Vacina contra malária brasileira tem patente solicitada e deve entrar em testes em humanos no ano que vem; entenda
Doses atuais não funcionam contra o parasita mais prevalente no Brasil e destacam importância de imunizante nacional Uma vacina brasileira para malária desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Centro de Tecnologia de Vacinas (CTAVacinas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve o pedido de patente feito no final de outubro. Até janeiro, a dose, chamada de Vivaxin, deve ter o início dos testes clínicos em humanos solicitado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A dose é importante já que os dois únicos imunizantes que existem hoje no mundo – o RTS,S/AS01, também conhecido como Mosquirix, da GSK, e o R21/Matrix-M, desenvolvido pela Universidade de Oxford – não são úteis no contexto brasileiro. Isso porque elas têm como alvo o plasmodium falciparum, que não é o parasita mais prevalente no Brasil. A espécie é a causadora de malária responsável por mais de 90% dos casos mundiais e pelas formas mais graves da doença. No entanto, no Brasil, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 82,5% das infecções são provocadas pelo plasmodium vivax – que não é prevenido pelas vacinas atuais. A professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) Irene Soares, uma das coordenadoras da pesquisa, destaca que a Vivaxin se trata de “um produto inédito no mundo e inteiramente produzido no Brasil”. À Agência Fapesp, contou que o imunizante passou pela fase pré-clínica, que avalia qualidade, eficácia e segurança entre animais, com resultados promissores, e agora a dose está na fase final, a da patente, antes da autorização para os estudos com humanos. Em reportagem do GLOBO sobre a importância de vacinas brasileiras contra a malária, Irene explicou a atuação da dose desenvolvida na USP: — A nossa vacina é baseada na mesma proteína que a das duas outras vacinas, a Mosquirix e a de Oxford. É uma proteína que reverte o esporozoíto, a forma do parasita liberada na pele quando o mosquito (Anopheles) pica o indivíduo. Só que apesar de serem a mesma proteína nas duas espécies de plasmodium, elas são diferentes na estrutura da região central. Então basicamente a primeira resposta do hospedeiro contra o parasita é gerar anticorpos contra essa proteína, que é o objetivo da vacina. A pesquisadora lembrou ainda que não existe hoje uma vacina inteiramente brasileira, contra qualquer doença, que tenha sido criada no país, passado por todos os testes e, ao fim, aprovada para uso na população. A mais avançada é a SpiN-TEC, vacina contra a Covid-19 da UFMG que se encontra em fases avançadas dos testes clínicos. — Existe uma lacuna. Na academia, normalmente é feita a pesquisa básica, que envolve a definição de antígeno, adjuvante e provas de conceito. A partir daí, resulta em publicação de artigos e os estudos são descontinuados, não chegando até a vacina. O objetivo dessa parceria (da USP com a UFMG) é vencer o ‘vale da morte’ e ter o produto final, para testes em humanos, em um processo todo desenvolvido no país, fato raro na ciência brasileira na área de vacinas — disse Irene à Agência Fapesp. O pedido de patente da Vivaxin foi feito por meio da Agência USP de Inovação e do Centro de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG. A patente é necessária para proteger o processo de produção e formulação final da vacina com o adjuvante desenvolvido pelos pesquisadores. Já os resultados dos últimos testes pré-clínicos serão publicados em breve em uma revista científica. Outros dados positivos, porém, já foram divulgados. Em abril, um artigo no periódico Vaccine mostrou que o imunizante induziu níveis altos de anticorpos em camundongos e coelhos, além de ter sido seguro e bem tolerado pelos animais. Os anticorpos reconheceram todas as formas do plasmodium vivax, conseguindo, em alguns casos, prevenir completamente a infecção. Hoje, a malária representa um problema de saúde pública no Brasil na região amazônica, que é endêmica para a doença e concentrou 99,98% dos casos registrados no país em 2023. Os casos vinham caindo desde 2018, mas subiram no ano passado, quando 139.884 diagnósticos foram relatados. Em 2024, segundo o painel do Centro Nacional de Inteligência Epidemiológica (CNIE), do Ministério da Saúde, já foram registrados até agora 117.504 diagnósticos na região. Em 2023, 40% dos casos tiveram como local provável de infecção áreas indígenas; 33,4%, áreas rurais; 14,6%, áreas de garimpo; 6,5%, áreas urbanas, e 4,9% foram originados em áreas de assentamento.
