Corrupção, assédio e manipulação: metade dos brasileiros é 'flexível' com práticas antiéticas no trabalho
Pesquisa avaliou como 22 mil profissionais de 174 empresas reagiam a desvios no ambiente corporativo Três em cada quatro profissionais brasileiros teriam dificuldades em dizer “não” caso recebessem um pedido de manipulação de dados para maquiar resultados de uma empresa. A maioria, cerca de três quintos, também poderia ceder em situações de corrupção indireta, que envolvessem, por exemplo, favorecer negócios de amigos ou receber vantagens indevidas para fechar um contrato. Um estudo do Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC) sobre ética no setor privado revela que, embora muitos tentem manter a integridade, apenas uma minoria dos profissionais tem plena capacidade de resistir, em todas as circunstâncias, a ganhos indevidos ou a comportamentos questionáveis nas empresas. O levantamento mostra que, em média, 50,2% dos profissionais brasileiros apresentam uma espécie de “flexibilidade ética” quando confrontados com situações que envolvem corrupção corporativa, discriminação ou assédio. "Essa flexibilidade ética sugere que muitos profissionais estão dispostos a comprometer seus valores sob certas circunstâncias,", explica o IPRC. Para medir o nível de resiliência ética dos profissionais brasileiros, de conselheiros e diretores a estagiários e analistas, a pesquisa analisou resultados de testes aplicados ao longo de seis anos com a participação de 22,3 mil pessoas de 174 empresas. A coleta de dados foi conduzida pela S2 Consultoria, especializada em compliance. Ao todo, a pesquisa avaliou a capacidade dos profissionais enfrentarem sete práticas de risco: desvio de recursos, corrupção, manipulação de resultados, vazamento de informações, assédio moral, assédio sexual e discriminação. Os dados foram coletados a partir de entrevistas de vídeo e texto, em que os trabalhadores tinham que decidir como agir em situações simuladas. — Muita gente pode imaginar que a maioria esmagadora das pessoas é honesta e vai agir de forma ética, mas não é isso que os resultados mostram. O que a gente vê é que a metade dos profissionais age nem sempre sob seus princípios, mas sob pressão — diz Renato Santos, co-fundador do IPRC Brasil, e um dos responsáveis pelo estudo, sobre o resultado geral da pesquisa. As respostas foram classificadas em três níveis, a partir da capacidade que os profissionais demonstraram de lidar com comportamentos antiéticos: alta resiliência (forte capacidade de manter decisões éticas); moderada resiliência (predisposição positiva, mas que falha sob cenários mais complexos ou de pressão); baixa resiliência (quem tende a ceder na maioria dos casos). Três quintos são corruptíveis Em geral, profissionais mais jovens e em níveis hierárquicos mais iniciantes foram os mais suscetíveis em casos de desvios de recursos, manipulação de resultados e corrupção. Por outro lado, esses grupos apresentaram mais resiliência ao se depararem com práticas de assédio moral e discriminação. No geral, apenas 41% dos trabalhadores resistiriam a situações de corrupção, enquanto 12% tendem a sucumbir e 47% poderiam agir de forma flexível conforme as circunstâncias. Três em cada quatro profissionais sem experiência têm alta vulnerabilidade a práticas como favorecer empresas de amigos em contratos ou aceitar presentes em troca de decisões comerciais. Entre profissionais de mais de 50 anos, 56% poderia realizar a prática em algumas situações, percentual que sobe para 62% entre trabalhadores de até 29 anos. Renato Santos, co-fundador do IPRC Brasil, ressalta que, independentemente da idade, o percentual de profissionais corruptíveis é alto. Ele destaca que a própria percepção do que é corrupção é turva e nem sempre dimensionada pelas empresas: — As pessoas têm muito uma ideia de que corrupção tem a ver apenas com suborno para ente público ou propina. Mas há outras práticas, como conflito de interesses, ao favorecer o serviço de familiares, ou presentes — ressalta Santos, que acrescenta que profissionais de nível tático (que inclui coordenadores, gestores operacionais e especialistas) são os mais corruptíveis de acordo com o estudo. Em situações de assédio, no entanto, o cenário geracional é o inverso. Entre todos os grupos, mais da metade (54%) tem resiliência baixa ou moderada para lidar com casos de assédio moral, o que pode incluir a ridicularização pública de um funcionário ou a perseguição. De acordo com os pesquisadores, as gerações mais velhas tendem a praticar cerca de 13% mais assédio moral do que as mais jovens. 