Putin ordena produção em série de míssil hipersônico disparado contra a Ucrânia, e Polônia alerta para risco de guerra mundial

Jogos de poder durante os quase três anos de guerra no Leste Europeu criaram uma rede global de alianças e colaborações que teria potencial de escalar para um conflito de escala global O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou nesta sexta-feira que o país inicie a produção em série de mísseis hipersônicos 'Oreshnik', o mesmo modelo que Moscou afirmou ter disparado contra a cidade ucraniana de Dniépe no dia anterior. A ordem de Putin é o mais novo desdobramento da espiral de tensões no contexto da guerra na Ucrânia, que se internacionaliza a cada dia e que aprofunda os temores de um choque de escala global. Em duas declarações independentes entre quinta e sexta-feira, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, afirmaram que um conflito mundial está cada vez mais próximo, citando, respectivamente, Moscou e Washington como expoentes da desestabilização geopolítica. Alerta: Kremlin diz 'não ter dúvidas' de que EUA entenderam mensagem após lançamento de novo míssil balístico contra Ucrânia Oreshnik: O que se sabe sobre o novo míssil balístico russo usado em ataque na Ucrânia — A ameaça de um conflito global é séria e real — afirmou Tusk nesta sexta-feira, referindo-se aos últimos acontecimentos na Ucrânia, incluindo as ameaças de Putin sobre estar preparado para responder a qualquer nova ação considerada hostil por parte dos aliados ocidentais. — A guerra no leste está entrando em uma fase decisiva, sentimos que o desconhecido está se aproximando. Initial plugin text Na fronteira com a Ucrânia e porta da Otan e da União Europeia para o conflito, a Polônia estaria na linha de frente em caso de uma ampliação na área de conflito da guerra no Leste Europeu — nas duas guerras mundiais, o país foi um dos primeiros teatros de operações, sendo ocupada em ambas. A área afetada, contudo, poderia ser ainda maior, considerando o jogo de alianças que se desenvolveu ao longo dos últimos quase três anos. A mais de 7 mil quilômetros da fronteira entre os dois países, em Pyongyang, Kim Jong-un subiu o tom contra os EUA em uma declaração reproduzida pela agência central de notícias KCNA, na quinta-feira. Durante uma exibição militar, o líder supremo afirmou que o mundo "nunca antes" esteve diante de uma ameaça de guerra nuclear tão imediata quanto a atual. — Nunca antes as partes em guerra na Península Coreana enfrentaram um confronto tão perigoso e agudo que poderia escalar para a mais destrutiva guerra termonuclear — disse Kim em uma exibição militar, acrescentando que Pyongyang foi "tão longe quanto podia" em suas conversas com os EUA, a quem acusou de manter uma postura "agressiva e hostil". Vídeo mostra supostos soldados norte-coreanos durante treinamento na Rússia Embora a distância e o conteúdo da declaração possa parecer se referir a um contexto exclusivo da situação na Ásia, a aproximação entre a Coreia do Norte e a Rússia, que assinaram um tratado de defesa mútua, pelo qual se comprometem a prestar socorro em caso de agressões aos seus territórios por terceiros, colocou o país asiático no front europeu e aproximou a guerra na Ucrânia da Península Coreana. Estimativas ocidentais apontam que mais de 10 mil militares norte-coreanos estão em solo russo, embora suas atuais funções no campo de batalha não sejam inteiramente conhecidas. Armas do país, como bombas e foguetes, também já foram empregadas no front ucraniano. O impacto de uma guerra mais ampla também poderia chegar a outras duas partes da Ásia. Mais a leste, a China vem sendo o principal esteio econômico e aliado estratégico da Rússia desde o começo da guerra, frustrando todas as tentativas ocidentais de sufocar Moscou. Componentes chineses foram encontrados em partes de armas utilizadas pelas forças russas em solo ucraniano, com autoridades de Kiev acusando Pequim de ter cedido "bombas e peças" ao Kremlin. Após o ataque de quinta-feira, autoridades chinesas pediram contenção de todas as partes, mantendo sua política de afastamento do conflito direto no cenário europeu — para Pequim, a fronteira militarmente mais quente é Taiwan, onde disputa um jogo de influência e exercício de soberania delicado com os EUA. Não está claro como o envolvimento direto de Washington em uma guerra mais ampla repercutiria neste território asiático. No Oriente Médio, a Rússia costurou uma outra importante relação estratégica com o Irã, que ocupou o papel de principal fornecedor de drones — uma alternativa de ataque aéreo mais barata que mísseis russos — ao país. O intenso intercâmbio de materiais bélicos também é visto como positivo pelo país dos aiatolás, que encontrou nos aliados um desafogo para sua economia sob embargos, sobretudo em um momento em protagoniza tensões regionais que também envolvem Israel, Gaza e Líbano. Presidente da Rússia, Vladimir Putin, dá abraço no líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Pyongyang Gavriil GRIGOROV / POOL / AFP Pelo lado ucraniano, a colaboração internacional foi um dos pilares da resistência

