COP 29: Países ricos concordam em aumentar financiamento climático para US$ 300 bi por ano, mas valor é considerado irrisório por especialistas

Ativista e ambientalista sueca Greta Thunberg usou as redes sociais, nesta sexta-feira, para criticar o evento: 'um completo desastre'; no Azerbaijão, grupo de nações mais pobres e de ilhas ameaçadas de desaparecimento se retiram de reunião final para definir repasse dos mais desenvolvidos para mudança climática A algumas horas da publicação do texto final da conferência do clima deste ano, a COP29, um grupo de países ricos concordou em aumentar a oferta de financiamento climático para US$ 300 bilhões anuais até 2035, segundo fontes informaram ao jornal britânico The Guardian. De acordo com o jornal, o novo valor foi fechado após uma longa reunião a portas fechadas com um pequeno grupo de ministros e chefes de delegações, incluindo o Brasil. No entanto, segue sendo número bem abaixo do estimado por especialistas e a própria ONU para de fato ser efetivo, entre US$ 5 US$ 6 trilhões de dólares. Durante as negociações nesta manhã no horário de Brasília, dois grupos, os que representam as nações menos desenvolvidas e das ilhas em risco de desaparecimento por conta das mudanças climáticas abandonaram a mesa de negociações em protesto pelo valor proposto. A reunião foi suspensa. Leia mais: Sucesso da COP29 é ‘incerto’, diz comissário europeu do Clima Veja também: Putin ordena produção em série de míssil hipersônico disparado contra a Ucrânia e promete testes em 'condição de combate' Negociadores trabalharam durante toda a noite em um estádio em Baku, no Mar Cáspio, a capital do Azerbaijão, em busca de um compromisso final, sem sucesso. A conferência de duas semanas da COP29 se estendeu para um dia extra e as negociações devem ser retomadas nas próximas horas. Uma COP 29 percebida como fracasso complica as aspirações do Brasil, que sediará, no ano que vem, em Belém, a COP 30. Esta também é a última reunião do governo de Joe Biden nos EUA. A reentrada em cena de Donald Trump, a partir de janeiro, é percebida, por si só, como um enorme complicador para o evento do ano que vem. Em um ano que deve ser o mais quente já registrado, países em desenvolvimento, que sofrem com secas e desastres crescentes, já haviam rejeitado categoricamente na sexta-feira uma oferta inicial de US$ 250 bilhões anuais até 2035. Neste sábado, países ricos — incluindo União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido e Japão — elevaram então a oferta para US$ 300 bilhões, de acordo com múltiplas fontes próximas às negociações. “Estamos tentando conseguir um bom acordo”, disse o Secretário de Energia do Reino Unido, Ed Miliband, à AFP enquanto transitava entre reuniões. Mas a nova oferta foi traduzida, de acordo com fontes em Baku, como uma "piada". O enviado climático dos EUA, John Podesta, afirmou que os países trabalharam durante a noite em busca de um "bom resultado". No entanto, o comissário de clima da UE, Wopke Hoekstra, alertou que as negociações ainda eram incertas. “Estamos fazendo tudo o que podemos em cada eixo para construir pontes e transformar isso em sucesso. Mas é incerto se conseguiremos", disse ele. Ali Mohamed, presidente do Grupo de Negociadores Africanos, que se retirou das negociações após a nova oferta, afirmou à agência AFP que os países em desenvolvimento haviam deixaram claro que, sem uma oferta mais substanciosa, a COP poderia fracassar. “Um acordo ruim é pior do que nenhum acordo”, disse ainda Mohamed, que também é o enviado climático do Quênia. O ministro do Meio Ambiente da África do Sul, Dion George, entretanto, afirmou: “Acho que ser ambicioso neste momento não será muito útil. O que não estamos dispostos a aceitar é retroceder ou ficar parados. Nesse caso, seria melhor nem termos vindo.” Initial plugin text Greta: 'Desastre completo' Nas redes sociais, a ativista Greta Thunberg afirmou que “não deve ser surpresa que mais uma COP esteja fracassando”. Thunberg chamou o rascunho do texto final de “desastre completo” e que o dinheiro dos países do Norte Global “necessário para pagar suas dívidas climáticas” não se vê em lugar nenhum. “Com cada negociação, com cada discurso feito por um líder mundial e com cada acordo que eles assinam, fica claro que cabe a nós, na forma de um coletivo global, tomar as medidas de que precisamos tão desesperadamente e mostrar onde a liderança realmente está. Eles não farão isso por nós, como esta COP29 mais uma vez está provando”, disse a ativista. De acordo com o texto preliminar do acordo circulado na sexta-feira, os países em desenvolvimento precisariam receber pelo menos US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático até 2035, o que está alinhado às demandas apresentadas pela maioria antes da conferência de duas semanas. No entanto, os países pobres queriam que uma parte maior desse financiamento viesse diretamente de países ricos, preferencialmente na forma de doações, em vez de empréstimos. Eliminação de combustíveis fósseis é condição Juan Carlos Monterrey Gomez, negociador climático do Panamá, disse estar "otimista" após reunião com representantes da UE. “Podemos chegar