69% manipulariam resultados Um dos piores indicadores da pesquisa é o que testa a conduta de profissionais sob pressão para manipulação de resultados. Apenas 25% dos profissionais afirmaram que não alterariam dados em nenhuma circunstância, como no caso de relatórios financeiros, por exemplo. Em contrapartida, 69% poderiam fazê-lo dependendo da situação, e 6% provavelmente adotariam a prática. Santos chama a atenção que, apesar das mulheres apresentarem mais resiliência ética na maioria
Pesquisa avaliou como 22 mil profissionais de 174 empresas reagiam a desvios no ambiente corporativo Três em cada quatro profissionais brasileiros teriam dificuldades em dizer “não” caso recebessem um pedido de manipulação de dados para maquiar resultados de uma empresa. A maioria, cerca de três quintos, também poderia ceder em situações de corrupção indireta, que envolvessem, por exemplo, favorecer negócios de amigos ou receber vantagens indevidas para fechar um contrato. Um estudo do Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental (IPRC) sobre ética no setor privado revela que, embora muitos tentem manter a integridade, apenas uma minoria dos profissionais tem plena capacidade de resistir, em todas as circunstâncias, a ganhos indevidos ou a comportamentos questionáveis nas empresas. O levantamento mostra que, em média, 50,2% dos profissionais brasileiros apresentam uma espécie de “flexibilidade ética” quando confrontados com situações que envolvem corrupção corporativa, discriminação ou assédio. "Essa flexibilidade ética sugere que muitos profissionais estão dispostos a comprometer seus valores sob certas circunstâncias,", explica o IPRC. Para medir o nível de resiliência ética dos profissionais brasileiros, de conselheiros e diretores a estagiários e analistas, a pesquisa analisou resultados de testes aplicados ao longo de seis anos com a participação de 22,3 mil pessoas de 174 empresas. A coleta de dados foi conduzida pela S2 Consultoria, especializada em compliance. Ao todo, a pesquisa avaliou a capacidade dos profissionais enfrentarem sete práticas de risco: desvio de recursos, corrupção, manipulação de resultados, vazamento de informações, assédio moral, assédio sexual e discriminação. Os dados foram coletados a partir de entrevistas de vídeo e texto, em que os trabalhadores tinham que decidir como agir em situações simuladas. — Muita gente pode imaginar que a maioria esmagadora das pessoas é honesta e vai agir de forma ética, mas não é isso que os resultados mostram. O que a gente vê é que a metade dos profissionais age nem sempre sob seus princípios, mas sob pressão — diz Renato Santos, co-fundador do IPRC Brasil, e um dos responsáveis pelo estudo, sobre o resultado geral da pesquisa. As respostas foram classificadas em três níveis, a partir da capacidade que os profissionais demonstraram de lidar com comportamentos antiéticos: alta resiliência (forte capacidade de manter decisões éticas); moderada resiliência (predisposição positiva, mas que falha sob cenários mais complexos ou de pressão); baixa resiliência (quem tende a ceder na maioria dos casos). Três quintos são corruptíveis Em geral, profissionais mais jovens e em níveis hierárquicos mais iniciantes foram os mais suscetíveis em casos de desvios de recursos, manipulação de resultados e corrupção. Por outro lado, esses grupos apresentaram mais resiliência ao se depararem com práticas