Nov 22, 2024 - 18:11
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Putin ordena produção em série de míssil hipersônico disparado contra a Ucrânia, e Polônia alerta para risco de guerra mundial

Jogos de poder durante os quase três anos de guerra no Leste Europeu criaram uma rede global de alianças e colaborações que teria potencial de escalar para um conflito de escala global O presidente da Rússia, Vladimir Putin, ordenou nesta sexta-feira que o país inicie a produção em série de mísseis hipersônicos 'Oreshnik', o mesmo modelo que Moscou afirmou ter disparado contra a cidade ucraniana de Dniépe no dia anterior. A ordem de Putin é o mais novo desdobramento da espiral de tensões no contexto da guerra na Ucrânia, que se internacionaliza a cada dia e que aprofunda os temores de um choque de escala global. Em duas declarações independentes entre quinta e sexta-feira, o primeiro-ministro da Polônia, Donald Tusk, e o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, afirmaram que um conflito mundial está cada vez mais próximo, citando, respectivamente, Moscou e Washington como expoentes da desestabilização geopolítica. Alerta: Kremlin diz 'não ter dúvidas' de que EUA entenderam mensagem após lançamento de novo míssil balístico contra Ucrânia Oreshnik: O que se sabe sobre o novo míssil balístico russo usado em ataque na Ucrânia — A ameaça de um conflito global é séria e real — afirmou Tusk nesta sexta-feira, referindo-se aos últimos acontecimentos na Ucrânia, incluindo as ameaças de Putin sobre estar preparado para responder a qualquer nova ação considerada hostil por parte dos aliados ocidentais. — A guerra no leste está entrando em uma fase decisiva, sentimos que o desconhecido está se aproximando. Initial plugin text Na fronteira com a Ucrânia e porta da Otan e da União Europeia para o conflito, a Polônia estaria na linha de frente em caso de uma ampliação na área de conflito da guerra no Leste Europeu — nas duas guerras mundiais, o país foi um dos primeiros teatros de operações, sendo ocupada em ambas. A área afetada, contudo, poderia ser ainda maior, considerando o jogo de alianças que se desenvolveu ao longo dos últimos quase três anos. A mais de 7 mil quilômetros da fronteira entre os dois países, em Pyongyang, Kim Jong-un subiu o tom contra os EUA em uma declaração reproduzida pela agência central de notícias KCNA, na quinta-feira. Durante uma exibição militar, o líder supremo afirmou que o mundo "nunca antes" esteve diante de uma ameaça de guerra nuclear tão imediata quanto a atual. — Nunca antes as partes em guerra na Península Coreana enfrentaram um confronto tão perigoso e agudo que poderia escalar para a mais destrutiva guerra termonuclear — disse Kim em uma exibição militar, acrescentando que Pyongyang foi "tão longe quanto podia" em suas conversas com os EUA, a quem acusou de manter uma postura "agressiva e hostil". Vídeo mostra supostos soldados norte-coreanos durante treinamento na Rússia Embora a distância e o conteúdo da declaração possa parecer se referir a um contexto exclusivo da situação na Ásia, a aproximação entre a Coreia do Norte e a Rússia, que assinaram um tratado de defesa mútua, pelo qual se comprometem a prestar socorro em caso de agressões aos seus territórios por terceiros, colocou o país asiático no front europeu e aproximou a guerra na Ucrânia da Península Coreana. Estimativas ocidentais apontam que mais de 10 mil militares norte-coreanos estão em solo russo, embora suas atuais funções no campo de batalha não sejam inteiramente conhecidas. Armas do país, como bombas e foguetes, também já foram empregadas no front ucraniano. O impacto de uma guerra mais ampla também poderia chegar a outras duas partes da Ásia. Mais a leste, a China vem sendo o principal esteio econômico e aliado estratégico da Rússia desde o começo da guerra, frustrando todas as tentativas ocidentais de sufocar Moscou. Componentes chineses foram encontrados em partes de armas utilizadas pelas forças russas em solo ucraniano, com autoridades de Kiev acusando Pequim de ter cedido "bombas e peças" ao Kremlin. Após o ataque de quinta-feira, autoridades