativos nas meias para escapar das revistas. “Milico é sabido, mas não é tão sabido assim. Nós somos mais sabidos do que eles”, brincou, em depoimento recente ao Instituto Moreira Salles, que recebeu seu acervo. Baiano de Irajuba, Evandro era falante, brincalhão e apaixonado pelo ofício. Morreu na segunda-feira, aos 88 anos, aclamado como o nosso fotojornalista maior. Foi velado na Cinelândia, cenário de algumas de suas imagens que saíram dos jornais para os livros de história. A história nas lentes de Evandro Teixeira
Obra do baiano de Irajuba saiu dos jornais para os livros de história Evandro Teixeira tinha a mistura de talento, audácia e sorte que marca os grandes repórteres fotográficos. Em 1964, jogava vôlei na praia com um turma que incluía um capitão do Exército. Na madrugada do golpe, o militar bateu em sua porta e o incentivou a se infiltrar no Forte de Copacabana. “Se você for pego, a gente não se conhece. Topa?”. Claro que ele topou. Escondeu a Leica na jaqueta, bateu continência e se passou por um oficial à paisana. Vencido o sentinela, sacou a câmera e registrou discretamente a movimentação das tropas. A foto de um soldado na chuva, à espera da resistência que não houve, foi parar na capa do Jornal do Brasil. Passadas seis décadas, ainda é a imagem mais conhecida do nascimento da ditadura. Em 1965, o fotógrafo acompanhava uma comitiva oficial no Aterro do Flamengo quando um motociclista da FAB começou a fazer piruetas para se exibir. Ele intuiu que a brincadeira acabaria mal, debruçou-se na janela da Rural Willys e preparou o clique. Apertou o disparador no exato instante em que o militar, numa cena de pastelão, caía de bunda no asfalto. Dois anos depois, Evandro cobria uma solenidade em memória da Guerra do Paraguai. Enquanto os colegas registravam o desfile, flagrou duas libélulas pousadas sobre as pontas das baionetas. Na manhã seguinte, o presidente Costa e Silva quis saber por que os insetos, e não ele, tinham ido para a primeira página. O fotógrafo levou um sermão do marechal e teve que passar a noite no xadrez. Em 1968, Evandro cobria uma passeata no Centro do Rio quando se viu diante de um estudante em fuga. A foto se tornaria um símbolo da violência da repressão. O jovem, assustado, perde o equilíbrio e vê os óculos voarem. Os policiais, inclementes, erguem os cassetetes para golpeá-lo. Com a imprensa sob vigilância, o fotógrafo teve que recorrer à criatividade para fazer seu trabalho. Um truque comum era esconder os negativos nas meias para escapar das revistas. “Milico é sabido, mas não é tão sabido assim. Nós somos mais sabidos do que eles”, brincou, em depoimento recente ao Instituto Moreira Salles, que recebeu seu acervo. Baiano de Irajuba, Evandro era falante, brincalhão e apaixonado pelo ofício. Morreu na segunda-feira, aos 88 anos, aclamado como o nosso fotojornalista maior. Foi velado na Cinelândia, cenário de algumas de suas imagens que saíram dos jornais para os livros de história. A história nas lentes de Evandro Teixeira
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