de assédio moral e discriminação. No geral, apenas 41% dos trabalhadores resistiriam a situações de corrupção, enquanto 12% tendem a sucumbir e 47% poderiam agir de forma flexível conforme as circunstâncias. Três em cada quatro profissionais sem experiência têm alta vulnerabilidade a práticas como favorecer empresas de amigos em contratos ou aceitar presentes em troca de decisões comerciais. Entre profissionais de mais de 50 anos, 56% poderia realizar a prática em algumas situações, percentual que sobe para 62% entre trabalhadores de até 29 anos. Renato Santos, co-fundador do IPRC Brasil, ressalta que, independentemente da idade, o percentual de profissionais corruptíveis é alto. Ele destaca que a própria percepção do que é corrupção é turva e nem sempre dimensionada pelas empresas: — As pessoas têm muito uma ideia de que corrupção tem a ver apenas com suborno para ente público ou propina. Mas há outras práticas, como conflito de interesses, ao favorecer o serviço de familiares, ou presentes — ressalta Santos, que acrescenta que profissionais de nível tático (que inclui coordenadores, gestores operacionais e especialistas) são os mais corruptíveis de acordo com o estudo. Em situações de assédio, no entanto, o cenário geracional é o inverso. Entre todos os grupos, mais da metade (54%) tem resiliência baixa ou moderada para lidar com casos de assédio moral, o que pode incluir a ridicularização pública de um funcionário ou a perseguição. De acordo com os pesquisadores, as gerações mais velhas tendem a praticar cerca de 13% mais assédio moral do que as mais jovens. 69% manipulariam resultados Um dos piores indicadores da pesquisa é o que testa a conduta de profissionais sob pressão para manipulação de resultados. Apenas 25% dos profissionais afirmaram que não alterariam dados em nenhuma circunstância, como no caso de relatórios financeiros, por exemplo. Em contrapartida, 69% poderiam fazê-lo dependendo da situação, e 6% provavelmente adotariam a prática. Santos chama a atenção que, apesar das mulheres apresentarem mais resiliência ética na maioria das situações analisadas, as profissionais cedem mais a pressão do que os homens no caso de adulteração de números: — A nossa avaliação é de que esse é um resultado que tem a ver com machismo, já que geralmente a mulher é mais cobrada do que os homens para apresentar resultados e conquistar seu espaço. A nossa leitura é que o fato de estar em uma situação mais vulnerável influencia essa decisão —explica o co-fundador do IPRC Brasil. Entre as lideranças, o pior indicador de resiliência ética foi registrado nos casos de vazamento de informações. Mais da metade dos conselheiros, sócios e diretores compartilharia dados sigilosos para obter vantagens pessoais ou exporia nformações estratégicas para beneficiar parceiros. Entre todos os grupos de profissionais, 53% não compartilhariam informações em nenhuma circunstância, enquanto 37% correriam algum risco de fazê-lo e 10% muito provavelmente agiriam dessa forma. Em relação ao assédio sexual, o estudo destaca que 40% dos profissionais não reagiriam caso vissem uma situação dessa acontecer com colegas de trabalho. O estudo também mostra que os homens têm maior tendência à prática e também a se omitirem ao testemunharem comportamentos desrespeitosos no ambiente corporativo. Entre as dimensões analisadas, discriminação foi aquela em que os profissionais brasileiros se saíram melhor em relação a conduta ética - 76% tiveram conduta inegociável ao lidar com tratamento desigual envolvendo raça, gênero, orientação sexual ou deficência. — Os números são bons e esse aparece como o desvio menos propenso a ser prático. Mostra que as pessoas estão letradas e mais preocupadas com isso, ou seja, já sabem qual é a resposta correta para a situação. Ainda assim, tenho dúvidas se é algo que também praticam — pondera o pesquisador, que acrescenta que mais pesquisas são necessárias para avaliar esse quesito.
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