Brasileirão no Divã: 'Não pode fazer só uma coisa, senão fica pra trás', diz Bernardo Franco, técnico caçula da Série A

Jovem treinador do Cuiabá, que encara o Botafogo, expõe desafios da nova safra e busca sonho distante da família e da mãe com câncer: 'Maior medo é não viver intensamente' Sonhos, medos, saudades, alegrias, tristezas. Os sentimentos que comumente aparecem em sessões de terapia também têm o seu lugar em um campo de futebol. A série “Brasileirão no Divã” – que em 2023 ouviu jogadores de quase todos os clubes do torneio, em conversas sobre anseios, arrependimentos e questões de saúde mental — volta em 2024 renovada, agora com novos entrevistados e, por certo, novos debates. O que sentem os treinadores da competição? Como isso afeta o trabalho? Como a pressão do cargo afeta suas vidas pessoais? Ao longo de nove meses de campeonato, o GLOBO vai sentar os “professores” no divã. Serão bate-papos em que o futebol estará presente, mas não como assunto principal. Aos 38 anos, Bernardo Franco é o caçula entre os técnicos da Série A. Ao longo dos últimos anos, viu a profissão ser questionada no Brasil e a avalanche de treinadores estrangeiros no país. Em vez de refutar, se aliou e aprendeu com eles. O desafio no Cuiabá, adversário de hoje do líder Botafogo, surgiu depois de o profissional ser auxiliar do clube junto ao português Antônio Oliveira, com quem também trabalhou no Corinthians. A trajetória de 12 anos na base Athletico-PR consolidou o curitibano como potencial nome da nova safra. E veio a hora do voo solo. A partir daí, a vida do treinador mudou. E para isso, ele precisou lidar com a saudade da filha, Mirella, de seis anos, e acompanhar de longe a luta da mãe contra um câncer. "Talvez jovens treinadores as vezes não tenham essa condição, então vai ter que se arriscar um pouco mais, engatar um trabalho no outro, e aí é um risco que você corre. Porque você muitas das vezes nessas situações você não consegue escolher o melhor contexto pra se inserir, e aí você é vítima, refém um pouco do contexto do clube, e nem sempre o trabalho do treinador ele é suficiente pra resolver os problemas do clube, tem muitas outras coisas que interferem", conta. Bernardo Franco trabalhou na base de vários clubes e como auxiliar Divulgação Como é sentar na cadeira como técnico da Série A pela primeira vez? É, esse (a pressão) é um cuidado que a gente tem que ter, o futebol te dá muitas coisas, mas ele te tira também. Então é um preço alto que se paga para estar nesse nível e muitas das vezes a família é quem sofre mais, a gente tenta minimizar isso da melhor maneira possível, são ligações diárias por vídeo, mensagens, aí a gente procura não exceder muito tempo sem estar pessoalmente juntos, então eu já cheguei a passar mais de 90 dias distante, mas, assim, 60 dias, 40 dias a gente tenta, ou eu consigo encaixar uma ida para casa, 2, 3 dias, ou eles vêm para cá e passam dois, três dias e a gente vai levando dessa maneira. Além de ficar longe da filha você lida com sua mãe doente. Quem segura as pontas? Minha esposa Ana Claudia tem também o trabalho dela em Curitiba. Ela é dona de loja. Tenho meu sogro, minha sogra, minha mãe, todos próximos. Acabei comprando um apartamento pra minha mãe morar ali, quase que esquina com a minha casa, pra que ela pudesse estar perto da minha filha, minha mãe tem lutado contra o câncer, então foi importante pra ela estar perto da minha filha, foi uma renovação de energias pra ela e tem sido bom pra todo mundo, nessa minha ausência. Ela tem feito os tratamentos, alguns já surtiram efeito, outros não, está nessa luta já faz mais de seis anos, mas está bem, forte, tá lutando. Meu pai é vivo, mas separado, não fica tão próximo, mas quando dá ele aparece pra visitar. Tenho irmão mais novo, ele dá esse suporte pra minha mãe. E também quando precisa ele aparece lá pra visitar a minha filha, passar o dia com ela. A Mirela sofre, porque essas datas especiais a