chinesas pediram contenção de todas as partes, mantendo sua política de afastamento do conflito direto no cenário europeu — para Pequim, a fronteira militarmente mais quente é Taiwan, onde disputa um jogo de influência e exercício de soberania delicado com os EUA. Não está claro como o envolvimento direto de Washington em uma guerra mais ampla repercutiria neste território asiático. No Oriente Médio, a Rússia costurou uma outra importante relação estratégica com o Irã, que ocupou o papel de principal fornecedor de drones — uma alternativa de ataque aéreo mais barata que mísseis russos — ao país. O intenso intercâmbio de materiais bélicos também é visto como positivo pelo país dos aiatolás, que encontrou nos aliados um desafogo para sua economia sob embargos, sobretudo em um momento em protagoniza tensões regionais que também envolvem Israel, Gaza e Líbano. Presidente da Rússia, Vladimir Putin, dá abraço no líder norte-coreano, Kim Jong-un, em Pyongyang Gavriil GRIGOROV / POOL / AFP Pelo lado ucraniano, a colaboração internacional foi um dos pilares da resistência desde o primeiro dia de guerra. Analistas são unânimes em afirmar que apenas com a colaboração financeira e bélica dos EUA e de seus aliados da Otan é que Kiev foi capaz de resistir até o momento. Apesar dos sinais de cansaço em diferentes momentos da guerra e da atual preocupação com a mudança de poder em Washington, o governo da Ucrânia mantém suas investidas por mais ajuda externa. Após o bombardeio com o míssil hipersônico na quinta, as autoridades já direcionaram seus apelos pelo envio dos sistemas de defesa antiaéreo THAAD, de fabricação americana, que seriam capazes de interceptar os projéteis russos. A quantidade de baterias em condição operacional, porém, é um empecilho para que a transferência se concretize, segundo especialistas. A reação dos aliados ocidentais ao disparo recente dos mísseis não foi uniforme. A ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Barboeck, afirmou nesta sexta que manter o apoio à Ucrânia era a melhor maneira de garantir a proteção da Europa, classificando as últimas ameaças como uma repetição do modus operandi de Putin. Representantes da República Tcheca e da Suécia fizeram comentários no mesmo sentido, de que a unidade em torno do apoio a Kiev deveria ser mantida. Perto da fronteira leste da Otan, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, atribuiu um peso maior às declarações de Putin. Em uma entrevista, ele afirmou que Moscou tem um dos exércitos mais fortes do mundo e argumentou que, ao lidar com um país tão bélico como a Rússia, é fundamental levar "ao pé da letra" o que é dito neste quesito. Risco ampliado Especialistas em estratégia militar tentaram interpretar as declarações de Putin na quinta-feira, após o disparo do míssil com capacidades nucleares contra a Ucrânia e a acusação de que o Ocidente teria transformado uma guerra regional em um conflito global. Se por um lado a aparição pública e o impacto aparentemente reduzido do ataque — relatos dão conta de danos moderados e poucos feridos — ressaltam um caráter simbólico da ação, o que poderia ser lido como uma nova tentativa de Moscou de fazer os aliados pensarem duas vezes antes de enviar novas armas para Kiev, alguns analistas apontam que a escolha do míssil disparado pode ter cruzado o limite entre restabelecer a dissuasão e forçar uma nova escalada. Ex-presidente russo divulga suposto ataque com míssil hipersônico na Ucrânia Em uma análise publicada pela CNN, o repórter especializado em assuntos militares internacionais, Brad Lendon, classificou o momento como potencialmente perigoso para um conflito mais abrangente entre Rússia e Ocidente. Ele argumenta que mísseis com capacidade de transportar múltiplas ogivas põem em risco o princípio da "destruição mútua assegurada", base do conceito de dissuasão desde o início da era nuclear que evitou o uso dessas armas durante a Guerra Fria. "Os mísseis balísticos foram projetados para ficar de sentinela em um futuro em que armas nucleares nunca mais seriam disparadas", explicou Lendon, antes de citar estudos que apontam que os MIRV na verdade teriam um impacto oposto. "Mísseis MIRV podem convidar, em vez de dissuadir, um primeiro ataque. A capacidade altamente destrutiva dos MIRV significa que eles são armas potenciais de primeiro ataque e alvos de primeiro ataque (...). Isso porque é mais fácil destruir várias ogivas antes que sejam lançadas do que tentar derrubá-las enquanto elas caem em velocidade hipersônica sobre seus alvos". (Com NYT e AFP)

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