Nov 23, 2024 - 11:44
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COP 29: Países ricos concordam em aumentar financiamento climático para US$ 300 bi por ano, mas valor é considerado irrisório por especialistas

Ativista e ambientalista sueca Greta Thunberg usou as redes sociais, nesta sexta-feira, para criticar o evento: 'um completo desastre'; no Azerbaijão, grupo de nações mais pobres e de ilhas ameaçadas de desaparecimento se retiram de reunião final para definir repasse dos mais desenvolvidos para mudança climática A algumas horas da publicação do texto final da conferência do clima deste ano, a COP29, um grupo de países ricos concordou em aumentar a oferta de financiamento climático para US$ 300 bilhões anuais até 2035, segundo fontes informaram ao jornal britânico The Guardian. De acordo com o jornal, o novo valor foi fechado após uma longa reunião a portas fechadas com um pequeno grupo de ministros e chefes de delegações, incluindo o Brasil. No entanto, segue sendo número bem abaixo do estimado por especialistas e a própria ONU para de fato ser efetivo, entre US$ 5 US$ 6 trilhões de dólares. Durante as negociações nesta manhã no horário de Brasília, dois grupos, os que representam as nações menos desenvolvidas e das ilhas em risco de desaparecimento por conta das mudanças climáticas abandonaram a mesa de negociações em protesto pelo valor proposto. A reunião foi suspensa. Leia mais: Sucesso da COP29 é ‘incerto’, diz comissário europeu do Clima Veja também: Putin ordena produção em série de míssil hipersônico disparado contra a Ucrânia e promete testes em 'condição de combate' Negociadores trabalharam durante toda a noite em um estádio em Baku, no Mar Cáspio, a capital do Azerbaijão, em busca de um compromisso final, sem sucesso. A conferência de duas semanas da COP29 se estendeu para um dia extra e as negociações devem ser retomadas nas próximas horas. Uma COP 29 percebida como fracasso complica as aspirações do Brasil, que sediará, no ano que vem, em Belém, a COP 30. Esta também é a última reunião do governo de Joe Biden nos EUA. A reentrada em cena de Donald Trump, a partir de janeiro, é percebida, por si só, como um enorme complicador para o evento do ano que vem. Em um ano que deve ser o mais quente já registrado, países em desenvolvimento, que sofrem com secas e desastres crescentes, já haviam rejeitado categoricamente na sexta-feira uma oferta inicial de US$ 250 bilhões anuais até 2035. Neste sábado, países ricos — incluindo União Europeia, Estados Unidos, Reino Unido e Japão — elevaram então a oferta para US$ 300 bilhões, de acordo com múltiplas fontes próximas às negociações. “Estamos tentando conseguir um bom acordo”, disse o Secretário de Energia do Reino Unido, Ed Miliband, à AFP enquanto transitava entre reuniões. Mas a nova oferta foi traduzida, de acordo com fontes em Baku, como uma "piada". O enviado climático dos EUA, John Podesta, afirmou que os países trabalharam durante a noite em busca de um "bom resultado". No entanto, o comissário de clima da UE, Wopke Hoekstra, alertou que as negociações ainda eram incertas. “Estamos fazendo tudo o que podemos em cada eixo para construir pontes e transformar isso em sucesso. Mas é incerto se conseguiremos", disse ele. Ali Mohamed, presidente do Grupo de Negociadores Africanos, que se retirou das negociações após a nova oferta, afirmou à agência AFP que os países em desenvolvimento haviam deixaram claro que, sem uma oferta mais substanciosa, a COP poderia fracassar. “Um acordo ruim é pior do que nenhum acordo”, disse ainda Mohamed, que também é o enviado climático do Quênia. O ministro do Meio Ambiente da África do Sul, Dion George, entretanto, afirmou: “Acho que ser ambicioso neste momento não será muito útil. O que não estamos dispostos a aceitar é retroceder ou ficar parados. Nesse caso, seria melhor nem termos vindo.” Initial plugin text Greta: 'Desastre completo' Nas redes sociais, a ativista Greta Thunberg afirmou que “não deve ser surpresa que mais uma COP esteja fracassando”. Thunberg chamou o rascunho do texto final de “desastre completo” e que o dinheiro dos países do Norte Global “necessário para pagar suas dívidas climáticas” não se vê em lugar nenhum. “Com