gente dificilmente consegue estar presente, então é a mãe fazendo a figura de pai ali a todo instante. Como você se preparou pra esse voo solo? Tem que tipo de ajuda pra você individualmente? Eu tenho também pessoas que me ajudam nesse sentido (psicológico), que estão em contato semanal, volta e meia a gente tem trocado assim, feedbacks até, para que a gente possa estar evoluindo em todas as esferas. Para você poder liderar um grupo de pessoas, você tem que primeiro estar bem consigo mesmo. Você tem que estar muito bem para que você consiga atrair o melhor dos outros, então é um cuidado que também eu tenho. É um trabalho importante que eu dou muita atenção para que eu também consiga ter abordagens com os nossos atletas que são diferentes, , a gente trabalha com jogadores com formações pessoais diferentes, alguns experientes, outros novatos, alguns com dificuldade de adaptação, problemas extracampo, então nós vamos identificando isso e tentando ter abordagens de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Cuidar do lado humano, tanto do seu time, como seu, é por ai? A ideia é exatamente essa, a gente conseguir sair um pouco da figura treinador, das

Nov 9, 2024 - 09:05
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Brasileirão no Divã: 'Não pode fazer só uma coisa, senão fica pra trás', diz Bernardo Franco, técnico caçula da Série A

Jovem treinador do Cuiabá, que encara o Botafogo, expõe desafios da nova safra e busca sonho distante da família e da mãe com câncer: 'Maior medo é não viver intensamente' Sonhos, medos, saudades, alegrias, tristezas. Os sentimentos que comumente aparecem em sessões de terapia também têm o seu lugar em um campo de futebol. A série “Brasileirão no Divã” – que em 2023 ouviu jogadores de quase todos os clubes do torneio, em conversas sobre anseios, arrependimentos e questões de saúde mental — volta em 2024 renovada, agora com novos entrevistados e, por certo, novos debates. O que sentem os treinadores da competição? Como isso afeta o trabalho? Como a pressão do cargo afeta suas vidas pessoais? Ao longo de nove meses de campeonato, o GLOBO vai sentar os “professores” no divã. Serão bate-papos em que o futebol estará presente, mas não como assunto principal. Aos 38 anos, Bernardo Franco é o caçula entre os técnicos da Série A. Ao longo dos últimos anos, viu a profissão ser questionada no Brasil e a avalanche de treinadores estrangeiros no país. Em vez de refutar, se aliou e aprendeu com eles. O desafio no Cuiabá, adversário de hoje do líder Botafogo, surgiu depois de o profissional ser auxiliar do clube junto ao português Antônio Oliveira, com quem também trabalhou no Corinthians. A trajetória de 12 anos na base Athletico-PR consolidou o curitibano como potencial nome da nova safra. E veio a hora do voo solo. A partir daí, a vida do treinador mudou. E para isso, ele precisou lidar com a saudade da filha, Mirella, de seis anos, e acompanhar de longe a luta da mãe contra um câncer. "Talvez jovens treinadores as vezes não tenham essa condição, então vai ter que se arriscar um pouco mais, engatar um trabalho no outro, e aí é um risco que você corre. Porque você muitas das vezes nessas situações você não consegue escolher o melhor contexto pra se inserir, e aí você é vítima, refém um pouco do contexto do clube, e nem sempre o trabalho do treinador ele é suficiente pra resolver os problemas do clube, tem muitas outras coisas que interferem", conta. Bernardo Franco trabalhou na base de vários clubes e como auxiliar Divulgação Como é sentar na cadeira como técnico da Série A pela primeira vez? É, esse (a pressão) é um cuidado que a gente tem que ter, o futebol te dá muitas coisas, mas ele te tira também. Então é um preço alto que se paga para estar nesse nível e muitas das vezes a família é quem sofre mais, a gente tenta minimizar isso da melhor maneira possível, são ligações diárias por vídeo, mensagens, aí a gente procura não exceder muito tempo