Cineasta Patrícia Fróes lança filme em que aborda as agruras da maternidade vividas em silêncio
Enquanto a cineasta Patrícia Fróes estava envolvida na finalização do filme “Incondicional, o mito da maternidade”, um dos poucos amigos para quem mostrou o documentário disse ter adorado, mas...: “Ele sugeriu que eu tirasse a parte em que me posiciono contra a ampliação da licença-maternidade”, conta a diretora. “E eu disse ‘não’. Porque o momento em que verbalizo isso com clareza e sem medo é uma das partes mais importantes do filme”, justifica. Seu primeiro longa, com estreia marcada para o próximo domingo, dia 6 de outubro, no Festival do Rio, é um “panfleto”, segundo ela mesma, um verdadeiro manifesto em favor de outra licença — a de paternidade. Patrícia Fróes: 'Tenho um trabalho mais próximo do experimental, mas escolhi fazer um filme objetivo, com linguagem fácil, para causar impacto' Ana Branco Mas vai além, trazendo depoimentos de nove mães, incluída a sua própria, sobre as agruras da maternidade, vividas em silêncio — do baby blues, que acomete de 80% a 90% das mulheres, à exaustão. O documentário se diferencia dos outros filmes nos quais Patrícia, como realizadora e curadora, já se envolveu. “Tenho um trabalho mais próximo do experimental, mas escolhi fazer um filme objetivo, com linguagem fácil, para causar impacto e mudar mentalidades”, explica. Segundo o Atlas da Penalidade Materna, da Universidade de Princeton, as brasileiras têm 37% menos chances do que os homens de arranjarem trabalho nos dez anos seguintes ao nascimento do filho. 'Quando a Kimiah nasceu, não consegui rir nem chorar', diz Thaianne Andrea Nestrea Além disso, uma pesquisa deste ano do Ministério do Desenvolvimento Social aponta que a renda média de uma mãe é 24% menor do que a deles. Para Patrícia, os números provam que mães não precisam de mais “reclusão”, mas da “inclusão” de outros agentes que a ajudem na tarefa de cuidar dos filhos. Patrícia começou a gestar a ideia de “Incondicional” após o nascimento de Lino, hoje com 9 anos. O pai — de quem se separou em 2018 — teve três dias de licença, e logo depois ela se viu sozinha com o filho. “Sou de uma geração sem repertório porque as mães trabalhavam fora. Não tive exemplos de cuidado. Lino foi a primeira criança que peguei no colo”, lembra a diretora, cuja mãe, a jornalista e colunista de O GLOBO Luciana Fróes, também deu seu depoimento para o filme. Lian, sobre a filha Paz: 'Eu achava estranho aquele ser ter saído de mim' Andrea Nestrea A ela, Patrícia pergunta: “Por que você não me falou? Por que eu virei mãe sem fazer a menor ideia de que eu não ia sentir um amor instantâneo?”. A psicanalista Vera Iaconelli, em artigo na revista científica Pediatria Moderna, descreve os sintomas do baby blues, “estado de humor depressivo” do pós-parto: irritabilidade, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê. A atriz Karine Telles, uma das entrevistadas, completa: “Duvido uma pessoa que tenha virado mãe e não tenha passado por estas emoções. Mas não se fala sobre elas”. Querén Lopez e Úrsula: romantização da gravidez terminou no pós-parto Andrea Nestrea O que Patrícia quer, justamente, é romper o silêncio. “A ideia de instinto materno, de que somos vocacionadas ao cuidado, é fiadora de uma diferença brutal de gênero. Mas qualquer pessoa pode fazer as tarefas de uma mãe e o mundo precisa mudar”, conclui.
Enquanto a cineasta Patrícia Fróes estava envolvida na finalização do filme “Incondicional, o mito da maternidade”, um dos poucos amigos para quem mostrou o documentário disse ter adorado, mas...: “Ele sugeriu que eu tirasse a parte em que me posiciono contra a ampliação da licença-maternidade”, conta a diretora. “E eu disse ‘não’. Porque o momento em que verbalizo isso com clareza e sem medo é uma das partes mais importantes do filme”, justifica. Seu primeiro longa, com estreia marcada para o próximo domingo, dia 6 de outubro, no Festival do Rio, é um “panfleto”, segundo ela mesma, um verdadeiro manifesto em favor de outra licença — a de paternidade. Patrícia Fróes: 'Tenho um trabalho mais próximo do experimental, mas escolhi fazer um filme objetivo, com linguagem fácil, para causar impacto' Ana Branco Mas vai além, trazendo depoimentos de nove mães, incluída a sua própria, sobre as agruras da maternidade, vividas em silêncio — do baby blues, que acomete de 80% a 90% das mulheres, à exaustão. O documentário se diferencia dos outros filmes nos quais Patrícia, como realizadora e curadora, já se envolveu. “Tenho um trabalho mais próximo do experimental, mas escolhi fazer um filme objetivo, com linguagem fácil, para causar impacto e mudar mentalidades”, explica. Segundo o Atlas da Penalidade Materna, da Universidade de Princeton, as brasileiras têm 37% menos chances do que os homens de arranjarem trabalho nos dez anos seguintes ao nascimento do filho. 'Quando a Kimiah nasceu, não consegui rir nem chorar', diz Thaianne Andrea Nestrea Além disso, uma pesquisa deste ano do Ministério do Desenvolvimento Social aponta que a renda média de uma mãe é 24% menor do que a deles. Para Patrícia, os números provam que mães não precisam de mais “reclusão”, mas da “inclusão” de outros agentes que a ajudem na tarefa de cuidar dos filhos. Patrícia começou a gestar a ideia de “Incondicional” após o nascimento de Lino, hoje com 9 anos. O pai — de quem se separou em 2018 — teve três dias de licença, e logo depois ela se viu sozinha com o filho. “Sou de uma geração sem repertório porque as mães trabalhavam fora. Não tive exemplos de cuidado. Lino foi a primeira criança que peguei no colo”, lembra a diretora, cuja mãe, a jornalista e colunista de O GLOBO Luciana Fróes, também deu seu depoimento para o filme. Lian, sobre a filha Paz: 'Eu achava estranho aquele ser ter saído de mim' Andrea Nestrea A ela, Patrícia pergunta: “Por que você não me falou? Por que eu virei mãe sem fazer a menor ideia de que eu não ia sentir um amor instantâneo?”. A psicanalista Vera Iaconelli, em artigo na revista científica Pediatria Moderna, descreve os sintomas do baby blues, “estado de humor depressivo” do pós-parto: irritabilidade, tristeza, insegurança, baixa autoestima, sensação de incapacidade de cuidar do bebê. A atriz Karine Telles, uma das entrevistadas, completa: “Duvido uma pessoa que tenha virado mãe e não tenha passado por estas emoções. Mas não se fala sobre elas”. Querén Lopez e Úrsula: romantização da gravidez terminou no pós-parto Andrea Nestrea O que Patrícia quer, justamente, é romper o silêncio. “A ideia de instinto materno, de que somos vocacionadas ao cuidado, é fiadora de uma diferença brutal de gênero. Mas qualquer pessoa pode fazer as tarefas de uma mãe e o mundo precisa mudar”, conclui.
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