cada negociação, com cada discurso feito por um líder mundial e com cada acordo que eles assinam, fica claro que cabe a nós, na forma de um coletivo global, tomar as medidas de que precisamos tão desesperadamente e mostrar onde a liderança realmente está. Eles não farão isso por nós, como esta COP29 mais uma vez está provando”, disse a ativista. De acordo com o texto preliminar do acordo circulado na sexta-feira, os países em desenvolvimento precisariam receber pelo menos US$ 1,3 trilhão anuais em financiamento climático até 2035, o que está alinhado às demandas apresentadas pela maioria antes da conferência de duas semanas. No entanto, os países pobres queriam que uma parte maior desse financiamento viesse diretamente de países ricos, preferencialmente na forma de doações, em vez de empréstimos. Eliminação de combustíveis fósseis é condição Juan Carlos Monterrey Gomez, negociador climático do Panamá, disse estar "otimista" após reunião com representantes da UE. “Podemos chegar a algum lugar”, afirmou Gomez. Mas a oferta revisada dos países ricos veio acompanhada de condições em outras partes do amplo acordo climático em discussão no Azerbaijão. A UE, em particular, quer uma revisão anual dos esforços globais para eliminar os combustíveis fósseis, que são os principais causadores do aquecimento global. Essa proposta enfrenta oposição da Arábia Saudita, que busca enfraquecer uma promessa histórica de transição do petróleo, gás e carvão feita na COP28 no ano passado. “Não permitiremos que os mais vulneráveis, especialmente os pequenos estados insulares, sejam explorados pelos novos e poucos emissores ricos de combustíveis fósseis”, argumentou a ministra das Relações Exteriores da Alemanha, Annalena Baerbock. O ministro irlandês do Clima, Eamon Ryan, disse estar “esperançoso” com um acordo, mas que uma visão mais clara surgiria mais tarde, com eventual novo texto. Ryan afirmou à AFP que os países em desenvolvimento precisam de dinheiro, “mas também temos que interromper o avanço dos combustíveis fósseis”. Uma coalizão de mais de 300 grupos ativistas acusou os maiores responsáveis históricos pelas mudanças climáticas de ignorarem suas obrigações e instou os países em desenvolvimento a manterem posição firme. “Vocês afirmam defender um sistema baseado em regras, mas ignoram essas regras quando não lhes convêm, colocando em risco bilhões de pessoas e a vida na Terra”, escreveram as organizações em uma carta aberta. Os países ricos argumentam, por sua vez, que é "politicamente irrealista" esperar mais financiamento direto de seus governos. Donald Trump, afinal, é cético tanto em relação às mudanças climáticas quanto à ajuda externa, e vários outros países ocidentais enfrentaram retrocessos de direita contra a agenda verde. Brasil defende US$ 390 bilhões O rascunho do acordo propõe uma meta global maior de US$ 1,3 trilhão por ano para lidar com o aumento das temperaturas e desastres, mas a maior parte viria de fontes privadas. Mesmo US$ 250 bilhões seriam um avanço, ainda que tímido, em relação aos US$ 100 bilhões atualmente fornecidos por nações ricas sob um compromisso que está prestes a expirar. Um grupo de países em desenvolvimento exigiu pelo menos US$ 500 bilhões, com alguns afirmando que os aumentos são menos significativos do que parecem devido à inflação. Especialistas contratados pela ONU para avaliar as necessidades dos países em desenvolvimento afirmaram que US$ 250 bilhões são “muito pouco” e que, até 2035, as nações ricas deveriam fornecer "no mínimo" US$ 390 bilhões. Os valores seguem na mesa de negociação. Esse valor da ONU foi o defendido pelo Brasil, que afirma que os US$ 390 bilhões deveriam ser responsabilidade exclusiva dos países mais ricos. Mas EUA e a UE querem que economias emergentes recém-enriquecidas, como a China — maior emissor mundial —, contribuam também. A China, ainda classificada como nação em desenvolvimento pelo marco da ONU, fornece assistência climática, mas deseja continuar fazendo isso em termos voluntários. Embora Pequim tenha mantido postura discreta e cooperativa em Baku, a Arábia Saudita, rica em petróleo, pressionou fortemente por uma linguagem mais branda sobre combustíveis fósseis e, como a China, resistiu a ser obrigada a fornecer ajuda, contou um ativista veterano de um país em desenvolvimento. O Azerbaijão, um estado autoritário que depende de exportações de petróleo e gás, foi acusado de carecer de experiência e capacidade para conduzir negociações tão complexas. Seu líder, Ilham Aliyev, abriu a conferência criticando os países ocidentais e exaltando os combustíveis fósseis como um “presente de Deus”.

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