sem estar pessoalmente juntos, então eu já cheguei a passar mais de 90 dias distante, mas, assim, 60 dias, 40 dias a gente tenta, ou eu consigo encaixar uma ida para casa, 2, 3 dias, ou eles vêm para cá e passam dois, três dias e a gente vai levando dessa maneira. Além de ficar longe da filha você lida com sua mãe doente. Quem segura as pontas? Minha esposa Ana Claudia tem também o trabalho dela em Curitiba. Ela é dona de loja. Tenho meu sogro, minha sogra, minha mãe, todos próximos. Acabei comprando um apartamento pra minha mãe morar ali, quase que esquina com a minha casa, pra que ela pudesse estar perto da minha filha, minha mãe tem lutado contra o câncer, então foi importante pra ela estar perto da minha filha, foi uma renovação de energias pra ela e tem sido bom pra todo mundo, nessa minha ausência. Ela tem feito os tratamentos, alguns já surtiram efeito, outros não, está nessa luta já faz mais de seis anos, mas está bem, forte, tá lutando. Meu pai é vivo, mas separado, não fica tão próximo, mas quando dá ele aparece pra visitar. Tenho irmão mais novo, ele dá esse suporte pra minha mãe. E também quando precisa ele aparece lá pra visitar a minha filha, passar o dia com ela. A Mirela sofre, porque essas datas especiais a gente dificilmente consegue estar presente, então é a mãe fazendo a figura de pai ali a todo instante. Como você se preparou pra esse voo solo? Tem que tipo de ajuda pra você individualmente? Eu tenho também pessoas que me ajudam nesse sentido (psicológico), que estão em contato semanal, volta e meia a gente tem trocado assim, feedbacks até, para que a gente possa estar evoluindo em todas as esferas. Para você poder liderar um grupo de pessoas, você tem que primeiro estar bem consigo mesmo. Você tem que estar muito bem para que você consiga atrair o melhor dos outros, então é um cuidado que também eu tenho. É um trabalho importante que eu dou muita atenção para que eu também consiga ter abordagens com os nossos atletas que são diferentes, , a gente trabalha com jogadores com formações pessoais diferentes, alguns experientes, outros novatos, alguns com dificuldade de adaptação, problemas extracampo, então nós vamos identificando isso e tentando ter abordagens de acordo com a necessidade de cada indivíduo. Cuidar do lado humano, tanto do seu time, como seu, é por ai? A ideia é exatamente essa, a gente conseguir sair um pouco da figura treinador, das especificidades da função, mas olhar para o ser humano ali, entender como que a gente consegue humanizar mais ali a nossa prática, de maneira geral. É, eu sinto assim que o treinador, ele é um cara que precisa ter os seus escapes, para que ele possa estar sempre mentalmente bem, então cada um vai encontrar, às vezes em alguma situação, a sua maneira de se extravasar. Eu sou um cara também muito família, não trouxe minha família para cá, tenho me dedicado 24 horas para o clube, morado aqui próximo. Estou sozinho, trouxe dois auxiliares comigo. É um internato, é, a gente vem aqui, oito da manhã a gente está no clube, sai oito da noite e a gente vive 24 horas para tentar fazer o melhor trabalho possível. Estamos aí contra o tempo, , pela nossa luta atualmente na tabela. Mas é um trabalho que dá prazer também, isso é o nosso combustível, então, tem que agradecer e tentar sempre encontrar soluções. A gente conscientemente faz um sacrifício, , para que a gente possa ter mais oportunidades, abrir um mercado, , a gente se preparou muito para viver esse momento. Como você chegou até aqui? Técnico do Cuiabá Divulgação Eu, como a maioria aí dos meninos, com 10, 11 anos, tinha o sonho de ser jogador de futebol. Sou natural de Curitiba, então passei nas categorias de base do Coritiba, Athlético, era goleiro na época. Fui ali até os meus 21 anos, nessa tentativa de se tornar um atleta profissional de futebol. E eu tive a oportunidade de, paralelo a isso, cursar Educação Física. Chegou um momento que eu optei por finalizar o meu