Doses atuais não funcionam contra o parasita mais prevalente no Brasil e destacam importância de imunizante nacional Uma vacina brasileira para malária desenvolvida pela Universidade de São Paulo (USP) em parceria com o Centro de Tecnologia de Vacinas (CTAVacinas), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), teve o pedido de patente feito no final de outubro. Até janeiro, a dose, chamada de Vivaxin, deve ter o início dos testes clínicos em humanos solicitado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A dose é importante já que os dois únicos imunizantes que existem hoje no mundo – o RTS,S/AS01, também conhecido como Mosquirix, da GSK, e o R21/Matrix-M, desenvolvido pela Universidade de Oxford – não são úteis no contexto brasileiro. Isso porque elas têm como alvo o plasmodium falciparum, que não é o parasita mais prevalente no Brasil. A espécie é a causadora de malária responsável por mais de 90% dos casos mundiais e pelas formas mais graves da doença. No entanto, no Brasil, segundo o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, 82,5% das infecções são provocadas pelo plasmodium vivax – que não é prevenido pelas vacinas atuais. A professora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo (FCF-USP) Irene Soares, uma das coordenadoras da pesquisa, destaca que a Vivaxin se trata de “um produto inédito no mundo e inteiramente produzido no Brasil”. À Agência Fapesp, contou que o imunizante passou pela fase pré-clínica, que avalia qualidade, eficácia e segurança entre animais, com resultados promissores, e agora a dose está na fase final, a da patente, antes da autorização para os estudos com humanos. Em reportagem do GLOBO sobre a importância de vacinas brasileiras contra a malária, Irene explicou a atuação da dose desenvolvida na USP: — A nossa vacina é baseada na mesma proteína que a das duas outras vacinas, a Mosquirix e a de Oxford. É uma proteína que reverte o esporozoíto, a forma do parasita liberada na pele quando o mosquito (Anopheles) pica o indivíduo. Só que apesar de serem a mesma proteína nas duas espécies de plasmodium, elas são diferentes na estrutura da região central. Então basicamente a primeira resposta do hospedeiro contra o parasita é gerar anticorpos contra essa proteína, que é o objetivo da vacina. A pesquisadora lembrou ainda que não existe hoje uma vacina inteiramente brasileira, contra qualquer doença, que tenha sido criada no país, passado por todos os testes e, ao fim, aprovada para uso na população. A mais avançada é a SpiN-TEC, vacina contra a Covid-19 da UFMG que se encontra em fases avançadas dos testes clínicos. — Existe uma lacuna. Na academia, normalmente é feita a pesquisa básica, que envolve a definição de antígeno, adjuvante e provas de conceito. A partir daí, resulta em publicação de artigos e os estudos são descontinuados, não chegando até a vacina. O objetivo dessa parceria (da USP com a UFMG) é vencer o ‘vale da morte’ e ter o produto final, para testes em humanos, em um processo todo desenvolvido no país, fato raro na ciência brasileira na área de vacinas — disse Irene à Agência Fapesp. O pedido de patente da Vivaxin foi feito por meio da Agência USP de Inovação e do Centro de Transferência e Inovação Tecnológica da UFMG. A patente é necessária para proteger o processo de produção e formulação final da vacina com o adjuvante desenvolvido pelos pesquisadores. Já os resultados dos últimos testes pré-clínicos serão publicados em breve em uma revista científica. Outros dados positivos, porém, já foram divulgados. Em abril, um artigo no periódico Vaccine mostrou que o imunizante induziu níveis altos de anticorpos em camundongos e coelhos, além de ter sido seguro e bem tolerado pelos animais. Os anticorpos reconheceram todas as formas do plasmodium vivax, conseguindo, em alguns casos, prevenir completamente a infecção. Hoje, a malária representa um problema de saúde pública no Brasil na região amazônica, que é endêmica para a doença e concentrou 99,98% dos casos registrados no país em 2023. Os casos vinham caindo desde 2018, mas subiram no ano passado, quando 139.884 diagnósticos foram relatados. Em 2024, segundo o painel do Centro Nacional de Inteligência Epidemiológica (CNIE), do Ministério da Saúde, já foram registrados até agora 117.504 diagnósticos na região. Em 2023, 40% dos casos tiveram como local provável de infecção áreas indígenas; 33,4%, áreas rurais; 14,6%, áreas de garimpo; 6,5%, áreas urbanas, e 4,9% foram originados em áreas de assentamento.
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