Escolas promovem ações e campanhas para conter crescimento de consumo de vape entre jovens no Brasil
Prevenção é o foco das iniciativas, que alertam para perigos nem sempre conhecidos dos dispostivos Apesar da proibição da venda de cigarros eletrônicos no país, em vigor desde 2009, o número de brasileiros de 18 a 24 anos que já usaram estes dispositivos aumentou de 19,7% para 23,9% no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde. Por ser visual e socialmente mais atraente, o vape é visto pela área médica como uma porta de entrada para o tabagismo, o que tem levado educadores a investir em campanhas de esclarecimento e prevenção no ambiente escolar. As redes estadual e municipal de ensino do Rio e também instituições particulares têm trabalhado para conscientizar crianças e adolescentes e desmentir a propaganda falaciosa que a indústria do fumo tenta perpetuar: a de que os cigarros eletrônicos são menos nocivos do que os comuns, e que seu uso, portanto, seria uma forma de reduzir os danos à saúde. — A indústria do tabaco divulgou no mundo todo essa inverdade, sendo que os dispositivos contêm um número imenso de substâncias cancerígenas. Além de induzir às doenças já conhecidas às quais o cigarro tradicional induz, levam também a doenças novas. É o caso da Evali (lesão pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico, caracterizada por falta de ar, tosse e dor no peito e denominada assim em 2019, nos Estados Unidos) — ressalta o cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer. — Inflamações graves de pulmão estão levando jovens a óbito. Kit antivape A entidade, que defende a realização de campanhas educativas nacionais, lançou em agosto, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Fumo, a campanha “Se liga na vida, seja um vape off”, em parceria com universidades e escolas. Um kit informativo antivape vem sendo disponibilizado on-line, como forma de incentivar professores a abordar o tema em sala de aula. — Sabemos que a população jovem é o alvo da indústria. A gente tem a obrigação de procurar todas as formas de chegar a esse público e sensibilizá-lo, para que não seja iludido pelos formatos modernos e aromas agradáveis. O conteúdo de nicotina é altíssimo, e o vício vem muito rapidamente — reforça Maltoni. Nacionalmente, as campanhas e ações de combate aos cigarros eletrônicos focadas na população jovem são conduzidas pelo Programa Saúde na Escola (PSE), dos ministérios da Saúde e Educação, com a participação da comunidade escolar, das equipes de atenção básica e da educação básica pública. O objetivo é prevenir o uso de tabaco e outras drogas. O governo federal mantém ainda o Programa Saber Saúde, uma iniciativa do Ministério da Saúde, gerida pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), para formar profissionais da educação e da saúde na prevenção do tabagismo com crianças e adolescentes nas escolas. Nas escolas públicas fluminenses, os calendários já incluem datas de mobilização de estudantes e esclarecimento quanto aos riscos dos cigarros eletrônicos e convencionais. Estado e município estimulam ações para que o tema seja tratado da forma mais adequada para cada faixa etária. Em geral, os alunos não costumam ser refratários ao “papo sério”, diz Fabíola Marra, diretora do Colégio Estadual Missionário Mário Way, na zona oeste da capital. — O retorno é bacana; eles recebem muito bem as conversas, nos ouvem. Falamos não só dos riscos dos cigarros eletrônico e tradicional, mas também de drogas, doenças sexualmente transmissíveis e outros temas. Acreditamos que a prevenção tem sido eficaz — avalia a diretora. Aluno do terceiro ano do ensino médio do colégio, Mario Victor da Silva Couto, de 16 anos, acha as campanhas proveitosas: — Nunca fumei cigarro algum, nem vou fumar. Deus me livre! A gente está na escola para aprender não só português e matemática, mas também questões de saúde. Toda informação é útil. Aula sobre os malefícios do cigarro eletrônico no Instituto Gay Lussac Divulgação Bolhas de