curso, a minha graduação, e conheci um professor na faculdade que já tinha um projeto de futebol na cidade, me convidou pra trabalhar. Então, muito jovem, eu inicio já a minha trajetória como treinador, na época até começando com treinamento de goleiros, mas eu sempre tive a intenção de ser treinador e comecei a aproximar mais dos treinadores, aprender um pouco mais. Fui atrás das minhas licenças da CBF, tenho a licença PRO da Conmebol. E mais de 12 anos atuando no Athlético Paranaense nas categorias de formação, me paralelo a isso também com convocações pra seleção de base, onde a gente foi campeão sul-americano, tive o privilégio de trabalhar com o Paulo Vitor, que hoje é auxiliar do André Jardine, fomos campeões sul-americanos, uma geração talentosíssima, , que é a geração 2004, 2005, , então monitorávamos todos esses atletas. E nesse processo, em 2020, o Paulo Autuori retornou pro Athlético Paranaense, já nos conhecíamos das passagens anteriores dele no clube, e o clube tava num momento de dificuldade na zona do rebaixamento, e ele me convida logo que ele chega pra que eu seja um auxiliar dele, junto com o Antônio Oliveira, conseguimos fazer uma recuperação histórica, conseguindo classificação pra pré-Libertadores naquele ano, saindo da zona do rebaixamento, foi minha primeira experiência lidando com essa situação, de instabilidade, de incerteza. A partir daí, tanto eu como o Antônio, a gente acaba saindo, ele retorna a Portugal e eu inicio um trabalho com o Atlético Mineiro, como treinador de sub-20, a convite do Erasmo Damiani, também do Rodrigo Caetano, naquela altura, e três meses após isso, acaba que o Antônio recebe um convite pra vir pro Brasil pra ser o treinador do Cuiabá e me convida pra ser o seu auxiliar. Então, já nos conhecíamos, já tínhamos algumas afinidades, e eu também tinha o interesse de trabalhar com um treinador português pra entender mais a metodologia da escola portuguesa e em 2022 a gente consegue fazer um bom trabalho de manutenção da equipe, então mais uma vez, lutando ali pra manter uma equipe na primeira divisão da Série A. Depois recebemos um convite pra ir pro Coritiba, fomos pra lá e iniciamos um trabalho ali que se encerrou logo no início do Brasileiro e acabamos retornando em 2023 pro Cuiabá, então já mais adaptados, ao clube, à cidade, conseguimos rapidamente encaixar o trabalho, fizemos uma temporada muito segura, a melhor temporada do clube até então, e acabamos indo pro Corinthians no final dessa temporada. E aí encerrou o nosso ciclo no Corinthians e o Cuiabá me fez um convite pra que eu viesse a ser o treinador principal, então eu sempre me preparei pra isso. O Antônio também é um cara muito consciente disso, sabia que em algum momento isso iria acontecer e a gente tinha combinado, então foi muito natural, ainda mais vindo pro Cuiabá, que é um clube que a gente tem uma identificação grande. Jogadores também já me conheciam, então isso facilitou todo o processo de adaptação. Então a gente resgatou algumas ideias, iniciou um trabalho de recuperação e a gente tá nessa briga aí até o final do campeonato, lutando pra tentar reverter o quadro. Essa pressão de não ser rebaixado interfere como? Técnico no Brasil tem que ser bombeiro? O que vem na cabeça é que você consiga primeiro identificar quais são as necessidades da equipe, aquilo que você consegue rapidamente corrigir, pra que você primeiro tenha o resultado. Hoje o treinador vive de resultados, mas pra que você chegue lá, você precisa ter alguns processos que te levam ao resultado, então, entender quais eram as necessidades da equipe, o que que a gente conseguiria corrigir no curto prazo, identificar o nível de confiança, como estava a questão mental deles. Além do resultado, o treinador precisa entregar alguma coisa pro jogador, a geração que a gente trabalha tem muito acesso à informação e eles são muito críticos, então eles querem quantidade de informações, eles querem informações