De recifes de corais a vacas e florestas: Micróbios podem ser chave na luta contra mudanças climáticas, defendem cientistas

Tecnologias com microorganismos podem ajudar a capturar e fixar CO2 e metano, fazer despoluição, recuperar áreas degradadas, produzir bioenergia e tratar ecossistemas e animais doentes Probióticos para recuperar a saúde de corais embranquecidos pelo aquecimento dos mares. Microbiomaterapia para vacas eliminarem menos metano na flatulência. Fábricas vivas de energia e micróbios capazes de absorver e fixar mais CO2 no solo de florestas e plantações. Todos são exemplos de microbioterapias para tratar o clima do planeta e foram apresentados por uma força-tarefa de cientistas numa publicação simultânea em 14 grandes revistas internacionais, como a Nature e a Communications Biology. OMM: COP29 começa no Azerbaijão com alerta de que 2024 deverá ser o ano mais quente já registrado no mundo COP29: Calor extremo, fenômenos meteorológicos incontroláveis ​​e poluição representam ameaça crescente à saúde Responsáveis pela metade do oxigênio produzido no mundo, microrganismos podem também ajudar a combater as mudanças climáticas e a amenizar seus efeitos, frisaram os cientistas. O chamado à ação teve uma inédita publicação simultânea e será apresentado na COP29, em Baku, no Azerbaijão. Na carta aberta, representando 24 instituições de todos os continentes, eles expuseram uma série de tecnologias que podem ajudar a capturar e fixar CO2 e metano, fazer despoluição, recuperar áreas degradadas, produzir bioenergia e tratar ecossistemas e animais doentes devido ao calor. — Cortar emissões de gases-estufa continua sendo absolutamente necessário, mas há uma série de soluções biotecnológicas inspiradas pela natureza e baseadas em ciência que podem contribuir, tanto na bioeconomia quanto em transição energética. São medidas complementares e não excludentes, que podem gerar renda e negócios. Mas têm sido praticamente ignoradas — afirma a microbiologista brasileira Raquel Peixoto, à frente da iniciativa e presidente da Sociedade Internacional de Ecologia Microbiana. Estudo: Consequências serão 'irreversíveis' se temperatura média aumentar mais de 1,5ºC Peixoto é a líder da delegação da Sociedade Internacional de Recifes de Corais na COP 29, em Baku. Veterana de COPs, ela conta que se ressentia da falta de participação das áreas biológicas na busca de soluções para a crise climática. — Pedimos a governos e empresas que aproveitem o poder dos micróbios para enfrentar a emergência climática. E nos colocamos à disposição para ajudar. A crise climática é o maior dos problemas da Humanidade, mas temos muitas inovações para mitigação e adaptação. É preciso haver mais ciência na busca de soluções e temos como contribuir. Nem tudo é problema — frisa a cientista, que desenvolve um trabalho com corais no Mar Vermelho na Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (Kaust, na Arábia Saudita). Análise: Eleição de Trump é previsão de mau tempo para políticas de combate às mudanças climáticas Há um número incontável de microrganismos na Terra, a maioria deles desconhecidos. Estão em toda parte e sem eles não há vida. Cerca de 50% do oxigênio provém do fitoplâncton oceânico. Apenas uma espécie, a bactéria Prochlorococcus, o menor organismo fotossintético da Terra, produz até 20% do oxigênio de toda a biosfera. Isso é mais do que todas as florestas tropicais combinadas, diz a Administração de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa, na sigla em inglês). Pesquisadora Raquel Peixoto trata com probióticos corais embranquecidos pelo aquecimento do Mar Vermelho Divulgação — Clima e microrganismos são indissociáveis, ainda assim nunca são lembrados. Isso é um erro. Vimos que nosso papel como cientistas era mudar esse cenário. Estamos aqui voluntariamente para ajudar — assegura Peixoto. O grupo dela é um dos que testa um probiótico para recuperar as cores e a saúde de corais vítimas do aquecimento