consumo A psicóloga Ana Helena Rissin, da equipe do Programa de Controle de Tabagismo da Secretaria de Saúde carioca, lembra que não só os alunos são impactados pelo movimento antitabagista, mas também os responsáveis, que podem acabar financiando o mau hábito sem sequer saberem. Ela celebra o fato de o produto seguir proibido no país. E sublinha que, apesar da percepção de que o vape está se popularizando na população jovem como um todo, o consumo se dá em “bolhas”, seja no Rio, em São Paulo e outros estados. — Este ano, estivemos em mais de cem escolas da cidade do Rio. Mostramos reportagens atuais, apresentamos influenciadores digitais que falam do assunto nas redes sociais. A gente reforça que o cigarro eletrônico é proibido, porque tem muita gente que desconhece isso. Importante também que os pais saibam que aquele produto que parece um pen drive, de papelaria, é perigosíssimo — pontua Ana Helena. Considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma das principais causas de mortes evitáveis no mundo, o tabagismo é classificado como uma doença pediátrica. Isso porque a m
Prevenção é o foco das iniciativas, que alertam para perigos nem sempre conhecidos dos dispostivos Apesar da proibição da venda de cigarros eletrônicos no país, em vigor desde 2009, o número de brasileiros de 18 a 24 anos que já usaram estes dispositivos aumentou de 19,7% para 23,9% no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde. Por ser visual e socialmente mais atraente, o vape é visto pela área médica como uma porta de entrada para o tabagismo, o que tem levado educadores a investir em campanhas de esclarecimento e prevenção no ambiente escolar. As redes estadual e municipal de ensino do Rio e também instituições particulares têm trabalhado para conscientizar crianças e adolescentes e desmentir a propaganda falaciosa que a indústria do fumo tenta perpetuar: a de que os cigarros eletrônicos são menos nocivos do que os comuns, e que seu uso, portanto, seria uma forma de reduzir os danos à saúde. — A indústria do tabaco divulgou no mundo todo essa inverdade, sendo que os dispositivos contêm um número imenso de substâncias cancerígenas. Além de induzir às doenças já conhecidas às quais o cigarro tradicional induz, levam também a doenças novas. É o caso da Evali (lesão pulmonar associada ao uso do cigarro eletrônico, caracterizada por falta de ar, tosse e dor no peito e denominada assim em 2019, nos Estados Unidos) — ressalta o cirurgião oncológico Luiz Augusto Maltoni, diretor executivo da Fundação do Câncer. — Inflamações graves de pulmão estão levando jovens a óbito. Kit antivape A entidade, que defende a realização de campanhas educativas nacionais, lançou em agosto, por ocasião do Dia Nacional de Combate ao Fumo, a campanha “Se liga na vida, seja um vape off”, em parceria com universidades e escolas. Um kit informativo antivape vem sendo disponibilizado on-line, como forma de incentivar professores a abordar o tema em sala de aula. — Sabemos que a população jovem é o alvo da indústria. A gente tem a obrigação de procurar todas as formas de chegar a esse público e sensibilizá-lo, para que não seja iludido pelos formatos modernos e aromas agradáveis. O conteúdo de nicotina é altíssimo, e o vício vem muito rapidamente — reforça Maltoni. Nacionalmente, as campanhas e ações de combate aos cigarros eletrônicos focadas na população jovem são conduzidas pelo Programa Saúde na Escola (PSE), dos ministérios da Saúde e Educação, com a participação da comunidade escolar, das equipes de atenção básica e da educação básica pública. O objetivo é prevenir o uso de tabaco e outras drogas. O governo federal mantém ainda o Programa Saber Saúde, uma iniciativa do Ministério da Saúde, gerida pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA), para formar profissionais da educação e da saúde na prevenção do tabagismo com crianças e adolescentes nas escolas. Nas escolas públicas fluminenses, os calendários já incluem datas de mobilização de estudantes e esclarecimento