rápidas, eles querem qualidade das informações. Hoje um jogador de futebol tem um staff que trabalha pra ele, busca profissionais pra trabalhar com ele no contra turno, fora do clube, na parte física, na parte de desenvolvimento tático, emocional. Eles têm muito acesso à informação, existem muitas pessoas que influenciam o jogador, então você tem que conseguir ter um acesso muito grande a ele, entregar aquilo que, quando ele vê que você tem, como você pode ajudá-lo, ser melhor jogador, que ele consiga subir de nível, ele vai comprar a tua ideia. Hoje, o que eu procuro muito é isso, eu tenho vários profissionais que me ajudam, que às vezes nem estão diretamente ligados ao meu trabalho aqui no clube, mas que analisam dados, desempenhos, mercado, estão antenados a tudo, referências externas, a gente tem consumido aí o que tem de melhor no nosso mundo do futebol pra que a gente possa estar sempre atualizado e possa estar municiando os nossos atletas de boas informações e tentando fazer o nosso trabalho ainda melhor. Hoje a gente tem aqui no clube o staff fixo na casa, eles facilitam muito, então a gente usa muito eles no dia-a-dia, cada um dentro da sua área. Mas eu também tenho pessoas em outras áreas, tanto da parte mental como da parte desempenho, análise de dados de mercado que também me auxiliam com informações do externo, pra que eu possa também estar antenado a tudo que tem acontecido. Hoje o jogador tem chegado no profissional e percebido, ainda mais nesse nível da Série A, que o futebol hoje existe uma exigência muito grande, em todas as vertentes. Então aquele jogador que não se prepara, não usa a estrutura do clube, que também não busca uma estrutura fora, paralela, ele vai ficando pra trás, e ele espera isso também do treinador, entende? Então assim, se você não tem essas informações rápidas e qualificadas, , e filtradas pra que você possa inserir ela no seu dia-a-dia, alimentar outros jogadores disso, você vai ficando pra trás, infelizmente. Assim que eu tenho visto o futebol, , a parte tecnológica veio pra agregar e a gente tem que saber utilizar essas ferramentas da melhor maneira possível. Um trabalho que a gente já tem internamente no clube, , então eles estão focados em olhar pra nossa equipe, olhar pros adversários, , isso é um trabalho, , normal nos clubes. Mas, por exemplo, eu tenho profissionais que me trazem, por exemplo, atualizações dos jogos das principais ligas do mundo, entende, com recortes, ideias, , do que está sendo feito na primeira liga, o que está sendo feito na liga italiana, na liga francesa, enfim, as ligas que a gente tem mais interesse, de acordo com alguns treinadores também que a gente direciona, a gente tem algumas referências externas de treinadores que nos interessam, então é feito um compilado normalmente desses materiais, , e semanalmente eu recebo, tenho estudo, olho, então são materiais curtos, , que são de fácil acesso, mas que tem muita informação e qualidade ali que pode nos ajudar. Além de um trabalho, por exemplo, de scout, , que também é feito e deixa a gente sempre atualizado ali das oportunidades de mercado, jogadores, , que podem se encaixar dentro de uma ideia de jogo atual, entende, coisas nesse sentido, para que a gente não fique refém só, às vezes do departamento do clube ou de um olhar de um diretor, enfim, de alguém específico, então a gente amplia isso, então traz possibilidades para o clube, a gente qualifica essa informação. Então não tem essa de que o treinador brasileiro está atrás em relação aos estrangeiros? A competência não tem idade nem nacionalidade. Então, profissionais competentes, a gente tem tanto os jovens como os mais experientes, tanto lá em Portugal como aqui no Brasil. Existem também os treinadores argentinos, que têm também trabalhado aqui no nosso mercado. Sinceramente, eu vejo que a geração de treinadores brasileiros, alguns têm tido algumas oportunidades e tem outros tantos que eu conheço que