em recifes do Mar Vermelho. Aquecimento global: Trump incentivará combustíveis fósseis em segundo mandato, dizem analistas — Vimos que não apenas eles se recuperam como também há benefícios para outros animais dos recifes. O aquecimento mata algas e bactérias benéficos dos quais os corais dependem. Os probióticos restauram o equilíbrio. É o tipo de solução que pode ser usado por comunidades costeiras que dependem dos recifes para a pesca e turismo, por exemplo — diz Peixoto. Ela lembra que microrganismos desempenham um papel crucial, mas frequentemente ignorado, no sistema climático. Eles regulam os ciclos biogeoquímicos do planeta, são responsáveis por captura e transformação de gases de efeito estufa, e controlam o fluxo do carbono em ecossistemas terrestres e aquáticos. “A maioria dos organismos, de seres humanos a corais, depende de um microbioma que auxilia na aquisição de nutrientes, na defesa contra patógenos e em outras funções”, diz o artigo. — Há uma infinidade de soluções baseadas em micróbios para os problemas climáticos, mas não são implementadas de forma eficaz em grande escala, de maneira segura e coordenada, integrando as nece

Nov 13, 2024 - 04:53
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De recifes de corais a vacas e florestas: Micróbios podem ser chave na luta contra mudanças climáticas, defendem cientistas

Tecnologias com microorganismos podem ajudar a capturar e fixar CO2 e metano, fazer despoluição, recuperar áreas degradadas, produzir bioenergia e tratar ecossistemas e animais doentes Probióticos para recuperar a saúde de corais embranquecidos pelo aquecimento dos mares. Microbiomaterapia para vacas eliminarem menos metano na flatulência. Fábricas vivas de energia e micróbios capazes de absorver e fixar mais CO2 no solo de florestas e plantações. Todos são exemplos de microbioterapias para tratar o clima do planeta e foram apresentados por uma força-tarefa de cientistas numa publicação simultânea em 14 grandes revistas internacionais, como a Nature e a Communications Biology. OMM: COP29 começa no Azerbaijão com alerta de que 2024 deverá ser o ano mais quente já registrado no mundo COP29: Calor extremo, fenômenos meteorológicos incontroláveis ​​e poluição representam ameaça crescente à saúde Responsáveis pela metade do oxigênio produzido no mundo, microrganismos podem também ajudar a combater as mudanças climáticas e a amenizar seus efeitos, frisaram os cientistas. O chamado à ação teve uma inédita publicação simultânea e será apresentado na COP29, em Baku, no Azerbaijão. Na carta aberta, representando 24 instituições de todos os continentes, eles expuseram uma série de tecnologias que podem ajudar a capturar e fixar CO2 e metano, fazer despoluição, recuperar áreas degradadas, produzir bioenergia e tratar ecossistemas e animais doentes devido ao calor. — Cortar emissões de gases-estufa continua sendo absolutamente necessário, mas há uma série de soluções biotecnológicas inspiradas pela natureza e baseadas em ciência que podem contribuir, tanto na bioeconomia quanto em transição energética. São medidas complementares e não excludentes, que podem gerar renda e negócios. Mas têm sido praticamente ignoradas — afirma a microbiologista brasileira Raquel Peixoto, à frente da iniciativa e presidente da Sociedade Internacional de Ecologia Microbiana. Estudo: Consequências serão 'irreversíveis' se temperatura média aumentar mais de 1,5ºC Peixoto é a líder da delegação da Sociedade Internacional de Recifes de Corais na COP 29, em Baku. Veterana de COPs, ela conta que se ressentia da falta de participação das áreas biológicas na busca de soluções para a crise climática. — Pedimos a governos e empresas que aproveitem o poder dos micróbios para enfrentar a emergência climática. E nos colocamos à disposição para ajudar. A crise climática é o maior dos problemas da Humanidade, mas temos muitas inovações para mitigação e adaptação. É preciso haver mais ciência na