quanto aos riscos dos cigarros eletrônicos e convencionais. Estado e município estimulam ações para que o tema seja tratado da forma mais adequada para cada faixa etária. Em geral, os alunos não costumam ser refratários ao “papo sério”, diz Fabíola Marra, diretora do Colégio Estadual Missionário Mário Way, na zona oeste da capital. — O retorno é bacana; eles recebem muito bem as conversas, nos ouvem. Falamos não só dos riscos dos cigarros eletrônico e tradicional, mas também de drogas, doenças sexualmente transmissíveis e outros temas. Acreditamos que a prevenção tem sido eficaz — avalia a diretora. Aluno do terceiro ano do ensino médio do colégio, Mario Victor da Silva Couto, de 16 anos, acha as campanhas proveitosas: — Nunca fumei cigarro algum, nem vou fumar. Deus me livre! A gente está na escola para aprender não só português e matemática, mas também questões de saúde. Toda informação é útil. Aula sobre os malefícios do cigarro eletrônico no Instituto Gay Lussac Divulgação Bolhas de consumo A psicóloga Ana Helena Rissin, da equipe do Programa de Controle de Tabagismo da Secretaria de Saúde carioca, lembra que não só os alunos são impactados pelo movimento antitabagista, mas também os responsáveis, que podem acabar financiando o mau hábito sem sequer saberem. Ela celebra o fato de o produto seguir proibido no país. E sublinha que, apesar da percepção de que o vape está se popularizando na população jovem como um todo, o consumo se dá em “bolhas”, seja no Rio, em São Paulo e outros estados. — Este ano, estivemos em mais de cem escolas da cidade do Rio. Mostramos reportagens atuais, apresentamos influenciadores digitais que falam do assunto nas redes sociais. A gente reforça que o cigarro eletrônico é proibido, porque tem muita gente que desconhece isso. Importante também que os pais saibam que aquele produto que parece um pen drive, de papelaria, é perigosíssimo — pontua Ana Helena. Considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) uma das principais causas de mortes evitáveis no mundo, o tabagismo é classificado como uma doença pediátrica. Isso porque a maior parte dos fumantes se torna dependente até os 19 anos. No caso dos vapes, dados recentes mostram que entre as principais motivações mencionadas pelos novos usuários são a curiosidade e o desejo de seguir o modismo. — Isso nos preocupa há alguns anos, porque os jovens estão experimentando muito mais do que as gerações mais velhas. Acham charmoso. E o público feminino aumentou muito: as meninas fumam vape tanto quanto os meninos, e com o cigarro tradicional nunca foi assim — lamenta. Entre iguais Na rede pública, uma aposta para a sensibilização de garotos e garotas é a participação da Rede de Adolescentes e Jovens Promotores (RAP) da Saúde, formada por agentes multiplicadores de 14 a 24 anos que usam de linguagem informal, “de igual para igual”, além de vídeos, oficinas, esquetes de teatro e brincadeiras nas ações educativas. No Instituto GayLussac, instituição particular, em Niterói, o debate sobre os perigos do vape ganhou espaço no ano passado na disciplina sobre direitos humanos e cidadania, a partir do 9º ano do ensino fundamental. A ideia nasceu depois que duas meninas tiveram a iniciativa de apresentar um projeto sobre a indústria do fumo. O coordenador do ensino médio, Marcello Rangel, acredita que apenas um ou outro estudante tenha noção da gravidade dos efeitos maléficos do cigarro eletrônico. — Exibimos para eles uma entrevista da presidente da Sociedade Brasileira de Pneumologia, Margareth Dalcolmo, em que ela dizia que pulmões de adolescentes que usam o vape podem ser comparados a de idosos fumantes — conta Rangel. — Existem muitas pressões parlamentares favoráveis ao vape. Mesmo com a Anvisa dizendo que não é bom, que o sistema de saúde vai se onerar lá na frente, ainda se faz audiência pública. Não há uma ação governamental nesse sentido. Então, é de suma importância as escolas abordarem esse assunto.
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