também estão preparados para viver esse momento. A renovação é boa, tem vários profissionais competentes e preparados, é questão mesmo de oportunidade. Assim como a gente vê jovens jogadores se destacando porque eles precisam desse espaço. E eu acho que o mercado começa a perceber isso. Eu entendo que essa vinda, essa globalização do nosso mercado aqui foi importante para que a gente entendesse aquilo que faltava para alguns profissionais em termos de metodologia, em termos de pensamento, ideia de jogo, cultura de futebol. Então isso também mexeu, na minha opinião, com a própria imprensa. Que começou a ver coisas diferentes e conseguiu aprofundar mais ou olhar para algumas questões e também houve uma troca, ? Então eu penso que isso é importante, A vinda de profissionais estrangeiros pra cá... Nem todos deram certo, Não é garantia de sucesso, nem todos fizeram bons trabalhos, Mas eu entendo que foi importante para que se pudesse também quebrar alguns paradigmas, entende? E a gente pudesse romper algumas barreiras. E os jovens profissionais aparecessem, porque a geração que eu conheço da minha idade ali, um pouquinho a mais, um pouquinho a menos, ela já vem se preparando há muito tempo e consumindo muito essa metodologia também, não só de Portugal, como a Argentina, tem vários profissionais que já fizeram os cursos da AFA, A gente tem acesso, então houve uma troca e a CBF Academy ela procurou em alguns momentos trazer essas culturas pra dentro do curso, fazer esse intercâmbio, então como eu falei, hoje em dia, a informação, a tecnologia está à disposição que se você se organizar e quiser, você consegue estar muito antenado e consumir o que há de melhor em alto nível, entende? Há um dilema entre ser auxiliar e interino em grandes clubes? Qual a hora para tentar o voo solo? Tive convites pra ser auxiliar de outros treinadores tanto no Brasil como fora mas eu entendi que esse era um caminho que talvez não me aproximasse de viver o que eu tô vivendo hoje, né? Essas experiências aí elas vão nos tornando profissionais melhores, né? E o que eu penso assim, que o treinador hoje ele tem que ser um cara muito completo até em termos de ideias de jogo, porque você tem que ter a capacidade de se adaptar à cultura do clube as características dos atletas. Você não pode ter um sistema de jogo definido, mas tem que ter capacidade de transitar entre sistemas de jogo que encaixam as melhores peças, as características dos jogadores. O que eu vejo que é muito importante hoje é você ter princípios e padrões e comportamentos de jogo claros dentro da tua ideia, mas o futebol evoluiu tanto que está muito híbrido, então você não pode mais só fazer uma coisa. Hoje você precisa saber marcar pressão alta, você precisa saber marcar por zona, você precisa saber marcar por encaixes e perseguições por setor, enfim, você não pode fazer um jogo também com posse de bola só jogo curto, só jogo apoiado só um jogo posicional então você precisa ter repertório para que você explore o máximo as características dos jogadores que você tem no teu elenco e entender também o momento que você se encontra dentro da competição e qual é a cultura do clube. Então esse é um grande desafio para o treinador, porque se o treinador ficar muito preso a uma maneira de jogar eu acho que ele vai restringir muito o seu mercado de trabalho esse é um grande desafio para mim e para os treinadores eu tenho visto isso muito e tenho me preparado para estar pronto para qualquer cenário. Eu acho que o grande desafio é esse, até o Felipe Luis se você perceber os poucos jogos que eu acompanhei dele no momento que ele precisou defender mais baixo, defender até com linha de 5, que no Flamengo não é uma coisa comum, ele fez porque ele está percebendo a necessidade, ele é um cara inteligente, tem tido boas leituras, então quando ele precisa ser ofensivo, ele é, quando ele precisa ser mais defensivo, ele também é, então eu acho que o jogo tem andado por