busca de soluções e temos como contribuir. Nem tudo é problema — frisa a cientista, que desenvolve um trabalho com corais no Mar Vermelho na Universidade de Ciência e Tecnologia Rei Abdullah (Kaust, na Arábia Saudita). Análise: Eleição de Trump é previsão de mau tempo para políticas de combate às mudanças climáticas Há um número incontável de microrganismos na Terra, a maioria deles desconhecidos. Estão em toda parte e sem eles não há vida. Cerca de 50% do oxigênio provém do fitoplâncton oceânico. Apenas uma espécie, a bactéria Prochlorococcus, o menor organismo fotossintético da Terra, produz até 20% do oxigênio de toda a biosfera. Isso é mais do que todas as florestas tropicais combinadas, diz a Administração de Oceanos e Atmosfera dos EUA (Noaa, na sigla em inglês). Pesquisadora Raquel Peixoto trata com probióticos corais embranquecidos pelo aquecimento do Mar Vermelho Divulgação — Clima e microrganismos são indissociáveis, ainda assim nunca são lembrados. Isso é um erro. Vimos que nosso papel como cientistas era mudar esse cenário. Estamos aqui voluntariamente para ajudar — assegura Peixoto. O grupo dela é um dos que testa um probiótico para recuperar as cores e a saúde de corais vítimas do aquecimento em recifes do Mar Vermelho. Aquecimento global: Trump incentivará combustíveis fósseis em segundo mandato, dizem analistas — Vimos que não apenas eles se recuperam como também há benefícios para outros animais dos recifes. O aquecimento mata algas e bactérias benéficos dos quais os corais dependem. Os probióticos restauram o equilíbrio. É o tipo de solução que pode ser usado por comunidades costeiras que dependem dos recifes para a pesca e turismo, por exemplo — diz Peixoto. Ela lembra que microrganismos desempenham um papel crucial, mas frequentemente ignorado, no sistema climático. Eles regulam os ciclos biogeoquímicos do planeta, são responsáveis por captura e transformação de gases de efeito estufa, e controlam o fluxo do carbono em ecossistemas terrestres e aquáticos. “A maioria dos organismos, de seres humanos a corais, depende de um microbioma que auxilia na aquisição de nutrientes, na defesa contra patógenos e em outras funções”, diz o artigo. — Há uma infinidade de soluções baseadas em micróbios para os problemas climáticos, mas não são implementadas de forma eficaz em grande escala, de maneira segura e coordenada, integrando as necessárias avaliações de risco e considerações éticas — diz Peixoto. Ela menciona como exemplo promissor da capacidade de capturar CO2 um estudo liderado pela Universidade de Cornell (EUA) e publicado este ano pela Nature. O trabalho mostrou como otimizar a fixação de carbono no solo por bactérias por meio de sistemas de inteligência artificial. Já a Universidade da Califórnia, por exemplo, desenvolveu um probiótico para abelhas adoecidas por bactérias que se multiplicam estimuladas pelo calor. As abelhas doentes deixam de ser polinizadoras e levam a perdas agrícolas. O probiótico devolve a microbiota natural das abelhas e as ajuda a se recuperar. Grupos da China, dos EUA e da Europa testam manipulações do microbioma dos bovinos para fazer com que eliminem menos metano ao arrotar. Em média, uma vaca emite 500 litros de metano por dia. E a Universidade de Pisa, na Itália, tem estudos para reduzir a emissão de metano por aterros sanitários por meio da aplicação de bactérias que degradam esse gás. — É possível também acelerar a restauração de florestas e áreas degradadas ou poluídas. São centenas de tecnologias e países como o Brasil têm um grande potencial. Queremos estimular a vontade política e estamos nos voluntariando para isso — diz Peixoto. Na carta aberta, os pesquisadores disseram que “é hora de eliminar a burocracia e reunir um grupo de trabalho global para ajudar a testar, financiar e implementar essas tecnologias.” A apresentação oficial da força-tarefa na COP29 será feita na semana que vem.

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