isso e aqueles que perceberem isso vão ter mais sucesso. Qual o maior mérito do Artur Jorge e do Botafogo, seu adversário? Essas equipes como o Botafogo tem um elenco muito bem montado, com qualidade, mas também com um perfil físico interessante, então é uma equipe que consegue te entregar várias possibilidades de jogo e encontrou um treinador que soube gerenciar as expectativas que aconteceram nas temporadas passadas, e nessa temporada tem conseguido muito bem gerenciar as expectativas e também extrair o melhor de cada jogador, dentro das suas características e posição. Hoje o Botafogo tem uma ideia muito clara de jogo e tem tido muito sucesso, acredito que vai terminar a temporada com algum título e vejo que o Artur teve muito mérito porque ele conseguiu dar tranquilidade para um ambiente que as vezes não era tão estável e conseguiu explorar e potencializar jogadores que hoje já estão em outro patamar, que já atingiram a seleção brasileira em pouco tempo. Vejo o trabalho dele um trabalho muito bom e que vai colher frutos. A gente espera conseguir surpreendê-los , sabemos da dificuldade que vai ser o jogo, mas a gente tem um histórico do confronto positivo para nós nos últimos anos. Se pudesse escolher um, que jogador contrataria e que treinador jogaria contra? Com certeza Ronaldo Nazário, o fenômeno, ele jogou em muitos contextos diferentes e adversos, sempre sendo decisivo, conseguindo aliar objetividade e criatividade/genialidade. Gostaria de enfrentar José Mourinho, além do embate tático acredito que o embate mental contra ele também seria uma grande experiência. Qual seu maior medo? Não viver intensamente. E o maior sonho? Disputar uma Copa Do Mundo como treinador principal, se possível pela nossa seleção. A maior saudade? Da infância e adolescência, sonhando em ser jogador de futebol. E o maior desejo Ser lembrado como um bom ser humano, cumprindo o meu propósito nesta vida. É preciso correr riscos, né... É isso, o treinador de futebol tem que correr riscos, a vida do treinador de futebol é isso, tomar as decisões nem sempre fáceis. Eu vim para um projeto que eu sabia do risco que eu estava correndo mas ao mesmo tempo sabia também com quem eu estaria trabalhando. Então independente do que aconteça no final da competição o nosso trabalho não é melhor ou pior pelo resultado final a gente sabe onde a gente quer chegar a gente sabe da nossa competência internamente. É uma decisão muito difícil e muito particular porque a gente tem exemplos positivos e negativos dos dois cenários. Por exemplo, o Roger Machado pra mim é um cara que ele priorizou esperar projetos que pudessem dar as condições que ele gostaria pra fazer um bom trabalho, ele foi muito feliz nisso, teve ali o Juventude os outros trabalhos anteriores em Grêmio, Bahia, também acho que ele teve um trabalho de sucesso, mas ele sempre foi um cara que esperou e se preparou para voltar ao mercado nesse nível, e às vezes ele pôde esperar pela trajetória como atleta, tinha uma bagagem que permitiu ele ir por esse caminho. Talvez jovens treinadores as vezes não tenham essa condição, então vai ter que se arriscar um pouco mais, engatar um trabalho no outro como os jovens treinadores fazem, e aí é um risco que você corre. Porque você muitas das vezes nessas situações você não consegue escolher o melhor contexto pra se inserir, e aí você é vítima, refém um pouco do contexto do clube, e nem sempre você vai conseguir pôr o teu trabalho, nem sempre o trabalho do treinador ele é suficiente pra resolver os problemas do clube, tem muitas outras coisas que interferem. Acredito que fiz certo porque eu tive oportunidades pra ser treinador em equipes menores. E eu segurei esperei, aguardei e o Cuiabá é um clube que eu via com muitos bons olhos, eu acho que a gente tem tudo aqui pra fazer um trabalho de sucesso e dar continuidade, acho que como o primeiro trabalho era um clube ideal.

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